X – x 3 Dias Depois (20 de Julho) x – X

 Alice estava completando um ano. Frank, claro, prepararia uma festa enorme para sua pequena princesinha.

 - Qual o horário da festa? – perguntei a Gerard pela manhã, enquanto tomávamos café.

 - Quatro da tarde – ele respondeu.

 Eu havia dormido mal, Gerard havia se mexido, agoniado, durante a noite inteira sem me deixar dormir. Cheguei a pensar que teria sido de propósito, como uma vingança por eu estar obrigando-o a cumprir sua promessa.

 Depois do café fui tomar um banho para tentar acordar melhor, encarei-me no espelho, eu estava com olheiras profundas sob os olhos, minha pele estava excessivamente pálida e até meu cabelo parecia mais feio.

 - Agora sim eu estou parecendo uma mãe de gêmeos – ironizei.

 Os bebês nunca foram exagerados nessa parte de chorar durante a madrugada, além disso, na maioria das vezes era Gerard quem ia vê-los quando choravam. Mas agora eu tinha alguém dormindo ao meu lado que não deixava-me dormir.

 Tomei um banho demorado, até sentir que estava acordada o suficiente para manter-me em pé.

 Saí do banheiro enrolada na toalha, estava tão sonolenta que até esquecera de pegar minhas roupas.

 Quando cheguei ao quarto Gerard estava lá, procurando algo no guarda-roupa. Ele me encarou sem expressão, encarei-o também.

 - Por que está me encarando? – ele perguntou.

 - Você me encarou primeiro – arqueei uma sobrancelha. – O que está fazendo?

 - Procurando alguma coisa para me distrair – ele respondeu. – Resolvi arrumar o guarda-roupa.

 Ele me olhou de cima a baixo.

 - É melhor eu sair do quarto para deixar você se vestir – ele fechou a porta do guarda-roupa rapidamente e passou por mim, tentando manter uma distância, e depois correu até a porta do quarto, fechando-a quando saiu.

 - Isso não vai fazer bem a ele – murmurei para mim mesma.

 Coloquei um vestido preto tomara-que-caia, justo na cintura e solto na saia, que ia até um pouco acima dos joelhos.

 Iríamos ajudar nos preparativos da festa, então já iríamos prontos.

 Amarrei meu cabelo em um rabo-de-cavalo, daria um jeito melhor nele quando estivesse mais próximo da hora da festa. Coloquei uma sapatilha preta e confortável, também levaria um sapato de salto alto para mais tarde.

 Não fiz maquiagem, apenas passei um brilho labial básico, antes da festa eu me arrumaria melhor.

 Saí do quarto e fui até a sala, onde pude ver Gerard sentado no chão, sobre um cobertor pequeno, com Helie e Arth sentadinhos à sua frente – com almofadas atrás de suas costas, já que eles ainda não sabiam sentar sozinhos direito. Gerard mexia um chocalho colorido freneticamente e falava com eles, na verdade, ele emitia sons, já que nada que ele dizia era realmente entendível.

 - Está falando em qual língua? – perguntei.

 Ele pareceu se assustar ao me ver, não havia percebido minha presença ali.

 - Ah, só estou tentando distraí-los – ele deu de ombros.

Sei, pensei. Na verdade, ele queria se distrair, já que estava tentando manter aquela promessa ridícula de pé. E haviam se passado apenas três dias, ele não agüentaria...

***

Gerard’s P.O.V.

 Sabe aquele momento em que você se arrepende de uma coisa que fez ou disse e queria muito voltar no tempo para desfazê-la? Pois é... Eu estava odiando essa promessa.

 Três dias e duas noites se passaram... E, sem dúvidas, as noites foram piores. Layla parecia me provocar... Mas okay, eu vou conseguir aguentar.

 Depois de vê-la no quarto – de toalha... molhada – fui até o quarto dos bebês e tentei inventar alguma coisa para fazer, resolvi pegar um dos pequenos cobertores deles e levá-los até a sala.

 - Okay,vocês devem estar achando o papai um louco, certo? – falei a eles enquanto carregava-os.

 Coloquei-os sobre o sofá – claro, deitados, não sou um pai desnaturado ao ponto de deixá-los cair do sofá – enquanto arrumava as coisas no chão.

 Depois de tudo pronto, vários brinquedinhos espalhados pelo chão, coloquei duas almofadas sobre o cobertor e coloquei Helie e Arth sentadinhos, apoiados nelas.

 - O que vocês acham de o papai pintar o cabelo? – perguntei a eles.

