Com a chuva caindo incessante do lado de fora e o clima tenso e pesado do lado de dentro Stefano só conseguia pensar em salvar Melanie. Não podia deixar que Matheo a machuca-se, ele não podia. Começou a passar todas as possibilidades em sua cabeça enquanto Matheo continuava seu discurso.

– Nosso último encontro não foi dos melhores não é fratello? Espero que não me julgue por aquilo, eu realmente perco a cabeça quando tenho minhas refeições interrompidas.

– Certo che no. Acho que foi uma falta de etiqueta minha.

Stefano havia avaliado que seria bom entrar no joguinho do irmão para ganhar tempo, assim poderia pensar melhor em uma maneira de salvar a humana.

Ele era forte, em 500 anos sempre se alimentara muito bem e fazia questão de não descuidar-se disso, mas Matheo tinha a vantagem de ser mais velho, o que lhe conferia mais poder. Melanie continuava em silêncio se escondendo dos olhares atentos de Matheo. Stefano nunca havia dito muito sobre sua família a ela. Tudo que a garota sabia era que ele vinha de uma família muito tradicional da Itália e que tinha um irmão, Matheo, e que a relação deles não era das melhores. Com os dois ali, frente a frente, ela entendia que não era apenas uma "birra" entre irmãos.

Ela se aproximou mais de Stefano e colocou a mão esquerda, que estava fria como uma pedra de gelo e úmida pelo nervosismo, nas suas costas.

– Estou com medo...

Ela sussurrou o mais baixo que pôde. Sabia que Stefano iria ouvi-la, mas esperava que seu irmão não. Esperança vã.

– Não se assuste comigo cognata. Peço que me perdoe se apareci numa hora... - ele olhou para Stefano enrolado em um lençol - desapropriada. Não queria interrompê-los. Só queria fazer uma surpresa para meu querido irmão, e surpresa tem dessas coisas, não é?

Mais uma vez o sorriso característico de Matheo dispontava em seus lábios. Era óbvio no brilho de seu olhar que ele estava gostando daquilo. Gostando muito.

Stefano continuava encarando o irmão. Estava pronto para atacar ao mínimo sinal de perigo. A única coisa que passava pela sua cabeça era salvar a vida de Melanie. Observou os olhos do irmão quando falou com Melanie. O ódio e a repulsa logo começaram a aparecer em seu peito. Em poucos segundos sentiu ondas de calor subindo por sua espinha dorsal, até a base do pescoço. Era a mesma sensação que sentia quando ia caçar.

Caçar... sangue.. Melanie. Logo ele lembrou do gosto do sangue de sua amada e ao mesmo tempo, como se estivessem ligados de alguma maneira, Melanie passou os dedos pelas cicatrizes pequenas em seu pescoço. Os olhos atentos de Matheo captaram o movimento atrás do corpo de seu irmão.

– Ah! Que bonitinho... quer dizer que você deixa que ele beba de seu sangue? - Seus olhos brilhavam de maneira sádica. - Devo admitir que é muita coragem sua. Deve amá-lo muito. E você heim maninho? Quem diria. É uma bela moça, muito bela... deliciosa. - Ele passou a língua por seu lábio inferior, como um reflexo. - Será que eu poderia provar?

Isso foi a gota d'água para Stefano. Quando Matheo começou a andar na direção de Melanie, seus olhos ferozes e sedentos, algo explodiu dentro do vampiro e ele saltou em direção ao irmão com um rosnado gultural, que veio do fundo de sua alma, carregado de ódio e malevolência. Sua expressão era a de um demônio louco por sangue derramado.

– Não!!! - Melanie gritou quando viu seu amor pulando em direção a Matheo. Sua mão indo em direção à boca para segurar outro grito de medo. - Stefano! Pare! Solte ele.

Ela nunca havia visto ele daquela forma, tão tomado de ódio. Tão descontrolado... Não conseguia acreditar que aquele era o seu Stefano, aquele rapaz doce e gentil, sempre tão educado.

Ele esmurrava o rosto de seu irmão com uma fúria animalesca, seu olhar parecia desequilibrado.

"Maledetto". Era a única coisa que passava por sua cabeça.