A Vilã Morre No Final . escrita por Liz03


Capítulo 12
12) Coloque as roscas(porcas)




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Desde que a Capitã voltou eu não consegui ainda falar com ela para agradecer. As lutas iam voltar dentro de algumas semanas, e eu estava definitivamente fora de forma. Quando surgiu um fim de semana que mamãe e Sofia iam a um passeio, tratei de pôr minha camiseta cinza, meu short preto, peguei as luvas e fui treinar meus jabs.Mas aí eu vi que ela estava lá, fazendo uma seqüência ritmada e precisa num saco de pancadas. Por impulso, dei meia volta e saí de fininho, quando já estava no caminho de volta para o quarto parei por um instante e percebi que essa era uma ótima oportunidade para dizer “obrigado”. Voltei, entrei na área de treinamento, com certeza ela já tinha percebido minha presença, mas não disse nada, nem olhou para mim e nem pensar em diminuir o ritmo dos socos. Resolvi tomar a iniciativa.

- Eu...- Eu já tinha ensaiado no espelho da banheiro, mas agora eu não conseguia dizer nada do planejado -...só queria dizer...obrigado – Tentei sorrir e tenho certeza que fiquei com cara de pateta, ela não se mexeu -...Sabe, naquele dia você salvou minha pela e a da Luiza, que era aquela que tava comigo, muito obrigada por me levar até o hospital e tudo mais... – Agora o meu nervosismo se transformou em tagarelice-...então obrigada mesmo e...

- Certo – Ela me interrompeu, o que por um lado foi bom porque talvez eu não parasse nunca, ela parou de socar, olhou para mim por alguns segundos rápidos, fez um aceno de cabeça e continuou a sequência

Eu fiz o que tinha de fazer, não como eu tinha planejado no espelho embaçado, mas pelo menos eu falei. Fui saindo de perto dela e pretendendo ler alguma coisa ou vagar pela internet da lan house que ficava na outra rua.

- Ei calouro- Ela me interrompeu quando eu já estava a alguns metros depois da porta – Pode ficar se quiser – Voltou para a sequência.

O que eu faço? O que eu faço?.Acenei com a cabeça e voltei (pela segunda vez), comecei a fazer um alongamento, depois alguns abdominais e algumas flexões. Mexi um pouco os quadris, eu estava mesmo enferrujado. Comecei com jabs curtos, aumentei o ritmo, alguns cruzados, jabs curtos, cruzados. Eu estava bastante concentrado, vai ver por isso não percebi que ela estava bem do meu lado, quando ela falou eu tomei um senhor susto.

- Você está fazendo isso errado

- Ai! – Esse gritinho não foi muito másculo – Desculpe?

Ela me encarou mais uma vez, parecia refletir tratei de não interromper – Tomás , não é? – Oh meu Deus! Ela sabe meu primeiro nome, ela sabe meu nome!Fiz que sim com a cabeça – Você tem uma boa sequência, tem um ritmo regular, mas você é meio lerdo e não coloca força no soco, faz muita coisa e acaba não fazendo nada – Apenas balancei a cabeça afirmativamente -  Coloque o punho na altura dos olhos – Ela mesma demonstrou – Pés seguros, quadril móvel, movimentação e atinja o alvo com força e precisão – Capitã Cortez socou a saco de areia – Faz aí

Punho na altura dos olhos, o bererê todo, e paf.

- Hum...quase mas faltou precisão – Com uma mão ela apoiou meu cotovelo, com a outra segurou meu pulso, e fez o movimento do jab – É melhorou, mas seria bem melhor se você em vez de olhar para mim olhasse para onde está esmurrando

- Ah desculpa! – Certo, agora eu fiquei vermelho cor de moranguinho do sertão. Ela me segurou pelo braço mais uma vez e eu fiquei certo de não desviar os olhos do saco de pancadas

- OK, melhor eu voltar para o meu saco de pancadas porque se você ficar mais vermelho vai explodir

- Ah...desculpe...eu...

- É, tá, tá bom – Ela voltou para o saco de pancadas dela e ficou assim até que eu cansei e resolvi tomar uma ducha e descansar.

- Err...- Falo ou não falo? Ein? Falo. –Tchau, e obrigada por me ajudar...hoje e naquele dia

- Certo – Ela fez o mesmo da primeira vez, parou por pouco tempo, olhou, balançou a cabeça e voltou a socar no mesmo ritmo como se tivesse acabado de começar, e eu já estava morto de cansaço.

Fui caminhando de volta para o quarto (dessa vez eu fui mesmo) e aí me dei conta da coisa bizarra e inacreditável que eu acabei de vivenciar. Emiliane Cortez me deu aulas particulares de como socar um saco de pancadas? E mais! Ela por acaso disse o meu nome? E eu fiz o que , fiz o que? Fiquei vermelho igual a um tomate  e fiquei encarando ela.

Eu deitei e dormi instantaneamente, nem deu tempo para de me virar ou mudar de posição.

Ela me cutucou, me balançou. “Tomás” disse num grito só que no sussurro para não acordar o Tolói. Acordei um pouco assustado e quando a reconheci fiquei mais assustado ainda.

- Capitã Cortez? – Eu franzi a testa. O que ela estava fazendo ali?

- Me chame apenas de Emiliane chuchuzinho – Ela disse e apertou minhas bochechas.

