A Casa De Klaus escrita por Bellah102


Capítulo 18
Capítulo 17 - Mentirosa?


Notas iniciais do capítulo

Para a The_Sc, provavelmente a única pessoa lendo. Valeu linda, aproveite o capítulo.



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Elijah

–Sua heroína é uma péssima mentirosa.

Klaus disse assim que fechei as portas de vidro atrás de mim. Ele examinava cuidadosamente uma mão chamuscada e nojenta. Eu podia ver os ossos por trás de algumas das queimaduras. Quando entrei, ele baixou a mão e encarou-me para ver minha reação. Ao que parece não teve o sucesso que esperava, porque continuou a falar.

-Você disse que ela não matou a mãe. Mas entreguei a ela a mãe de outra mestiça, e ela deixou-a morrer.

-Não pode ser.

Eu disse balançando a cabeça. Klaus era venenoso, eu sabia disso. Ele só não gostava de me ver feliz e queria que eu odiasse minha amiga para que eu voltasse a obedecê-lo como eu sempre fizera, por falta de opção melhor.

-Ah sim, e não é só isso. Pegou a criança para si. Segundo fontes muito confiáveis tirou-a da mulher aos berros.

Balancei a cabeça.

-Suas fontes mentem. Ela não é assim.

-Ora, pergunte à Greta.

-Greta é venenosa, e mentirosa. Assim como você.

Klaus fez que não, balançando negativamente o indicador e dizendo “tsc” várias vezes.

-Como meu herdeiro, deve aprender a respeitar meus servos, e principalmente minha consorte.

-Não sou seu herdeiro – Disse cruzando os braços – Rebekka é.

Klaus congelou por alguns segundos, segurando a raiva que sentia para que não acabasse se arrependendo depois, quando precisasse de um fantoche a mais.

-Já disse para não mencionar o nome da sua irmã. Nunca.

-Acho que esqueci-me de anotar na minha lista de nomes que não devo mencionar sob nenhuma circunstancia. Vejamos... Tem... Esther, Mikael, Kol, Finn, Rebekka, Angela...

-CALE-SE!

Ele gritou empurrando-me contra as portas de vidro que se quebraram com o impacto. Caí no chão gritando pelas lascas e cacos de vidro que penetraram minha pele por toda a parte, pelas mãos, braços, pernas e sapatos. Ouvi Klaus caminhar sobre os cacos no chão perto de mim e abri os olhos a tempo de ver-lo escolher um consideravelmente pontiagudo.

-Sabia que existem 56 maneiras de matar um mestiço como você em segundos? Eu o faria. Você tem uma utilidade quase nula para mim.

Gemi, em uma tentativa de riso sem humor.

-Interessante. Pergunto-me o que Angela pensaria disso... Se ainda lhe amaria como costumava amar.

Ele veio até mim e ajoelhou-se ao meu lado. Eu sabia que minha mãe era seu ponto fraco, a única coisa que ainda me mantinha vivo. Talvez o fato de que ela me amava o amolecesse, ou a minha semelhança com ela, ou ser uma parte dela que continuava viva. Mas de qualquer modo, se ele não a amara, a respeitara o bastante para me manter vivo por todos esses anos.

-Por ela, não te torturaria. Mas isso é tudo. – Ele disse solenemente. Jogou com descaso o caco em um canto qualquer, indo em direção às portas da frente do laboratório. – Limpe essa bagunça, Elijah. Alguém pode se machucar.

Ele disse passando pela porta da frente, rindo levemente da própria piada babaca. Não sei quanto tempo fiquei ali, revezando-me entre tentar arrancar cacos do tamanho do meu punho de dentro da minha carne, gritar, sangrar e sentir dor. Mas depois do que pareceu ser um longo tempo, a porta da frente se abriu novamente e ouvi um suspiro.

-É a quarta porta nos últimos 6 meses, cara. - Disse Tyler entrando e deixando o que quer que estivesse carregando em cima de uma das frias bancadas. Ele veio até mim, entrando em meu campo de visão. -Perfurou alguma artéria dessa vez?

Ele perguntou se ajoelhando ao meu lado. Tyler estava acostumado a entrar no laboratório e me ver estirado no chão, sangrando sob os destroços de uma porta, ou prateleira, de vários conjuntos de béqueres ou com marcas profundas nos punhos de Scott. Ele era o único que sabia do segredo que eu escondia com a minha vida. Minhas origens.

-Ele bem que tentou.

Eu disse, arrancando uma lasca gigante fincada perto meu ombro.

