A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 27
27) Hora de encomendar os azulejos


Notas iniciais do capítulo

Oiiii então andei sumida não é? Bem, culpem o professor de Introdução a Metodologia Científica que passou um trabalho enooooorme : l



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/181721/chapter/27

Coloco o livro mais uma vez na estante. 19:00 p.m , devia ter ido ao supermercado antes, não fui , e agora tenho que me apressar afinal chamei Tomás para jantar e tudo que tenho na minha cozinha é pizza congelada e água. Pego a bolsa e a chave do carro, vou para o primeiro supermercado que aparece no caminho. Compro uma garrafa de vinho, uma de refrigerante, e outra de suco. Volto para o apartamento coloco as compras no freezer. Ligo para o restaurante de comida chinesa, encomendo o jantar. 19:30 p.m. Me apresso, tomo um banho rápido, passo um hidratante com cheiro de lavanda. Hora de escolher a roupa. Vestido preto? Jeans com uma bata? Talvez um saia....? A verdade é que não tenho vontade de vestir nada. Minha vontade é de ligar para ele e dizer que não dá para ser hoje, que não me sinto bem e assim passar o resto da noite enfiada entre os lençóis da cama, se pudesse ficaria sem respirar, só para me sentir morta e não precisar fazer o que tenho que fazer.

Mas quem disse que eu tenho escolha? A verdade é que nunca tive e não vai ser agora que vou fazer valer o que quero. Aliás, farei nas coisas mínimas, nas coisas que no fundo não importam. Não vou me arrumar para uma festa.

Desenrolo a toalha do corpo, ponho a calça azul de pijama e o moletom cinza. E vai todo mundo se fo%@# mesmo. Passo a toalha pelo cabelo molhado, a campainha toca. Abro a porta. Entra.Vou terminar de secar o cabelo fica aí.

Volto para o quarto e nem me dou o trabalho de olhar para a cara dele, mas consigo ouvir um “boa noite” que começa animado mas depois cai na real e se transforma num sussurro. Volto alguns minutos depois e ele está no mesmo lugar que eu deixei. Ótimo, pelo menos ensinei o cachorro a ficar.

Estende um mini buquê de flores coloridas. E repete dessa vez com mais coragem. Boa noite. Tomás se aproxima e já posso imaginar aquela cena melosa de sempre, beijos , abraços, nhem, nhem , nhem...Mas ele não me toca. Só fica ali com aquela cara dele me encarando.Espero uma pergunta, um comentário, mas ele não diz nada. OK, eu sou boa desse jogo, não vou me mexer, não vou falar uma sílaba até ele fazer primeiro. Daris começa a rir, sim , rir, às vezes eu me pergunto se ele é 100% bom da cabeça, e cenas como essa na ajudam no diagnóstico.Segura a minha mão e acaricia a palma com o polegar, olhando para meus dedos com uma cara de decidido ele começa:

“ Acho que seu dia hoje não foi dos melhores, mas não tem problema. Olha, não importa o que tenha acontecido, o que importa é que agora tudo ficará bem. E sabe por que? Porque eu estou aqui. É e pare de rir com essa cara de quem não acredita no que eu digo. Emi, eu estou aqui. E não vou sair daqui até você ficar bem, palavra de escoteiro.”

“ E se você me mandar embora – o que eu acho bem provável de acontecer- eu não vou. E se você gritar comigo, eu não escuto. Se me espancar e me jogar pela janela? Bem, eu volto dos mortos só para segurar a sua mão de novo e não soltar até você estar pronta”

Dizendo isso, o maior idiota que eu já conheci, Tomás Daris, beija minha testa e me  leva até o sofá , me puxa  para perto dele. Meu rosto fica escondido no pescoço dele, o que foi bom primeiro porque assim ele não viria meu semblante de quase espanto e segundo que eu gostei de ficar ali, era quente e confortável. Foi passando a mão pelo meu cabelo fazendo um cafuné. E ficou repetindo aquilo baixinho, como um mantra : “Eu estou aqui. E não vou sair daqui até  você ficar bem”. Talvez mais para ele do que para mim.

