A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 23
Capítulo 22 - Será?


Notas iniciais do capítulo

Este capítulo vai fazê-las felizes. Ou não. Eu espero. Pudim.



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Ouvi uma batida de leve na porta.

            -Toc toc.

            Onomatopeiou Elijah do outro lado da porta. Sorri.

            -Está aberta. Entre.

            Eu disse, me ajeitando na cama. Ele espreitou apenas com a cabeça pelo vão da porta e analisou a sala com os olhos, procurando por mim. Quando finalmente seus olhos encontraram os meus, ele entrou e fez uma pequena reverência, um instinto herdado de um tempo antigo. Eu ri do seu jeito e ele corou, se aproximando da cama, com o olhar preocupado.

            -Você está bem? –Ele perguntou. Fiz que sim. – Que bom. Rose me deixou completamente apavorado.

            Eu ri.

            -Ainda bem que não foi Lizzie quem te deu a notícia. Ela está 100% certa de que meu pé vai cair.

            Ele riu comigo, sentando-se na ponta da cama, o mais longe possível que conseguia de mim. Eu normalmente deixava nossos limites bem claros. É claro que ele levava isso ao extremo quando não havia ninguém por perto. Era um perfeito cavalheiro.

            -Está doendo muito?

            Perguntou, olhando o pé inerte sobre a almofada. Mesmo bem enfaixado, dava para ver que estava inchado, e muito provavelmente roxo. Dei de ombros.

            -Não muito. Só dói quando me mexo. Quando falou. Quando rio. Ou respiro. – Ele riu novamente e quando parou, o sorriso continuou em seu rosto enquanto eu falava. Suspirei. – Só está torcido. Se eu sossegar um pouco, quem sabe ele melhore?

            Ele deu de ombros também.

            -Quem sabe?

            Elijah passou o resto da tarde comigo e com Lizzie. E quando a noite chegou ele levou Lizzie para jantar. Depois voltaram os dois, com chapéus de chef – que eu não fazia ideia de onde tinham tirado – e uma bandeja nas mãos.

            -Serviço de quarto.

            Disse Elijah, com um sorriso envergonhado. Ele nunca parecia completamente a vontade comigo, como se sempre tivesse algo a mais a dizer. Lizzie ergueu uma colher de pau orgulhosamente.

            -Encontrei o cetro perfeito para o meu reino de fadas e duendes!

            Comemorou sorrindo. A comida era boa. Só o melhor para a inválida da Casa. Arroz com bife e batatas fritas. Lizzie havia colocado uma rodela de limão no meu copo de Coca Light e tagarelou alegremente sobre ser uma grande chef e de como Elijah a ajudara a segurar a faca para cortar a rodela. Elijah sentou ao lado de Boi na cama de Lizzie e ficou me observando enquanto acariciava nosso cachorro. Ele ostentava um sorriso tranquilo. “Porque não posso amá-lo?” Perguntei a mim mesma enquanto o observava. “Porque não posso ter um futuro com ele como Lizzie quer?”

            Suspirei. “Você sabe muito bem porque”, respondi a mim mesma feito uma insana, quando Lizzie se jogou no colo de Elijah, pegando-o de surpresa, beijando sua bochecha carinhosamente como só a minha pequena saberia fazer. “O amor que ele plantou em você é maior do que qualquer coisa que você vê. Você nunca vai conseguir substituir tudo o que perdeu”. Olhei para o quadro ao lado da minha cama, na mesa de cabeceira, na para a foto onde eu e Jake sorríamos. “O que você iria querer? Que lhe fosse fiel ou que fosse feliz?”. Quase pude ouvi-lo dizer que tudo o que queria é que eu fosse feliz. Suspirei e olhei para Elijah, que ainda com Lizzie no colo me encarava solitário. Lizzie também olhava para mim, compreensiva. Aquela era a minha família agora.

            “Será que isso é o suficiente?”.

             No dia seguinte, Rose levou Lizzie à escola como prometido, e apenas eu e Boi ficamos no quarto, mas ele não contava muito, já que ele só dormia, corria atrás da própria cama, mastigava os móveis e lambia as próprias partes íntimas. Eu aproveitei para fazer algo que não tivera a coragem de fazer, desde que chegara à Casa. Mancando, desci da cama e alcancei uma grande caixa de papelão embaixo da cama. Puxei-a e levantei-a para cima da cama com dificuldade. Boi se interessou pelo pacote, mas quando a poeira o fez espirrar ele desistiu e foi mastigar a ponta da cama. Subi novamente na cama e estiquei o pé enfermo em cima de uma almofada. Continuava inchado, roxo e dolorido, não que eu esperasse que estivesse melhor no primeiro dia. Eu só esperava que não parecesse mais um melão.

