A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 11
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Duas semanas e três dias atrás:

Fui almoçar naquela lanchonete da esquina, eu tinha dinheiro para comer no melhor restaurante dessa droga de cidade, mas para que pedir um prato caro, num restaurante chique com pessoas ricas e hipócritas ao meu redor? Pelo menos comendo hambúrguer com fritas e cerveja numa lanchonete fedorenta , eu não precisava me importar com os motoqueiros drogados, com os bêbados no balcão, nem com os deprimidos espalhados pelas mesas. Peguei o carro e fui cortando a cidade. Eu moro numa cobertura grande demais para minha solidão. Meu quarto ficava na parte de cima, então eu sempre percorria o apartamento até chegar a escada. Um apartamento cheio de móveis e vazio. Isso me incomodava, não fique pensando que eu estou deprimida ou algo assim.Não pense que solidão significa tristeza, não no meu caso, eu gostava de ser só (e isso não significa que eu sou feliz, porque você é tão extremistas?). O fato é que a minha vida inteira, e quando eu digo inteira eu quero dizer inteira, eu fui sozinha, ninguém estava por mim além de eu mesma.

Eu tirei minha roupa e fui caminhando até o banheiro, deixei a banheira encher enquanto eu me olhava no espelho. Meu rosto me dizia que eu estava cansada, quem se importa? Alonguei o corpo, deixei-me cair aos poucos na banheira com água quente, aliás fervendo, até queimava, doía, e era muito bom. Tentei estirar cada centímetro para sentir os músculos relaxarem, não funcionou muito. Talvez eu tenha cochilado, sei que  despertei de qualquer sono ou estado hipnótico com o som do meu celular. Lá vem problema – foi o que eu pensei, eu estava certa aliás – saí da banheira sem me preocupar com toalhas e atendi o telefone. Uma voz grossa e grave disse duas coisas.

- Amanhã nove horas

Como eu disse, eu sabia que boa coisa não seria, o que eu não sabia? Que seria muito pior do que eu pensara. Não dormi, para mim não era novidade, peguei um livro de cabeceira passei pelas palavras e pelas páginas, ler? Não, não li nadinha. Até que o Sol não demorou a voltar, vesti uma blusa preta de manga longa, uma calça jeans, um tênis branco, pus um moletom vermelho(melhor para disfarçar a arma na cintura), coloquei um revólver na mochila , mais munição, só para garantir: passaporte falso, RG falso e uma passagem de avião para algum lugar perdido na Ásia. Entrei no eclipse 2000, deixei meus dedos percorrerem o volante, liguei o carro, senti o motor pedir por velocidade. Estalei o pescoço, saí da garagem e acelerei, acelerei descontando qualquer raiva no pedal da direita. Deixei a mochila no carro (caso minha mochila fosse revistada).

Fui a lojinha que vendia livros de viagem, você já sabe o procedimento, Turquia aí vou eu de novo. Subi as escadas, nervosa? Não  exatamente, ansiosa ainda pode ser, eu sou treinada para evitar sentir coisas que atrapalhem meu raciocínio , nervosismo atrapalha você não é?! Bati na porta, entrei, o cigarro estava lá e o homem apontou a cadeira, sentei e mirei o ombro dele.

- Cortez – Giovanni Hockbak disse isso com sua voz grave e baixa – Eu resolvi chamar você aqui de novo porque quero que faça um favor para mim – Ele fez uma pausa e engoliu um pouco de whisky – Tomás Daris – Nova pausa.

O sangue do meu corpo congelou, Tomás Daris? O que ele queria com ele? Naquele momento eu tive 2 certezas:

Certeza 1) A vida de Tomás Daris tinha prazo de validade determinado

Certeza 2) A culpa era minha, porque não importavam os motivos, foi através de mim que Hockbak olhou para Daris

Como eu não falei nada ele prosseguiu – Esse rapaz é iniciante no batalhão no qual você é capitã – Isso não era uma pergunta ele apenas parou para beber mais um gole – Pelo que sei vocês já tiveram dois encontros fora do campo de treinamento – Novamente, isso não era uma pergunta – Foi assim que pensei que talvez você tenha facilidade em tratar com esse rapaz – Soprou a fumaça do cigarro, meu coração estava acelerado com a idéia tenebrosa que certamente estava por vir, mas tentei manter a aparência de indiferente -  Para chegar ao seu objetivo você deve invadir o cérebro do exército brasileiro é para isso que você trabalhou nos últimos anos, mas e se você usasse esse rapaz? Desviaria a atenção de você, de nós e seria muito mais fácil cumprir esse objetivo – Mais uma baforada no cigarro – Então, Cortez, o que acha da mudança de planos? Melhor! Do aprimoramento dos antigos planos?