Eu tentei falar, mas não saiu nada, ou nada que desse para entender. Ela apoiou a mão vaga no meu peito, não ficou ali por muito tempo. E esse foi o problema, a partir desse momento eu fiquei muito nervoso, eu estava apavorado, ela era uma mulher muito bonita, isso é indiscutível, mas ela era uma Capitã do exército (do meu batalhão ainda mais!), e eu tinha medo dela, eu queria segurá-la pelos ombros e tirá-la dali mas eu só conseguia imaginar a cena eu empurrando ela para longe.

- Po-po-por favor a su-sua mão ti-tira - Ela puxou meu cabelo - Ti-tira a mão! Ti-tira a mão por favor!

- Tomás? Tomás! - Por que ela estava fazendo essa voz grossa? - Acorda! Acorda Tomás!

Abri os olhos assustado, Tolói estava ao lado da minha cama.

- Você estava tendo um pesadelo cara

- Pesadelo? - Hum, isso explica muita coisa - É de madrugada ainda?

- Madrugada? - Ele me mostrou um relógio - Você tá atrasado!

O relógio marcava 06:45 a.m, o treino de hoje começaria às 07:00, ou seja, tenho 15 minutos para me vestir e comer alguma coisa (se ainda estiverem servindo o café da manhã no refeitório), o que? Banho? Nem pensar, banho não é luxo de atrasados. Disse que o Tolói podia ir, vesti a calça (demorei um tempo desnecessário para encaixar um pé, isso sempre acontece comigo quando preciso ser rápido), pus a blusa branca de treinamento, calcei os pés. 06:50 a.m . Passei a mão no cabelo, o que? Pentear? Nem pensar. Saí correndo para o refeitório, ainda tinha umas sobras, mas não tinha mais nenhum calouro lá, enfiei um pedaço de pão na boca, engoli o café frio, passei a mão na boca para limpar os farelos de pão e o bigode de café. O que? Guardanapo? Nem pensar! 06:55 a.m. Saí correndo para a área de treinamento, ia dar tempo, tudo certo. Não é? Seria, se eu não tivesse esquecido que o treinamento hoje era do lado de fora. Mas eu percebi meu equívoco quando cheguei lá e não tinha ninguém. Resmunguei um palavrão. 06:57 a.m. Não vai dar tempo, eu estou - como se diz em latim- ferradus lascadíssimus. Quando eu cheguei no meu destino, o Sargento e a Capitã Cortez já davam as instruções, me aproximei dos outros calouros.

- Onde a boneca estava? – O Sargento me perguntou

- Eu me atrasei

- Se atrasou?! E a gracinha acha que agora chega aqui e fica tudo bem? – Ele estava debochando da minha cara caso não você não tenha percebido – Você vai participar dessa atividade e depois do treinamento vai para a lavanderia lavar as roupas que tem lá e sem atraso!

- Sim, senhor!

Hoje nós teríamos aulas de tiro, era o nosso primeiro contato com armas, na verdade primeiramente iríamos tratar do básico, como segurar a arma, como apontar, tem que ter postura e não é tão simples quanto imaginamos quando brincamos em atirar com os dedinhos da mão. Fizemos exercícios físicos e corremos muito mesmo. Paramos para almoçar, pausa para que tomássemos banho já que estávamos imundos. No treinamento da tarde teríamos nossa primeira aula de resgate e primeiros socorros.

Nos dividimos em grupos, corríamos num terreno dificultoso,entrávamos numa casa de tijolos e esburacada, servia para simulações, pulávamos o muro e rastejamos pela grama para passar por uma cerca alta de arame farpado, arrombamos a porta, nos distribuímos pelos cômodos para achar a vítima, com armas que atiram tinta rendemos bonecos de palha e atiramos neles, resgatamos a vítima  que também é um boneco, fazemos massagem cardíaca e respiração boca a boca porque o boneco está “ferido” e inconsciente.  Missão cumprida! Ao fim do dia foi a Capitã Cortez que fez as devidas ponderações, o que acertamos, o que erramos, e como fazer para acertar.

Já era tardezinha, começo de noite , quando o treinamento do dia acabou. Todos estavam exaustos, inclusive eu, mas enquanto todos foram para seus quartos eu fui para a lavanderia. Quando entrei imediatamente meu estômago deu um giro e meu jantar teve vontade voltar, o cheiro era péssimo!  As tarefas no batalhão eram revezadas, eu já tinha varrido, cozinhado, lavado pratos, mas era a minha primeira vez nesse tipo de serviço, e posso dizer que era o pior de todos, eram lavados lençóis e fardas dos chefes, porque as nossas cada um que lavasse, óbvio. Pus os lençóis e roupa de cama nas máquinas de lavar (eram 3). E fui lavar na mão as fardas dos superiores para agilizar. Estendi tudo no varal. Ainda tinha mais coisa para lavar! Quando acabei já era tarde, eu estava tão cansado que poderia muito bem dormir em pé, antes de chegar  no quarto mesmo. Molhei o rosto , escovei os dentes dei um sorriso para o espelho (ah! Não fique aí mangando de mim coisa fofa, vai dizer que você nunca fez isso?!).Me certifiquei de colocar o alarme do celular com uma música de rock bem barulhenta, desculpa Tolói Me joguei na cama, sem me cobrir, sem nem tentar sair de cima do braço. Graças a Deus não tive sonhos –pesadelos- com uma certa mulher de farda.






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Notas finais do capítulo

Oi, e aí como está? Muito obrigada a todos que comentaram ^^ Esse capítulos é pra vocês o/
Um bjao e não esqueçam de dizer o que estão achando da história, especificamente desse capítulo, OK?!