-Consegue levantar?

Fiz que sim. Ele se pôs de pé e estendeu a mão, me pondo sentado. Ambos gememos quando os cacos microscópicos que estavam em minha mão penetraram as peles frágeis de nossas palmas. Verifiquei se não tinha mais cacos em minhas pernas além dos que eu já tinha arrancado, enquanto Tyler ia até o tanque no canto do laboratório para lavar as mãos. Com cuidado levantei e sacudi a poeira de vidro do corpo. Tyler, livre dos microscópicos cacos e do sangue saído das minúsculas feridas que eles criaram, vestiu um par de luvas plásticas e foi em direção ao que trouxera de fora, um Sharpei caramelo de olhos cor-de-mel.

-Quem é esse?

Perguntei indo até a bancada.

-Não o seu próximo jantar, eu garanto.

-Ah – Eu disse indo em direção ao meu armário ao lado do tanque – Ele te contou.

Klaus queria envenenar Tyler contra mim agora. Deixar meu único amigo real contra mim. Eu tinha mais utilidade para ele quando estava infeliz.

-Contou. Mas eu já sabia. Os cães me contam tudo.

-Quando se transforma?

Ele fez que sim. Por um tempo, cada um de nós se ocupou de sua maneira, deixando um silêncio tenso entre nós pairar. Limpei os cortes nas minhas mãos cm álcool, gemendo e puxando o ar com força quando doía demais, e Tyler examinou a expressão abatida de seu companheiro canino concentradamente, provavelmente se perguntando porque estava tão quieto. Éramos amigos, de certa forma, mas eu sentia que sempre faltavam palavras entre nós. Tyler era um cara calado, diferente do tio, Mason e sua noiva Jules, e eu não o culpava. Vivia a sombra do tio, longe da casa que vivera toda a infância e tinha que agüentar as transformações que quebravam e deformavam seus ossos para transformá-lo por apenas algumas horas e então tudo de novo quando voltava de manhã, quando o sol nascia. Eu não desejava aquilo nem ao meu pior inimigo, muito menos ao meu melhor amigo.

-Eu não faço por mal, sabe? – Eu disse, julgando que o silêncio já durara demais. Ele fez que sim. – Eu só não quero que Klaus ache que eu pertenço a ele. Não quero ser seu monstrinho de estimação.

Eu disse, enfaixando minhas mãos com cuidado.

-Eu entendo, falou? Rebeldia. Seu pai é uma pessoa ruim e você não quer obedecê-lo. Mas você vai acabar se matando se for radical desse jeito. Seu pai não é o tipo de pessoa que se enfrenta de frente.

Fiz que sim, verificando os cortes nos braços por baixo das mangas. Nada muito fundo. Olhei meu reflexo no vidro. Pelo menos não havia nada no meu rosto. Ninguém repararia em minhas mãos se eu tivesse cuidado e aquela história, como o resto da minha vida jamais sairia daquele laboratório. Novamente, Tyler Lockwood seria a única testemunha da minha sina eterna e da minha desgraça diária.

-Acho que ele não compra vidro temperado de propósito.

Resmunguei. Tyler riu, balançando a cabeça.

-Você é um idiota, sabia?

Eu fiz que sim dando de ombros, virando-me para ele.

-É de família. – Ele revirou os olhos – Como está Caroline?

-Namorando Matt, como sempre. – Ele disse, desanimado. Através dos anos, eu havia assistido à paixão de Tyler por Caroline evoluir mas e mais, tão platônica que parecia doer fisicamente nele, estampada em sua face transtornada. - Tento usar Chad para chegar a ela, mas o cachorro é um maldito de um bastardo, saudável feito sei lá o que.

Eu ri de sua desgraça.

-Que falta de sorte, cara. – Eu disse, aproximando-me dele e do seu amiguinho - Nós não caçamos cachorros ok?

Ele levantou os olhos, e pude ver que tudo aquilo havia sido uma piada.

-Eu sei.

Revirei os olhos.

-Um cachorrinho te contou?

Ele riu.

-Exatamente.


Saí do laboratório e fui para o meu quarto. As aulas haviam terminado há alguns minutos e havia uma grande concentração de sobrenaturalidades ali embaixo. Felizmente passei despercebido pela maioria dos grupos. Fui direto para o meu quarto no segundo andar e hesitei à porta. Se o que Klaus dizia era verdade, Nessie estava a duas portas, com o bebê de uma mulher que ela deixara propositalmente morrer. Balancei a cabeça, recusando-me a acreditar em qualquer coisa do que Klaus – Ou Greta nesse caso – Dissessem. Eles eram mentirosos. Entrei no quarto, tirando a roupa e jogando-a em um canto no chão. Fui para o banheiro e abri o chuveiro gelado, temendo a hora que eu teria que entrar.