 No dia anterior eu encontrara meu primeiro fio de cabelo branco. Eu estava velho! Trinta anos e um cabelo branco... isso não é bom.

 Comecei a brincar com eles, falava algumas coisas sem nexo, sabe, coisa de pai idiota.

 - Está falando em qual língua? – ouvi alguém falar atrás de mim.

 Olhei assustado, não havia percebido que Layla estava ali.

 - Ah, só estou tentando distraí-los – falei rapidamente, voltando a atenção novamente aos bebês.

 Okay, eu estava tentando me distrair, mas não vinha ao caso.

 Olhei no relógio, eram quase meio-dia.

 - Bem, vou tomar um banho para irmos na casa de Frank – suspirei. – Pode ficar aqui com eles? – evitei olhar para Layla, ela estava usando um vestido preto que realçava a cor clara de sua pele...

 - Claro – ela disse, podia imaginar o sorriso que ela dera.

 Levantei-me rapidamente, dando a volta na mesa de centro da sala, uma tática para me manter afastado fisicamente de Layla. Ela me encarou com a testa franzida, provavelmente estava me achando muito idiota.

 Layla sentou-se no chão com os bebês e eu fui tomar um banho – frio, claro.

 Saí do chuveiro tremendo, acho que exagerara um pouco na água fria, mas era necessário no estado em que eu me encontrava.

 Sequei-me rapidamente e coloquei uma calça jeans preta, uma camiseta cinza escuro e uma jaqueta de couro preta.

 Sequei meu cabelo com a toalha cabidamente e depois escovei meus dentes, assim que me encarei no espelho pude ver aquilo novamente. Mais um fio branco próximo à minha testa.

 - Mas que droga! – rosnei, talvez alto demais.

 - Algum problema, Gerard? – Layla perguntou, gritando da sala.

 - Não, nenhum! – respondi.

 Arranquei-o rapidamente, daria um jeito nisso logo, logo.

 - Eu vou pintar meu cabelo – falei, chegando à sala.

 - Como assim? – Layla perguntou.

 - Achei dois fios brancos em três dias... Não está certo – sentei-me no sofá.

 - Okay – ela concordou.

 Estiquei-me para pegar um dos chocalhos no chão, chacoalhei-o na frente de Arth, eles ainda não interagiam muito, mas às vezes soltavam alguns sorrisinhos ou risadinhas.

 - Vou trocar as roupinhas deles – Layla suspirou.

 - Okay – respondi, fiquei brincando o chocalho enquanto isso.

 Logo pude ouvir um choro vindo do quarto, provavelmente Arth, que não gostava muito de trocar de roupas.

 - Quer ajuda? – perguntei alto à Layla.

 - Por favor! – ela gritou em resposta.

 Fui até nosso quarto, Helie estava deitada no centro da cama, apenas de fraldas, brincando com os próprios pezinhos, enquanto Arth estava um pouco mais à frente, chorando enquanto Layla tentava trocar sua fralda.

 - Oi, meu amor – disse, aproximando-me de Helie, que deu um sorrisinho.

 - É difícil cuidar para que ela não role e ainda controlar esse chorão – Layla riu levemente. – Mas Arth só chora para trocar de roupa. Helie é a mais chorona.

 - Não fale assim dela – eu fingi indignação. – Viu, Helie? É por isso que você vai querer dizer “papai” primeiro.

 Dei uma leve mordida no bracinho gordinho dela, tanto ela quanto Arth eram cheios de dobrinhas.

 - Não devore a criança – Layla riu, terminando de vestir Arth e entregando-me ele.

 Peguei Arth – que ainda chorava um pouco – e entreguei Helie para Layla.

 - Por que você não gosta de trocar de roupa, garotão? – perguntei a Arth.

 Deitei-me sobre a cama, colocando Arth deitado sobre meu peito, eles eram gordinhos, mas era levinhos. Dei leves batidinhas no bumbum de Arth, sempre achei isso idiota, mas realmente tranqüilizava os bebês.

 Aos pouco Arth fora se acalmando, seu choro se transformou em leves resmungos e depois cessou por completo.

 - Okay, o segredo é bater no bumbum deles? – Layla perguntou enquanto terminava de vestir Helie.

 - Não, eu nunca usarei o segredo na sua frente – sorri vitorioso.

 - Repito, isso é injusto – ela disse, indignada.

 Finalmente estavam todos prontos, agora Arth havia pegado no sono, Helie ainda estava acordada.

 Arrumamos algumas coisas como roupinhas e mamadeiras e fomos até o estacionamento, já eram quase uma hora da tarde e ainda tínhamos que ajudar Frank e Diana com algumas coisas.