In Love With The Hero escrita por Jungie


Capítulo 9
Tempo


Notas iniciais do capítulo

Queria ter postado ontem, mas aí a Seohyun, a Taeyeon e a Tiffany vieram e disseram "não, você vai ouvir nosso mini-álbum até a hora de dormir" e eu não pude dizer não, né. Enfim, capítulo de transição, não acontece muita coisa. Mas em compensação, no próximo...



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– Sica, estou no banho! Atende aí! – ouviu a voz abafada de Tiffany vinda do banheiro quando o barulho da campainha ecoou pela sala de estar.


Jessica abriu os olhos, contrariada. Encontrava-se justamente no estágio do sono em que estava acordada e ao mesmo tempo não estava, e mover qualquer parte do corpo era torturante graças ao treinamento intenso pelo qual estava passando nos últimos dias. Permaneceu inerte durante alguns segundos esperando que alguém aparecesse para atender a porta até lembrar de que as únicas pessoas que estavam em casa eram ela e Tiffany.


Levantou-se do sofá resmungando coisas incompreensíveis em inglês e foi ver quem era pelo olho-mágico antes de abrir a porta. Seu sangue borbulhou nas veias e sua irritação cresceu quando não encontrou ninguém do outro lado.


Soltou um grunhido de frustração. Provavelmente era um grupo de garotos imaturos do primário que não tinha encontrado nada a fazer além de importunar os outros. Gritou para Tiffany avisando que não era ninguém e retornou com passos pesados ao sofá que lhe era tão aconchegante.


Mal havia fechado os olhos quando ouviu o barulho da campainha novamente.


Sooyoung havia lhe tecido elogios sobre como tinha a leveza e velocidade de um lince ao atacar, mas naquele momento Jessica saltou do sofá sentindo-se mais como um gorila enraivecido. Estava preparada para xingar todas as gerações das famílias daqueles garotos cretinos que ousavam atrapalhar seu precioso sono da tarde. Abriu a porta com ferocidade sem nem olhar previamente no olho-mágico para saber quem era; uma decisão que nem teve tempo de arrepender-se.


E novamente, nada.


Fechou os olhos e soltou um longo suspiro para tentar se acalmar. Quando estava prestes a fechar a porta, porém, percebeu que havia algo sobre o tapete de entrada.


Era algo grande e embalado por diversas camadas de papel grosso. Jessica achou estranho o carteiro não ter ficado lá para que assinasse confirmando que recebeu o pacote, o que lhe deixou em modo apreensivo. Havia aprendido a desconfiar de tudo e de todos. Olhou para os lados à procura de alguém que possa tê-lo deixado lá, mas a rua estava deserta salvo por alguns poucos ciclistas e uma velha senhora que passeava lentamente com uma criança.


Jessica virou o pacote e viu nele um papel colado precariamente com o que parecia cola de isopor. Havia apenas duas frases em inglês escritas nele:


“Com amor, para Jessica Jung. Feito nos Estados Unidos.”


Jessica coçou a cabeça, confusa. Não se lembrava de ter encomendado alguma coisa, e duvidava que fosse um presente de sua família. Puxou o pacote para dentro da casa sem muita dificuldade, apesar de ser um pouco mais pesado do que imaginava. Trancou a porta e pensou em chamar Tiffany, mas ainda podia ouvir o barulho do chuveiro ligado. Decidiu então sentar-se no sofá e assistir alguma coisa na televisão até que ela saísse do banho para que abrissem o pacote juntas.


Mas... a quem queria enganar? Jessica tinha certeza que menos de um minuto depois iria sentir agonia ao ver aquele pacote enorme lacrado. Aquilo definitivamente não continuaria fechado se estivesse sob a supervisão dela.


Dirigiu-se rapidamente até a cozinha e pegou a primeira faca limpa que viu pela frente. Ao voltar, arrastou sua “encomenda” até o quintal, de certa forma sentia-se mais segura em abri-lo lá. Empunhou a faca e cortou aos poucos o monte de fita adesiva que estava enrolada ao redor do pacote, com cuidado para não danificar o que quer que estivesse dentro daquilo.


Abriu devagar o furo que havia feito com a faca e encontrou... cabelo?
Jessica ergueu uma sobrancelha e tomou coragem para continuar a desembrulhar. Pelos cabelos longos e pelas roupas parecia um manequim, mas aquilo não fazia sentido algum. Por que diabos alguém lhe mandaria um manequim?!


Até que Jessica tocou o braço da figura e concluiu que seu presente não era bem um manequim.


Era uma pessoa.


Morta.


