Luana’s P.O.V.

 Estávamos na metade da cirurgia, havíamos conseguido extrair bala que estava alojada abaixo do pulmão esquerdo de Gerard, mas ainda assim não sabíamos como Gerard iria ficar.

 Gerard. Ele parecia-me familiar, eu sabia que ele era um cantor famoso, mas não era assim que ele parecia-me conhecido, tinha algo nele que lembrava-me algo que eu também não sabia o que era.

 - Ele viera muitas vezes aqui? – perguntei a Dr. Hill enquanto ele cuidava a sutura do ferimento de Gerard.

 - Diversas – ele respondeu. – Por quê?

 - Nada, ele apenas parece-me familiar – respondi.

 Nesse momento o bip que correspondia aos batimentos cardíacos de Gerard deu lugar a um som único e contínuo, aquilo não era bom.

 - Uma parada cardíaca! – uma das enfermeiras disse, nervosa.

 - Acalme-se! – lembrei-a, precisávamos manter a calma nesses momentos, pensar passo a passo cuidadosamente.

 - Dra. Miller, tente reanimar o coração dele, vou terminar a sutura – Dr. Hill pediu-me.

 - Okay – concordei.

 Fui rapidamente até os equipamentos e com a ajuda de uma das enfermeiras aproximei o desfribilador de Gerard, outra enfermeira trouxe uma seringa e injetou no soro que ia até o pulso dele, era um estimulador, para tentar fazer com que os batimentos de Gerard voltassem sem o uso do desfribilador. Esperamos por alguns segundos, nada.

 - Afastem-se – falei às elas.

 Apenas uma enfermeira ficou ao meu lado, para ajudar-me. Liguei o desfribilador e coloquei em uma potência média, depois levei-o até o peito de Gerard. Fiz isso por três vezes seguidas com intervalos de dez segundos, nada aconteceu, o coração de Gerard continuava parado.

 - Droga! – rosnei.

 Coloquei então o desfribilador na potência máxima, era arriscado, mas eu precisava tentar.

 Toquei o peito de Gerard por cinco vezes com a potência máxima, e infelizmente nada aconteceu, Gerard continuava sem batimentos.

 - Não conseguimos... – arfei, desligando o desfribilador e afastando-me da mesa de cirurgia. – Ele morreu...

 Dr. Hill olhou-me com pesar, terminando enfim a sutura.

 Sentei em uma cadeira ao fundo da sala, ela estava ali para o caso de alguém passar mal com sangue, coisa muito comum.

 Dr. Hill se aproximou de mim, tocando meu ombro e abaixando-se à minha frente.

 - Eu perdi um paciente – falei, eu estava em estado de choque.

 - Não foi sua culpa – ele tentou me consolar.

 - Eu podia ter feito mais, eu devia ter feito mais! Eu perdi um paciente! Isso é imperdoável! – eu estava histérica.

 - Acalme-se – ele disse, puxando-me para um abraço forte.

 Tirei minha máscara e enterrei meu rosto em seu ombro, deixando lágrimas caírem.

 - Oh Deus! – ouvi alguém arfar, era uma das enfermeiras.

 Olhei rapidamente, vendo as expressões assustadas delas, logo pude ouvir um som que surpreendeu-me. Era um bip novamente, assustando-me.

 Soltei-me de Dr. Hill e corri até a mesa de cirurgia novamente, arfando ao constatar que os batimentos de Gerard haviam voltado, eram acelerados e o medidor de sua respiração parecia rápido.

 Aproximei-me dele, chegando muito perto de seu rosto, seria isso possível?

 De repente os grandes orbes esverdeados se abriram, assustando-me.

 - Isso não é possível! – Dr. Hill exclamou atrás de mim.

 - Gerard? – chamei, eu precisava ver se ele estava realmente consciente, ele passara alguns minutos sem respirar, seu cérebro podia ter tido complicações por não receber oxigênio.

 Ele piscou algumas vezes, seus olhos ficaram mais claros, como se ele estivesse raciocinando rapidamente e tentando organizar sua mente.

 - Você...? – ele disse, como uma pergunta, sua voz fraca e lenta.