Refleti por um instante, eu não podia demorar muito para responder, ele não queria saber minha real opinião, ele sabia que eu não gostava de envolver inocentes, eu não queria meter Tomás Daris nesse assunto, mas a decisão obviamente já estava tomada, e , de todas as maneiras que eu tentasse não conseguia achar um fim para Tomás que não a morte . Escolhi enfim as melhores palavras para expor meu ponto de vista – Penso que o andamento da missão está dentro do planejado, não precisamos envolver um inocente, além do mais o Senhor sabe que ele acabaria morrendo o que chamaria atenção

- Entendo sua defesa pelos inocentes – Ele riu sinicamente – Mas usando esse rapaz tudo ficará mais simples e você sabe que podemos salvar a vida de muitos inocentes cumprindo nosso objetivo – Indiretamente? Era verdade – Além do mais nós não vamos matá-lo, nossos adversários vão e nós não podemos nos culpar pelo erro dos outros

- Nós vamos levá-lo para a morte! – Certo eu estava irritada – Eu não quero matar esse homem

Giovanni riu por um tempo bem significativo.

- Você não quer matar ? Vamos lá: - Ele abriu uma gaveta da escrivaninha e tirou uma pasta azul de lá, pegou um conjunto de papéis o primeiro tinha uma foto minha : Rudolf  Hon 1993, George Croise 1998, Felipe Consuelo 2002, Ramona Colins 2002, Tereza Castro 2002, parece que em 2002 você estava bem disposta a matar...

- Certo, eu entendi – Aqueles nomes me atormentavam

- ...O que? Já? Não...vamos continuar mais um pouco,  Ronald Gream 2006, Woller Kurt 2006, Pierre O’Neal 2007 – Ele me examinou por um tempo antes de voltar a falar – A lista continua, você matou essas pessoas. Você foi treinada para isso, mas você, Cortez matou um menino quando tinha 7 anos, você nasceu para isso, seu caminho é sem volta, então não venha me dizer agora que não quer  matar, até mesmo porque você não tem escolha – Assoprou a fumaça.

- Como eu vou convencê-lo a fazer o que eu quero? Devo oferecer dinheiro?

- Não – Ele riu mais uma vez com sarcasmo – Ele deve ser conduzido a fazer o que você quer, mas não pode saber disso, faça o desejar você

Quando a reunião acabou eu estava zonza entrei no carro e dirigi  sem destino por muito tempo. Eu faria Tomás se interessar por mim, fazer o que eu queria que fizesse, ou melhor o que eles queriam, eu não tinha vontade própria. Depois eu o jogaria fora, eu o usaria, conduzindo o aos poucos para a própria morte. Se eu gostava disso? Não. Se eu faria? Sim. O objetivo maior era obter informações dos traficantes do Haiti através do exército brasileiro, que afinal mantinha forças de paz nesse país (corruptos existem em todos os lugares). Contudo, essas informações não pertencem a reles subalternos, claro que não, altas patentes. E além do mais saber delas não era o suficiente, precisávamos detê-las.Eles precisavam. Não era o foco da missão, mas a verdade é que muitos inocentes seriam salvos quanto mais rápido conseguíssemos desarticular os traficantes locais (aí venderíamos armas mais baratas para o governo dos EUA). Imaginem quantas vítimas poupadas com a diminuição do tráfico, quantas famílias preservadas sem o usa das drogas , imaginem, tudo isso em troca de apenas uma vida. Eu usaria Daris, eu o levaria até a morte sem qualquer sentimentalismo ou remorso, não me culpe, você não escolheria milhares de vidas em detrimento de uma só? Não? Não é emoção, é matemática.Eu não sou boa pessoa, não se iluda pensando que sou uma pobre coitada boazinha que lida com os homens maus, nada disso. Eu sou tão má como eles, eu sou parte deles.Eu posso matar, e talvez eu até goste.

Dirige até o fim da cidade, parei numa budega. Pedi cerveja,não quis comer nada. Mais algumas cervejas depois, na verdade, muitas voltei para o meu apartamento. Eu começaria a enfeitiçar Tomás para falar de maneira figurada. A morte de Tomás Daris começaria amanhã mesmo.

Eu voltei ao centro de treinamento, inventei qualquer desculpa esfarrapada e disse ao Sargento Teixeira enquanto ele treinava os calouros na área de circuito. Sabe quando uma fera vai atacar sua presa, a pobre presa já tentou correr, mas não conseguiu despistar seu predador, então segundos antes da fera dar seu bote a presa simplesmente encara, contando com a ação do acaso para se salvar, o que na maioria das vezes, não acontece. Foi como uma presa que mirava a fera que a mataria que  Tomás Daris estava me encarando quando levantei os olhos, o Sargento chamou lhe a atenção e ele continuou suas atividades e eu tratei de voltar ao meu quarto, entrei no banheiro e lavei o rosto, não adiantou, nem toda a água do mundo faria eu me esquecer dos olhos de Tomás Daris me encarando, ele morreria e seus olhos mirariam apenas uma direção, em breve.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acharam ? Vlw nossa amiga Besty pela recomendação (em duas de minhas fics veja só). E você pessoa fofa que eu sei que comentará, fique a vontade, fale o que está pensando da história e o que você espera que aconteça agora.
um BJAO - talvez dois-