Jessica arregalou os olhos e deu um salto, afastando-se o máximo que pôde do corpo semi-embrulhado. Gritou por Tiffany, mas a porta que dava acesso ao quintal estava fechada e desse jeito ela não iria ouví-la. Correu até ela fazendo o caminho que passasse mais longe do cadáver e desesperou-se quando percebeu que estava trancada.


– Tiffany! Pelo amor de tudo o que é mais sagrado, abre essa porta! – Jessica bateu freneticamente na madeira até suas juntas ficarem avermelhadas e doloridas.


Depois de minutos sem uma resposta depois de implorar e ter certeza de que já estava incomodando os vizinhos, aproximou-se lentamente do corpo e empurrou-o cuidadosamente para virá-lo e identificar o rosto da vítima. Sua face ainda estava parcialmente coberta por um pedaço de papel, então ponderou por alguns segundos se deveria ir em frente.


E arrependeu-se amargamente de sua decisão.


Ao descobrir o rosto da garota, sentiu as lágrimas escorrerem pelo seu rosto e os seus joelhos fraquejarem. Levou as mãos trêmulas ao rosto para cobrir sua visão, não queria mais olhar para aquilo de jeito nenhum.


– Krystal... – Jessica caiu de joelhos tentando apagar da mente a imagem do rosto pálido e desfalecido de sua irmã dentro daquele pacote. – Krystal... n-não pode ser...


Jessica soluçava incontrolavelmente e murmurava o nome de Krystal como um mantra. Tinha dificuldade de respirar, de se mexer. Era como se todas as partes de seu corpo tivessem parado de funcionar de uma só vez. Rezava para que nada daquilo fosse real, para que fosse apenas um sonho como da última vez. Rezava para que sua irmã não estivesse...


– Jessica!


Para seu alívio, Jessica encontrou-se novamente no sofá da sala após ter sido presenteada com uma sutil almofadada na cara. Agachadas ao seu lado estavam Taeyeon e Tiffany; uma a encarava com uma já familiar expressão de indiferença, enquanto a outra lançava um olhar de desaprovação à irmã.


– Não precisava fazer isso, babo! – reprimiu Tiffany.


– Ela acordou, não foi? – Taeyeon deu de ombros.


Jessica ainda sentia-se meio zonza depois de ter sido atingida pela almofada e tentava se recuperar do choque de ter visto sua irmã morta mais uma vez, mesmo que em seu inconsciente. A paranoia e a incerteza estavam lhe matando e os recorrentes pesadelos brutais que andava tendo sobre Krystal não ajudavam nem um pouco.


– Você começou a suar, se revirar e chamar pela sua irmã, nós ficamos preocupadas...


– Ela ficou preocupada – corrigiu Taeyeon.


Nós ficamos preocupadas e então tentamos lhe chamar, mas você não acordava de jeito nenhum... – continuou Tiffany, ignorando a interrupção de Taeyeon.


– Não foi nada, só mais um sonho ruim... – Jessica sentou-se e esfregou os olhos.


– Eu fiz waffles pra você – Tiffany sorriu radiante. – Talvez te ajudem a se sentir melhor.


– Ah, com certeza irão! – Jessica retribuiu o sorriso e já sentiu sua boca salivar. Precisava mesmo de um pouco de comida “de casa”. – Só preciso fazer algo antes, se não se importa.


– Claro que não! Estarei lhe esperando para comer, ok? – Tiffany levantou-se e foi para a cozinha, e só então Jessica notou que Taeyeon a observava atentamente com os olhos cerrados.


– O que foi? – Jessica ergueu uma sobrancelha.


– Nada – murmurou Taeyeon. – Só venho notando que esses seus pesadelos são mais frequentes do que eu imaginava – a líder levantou-se. – Espero que esse não seja seu poder se manifestando.


Era a motivação que faltava para Jessica saltar do sofá e apanhar o celular que estava em cima de sua cama, tudo isso em um espaço tão curto de tempo que lhe fez ponderar se não estava desenvolvendo uma supervelocidade como Hyoyeon. Seus dedos já estavam tão acostumados a discar aquele número que a função de discagem rápida havia se tornado obsoleta.


Jessi! Que surpresa! – atendeu a garota no outro lado da linha.


– Surpresa? Então quer dizer que você nem espera mais que eu ligue? – disse Jessica em um tom brincalhão, tentando mascarar sua preocupação tanto para sua irmã quanto para si mesma.


É que você não anda mais ligando tanto pra mim, unnie – Krystal riu. – Mas na verdade eu não me importo. Sei que você deve estar ocupada com a universidade, e a saudade já está mais suportável.


– É, os professores daqui não devem nadinha para os da UCLA.