Eu poderia ficar ali mas o interfone tocou. Demorei alguns segundos para voltar ao mundo real.

- Quer que eu atenda?

- Não tudo bem , eu vou – levanto e deixo o cara subir.

Pego o dinheiro na bolsa.

- Pode ficar com o troco – fecho a porta e levo a comida para cozinha.

Pego os potinhos com arroz e frango xadrez, volto a me enterrar entre o sofá e o corpo dele, estendo um potinho. E fico ali  sabendo que não preciso dizer nada, que ele não está me julgando ou me cobrando, só está comendo frango xadrez mesmo.

- Hum...como você cozinha bem – ele diz rindo da própria piada

Finalmente saio do meu esconderijo e me aprumo para olhar para ele.

- Foi só....uma brincadeira – diz sem graça depois que percebe que eu não estou nem sorrindo

Passo a mão pelo canto da boca dele que está sujo de molho. Passo a mão pelo queixo dele. Encaro aqueles olhos questionadores.

- Eu sei que , na maioria das vezes, trato você miseravelmente – digo sem pensar muito, porque se eu refletisse com atenção não diria nada – Miseravelmente – respiro pesarosamente e continuo – Por que você não me deixa e vai ? Você conseguiria coisa melhor, sério, é pelo sexo?

Ele ri. Ri não. Gar-ga-lha. Estreito os olhos. Só não dou um tapa para ele parar de rir porque hoje ele tem crédito de sobra comigo. Quando as bochechas já estão vermelhas e a respiração já está falha ele vai diminuindo o ritmo das risadas.

- Ai, ai....- ele respira fundo – Essa foi boa....- diz isso e passa a mão pelo meu rosto apertando as minhas bochechas como se eu fosse uma pirralha – Coisa fo-fa – Se aproxima e me dá um beijo na bochecha muito babado, olho para ele querendo arrancar a língua fora , que palhaçada! Mas ele ainda tem crédito passo a mão pelo rosto para tirar a baba – Você não está falando sério, está? – como eu não respondo ele continua – Hum...entendo, olha Emi você tem um gênio, hum...como eu digo....err...difícil, e com todo respeito, você não é a última mulher do mundo , embora seja a mais bonita – Ele pisca com uma das pálpebras – Mas eu não estaria aqui por isso

- E precisava me babar toda para falar isso? – digo irritada, embora ligeiramente satisfeita

- Precisava

Ele começa a rir novamente, e eu acabo rindo por inércia.  Riu....depois riu mais um pouquinho , daí me lembro :” Quem sou eu para rir assim?”. E paro subitamente. Ele ainda ri distraído, mas eu já não vejo graça, imagino Tomás Daris gélido, com os olhos fugindo da órbita, com a boca entreaberta. Morto. Levanto de seu colo e procuro algum lugar que eu possa manter meus olhos, algum lugar para recuperar a frieza, o planejamento e a distância que eu nunca deveria ter largado.

- Ei...- ela diz com uma voz mais séria – O que foi?

Não suporto ouvi-lo, vou para o banheiro, tranco a porta, sento no vaso e olho para o azulejo branco. Tento recuperar o ritmo da respiração. Foco.Foco. Foco. Fo...

- Emi? – batidas na porta interrompem meu mantra – Tudo bem ai?

Eu quis chorar. Quis mesmo, mas não consegui. Nem uma mísera gota. O ar começou a fugir de meus pulmões, as paredes rodaram , o chão desapareceu, me apoiei na pia para não escorregar do vaso e acabar caindo. Mordi a língua com força para não gritar, senti o gosto ferroso do sangue.

- Emi....? Você tá passando mal?