Depois do banho, vesti-me, tomando o cuidado de esconder meus braços cortados com mangas longas e escuras. Vesti um casaco de lã. O inverno estava chegando. Durante todo o processo de me vestir, o pensamento de que um bebê, roubado das mãos da mãe moribunda do jeito que eu fora, estava vivendo a apenas algumas paredes de distância ficava me assombrando.

-Parabéns Elijah. – Eu disse para mm mesmo no espelho enquanto passava um cachecol ao redor do pescoço – Você foi envenenado pelo seu odioso pai.

Concluí suspirado. Meu senso de justiça não me deixara dormir se eu não tirasse satisfação sobre aquilo, eu bem saia. Bem... Eu não tinha mais o que fazer, e se ela fosse inocente não haveria nada a esconder, certo? Saí do meu quarto em direção ao quarto número 09. Em seu quadro branco na porta estava escrito com a caligrafia caprichada de Nessie, além do seu próprio nome, “+ Lizzie”. Se eu fosse do tipo impulsivo como meu pai, aquilo já me enfureceria. Mas felizmente eu herdara o gênio calmo de Angela. Aquilo podia significar muitas coisas. Sem contar que qualquer um poderia ter escrito se quisesse. Vicki vivia escrevendo coisas malvadas em meu quadro até que eu o retirei.

Desci ao primeiro andar, onde as sobrenaturalidades já estavam amis dispersas, agrupando-se nos quartos para fazer o dever, na cozinha atrás de um lanche ou ao redor das duas enormes televisões. Não demorei a encontrar Elena e as amigas discutindo para escolher um filme no NetFlix®. Caroline foi a primeira a notar que eu ia em sua direção e alertou as outras com sussurro talvez animado, talvez impressionado. Todas levantaram os olhos para mim quase ao mesmo tempo. Escondi as mãos enfaixadas no bolsos.

-Olá Elijah.

Saudou a bruxa Bennet como se eu falasse com ela todos os dias. Bonnie, se não me enganava.

-Oi... Hum... Alguém viu Nessie?

-Ficou na sala de música – Disse a loura de olhos castanhos. Meredith, lembrei-me. – Ela disse que voltava mais tarde.

Fiz que sim, forçando-me a sorrir.

-Obrigada. Tenham uma boa noite, moças.

Inclinei-me rapidamente em uma saudação, um reflexo de um hábito antigo. Digamos que eu não me relacionava muito com pessoas desde aquela época. Ouvi risinhos e sussurros enquanto me afastava m direção à porta de madeira.


O som do piano vinha até mim da sala de música e soube que Nessie estava lá. Quando contornei a porta, lá estava ela, com os cachos castanhos caindo em cascata sobre o capuz de lã, presos no topo da cabeça com uma piranha de plástico. Abaixo do banco o piano, suas botas revestidas de lã crua branca por dentro apertavam os pedais um a um delicadamente. As polainas, também cor-de-rosa aqueciam-na até os joelhos, e o casaco e o cachecol cuidavam do resto. Sorri levemente, me aproximando do piano. O sorriso se desfez quando me lembrei de porque estava ali. Ela parou de tocar de repente e virou-se para mim.

-Elijah – Ela constatou com um suspiro, parecendo aliviada. Então se recompôs – Você me assustou.

-Desculpe. Não era minha intenção incomodar.

Eu disse sentando-me ao seu lado no banco. Ela não voltou a tocar. Só sorriu levemente e encarou as teclas.

-Você veio para falar de Lizzie não veio?

Ela perguntou baixinho. Fiquei surpreso por alguns segundos e então fiz que sim lentamente, ainda tentando descobrir como ela soubera. Ela concordou com a cabeça.

-Muita gente vem fazendo isso. “Que maldade!”,”Quanta irresponsabilidade!”, “Você é só uma criança, porque não deixa Jenna cuidar disso?”. – Ela suspirou – E eles nem esperam que eu me explique... Pessoas que eu nem ao menos conheço estão comentando sobre mim, e isso é tão... – Ela parou e respirou fundo – Desculpe, não queria jogar tudo isso em cima de você. Eu vim aqui para tentar desestressar mas... – Ela deu de ombros – Se você quiser experimentar algum argumento que eu ainda não tenha ouvido... Sou toda ouvidos.