            Abri a caixa e suspirei, olhado para a foto em cima da mesa de cabeceira. Já fazia um ano. Eu precisava seguir em frente, ou enlouqueceria.

            -Você não precisa esquecê-los – Disse a mim mesma – Vai lembrar para sempre. Mas vai aceitar que o tempo de esperar passou. Você está livre para seguir em frente. O que quer que esteja nessa caixa é o seu passado.

            Suspirei novamente ao pegar o primeiro álbum de fotos. De repente, cinco horas de escola não me pareceram tão dolorosas.

            Lizzie chegou super-animada da escola e ficou ainda mais feliz quando constatou que meu pé continuava no lugar. E por mais que eu quisesse conversar à sós com Rose sobre o que eu estava prestes a fazer, não pude, porque as meninas decidiram invadir meu quarto, sob o pretexto de me visitar para ver como eu estava. Caroline aproveitou minha invalidez para emprestar roupas que eu geralmente não a deixaria levar, dizendo que eu não poderia usar nenhuma delas na cama, e roupas como aquelas precisam de carinho. Elena invadiu a privacidade do meu computador e ela e Meredith leram o último capítulo que eu havia escrito da história dos meus pais. Mas eu já estava acostumada com isso a essa altura. Sem eles para consultar, aquela coisa toda já pendia para a ficção e hipérboles. Porém boa ficção e hipérboles razoáveis, com a ajuda do Lixo. Sim, Lixo.

            Algum tempo atrás, enquanto levava Lizzie à Jenna, antes de ela começar a ter aulas conosco, eu a ouvi discutir com Logan Fell, um vampiro extremamente charmoso, que tentava de todos os jeitos chamar a atenção de Jenna. Quando cheguei com Lizzie, ela havia acabado de fechar a porta na cara dele, que cruzou conosco enquanto descia as escadas. Quando a questionei sobre isso, ela só respondeu:

            -Mais um dia com Logan “Lixo” Fell.

            Disse dando de ombros e suspirando, antes de receber Lizzie calorosamente. Minha mente vagueou até a manhã depois do sacrifício de Trevor. Nahuel sugerira que Noah narrasse e quando lhe pedi ajuda, sugeriu que eu perguntasse ao Lixo. Ele não era esquizofrênico, afinal. Bom saber. Elena não se importou em me informar que Logan, além de ex-namorado grudento e inconformado, arqui-inimigo do namorado atual, Alaric, já fora, além de repórter, escritor publicado de contos, e já ganhara um ou dois prêmios. Já na manhã seguinte eu o ataquei com milhares de perguntas. Desde então, ele vinha me dar aulas de escrita criativa de vez em quando, em cima do meu livro, em quaisquer questões que eu tivesse duvida. E devo admitir que minha escrita melhorara pelo menos 60 %.

            Só Rose e Bonnie realmente sentaram ao meu lado e perguntaram como estava o meu pé. Eu lhes respondi que estava bem, só um pouco dolorido.

            -Você está aflita – Disse Bonnie, no instante que pousou a mão na minha, como se tivesse entrado em transe. – Há uma aura confusa ao seu redor...

            É claro, que foi justamente nessa hora que todas pararam para me ouvir. Apertei a mão de Bonnie, tentando sorrir.

            -Eu... Estou bem, Bon. Só estou exausta.

            Isso era uma meia verdade. Eu estava mesmo cansada. Não conseguia dormir direito de barriga para cima e se me virasse para o único lado que podia, o olhar feliz da foto a minha frente me queimava por dentro, condenando-me a carregar um passado que jamais voltaria. Elena, Meredith e Caroline pareceram aceitar numa boa, mas Rose e Bonnie trocaram um olhar entre si. Através do contato com elas, lhes disse que conversaríamos sobre isso mais tarde.

            Mais ou menos umas duas horas mais tarde, as duas, provavelmente não se aguentando mais de curiosidade conjunta, praticamente expulsaram as meninas dizendo que eu precisava descansar. Lizzie disse que ia levar Boi para passear e levou o amigo para fora, que a seguiu com a cauda balançando atrás dele. Eu sabia que ela estava com medo de ficar e ser a culpada pelo meu pé cair. Depois de fechar a porta atrás dela, Rose veio até a cama, sentando na ponta dela.