Jessica odiava quando tinha de encobrir o que realmente estava fazendo em suas conversas com Krystal. Ansiava pelo dia em que poderia contar-lhe a verdade, se é que este dia iria chegar.


Sem falar que a ligação é muito... não mexe aí, Amber! – exclamou Krystal. Jessica ouviu apenas um silêncio repentino e olhou para o visor do celular para checar se ainda estava na linha.


– Krystal? – Jessica podia escutar murmúrios ao longe, mas não conseguia identificar o que era dito. Repetiu o nome da irmã mais vezes, mas não recebeu resposta.


Desculpa, Jessi! – disse Krystal após alguns segundos. – É que tive literalmente que atravessar o quarto pra impedir que minha amiga arruinasse meu projeto de ciências.


– Entendo – Jessica riu com a imagem mental. – A propósito, arrumou uma nova amiga? Pensei que nunca convidava alguém pra ir em casa que não fosse aquelas duas garotas.


Ah, conheci ela literalmente no dia seguinte em que você viajou. Acho que você iria gostar da Amber, ela é bem legal – pausou. – Apesar de parecer com um cara! – Krystal caiu na risada e soltou um gritinho agudo. – Ela tá me atacando! Socorro, Jessi!


Uma engrenagem começou a rodar na cabeça de Jessica. Uma garota chamada Amber que parecia com um cara? Aquela descrição não lhe era estranha.


– Hã... Krystal?


Sim? – respondeu ofegante.


– Eu posso falar com sua amiga por um instante?


Falar com ela? – Krystal deu uma pausa para recuperar totalmente o fôlego. – Pra quê?


– Er... quero que ela tenha minha bênção.


Você nunca falou isso pra nenhuma outra amiga minha antes. Isso é um costume coreano ou o quê?


– Por favor, Krystal! – Jessica insistiu, não querendo dar mais explicações. Tinha medo de acabar falando o que não deveria.


Tá, né – respondeu Krystal, confusa. Jessica ouviu pequenos ruídos do outro lado da linha antes de ser recepcionada por uma voz um pouco mais grave de que tinha memória.


Jessica-sshi. Por que gostaria de falar comigo? – disse Amber, surpreendendo Jessica ao falar em coreano.


– Por que você está...? – pausou. – Ah, já sei. Dessa maneira Krystal não saberá exatamente do que estamos falando. – Jessica continuou no mesmo idioma. Pensou em responder em inglês, mas não faria lá muito sentido esconder a conversa de suas colegas, e manter um diálogo bilíngue certamente lhe seria um pouco estranho. – Mas escolha bem suas palavras. Krystal tem conhecimento básico de coreano, não seria difícil pra ela decifrar nossa conversa.


Então talvez fosse melhor eu ficar com o seu número? Pra lhe manter a par do que acontece aqui, sabe – Amber diminuiu o volume de sua voz para que Krystal não ouvisse.


Boa ideia. Quero saber exatamente como que você foi parar no quarto da minha irmã. – O tom de Jessica era levemente ameaçador, mas não conseguia esconder o alívio por ter alguém de confiança para tomar conta de sua família.


Jessica recitou seu número de telefone e podia ouvir ao fundo questionamentos de sua irmã sobre o porquê de estarem falando em coreano juntamente com as risadas de Amber.


Pode deixar que irei cuidar muito bem da Krystal, Jessica-sshi!


– Agradeço muito, Amber – Jessica sorriu, mesmo sabendo que a garota do outro lado da linha não poderia ver. – Passe o telefone para Krystal, quero me despedir.


Ouviu mais alguns ruídos e então a reconfortante voz de sua irmã.


Finalmente as aulas de coreano que a mamãe me obrigou a fazer foram úteis. Que história é essa de cuidar bem de mim, Jessi?


– Ah, sabe... é que eu não vou estar aí por um bom tempo, então alguém tem que cuidar da minha irmãzinha, não é?


Tenho dezessete anos, não preciso de tanta proteção assim – Jessica podia imaginar sua irmã bufando e revirando os olhos.


– Ah, precisa sim. Mais do que você pensa – disse Jessica em um tom um tanto sério. Resolveu mudar de assunto antes que provocasse perguntas de sua irmã. – Hã, preciso ir antes que as tarifas internacionais me levem à falência... Mande um beijo pra mamãe e diga que eu estou bem. E pro papai também.


Só se você prometer que não vai demorar a ligar de novo!


– Você tem a minha palavra! Até mais, Krys, e nunca se esqueça – suspirou. – Eu te amo mais do que tudo, tá bom?


Eu também te amo muito, Jessi. Bye!