Ela disse, olhando para mim, parecendo sem mais vontade de tocar.

-Longe de mim querer te julgar, mas porque fez isso se não queria?

-Eu não disse que eu não disse que não queria. Eu fiquei um pouco... Chocada, no começo... Mas não foi bem uma escolha.

-O que quer dizer?

Perguntei. Ela tirou a luva e tocou o meu rosto, a única parte descoberta do meu corpo. A sala ao nosso redor desapareceu e deu lugar ao quarto de Jenna. Eu estive lá algumas vezes depois das agressões de Scott. Ela não sabia de nada, eu contava uma história diferente a cada vez que ela descobria algum dos meus ferimentos e ela me ajudava. Depois de algum tempo, aprendi a ser mais discreto, cuidando de mim mesmo. A cena que eu assistia era vista através dos olhos de Nessie. Pude sentir que ela estava assustada e trazia uma massa quente nos braços.

A mulher na cama de Jenna estava em um estado deplorável, cansada e com um aspecto moribundo. Nessie mostrou o bebê a ela:

-Kate, você conseguiu, ela está aqui...

Kate abriu os olhos fracos e levantou a mão, trêmula.

-Ele tinha razão. Tão especial, mas... Tão difícil... - Por um segundo, vi um instinto assassino passar pelos olhos claros dela. Ela apertou com força o pulso de Nessie – Prometa que vai cuidar dela.

Exigiu.

-O que? Eu...

Ela apertou seu pulso com mais força.

-Prometa que vai protegê-la, e que vai amá-la.

A cada segundo que Nessie demorava para responder, a mulher apertava-a mais e mais com uma força que não parecia condizente com a condição debilitada em que se encontrava. Podia sentir em mim a dor de seu aperto e o desespero que se apoderava dela quanto mais seu pulso era apertado.

-Eu prometo.

Ela disse. Depois de alguns segundos de desconfiança, soltou sua mão. A lembrança desapareceu e estávamos novamente na sala de música. Ela deu um sorriso cansado e deu de ombros.

-Eu a conheci por... O que? Uma hora? – Ela perguntou e suspirou – Eu queria tê-la salvado. Lizzie merecia a mãe, e ela não parecia ser má pessoa – Deu de ombros – De qualquer modo, não sei se Jenna conseguiria parar e eu não tenho veneno. Nem sei se Klaus a deixaria ficar, se desse certo... – Ela suspirou novamente com lágrimas nos olhos, indicando que já havia pensado bastante no assunto – De qualquer modo, já passou. E agora somos eu e Lizzie.

Eu sabia. Sabia que Klaus estava errado e que Greta mentia. Sempre mentiu.

-O que... O que aconteceu com as suas mãos?

Ela perguntou, olhando para os meus bolsos. Tirei-as, deixando as ataduras à mostra. Dei de ombros. Ela tinha sido tão honesta comigo, não era justo que eu mentisse para ela.

-Eu... Discuti com Klaus. Ele me jogou contra uma porta de vidro.

Ela tapou a boca com as mãos, como se ficasse aterrorizada com a idéia. Reprimi um sorriso. Fazia algum tempo que eu não recebia uma reação assim. Tyler já estava acostumado com todas as nossas brigas, e fora ele, ninguém mais parecia se importar comigo. Era bom se sentir importante.

-Você está bem?

Fiz que sim.

-Não foi nada. Já passei por piores. Você sabe...

Ela me olhou com uma expressão diferente do que eu esperaria. Não era pena. Era solidariedade.

-Não faz mais isso, ok? Eu não o conheço há muito tempo, mas eu sei que não se brinca com esse cara.

Meu pai, eu quis dizer, Esse cara é meu pai. Sei disso muito melhor que você e todos nessa casa. Mas me detive. Só sorri para ela e toquei a introdução de uma das minhas musicas favoritas. Ela assustou-se ao ver-me tocar e levantou os olhos, se permitindo um sorriso tímido. Um belo sorriso tímido.

-Here comes the Sun... Doo doo doo doo.

Ela cantou timidamente. Toquei a próxima parte e ela sorriu com mais vivacidade, acompanhando a letra. Tudo aconteceu muito rápido. Ela virou-se para pedir que eu continuasse, sem saber que eu estava a caminho de alcançar uma nota distante e por um instante nossos lábios se tocaram. E ela fugiu.



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Notas finais do capítulo

Here Comes The Sun - The Beatles