            -Pode começar.

            Disse Bonnie, pousando a mão sobre a minha. Suspirei.

            -Quais são as chances de que eu volta para casa? Algum dia?

            -Nulas.

            Disse Bonnie de imediato. Ela já estava conformada com aquele fato.

            -Quase nula – Corrigiu Rose. Eu e Bonnie a encaramos – Gosto de ser otimista. Eu diria 0,00000001% de chance. Pelo menos isso.

            Ela disse fazendo que sim. Bonnie revirou os olhos.

            -Continue querida, por favor.

            Suspirei novamente. Não conseguia parar com aquele ruído chato.

            -Bem, se essa é a possibilidade de ir para casa, qual é a chance de eu voltar a vê-lo.

            Lancei um olhar para o quadro na mesa de cabeceira. Bonnie e Rose seguiram meu olhar.

            -Oh... Aquele que vence.

            Sussurrou

            -Bem, a possibilidade é maior nesse caso. – Disse Rose, pensando – Afinal de contas, ele é uma sobrenaturalidade também.

            -Mas já faz um ano. Se Klaus soubesse da existência dele, ele já estaria aqui a essa altura.  – Rose concordou com a cabeça, ainda pensativa. – O ponto é que... Não adianta continuar achando que eles virão. Preciso seguir em frente.

            Bonnie fez que sim, solidária, apertando minha mão.

            -Todas tivemos que fazer isso em algum ponto.

            -Eu estive pensando em como fazer isso e eu pensei em... – Antes que eu dissesse Dar uma chance a Elijah, lembrei-me de chofre que elas não sabiam nada sobre a falsidade do namoro. Ninguém sabia. Elas achavam que eu já tinha seguido em frente nesse aspecto. – Tirar... Minha gargantilha. E o colar. – Mudei rapidamente, tocando meu relicário de ouro. Que idiotisse! Eu jamais me desfaria de nenhum dos dois. – É. Guardar sabe?

            Continuei, debilmente tentando sustentar meu argumento. Rose e Bonnie trocaram um olhar confuso.

            -Porque você faria isso?        

            Perguntou Rose, tombando a cabeça de lado. Dei de ombros.

            -Não é justo com Elijah ficar estampando o nome dele e não faz bem a mim ficar relembrando tudo o que eu perdi.

            Bonnie tocou a madeira, olhando-me fundo nos olhos como se me visse, pequena e nua, com frio no fundo da minha alma.

            -Isso aqui faz parte de você. De quem você é. Klaus não pode tirar isso de você.

            Rose assentiu.

            -Você não precisa esquecê-los. De jeito nenhum. Só tem que saber que eles não virão.

            Assenti.

            -Valeu gente. Vou... Continuar com eles, então.

            “Vou dar uma chance a Elijah”, Decidi. Elas assentiram, me abraçaram e se foram. Suspirei novamente e quase me estapeei para parar com aquela mania chata.

            -Pare de suspirar. – Eu disse a mim mesma, sentando-me na cama e me esticando para alcançar as muletas que as meninas tinham arranjado para mim para que eu conseguisse ir ao banheiro. – Você tem coisas a fazer.

            Manquei até a frente do quarto 12 e parei, respirando fundo. Descansei um pouco, esticando os braços, mas não adiantava fugir. Eu já tinha vindo até ali. Não podia desistir agora. Ergui a mão e bati três vezes na porta.

            Elijah

            E bem quando o assassino estava prestes a ser revelado, uma batida na porta fez com que eu derrubasse o livro, sentando-me sobre a chàise inundada de livros. Respirando fundo para me acalmar, catei o livro no chão e alisei as páginas que se amassaram ao cair. Uni as sobrancelhas, estranhando visitas no meu quarto. Tyler estava com os cachorros, porque ele viria até ali?

            -Quem é?

            Perguntei, receoso de que fosse Vicki, querendo me pregar alguma peça.

            -Sou eu!

            Disse a voz de Nessie do outro lado da porta. Como de costuma, meu coração se acelerou em resposta a sua voz melodiosa. Levantei-me de um salto, jogando o livro em cima da Chàise.

            -Um segundo!

