The Black Angel escrita por Beilschbitch


Capítulo 3
E minha vida não podia ficar mais estranha


Notas iniciais do capítulo

Capítulo MEIO grande XD



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          Enquanto Gerard estava fora, fiquei observando o quarto. Suas paredes eram de um verde– água clarinho e havia uns quadros de natureza morta. Debaixo de uma janela ficava a maca onde eu estava e o sofá de couro ficava do outro lado do quarto, perto da porta. Tudo limpo e fresco. Eu me sentia num hospital de verdade.

          –  Aceita um café? – Gerard estava de volta, com duas xícaras na mão. Ele me entregou uma e sentou na poltrona ao lado da cama, com os olhos fitando a parede à frente. Parecia despreocupado e sorveu um pequeno gole. Se encostou na poltrona e fechou os olhos. Eu o olhava admirada. Encostei meus lábios na xícara e notei que o café estava muito quente ainda.

          – Você gosta de café? – Ele me perguntou, sem sair da posição que estava.

          – Gosto. É meio de família. Lá em casa todos tomam.

          – Eu adoro café. É uma das minhas paixões. Muitos afogam suas mágoas em bebidas alcoólicas, mas eu... Café é minha cura e meu remédio.

          Meio poético; pensei.

          Ele abriu os olhos e suas esmeraldas ficaram olhando para mim. Eu fiquei alisando a borda da xícara com o dedo.

          – E de cachorro– quente?

          Sorri. Adorava cachorro– quente.

          – Eu gosto... – Ele estava me chamando pra sair?

          – Você pode ter outra queda mais adiante. E acho que sua amiga não conseguiria ajuda no meio de Manhattam.  – É. Ele estava me chamando pra sair – Que tal lancharmos em Battery Park? Levamos sua amiga e um... Amigo meu também        .        

          – Bem... – Respondo o quê? – Seria bem legal... Mas estou sem dinheiro e...

           – Estou te convidando. Lógico que quem paga sou eu. – Ele sorriu. Eu não tinha outra saída.

          Levantei da maca auxiliada por ele. Segui-o pelos corredores até pararmos numa sala, onde Liesel estava sentada, e outro rapaz (mais baixo que eu) estava de pé, olhando o chão. Ele se vestia como Gerard. Liesel se levantou e me abraçou.

          – Não me mate de susto de novo, viu? Sua esquila bêbada!

          – Okay, nunca mais farei isso – respondi com deboche.

          O rapaz que estava encostado aproximou-se de mim e esticou o braço, me cumprimentando.

          – Prazer, Frank Anthony Thomas Iero Junior. Mas pode me chamar só de Frank.

          – Prazer... Helena Lee Morgan III

          – Terceira?

          – Minha avó e minha bisa se chamavam Helena também.

          – Frank Iero Junior, qual é o nome do seu pai? – Gerard provocou.

          – É Janyscrey.

          Rimos todos. Gerard convidou os dois baixinhos para ir com a gente comer cachorro-quente. Era engraçado, mas Frank e Liesel fariam um casal bonitinho.

          Como eu disse, Frank era menor do que eu, e seus olhos tinham um verde meio castanho bonito. Seu cabelo era mais curto que o do Gerard, mas tinha uma forma divertida, que lhe dava um ar infantil.

          Frank e Gerard saíram na frente, enquanto eu e Liesel apenas os seguíamos. Gerard falou algo tão baixo para Frank, que pensei que este não havia escutado. Mas Frank respondeu assustado, mas fez discrição. Escutei apenas as palavras “perigo”, “mistério”, “segredo” e “sagrado”. Gerard respondeu ainda mais baixo com uma expressão grave, e Frank concordou com a cabeça. Olharam para mim com um rosto sério e não disseram mais nada.

          Fomos andando para o parque. Eram umas cinco horas e a tarde estava agradável, pois estávamos na primavera. Os parques ficavam lindos nessa época, cheio de flores e de animaizinhos. Liesel e eu, quando pequenas, íamos olhar os esquilinhos. Ela dava nome a todos, como “Nutella”, “Noz”, “Tico” e “Teco”.

          Gerard e Frank pareciam atores vindos de filme de ação, desde a forma como andavam e se vestiam. Andavam rápido, tanto que Liesel e eu mal conseguíamos acompanhar.

          Perguntei a ela se ela notara a conversa dos dois antes. Frank nos olhou com um rosto inelegível, mas continuou andando. Ela retorceu as mãos e com um jeito assustado, disse que sim. Ficamos  apreensivas e assustadas. Frank virava o rosto na nossa direção de quando em quando. Encerramos o assunto e ele pareceu aliviado. Gerard parou no meio do caminho e se virando para nós, perguntou:

          - As duas lesminhas vão continuar nesse ritmo?

