Sydney’s POV

Eu não sabia como me encontrava naquela situação. Bom, até que sabia. Como era sábado e eu já estava com minha lição adiantada para o mês inteiro peguei Latte, meu carro, e dirigi até a Spencer’s para tomar um café. Como sempre, levei meu computador comigo. Estava tudo tecnicamente normal. Mas o que eu realmente não conseguia entender era por que eu estava nos arquivos dos alquimistas pesquisando a vida de Adrian Ivashkov.

Se alguém cinco minutos atrás me dissesse que eu estaria pesquisando sobre Adrian Ivashkov simplesmente para passar o tempo eu internaria essa pessoa por insanidade mental. Mas bem, aqui estou.

Moroi: Adrian Ivashkov. 22 anos. Filho de Nathan e Danielle Ivashkov. Especialização: espírito.

Notas adicionais: Sobrinho-neto de Tatiana Ivashkov. Não se sabe muito sobre o elemento espírito.

Humpft. Nada que eu não soubesse. Realmente, os alquimistas estavam me desapontando.

Ao lado das informações sobre Adrian havia uma foto em miniatura, que parecia ter sido tirada para sua carteira de identidade. Dava para perceber que a foto fora tirada alguns anos atrás. Adrian parecia ter uns quinze ou dezesseis anos e devo admitir que para um vampiro sem alma ele realmente parecia bonitinho. Suas bochechas estavam rosadas e seu cabelo estava um pouco mais bagunçado do que o normal. Acho que naquela época Adrian ainda não havia atingido a arte do cabelo perfeito digno de cinema.

Não pude evitar quando meu dedo apertou o botão direito e calmamente desci até a opção “salvar imagem como...”. Como não era muito fã de tirar fotos, aquela era a única imagem que ocupava minha pasta de imagens.

Suspirei e olhei pela a janela. O sol estava brilhando e as folhagens das palmeiras permaneciam intactas devido à falta de vento. Realmente, Palm Springs na California não era o melhor dos cenários para serem escolhidos.

Uma ideia passou por minha cabeça e eu não pude impedir meus dedos de digitá-la no computador. Procurei por possíveis festas morois que Adrian poderia ter participado.

Cliquei no primeiro item que encontrei. Um moroi chamado Aaron Alexander comemorando os 88 anos.

Os alquimistas não tinham muito interesse na vida social dos vampiros, mas tínhamos que a conhecer para o próprio bem do nosso trabalho. Contudo, o que encontrei fez meu corpo inteiro entrar em choque.

Havia uma lista com o nome de todos os convidados e... bem, seus acompanhantes.

Pânico percorreu meu corpo, o que realmente me deixou confusa. Por que eu estava com medo? Eu só estava vasculhando a vida de Adrian para passar o tempo. Era somente isso. Sem segundas intenções.

Desci a página lentamente e quando cheguei na letra “I” pude sentir meu coração acelerar e me amaldiçoei por isso.

Ivashkov, Aaron. Ivashkov, Aaron Louis. Ivashkov, Abraão. Ivashkov, Adriana…

Respirei fundo. Adrian não fora para aquela festa. Não pude evitar quando um sorriso escapou meus lábios. Claro que ele não iria a uma festa de um senhor de oitenta e oito anos.

Sydney! Castiguei-me. Qual é o seu problema? Desligue imediatamente esse computador e vá fazer algo de útil. Bisbilhotar a vida de vampiros não é uma coisa que alquimistas devem fazer. Bom, pelo menos fora do trabalho.

Suspirei. Eu sabia que era errado o que eu estava fazendo, mas...

Voltei para a página anterior. Havia centenas de eventos sociais arquivados e eu não sabia por onde começar. Que tipo de festa Adrian iria?

Foi então que me lembrei de uma coisa que lera no arquivo de Adrian. “Nota: sobrinho-neto de Tatiana Ivashkov”. Era isso. Jill me falara que Adrian e sua tia-avó haviam sido bem próximos e que ele ficara devastado com a morte dela. Então seria lógico Adrian ter frequentado suas festas.

Eu não poderia estar mais certa.

Clicando no primeiro item da lista de Tatiana Ivashkov que era um tipo de festa beneficente, desci apressadamente para a letra “I” e dessa vez encontrei Ivashkov, Adrian. Um pequeno sorriso se formou em meus lábios, eu realmente era competente quando o assunto era pesquisas. Mas claro, eu fora criada para isso.