Jessica desligou e viu a data no visor do celular. Pelos seus cálculos, já fazia pouco mais de quatro meses que havia chegado a Seul; pouco mais de quatro meses desde que sua vida deu um giro de 180 graus, e sem previsão para completar o círculo e voltar ao normal.


Aliás, Jessica imaginava se seria possível voltar a viver como antes. Se um dia teria que explicar à sua família como ela era uma mutante, uma história que ela mesma ainda não conseguia assimilar. E ainda pensava nas maneiras de como poderia contar a situação: talvez os reunindo à mesa e preparando um discurso, ou poderia falar de maneira rápida e indolor como se estivesse retirando um Band-Aid.


Resolveu tirar sua mente daquilo e parar de sofrer por antecipação. Afinal, como ela poderia ensaiar maneiras de contar a eles que era dotada de um poder sobre-humano se sequer tinha conhecimento de qual era aquele poder?


Aquilo era algo que secretamente incomodava Jessica – ou talvez nem tão secretamente, já que Sunny fazia questão de lhe assegurar que não iria demorar tanto até que descobrissem sua habilidade e de confortá-la ao dizer que se sentiria da mesma maneira se estivesse em sua situação. Mas não dava para ignorar o sentimento de inferioridade que Jessica tinha em relação às suas novas colegas, sabendo que no momento não era nada mais que uma garota normal no meio de tantas outras extraordinárias.


Mas é claro, os últimos quatro meses não foram feitos apenas de angústias e frustrações. Jessica conseguiu construir amizades que certamente tornariam mais suportável sua estadia na Coreia. Sooyoung tomou gosto pela garota americana, oferecendo-a uma ajuda a mais em seu treinamento e sempre lhe dando dicas para melhorar cada vez mais, e até chegou a dividir um pouco de seu almoço com ela uma vez (Yoona havia lhe dito que Sooyoung não dividia comida com ninguém, nunca). E apesar do incidente com o diário, Seohyun não guardou ressentimentos de Jessica, tratando-a da mesma maneira de que suas unnies mesmo que ainda não fossem tão próximas.


Yoona pareceu ter nutrido um carinho especial por Jessica, o que ela ainda não havia entendido, pois não via como uma garota tão feliz e otimista podia gostar de alguém com a sua personalidade. Mas, de certa forma, era algo esperado; Sunny lhe disse que a pessoa precisaria ser uma verdadeira idiota para que Yoona não simpatizasse com ela.


Tiffany, juntamente com Sunny, havia se tornado o seu maior porto seguro naqueles últimos meses. Jessica normalmente se sentiria no mínimo aborrecida se alguém permanecesse em seu encalço lhe enchendo de perguntas, mas tinha de admitir que era reconfortante ver o brilho nos olhos da “umma” do grupo quando Jessica relatava sua vida no país que havia adotado como casa. Logo suas conversas chegaram a ir além do tema “Estados Unidos” e encontravam-se passando intermináveis tardes de domingo falando sobre os mais diversos assuntos, como se conhecessem há eras.


Para Jessica, Tiffany havia se tornado um dos poucos pontos altos da Coreia do Sul. Ela e seus waffles.


Yuri continuava sendo Yuri. A única diferença era que Jessica havia aprendido a apenas ignorar seus ocasionais assédios em vez de se irritar com eles, e a sua vantagem é que tinha como chantageá-la assim que notou por quem a morena nutria uma paixão não tão secreta. Já Hyoyeon parecia não dar muita importância para nada além do treinamento, dos seus cigarros e, estranhamente, de Seohyun.


E bem, Jessica já conseguia trocar palavras civilizadamente com Taeyeon. Não que essas palavras fossem muitas, já que a líder não tinha intenção de falar com a americana fora do treinamento – na maioria das vezes para soltar alguma crítica, já que parecia guardar os elogios para si.


Mas para ela já era o suficiente. Não esperava que em quatro meses já estivessem trocando juras de amizade eterna. Considerava ser o relacionamento ideal a se manter com Taeyeon, pois não tinha interesse em se aproximar, mas seria mais do que um pouco complicado fazer parte de uma equipe cuja líder sequer a suportasse.


O progresso de Jessica no treinamento surpreendia a todas, inclusive a própria. Nunca iria imaginar que em questão de meses já se sentiria capaz de derrotar um homem adulto maior que seu tamanho sem muitas dificuldades – o que já se foi provado quando um ladrão desafortunado resolveu cruzar o caminho de Jessica e Tiffany em uma casual ida ao mercado – e isso era sem dúvidas graças à rotina pesada que Taeyeon impunha não apenas a ela, mas também a todas as outras garotas. E talvez também à milagrosa bebida que Sooyoung costumava preparar ao final do dia; Jessica não fazia ideia do que tinha lá dentro, mas tinha certeza de que poucas coisas no mundo eram tão revigorantes quanto.