 Uni minhas sobrancelhas, de onde ele me conhecia?

***

Gerard’s P.O.V.

 De repente, em meio à escuridão, senti um forte baque em meu corpo e um barulho horrível e ensurdecedor atingiu meus ouvidos, era um bip contínuo e irritante. Logo o som contínuo deu lugar a um bip pausado e acelerado.

 - Oh Deus! – uma voz feminina arfou, parecia um som distante.

 Ouvi alguns sons que pareciam-me distantes, mas ao mesmo tempo próximos.

 Abri meus olhos rapidamente e fitei aqueles olhos cor de chocolate que estavam próximos aos meus.

 - Isso não é possível! – uma voz masculina falou, mas não podia ver quem era.

 - Gerard? – a voz feminina chamou-me, a dona dela era a mesma dona daqueles olhos.

 Pisquei algumas vezes, tentando clarear minha mente e raciocinar.

 Era ela... Luana, meu... “anjo da guarda”, a mesma de meu... sonho?

 - Você...? – falei, minha voz surpreendeu-me ao sair fraca e rouca.

 Ela olhou-me confusa, parecia não entender o que eu acabara de dizer. Na verdade, nem eu mesmo entendi, de onde eu tirara isso? Eu tinha tido apenas um sonho, não devia confundir, não era ela.

 - Dra. Miller, precisamos fazer outros exames e... e... – agora eu podia reconhecer a voz masculina, era Dr. Hill, ele parecia confuso. – E... levá-lo para o quarto, eu acho.

 - Sim – a moça de olhos chocolate concordou. – A cirurgia está encerrada.

 Respirei fundo, estava um pouco perdido, não sabia ao certo o que estava fazendo ali.

 - Sua esposa irá ficar feliz em saber que está bem – a mulher disse-me, sorrindo delicadamente e afastando-se de mim.

 Layla. Eu precisava vê-la, ver meus filhos. Por um pequeno momento eu esquecera que eles eram a minha prioridade, como eu pudera deixar de lembrar isso?

**

 Fui levado para diversos exames e só então colocaram-me no quarto, eu estava meio confuso e meu abdômen doía muito, nem liguei para a agulha em meu pulso, estava dolorido de mais para causar algum escândalo.

 - Olá – uma voz feminina disse entrando no quarto.

 Olhei rapidamente e vi a Dra. Miller, dona dos olhos cor de chocolate que eu encarara quando acordara.

 - Posso entrar? – ela perguntou, sorrindo.

 - Claro – disse apenas, dando um leve sorriso.

 Ela entrou e fechou a porta, caminhando até a poltrona caramelo que havia em todos os quartos e sentando-se nela, cruzando as pernas rapidamente e apoiando os cotovelos nos braços da poltrona.

 - O que aconteceu? – perguntei.

 - Você levou um tiro, lembra-se? – ela disse, sua voz ainda mais doce.

 - Sim... – respondi.

 - Então... – ela suspirou. – Depois disso você teve duas paradas cardíacas, fizemos uma cirurgia de emergência para a retirada da bala, que estava abaixo de seu pulmão esquerdo, o que explica a sua leve dificuldade para respirar.

 Sim, eu estava tendo dificuldade para fazer isso, doía um pouco.

 - Aí, você teve outra parada cardíaca, Gerard – ela suspirou novamente. – Sinceramente, achamos que você tivesse morrido... Mas aí... – ela parou, sorrindo depois.

 - Quem é você? – perguntei sem pensar.

 - Dra. Miller, Luana Lee Miller – ela sorriu. – Tenho permissão para cirurgias delicadas, especializada em cardiologia e agora estou fazendo faculdade de psicologia – ela concluiu.

 - Nossa – sorri. – Diferentes habilidades.

 - Sempre gostei de experimentar coisas novas – ela riu.

 - Onde está Layla? – perguntei.

 - Dr. Hill foi falar com ela, seu amigo Frank está com Layla na sala de espera, logo, logo eles virão aqui – ela respondeu.

 Eu precisava ver Layla, meus bebês, ter certeza de que tudo havia acabado.