The Black Angel escrita por Beilschbitch


Capítulo 2
E aqui meus problemas começam




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Acordei novamente às seis horas. Ainda estava exausta por causa do sonho estranho e de seu misterioso significado. Minha cabeça latejava e não aguentei o sufoco do meu quarto; pulei para fora da cama e me arrastei em direção ao quarto de meu pai. Abri a porta delicadamente e notei que meu genitor dormia tranquilamente.

          Desci  as escadas lentamente, com o cuidado de não fazer um barulho sequer Fui para a cozinha, fazer o café e para logo após comprar os bagels de cheddar , na padaria do pai de Joseph, um colega da minha sala.

          Pus a água pra ferver enquanto pegava as xícaras e arrumava a mesa. Pus quatro pequenas xícaras dispostas perfeitamente na mesa, junto com os talheres e os guardanapos; coloquei o leite e o açúcar em ordem crescente e no centro a cesta de vime branca para os pãezinhos. Após a feitura da obra de arte , passei o café e o coloquei no bule preto com ideogramas japoneses brancos.

         Assim que depositei o bule na mesa, ouvi batidas oscilantes na porta dos fundos. Era Matthew, meu irmão mais novo. Estava ensopado pela chuva e tremia de frio.

          Matthew é baterista de uma pequena banda, saindo quase toda noite para tocar em bares da região, ou festas. Os cabelos grandes e pretos, na altura dos ombros, além dos coturnos e tênis all stars, definem o gênero que ama e toca. Apesar da nossa família ser alta, o caçula é bem mais baixo para sua idade.

          - Como foi o show? – perguntei
sorrindo

          Ele respondeu sonolento:

          -Até que foi legal...

          Meu pequeno irmão colocou o café em uma das xícaras e sorveu enquanto eu lhe entregava uma toalha felpuda. Em silêncio, saí para comprar os bagels, enquanto meu irmão ia finalmente descansar.

*

          Era aula de biologia e eu não estava nem um pouco afim de assistir à aula. Meus pensamentos se concentravam no sonho, principalmente naquele jovem. Eu sempre sonho com colegas, parentes e conhecidos, mas eu não lembro de conhecer aquele rapaz. Na rua, talvez? Não. Eu ia me lembrar.

          Liesel, minha melhor (e única) amiga, percebeu que eu estava voando. Mandou uma mensagem:

“Hellie, viu passarinho verde?”

          Olhei para ela com uma cara de reprovação. Ela riu baixinho e deitou em cima do caderno. A professora olhou em nossa direção e resolveu olhar nossos cadernos. Bem, o meu estava com as anotações que ela passou no quadro, mas o da Liesel... Tinha uns rabiscos e umas palavras de Biologia com Matemática, e frases como: “Esquilos vão dominar o Mundo!”. Liesel olhou para a professora com um sorriso infantil e inocente. A professora retrucou com um suspiro de tédio e continuou a aula, mas de vez em quando lançava olhares pra nós duas.

           Depois de meia hora de aula com matéria de
prova (na qual eu precisava de nota e eu estava voando), o sinal tocou
encerrando nossas aulas. Liesel pulou da cadeira dando graças a Deus pelo fim
da aula. Ela saiu correndo e tive que ir pulando atrás da apressadinha, que
sabia do meu medo de correr pelas escadas. Ela parou na cantina e pegou duas
garrafas de Coca. Estendeu uma pra mim e fomos andando tranquilamente pelo
jardim do colégio até o portão. Ela disse que mal via a hora de se formar para
os professores pararem de pegar no pé dela.

          - Já imaginou Hellie? A gente termina a faculdade rapidinho e vira dona do próprio nariz, moraremos no centro da cidade, comeríamos sushi ou pizza todos os dias, compraríamos sem dar satisfação a ninguém... Que vida feliz!

          - Lie, falta uns cinco ou seis anos pra isso...

          - E qual é o problema? Pelo menos a gente ainda tem a Coca-Cola...

          Nova York. A maior cidade do mundo. A cidade mais cheia de gente. O orgulho dos Estados Unidos. Um dos países mais importantes do mundo. E nós morávamos nela. Cidade grande, prédios altos.

          Prédios altos...

          Chegamos numa das principais ruas de
Manhattam, um pouco antes do Central Park. Minha respiração ficou pesada.
Liesel estava olhando para um prédio que tinha ali. Os carros pararam. Lie foi
andando e fui seguindo-a. Comecei a ficar tonta. A rua foi começando a
escurecer...

          -Helena!

          Depois disso, não ouvi mais nada.


         -Helena... Helena...?

        Alguém me chamava. Não reconheci a voz. Tentei
sentir o calor do Sol, mas só sentia um ventinho gelado de ar condicionado.
Espera. Tentei sentir o asfalto, mas senti aquele papel estalante e uma maca de
colchão macio. Abri os olhos e vi uma simpática velhinha olhando para mim.

          - Bom dia, Bela Adormecida!

          - Dia?

          -Calma Helena... Você dormiu por algumas horas... Não se preocupe. Te examinamos e vocês está bem. Teve apenas uma queda de pressão.

          - Estou no hospital? – Achei minha
pergunta meio óbvia.

          -Não... Aqui é a enfermaria da empresa.

          - E como eu vim parar aqui? – Imaginei que Liesel não conseguiria me carregar.

          - Um dos nossos... Sócios... Te trouxe pra cá.

         - E quem foi esse anjo? – Perguntei, rindo com minha metáfora.

          Não reparei que tinha mais alguém no quarto. Não era Liesel. Não era meu pai, nem meus irmãos. Era um rapaz. De
olhos verde-azulados. Os cabelos eram negros e comprimidos. Pareciam um pouco com meu irmão, mas não era baixo. E aparentava ser bem mais velho que meu caçula.  Quando eu falei a palavra “anjo”, ele me olhou disparado do sofá de couro, com uma expressão assustada. Aqueles olhos azuis me pareciam familiar... Pareciam de um anjo.

          Um anjo...

          Reconheci-o quase que imediatamente. Só
os cabelos estavam diferentes. Mas era o mesmo rosto, meio delicado, porém
ainda tinha um ar de homem.

 A senhora se retirou do quarto. Ele estava no sofá olhando distraído para algum canto da porta. Fechei os olhos por uns segundos desejando estar em casa. Quando abri os olhos, ele estava na minha frente. Levei um susto e meu coração acelerou. Ele me fitou meio fascinado e desviei o olhar. Notei a roupa que vestia. Uma camisa preta, um sobretudo cheio de bolsos e uma calça jeans preta (parecia jeans). Me chamou a atenção uma corrente de prata, com uma cruz também prata na ponta. A cruz era cheia de detalhes minúsculos e parecia ter sido uma fortuna.

          - Seu nome é Helena, certo?

          O olhei. Ele estava enigmático.

          - Sim... – Me perguntei o que ele poderia querer.

          - Meu nome é Gerard. Gerard Way.

          - Ah... Muito obrigada, Sr. Gerard.

          - Pode me chamar só de Gerard. Sou
pouco mais velho que você.

          - Certo... – Fitei seus olhos claros.Ele sorriu.

          Ele saiu. Me sentei na cama.

          Então o nome do meu anjo é Gerard...


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