Mas Jessica ainda sacrificaria tudo isso para ter de volta ao menos a mínima sensação de liberdade. Desde que havia posto os pés em Seul, se sentia constantemente sob vigilância. Tanto de suas novas amigas que às vezes agiam mais como suas guarda-costas, quanto do inimigo desconhecido. Sentia falta de poder andar na rua sem a incômoda sensação de que alguém iria pular de uma esquina e cravar uma faca em seu peito.


Um dos maiores desejos de Jessica naquele momento era sair, voltar a conhecer aquela cidade que um dia já foi seu lar. Ir a lugares além do mercado e do galpão de treinamento. Mas por enquanto teria de se contentar em apenas dar uma volta pelo quarteirão à luz do dia. Pensou em convidar Tiffany ou Sunny para darem uma volta um dia desses, ou mesmo Sooyoung para irem a alguma lanchonete próxima.


Mas resolveu deixar aquilo para depois. Ainda tinha deliciosos waffles para devorar.


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O quarto estava escuro e silencioso, exceto pelos frequentes ruídos de alguém se movimentando debaixo das cobertas. Jessica se revirava na cama pela enésima vez, esperando impacientemente pela chegada de seu sono.


Não podia acreditar que justamente ela estava tendo dificuldades para dormir. Olhava para a cama de casal e invejava Sunny, que conseguira cair tão rápido no sono em uma plena noite de sexta-feira. Ao seu lado Taeyeon estava imóvel feito uma pedra, apenas o leve subir e descer de seu peito indicando algum sinal de vida.


Por algum motivo estava inquieta, só não sabia qual.


Praguejou silenciosamente e cobriu-se até a cabeça com o lençol, apenas para chutá-lo para o lado e levantar-se da cama poucos minutos depois. Abriu o guarda-roupa com cautela para evitar fazer qualquer barulho que pudesse acordar Sunny ou Taeyeon, retirando de lá uma das calças folgadas que usava para treinar e um moletom. Vestiu as peças por cima do pijama e calçou os tênis que estavam ao lado de sua cama.


Jessica sabia que era uma ideia um tanto estúpida sair sozinha pela vizinhança naquele horário. Mas sentia a necessidade de ficar sozinha por um momento, andar por aí e arejar a mente. E como planejava sair apenas por quinze minutos, ninguém iria sentir a sua falta já que todas estavam em seus quartos.


Todas menos uma, Jessica descobriu ao botar a mão na fechadura e ouvir a voz da pessoa que menos queria encontrar naquele momento.


– Aonde você pensa que vai?


– Não sei, Taeyeon – murmurou Jessica entre os dentes. – Acho que a nenhum lugar, já que você me flagrou.


– E para onde você pretendia ir antes de eu lhe flagrar?


– Dar uma volta. Já estou cansada de ficar aqui dentro. – Jessica virou-se e cruzou os braços. – E você não deveria estar dormindo?


– Digo o mesmo – Taeyeon estreitou os olhos e aproximou-se de Jessica. – Ainda bem que eu não estava dormindo, não é? Acho que não seria legal se você simplesmente saísse para dar uma volta e nunca mais retornasse.


– Taeyeon, eu não sou feita de cristal! Já sei me defender! – exclamou Jessica.


– Quatro meses e você ainda não faz ideia do perigo com o qual estamos lidando – Taeyeon deu uma risada debochada. – Sim, você provavelmente já consegue quebrar o braço de alguém sem muito esforço, parabéns. Mas do que adiantaria quando o inimigo tem poderes e você nem sequer descobriu o seu?


Jessica encarava o chão, calada. Não tinha nada a fazer senão concordar com Taeyeon.


– Eles vieram atrás de nós assim que botamos os pés em Seul. Não me admiro que daqui a pouco estejam nos atacando dentro de nossa própria casa – Taeyeon encarava Jessica, que se recusava a olhá-la. Após alguns segundos, deu um suspiro. – Vou pegar meu casaco e irei com você.


– O que? – Jessica descruzou os braços e olhou para Taeyeon, surpresa. – Devo dizer que você já foi bem mais inflexível.


– Não se acostume, Jung. Estou fazendo isso por mim também.


Taeyeon voltou para o quarto e Jessica sentou-se no sofá, rindo da situação em que havia se metido.


Jessica Jung e Kim Taeyeon, saindo juntas. Seria cômico se não fosse trágico.



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