            Gritei para ela. Puxei as calças para cima e vesti a camisa por cima da camiseta, escondendo as cicatrizes. Corri até o banheiro e tentei ao máximo arrumar eu cabelo de forma apresentável, mas ele, rebelde, teimava-se em se espetar como o de um garoto de 9 anos. Desistindo, fui até a porta e a abri. Esperando do lado de fora, Nessie usava pijamas, mas ainda assim, estava deslumbrante. Os cachos castanho-acobreados caiam em ondas pelos ombros, que estavam apoiados sobre as muletas. E apesar da tristeza e da dúvida que brilhavam em seus olhos castanhos profundos, ela ainda era a moça mais linda que eu já havia visto em toda a minha vida.

            -Oi.

            Ela disse sorrindo, mas sem que isso lhe chegasse aos olhos.

            -Oi – Respondi, sem jeito e sem fôlego. Porque ela sempre fazia isso? – Não... Devia estar na cama? Cuidando desse pé?

            -É, eu devia, mas... Posso entrar? Preciso muito falar com você...

            Fiz que sim, abrindo a porta para ela. Com a ajuda das muletas, ela mancou até a chàise cheia de livros. Fechei a porta e corri até ela, ajudando-a a se sentar. Ela juntou as muletas e deixou-as no chão, ao lado de pé inchado.

            -Está doendo?

            Perguntei, feito um completo imbecil. É claro que doía, estava TORCIDO, e inchado feito uma toranja.

            -Um pouco – Ela disse, olhando os livros ao seu redor, provavelmente pensando no porco desorganizado que eu era. Eu simplesmente não consegui arrumar aquele sofá. Toda vez que eu tentava levar um livro até a prateleira, voltava lendo outro, ou as vezes o mesmo. Ela pegou o livro que dobrara-se novamente ao cair sobre a chàise quando eu o joguei ali com descaso. – Estava lendo? – Assenti, sentando ao seu lado. Ela assentiu, como se aprovasse algo – Adoro Sidney Sheldon...

            Sorri.

            -Eu também. Mas suspeito que você não veio aqui para me acusar de assassinato...

            Ela fez que não.        

            -Não vim... – Ela respirou fundo e seu olhar encontrou o meu. Estava tão hipnotizado por seus olhos que quase não notei quando ela tomou a mão na minha – Eu... – Ela não parecia encontrar as palavras certas – Há um ano... Você me beijou.

            Fiz que sim, rígido. Eu não gostava de lembrar daquele dia em que eu pateticamente fiquei lá, estirado na neve, tomado de vergonha.

            -E você me disse que era comprometida, se bem me lembro.

            Ela assentiu.

            -Bem... Eu sou, mas... Eu vou ser sincera com você... Eu esperava que ele já tivesse aparecido a essa altura...

            -Para salvar você?

            Ela deu de ombros.

            -Muito maduro, hein? – Ela respirou fundo antes de continuar – A questão é que, ao que me consta, ele pode nunca vir. Você está me entendendo? – Fiz que não. Ela suspirou e olhou fundo em meus olhos, apertando a minha mão gelada e suada – Eu estou disposta a tentar. De verdade? Sabe?

            Ela disse devagar e cautelosamente. Demorei a entender o que ela quis dizer. Ela estava dizendo que... Estava disposta a... Dar-me uma chance? De verdade? Ou melhor, nos dar uma chance de verdade?

            -Mas se você... Se isso for meio cruel com você e você não quiser... Eu vou entender... Mas...

            Interrompi-a, aproximando meus lábios dos dela como em um dia de inverno, há muito tempo atrás, à frente de um piano.

            Nessie

            Com Jake, as reações sempre foram rápidas, explosivas. Os fogos de artifício vinham sem dificuldade e nem esforço. Com Elijah era diferente. Não chegava a ser ruim, era apenas... Diferente. Não era um incêndio... Era como uma nevasca. Queimava, mas vagarosamente, com o frio. Lento, mas não menos destrutivo.

            Eu sabia que Elijah era tímido demais para fazer algo além de tocar meus lábios com os seus, então a tarefa de aprofundar o beijo recaiu sobre mim. Deslizei as mãos pelos ombros fortes e ele levantou as mãos até meu rosto, mal se atrevendo a tocá-lo. Após algum tempo, ele me afastou meio centímetro.

            -Bom ou ruim?

            Ele perguntou, contra meus lábios que formigavam. Sorri, confusa.

            -Eu não sei.

            Respondi, sincera e genuinamente cansada. Ele deu de ombros e sorriu.

            -É melhor do que nada. 


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Notas finais do capítulo

Everybody celebrate! Keep calm, 'causa Nessijah is here.