Infelizmente, a satisfação que eu sentira por ter sucedido na pesquisa fora ligeiramente substituída por algo que parecia um balde de água fria sendo jogado em mim. Como um tapa rápido e preciso.

Como eu havia notado anteriormente o arquivo não só mostrava quem comparecera, mas também seus acompanhantes.

Ivashkov, Adrian... Drozdov, Isabella.

Isabella Drozdov fora acompanhante de Adrian. De repente, meu café pareceu pouco apetitoso e ir correndo ao banheiro da cafeteria para vomitar parecia uma ideia muito atrativa. Quem afinal era Isabella Drozdov?

Sem pensar duas vezes, digitei o nome da ‘acompanhante’ de Adrian na barra de pesquisas. Não descobri muito. Isabella Drozdov era uma moroi da realeza. Tinha 22 anos, assim como Adrian. Seu pai era alguém importante na política moroi, mas Isabella não trabalhava. Havia uma pequena foto ao lado que mostrava uma garota com cabelos castanhos e pele pálida. Era parecida com a maioria dos morois. Não havia nada demais naquela garota e eu realmente não conseguia imaginar Adrian com ela. Em minhas palavras ela parecia uma inútil.

Voltei para a página anterior e continuei pesquisando por festas de Tatiana Ivashkov. Adrian frequentara a maioria. Ele também levara inúmeras “acompanhantes”, como os alquimistas as classificavam. Helena Dashkov. Jenny Ozera. Patricia Conta. Avery Lazar. Taylor Ozera. Elas eram em sua maioria morenas, mas havia loiras, ruivas e até uma com o cabelo tingido de azul. Ashley Lazar. Gabriella Zeklos. Alessandra Badica. Sabrina Badica.

Não pude deixar de arfar com o que li. Os dois últimos nomes que eu acabara de ler eram de irmãs gêmeas. E elas acompanharam Adrian juntas na mesma festa. Céus, eu não queria nem imaginar o que acontecera depois daquele evento.

A maioria esmagadora das acompanhantes de Adrian eram morois da realeza, mas também havia vários nomes que não eram. Mais nomes do que eu gostaria. Catherine House. Yummi Leviwsk. Jasmine Cyrtz. Também havia nomes de dampiras. Ashley Tunner. Tessa Runn. Wanessa Lewis. Rose Hathaway.

Eu não sabia se ler o nome de Rose me tranquilizava ou me assustava ainda mais. Eu continuei procurando, mesmo que a parte racional de meu cérebro implorava que eu parasse porque eu sabia que aquilo não sairia de minha mente por um bom tempo. Mas... Eu precisava saber. Ocasionalmente, alguns nomes se repetiam inclusive o da tal de Isabella Drozdov.

Eu sabia que Adrian havia namorado, saído, ou seja lá como as pessoas chamam, várias garotas. Contudo, eu não esperava nem mesmo um terço do que eu achara. Respirando fundo eu dizia a mim mesma que aqueles dados eram desde quando ele tinha mais ou menos doze anos até os dias atuais.

Doze anos... Céus, eu tinha dezoito e nunca tive namorado.

Rachel Conta. Tiara Voda. Ashley Drozdov. A lista continuava. Diana Tarus. Kelly Ozera. Faye Badica. Lucy Szelsky. Ellen Lazar –

–O que você está fazendo? – Ouvi a voz que assombrava minha mente dizendo.

–Adrian! – Eu disse com um gritinho agudo fechando rapidamente o laptop.

–Sage – ele disse com aqueles olhos verdes despreocupados.

–O que você está fazendo aqui? – perguntei acusatoriamente.

Ele olhou para mim como se eu estivesse ficando louca.

–Eu estou aqui para comprar café – ele disse gesticulando ao redor. – Sabe, Sage, normalmente é isso o que as pessoas fazem em uma cafeteria.

Eu não conseguia expressar em palavras o quanto Adrian Ivashkov me irritava. Porém, naquele momento minha única preocupação era me acalmar e não parecer culpada.

–Você está bem? – ele perguntou e pela primeira vez naquele dia eu vi um brilho de preocupação em seu olhar. – Parece que você viu um fantasma.