- Não – digo me esforçando para fazer uma voz de normalidade – Quer dizer....um pouco, acho que é o tempero da comida chinesa, daqui a pouco saio

- Ah – ouço-o dizer do outro lado da porta – Tudo bem então, qualquer coisa pode chamar, viu? Eu vou ficar aqui esperando

Como o chão não para de rodar resolvo agir assim mesmo, deve ser a maldita hipoglicemia atacando de novo, ponho a mão na parede e vou com passos vacilantes me firmando de frente ao espelho, não é esforço algum não olhar meu reflexo, é até conveniente. Lavo o rosto com água fria. Estalo o pescoço. Respiro fundo e abro a porta. Daris se levanta do sofá e vem ao meu encontro, mas eu já estou seguindo para o quarto, abro a mochila e pego a barra de chocolate que anda comigo por precaução. Mordo um pedaço generoso e deixo o doce se dissolver abaixo da língua. Ele entra de fininho e senta na cadeira perto da escrivaninha.

Ele deve estar pensando em algo para me dizer, algo reconfortante, estimulante ou hilariante. E se ele disser eu vou ouvir e acreditar, porque Tomás não fala da boca para fora,porque Tomás vai ficar mesmo que eu o mande embora, porque Tomás não sabe, se soubesse não diria nada, se soubesse não ficaria, se soubesse....

E se eu disser? E se eu contar tudo, digo a ele que sua vida tem validade de 2 meses, explico quem eu sou, o que faço e ajudo-o a se esconder, invento uma desculpa para Giovanni e pronto. Tomás Daris estará a salvo e eu salvarei o que ainda presta em mim junto com ele.

Sorriu.

Essa foi boa, muito boa. Quase acreditei, ein? Dizer a ele? Eu sou comediante agora? Inventar uma história para Giovanni sumariamente acreditar e esquecer seu objetivo? Riam todos, porque isso é cômico! Não existe grão de areia perdido na face da terra que Giovanni não possa encontrar, corrigindo, mandar encontrar. Levanto os olhos e vejo que ele também me olha. Olhos castanhos cor de terra molhada. Melhor eu falar antes que ele comece  a dizer coisas, e eu comece a achar que sou outra pessoa.

- Então – digo já sentindo o efeito positivo do chocolate, o chão rodando mais devagar – Vou passar a semana que vem fora, tenho compromissos de trabalho e vou precisar me ausentar

- E quando você volta?

- No Domingo

- Certo – ele tamborila com os dedos no braço da cadeira – Coisas do exército?

- É por aí

Tomás se levante e senta ao meu lado na cama, beija meu ombro e depois deita de costas. Olho para ele que sorri com o sorriso mais sem motivo que eu já vi. Alguns fios de cabelo estão espalhados pela testa. As mão estão atrás da cabeça, ele parece distraído olhando o teto. A imagem que ele aparece morto com a boca semiaberta parece querer voltar, eu tiro ela dali e me concentro no homem vivo deitado ao meu lado. Sinto vontade de beijá-lo rápido, já! Vontade de mantê-lo perto de mim, de sentir seu cheiro, sua carne, seu gosto.....tiro também essa visão de meus pensamentos, assim, só me resta dizer:

- Melhor você ir agora – dou tapinhas no joelho pedindo que ele levante

-Não vou sair de perto de você eu...

- Então vá para o sofá, eu quero dormir um pouco

Ele abre e fecha a boca algumas vezes. Nada diz. Beija minha testa, diz um “boa noite” ao pé do meu ouvido, levanta e sai do quarto. Como o resto da barra de chocolate, estico o corpo sobre o colchão e rezo para não ter pesadelos essa noite, tudo por uma noite de sono, em paz, sem lembranças.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Olha, sei que esses últimos capítulos estão um tanto quanto melosos ( : o )....Bem, juro que vai ter uma açãozinha daqui a pouco ; ) Hei comentem viu suas pessoas fofas #rum
Bjuks