          Frank riu. Eles nos esperaram e começaram a andar num ritmo mais normal. Eles tinham o rosto mais tranquilo, mas eu e minha amiga ainda estávamos assustadas. Era meio estranho duas estudantes acompanhadas de dois sacerdotes medievais, vindos do futuro. Ok. Nem essa eu entendi. Mas durante a caminhada, fomos nos tranquilizando. Paramos em um quiosque. Não parecia que vendia cachorro-quente somente. Frank, Liesel e eu sentamos nessa ordem num banco que havia em frente. Gerard foi fazer os pedidos.

          – Quatro completos, por favor. – Sua voz era firme e macia.

          Frank ficava chutando as pedrinhas. Depois ficou de cabeça pra baixo no banco. Ficou sorrindo para Liesel que tentou disfarçar o riso. Gerard se virou para nós:

          –- Vão beber o quê?

          Frank se ajeitou no banco, e com os braços para cima, e um jeito todo infantil, gritou:

          – COCA-COLA!

          Liesel me olhou como se dissesse “me tira daqui, nem que eu me mate!”. Frank continuou sorrindo meigamente para ela. Eu entendi. Liesel pediu duas e eu afirmei: três. Gerard pediu quatro e logo avisou que o lanche estava pronto. Nós duas nos levantamos e fomos até lá calmamente. Frank continuou no banco, todo folgado, lançando um olhar sedutor e completamente idiota para minha amiga. Gerard e eu rimos. Liesel ficou sem graça. Resolvemos caminhar pelo parque. Comi o primeiro pedaço cuidadosamente. Estava delicioso, o melhor cachorro-quente que já comi na minha vida. Gerard comia elegantemente ao meu lado. Liesel e Frank estavam mais a frente. Conversavam animadamente sobre Coca-Cola. Gerard riu baixo e continuou comendo. Eu fiquei surpresa ao vê-lo comer um cachorro-quente como se comesse salmão com alcaparras num bistrô. Me senti meio inferior. Os gnominhos se juntaram a nós. Frank bebeu tirou os canudinhos, bebeu diretamente no gargalo da garrafinha de vidro num gole, e depois arrotou tão alto que alguns pássaros se assustaram. Frank riu alto e Liesel ficou vermelha. Gerard e eu ficamos olhando o baixinho enquanto este corria com os braços abertos e a garrafa na mão. Liesel tentou esconder o rosto atrás de sua garrafa.

          Logo a frente tinha um parquinho, com balanços, escorregadores e girar-giras. Frank sentou em um desses balanços e começou a balançar-se.  Gerard estava com o rosto inexpressível. Liesel ficou parada olhando. Eu estava tentando não rir. Frank se levantou e puxou Liesel. Ela se sentou mecanicamente no balanço e Frank começou a empurrá-la. Eles começaram a rir enquanto Gerard e eu nos sentamos em um banco, debaixo de uma árvore.  Liesel e Frank pareciam um casalzinho de uns 10 anos de idade.

          Gerard ficara calado durante uns bons minutos, tomando Coca. Eu terminara meu lanche e fiquei admirando Frank subindo no balanço onde estava Liesel, balançando e ambos rindo.

          – O que ele quer? – Perguntei olhando em direção ao Gnomeu.

          – Reivindicar os direitos de continuar a espécie! – Gerard deu uma gargalhada.

          – Como? – Olhei o meu anjo (tudo bem, ele não é meu), atônita.

          – Brincadeira. Calma. Acho que é a primeira garota que ele encontra do mesmo tamanho dele. Acho que ele está tentando impressioná-la.

          – Você acha? – Fiz uma cara sarcástica.

          – Tenho certeza. – Ele riu de novo.

          Depois ficamos em silencio, observando os dois.  Frank escorregou umas três vezes, e na terceira,  levou Liesel. Eu estava incomodada com aquele silencio nosso, sei lá. De madrugada sonhei com um cara e agora ele está aqui na minha frente, forte, lindo e estranho. Eu estava confusa, com toda a certeza.

          – Helena? – Ele me chamou olhando fixamente para frente.

          – Sim?

          – Você tem se alimentado?

          Não respondi logo. Ultimamente não ficava com fome.

          – Sim...

          ­– Com o quê? – Ele me olhou, sério.

          – Geralmente macarrão, saladas, carne, por aí. – O fitei com mansidão.

          – Com que frequência?

          – Quando tenho fome. – Levantei a sobrancelha.

          Ele ficou calado de novo.

          – Como você me socorreu? – olhei-o desconfiada.

          – Eu e Frank estávamos atravessando a rua. Notamos que você estava parecendo cansada e de repente caiu. O sinal ia abrir... Como estávamos indo para a... Empresa, simplesmente te carreguei e fomos correndo para lá. Sua amiga foi pulando atrás de nós. A enfermeira te examinou. Frank levou a esquilinha para a lanchonete, depois fez umas perguntas. E agora estamos aqui, e você está pálida.

          – Eu geralmente sou assim. – Ele me olhou meio surpreso. – E muito obrigada. – Sorri.

          – Isso é mais que minha obrigação... Afinal, sou seu anjo da guarda, não é? – Ele sorriu.

          – Claro...


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