–Pior – eu disse em tom baixo -, eu vi um vampiro.

Na verdade, o que eu quis dizer era “Pior, eu vi um bilhão de vampiras que provavelmente te tocaram em lugares inadequados”.

Ele riu levemente.

Recolhi minhas coisas e comecei a me levantar.

–Ei, onde você pensa que vai? – ele perguntou e seu braço se movimentou provavelmente para tocar meu ombro, mas ele rapidamente o impediu.

–Embora – eu disse.

–Mas, você nem tocou no seu café – ele disse segurando meu copo. – Credo, seu café está frio. Há quanto tempo você está aqui?

–Não tenho certeza – eu disse sinceramente.

–Que horror, Sage – ele disse jogando meu café no lixo e andando para a fila do caixa. O incrível é que eu nem percebera que estava o seguindo. – Eu quase não reconheço mais a garota neurótica com horários.

Pois é, Ivashkov. Você trás o pior de mim.

Depois que Adrian comprou um café para ele, nós saímos e fomos em direção a Latte.

–Você podia me dar uma carona – ele disse mais como uma afirmação do que como pergunta. Sem esperar por uma resposta ele já abrira a porta e entrara no banco do carona.

Balançando minha cabeça em reprovação andei vagarosamente até o banco do motorista. Quando me acomodei no carro, não consegui nem mesmo dar a partida porque o telefone de Adrian começou a tocar.

–Segure isso para mim – ele disse me entregando seu café.

Resmunguei algo sobre eu não ser sua secretaria, mas ele não ouviu porque estava ocupado demais atendendo ao celular.

–Claro – Adrian disse após certo tempo -, eu sei que cometi alguns erros no passado, mas estou disposto a me redimir.

Era inacreditável como aquela frase podia perfeitamente ser dita a mim.

–Isabella Drozdov – disse maldosamente mais baixo do que minha respiração no momento em que ele falou “erros no passado”.

Ele me lançou um olhar assustado. Maldita super-audição dos vampiros.

É Sydney Sage. É exatamente por essas ocasiões que as pessoas inventaram a frase “ficar de boca fechada” ou até mesmo “calar a boca”.

–Claro – Adrian disse novamente após algum tempo. – Segunda feira entregarei o trabalho. Obrigado.

E então ele desligou.

–Quem era? – perguntei antes que ele dissesse algo.

–Meu professor – ele disse lentamente. – Eu não fiz o dever da semana passada, então terei que fazer para segunda.

–Você não pode esquecer-se de fazer deveres, Adrian – eu disse tentando fazê-lo esquecer que eu dissera o nome de sua ex-namorada/ficante/saída/acompanhante... – Você deveria aprender mais comigo. Por exemplo, eu já fiz meu dever para o mês todo, assim terei mais tempo de revisar a matéria.

–Sage, você não existe – ele disse sorrindo e eu me perguntava se aquilo era um elogio ou não. – A propósito, o que você disse?

–Eu disse que você não pode se esquecer de fazer deveres – falei sabendo que não era sobre isso que ele se referia.

–Não, antes disso – ele disse.

–Eu perguntei quem era no telefone – eu disse após uma longa pausa.

–Não – Adrian disse -, quando eu estava no telefone.

–Ah – eu disse tentando pensar em alguma coisa. Qualquer coisa. – Eu não disse nada.

Eu não podia olhar naqueles olhos verdes porque ele saberia que eu estava mentindo. Então comecei a olhar em volta procurando algo para me distrair. Peguei o café que estava na minha mão e comecei a beber.

–Sage! – Ele disse tirando o café da minha mão. – Não beba meu café.

Não sei por que, mas algo me dizia que ele não ficara nada irritado.

Dei a partida no carro feliz por Adrian ter deixado de lado o que eu dissera. Eu não sabia se ele entendera o que eu disse ou se ele simplesmente achava que era fruto de sua imaginação, e provavelmente eu nunca saberia. Mas uma coisa era certa. Roubar café de Adrian Ivashkov era mais divertido do que deveria ser.

Olhando para a estrada me dei conta de uma coisa. Eu invejava Isabella Drozdov porque eu sabia que nunca seria visto um arquivo com as palavras “Ivashkov, Adrian... Sage, Sydney”. E saber daquilo doía.