In Love With The Hero escrita por Jungie


Capítulo 10
Descoberta


Notas iniciais do capítulo

Queria ter postado no domingo, mas fiquei 4 dias sem internet e não pôde postar :( mas não se preocupem que acho que o próximo capítulo vai sair mais cedo do que imaginam ;D
Aliás, gostaria de agradecer a vocês, já que o capítulo passado foi o que teve mais reviews até agora. Muito obrigada a quem já lia e a quem começou a ler agora e não se intimidou com os 9 capítulos! Sou muito grata a vocês por me darem apoio!



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Jessica olhava para o chão enquanto caminhava, suas mãos nos bolsos e um capuz na cabeça. Observava atentamente os seus próprios passos, diminuindo o ritmo sempre que percebia que haviam se sincronizado com os de Taeyeon.


– Então, por que decidiu me acompanhar? Tem planos de me deixar trancada em um porão e dizer para as outras que me perdeu de vista e não conseguiu mais me encontrar? – disse Jessica.


– Por aí – Jessica pôde ver um sorriso irônico surgir debaixo do capuz de Taeyeon. – Pode parecer absurdo, mas estou aqui para garantir a sua segurança.


– É uma ideia um tanto surreal, sim – Jessica balançou a cabeça e deixou o capuz cair sobre sua nuca. – Precisamos mesmo ficar com isso na cabeça? Desse jeito parece que fazemos parte de uma gangue ou coisa assim.


– Nunca é demais ter um pouco de cautela.


– Não passou pela sua cabeça que duas pessoas andando juntas desse jeito possam chamar mais atenção do que gostaríamos? – Jessica ergueu uma sobrancelha.


– Tá, se não quiser usar, não irei lhe obrigar. – Taeyeon deu de ombros.


Andaram mais alguns metros no completo silêncio. A cada dez segundos Taeyeon olhava por cima de seu ombro para certificar-se de que não estavam sendo observadas, um hábito que incomodava Jessica.


– Será que não podemos andar uns dez metros sem que você fique olhando para os lados?!


– Já disse, cautela! – respondeu Taeyeon.


– Acho que você precisa relaxar um pouco, Taeyeon. Quem sabe esse não é o motivo pelo qual você vive com essa cara azeda e essa paranoia. – Jessica revirou os olhos.


– Não dá pra relaxar quando tem gente...


– Gente querendo nos matar, já sei – completou Jessica. – Afinal, para onde estamos indo?


– Conheço um bar aqui perto.


– Espero que seja ao menos decente – Jessica cruzou os braços.


– Não se preocupe, não é que nem aquela espelunca em que você trabalhava. Apesar de morarmos na periferia, tem umas coisas legais aqui – Taeyeon sorriu. – Aliás, já estamos perto. É bem ali.


Taeyeon apontou com a cabeça para um estabelecimento ao longe. Conforme iam se aproximando, Jessica podia ver que a fachada do local era pequena e simples, mas ainda sofisticada em comparação aos demais bares da vizinhança. Ao chegarem ao local, foram logo recepcionadas por um homem que estava mais para lá do que para cá, balançando um copo de whisky na mão e murmurando coisas obscenas ao ver as duas garotas. Taeyeon lançou lhe um olhar de desprezo e puxou Jessica pelo pulso.


Bêbados à parte, Jessica teve uma boa primeira impressão do lugar. Sobre cada mesa havia um lustre pendurado irradiando uma fraca luz amarelada, deixando o ambiente mais intimista. Os garçons e barmen andavam mais elegantes do que se esperaria em um bar comum.


– Por que você não me disse que viríamos a um lugar desses? Estou quase vestida como uma mendiga! – resmungou Jessica.


– Pelo lado bom, nenhum abusado vai ficar lhe secando, não é?


– E por que você se importa com isso? – Jessica ergueu uma sobrancelha.


– Por mim, você podia estar usando apenas a roupa de baixo e eu não me importaria. Mas vejo como você fica incomodada com Yuri, então... – Taeyeon começou a olhar ao redor, parando quando encontrou a pessoa que estava procurando. – Jungshin!


Taeyeon estalou os dedos duas vezes e atraiu a atenção de um jovem garçom que segurava com uma só mão uma bandeja com uma porção de aperitivos e garrafas de cerveja. Ele sorriu e fez sinal com a mão livre para que ela esperasse até que servisse a mesa de onde veio o pedido que estava carregando.


– Taeyeon! – Jungshin botou a bandeja debaixo do braço e afastou os longos cabelos ondulados que caíam em sua face. – Faz um tempinho desde a última vez que nos vimos, não?


– E seus cabelos continuam sedosos – os dois riram. – Você tem uma mesa mais reservada disponível? A princesa aqui não gosta de ser vista com roupas casuais. – Taeyeon apontou para Jessica.


– Eu não disse isso! – protestou Jessica.


– É claro que temos – disse Jungshin, ainda rindo. – Por aqui, senhoritas.
Jungshin guiou-as até o fundo do bar, onde havia apenas três mesas e nenhuma delas ocupada. Jessica sentou-se à mesa do canto que ficava mais afastada das outras, porém Jungshin parou Taeyeon antes que ela pudesse fazer o mesmo. Ambos viraram de costas para Jessica e ele então perguntou, com um sorriso sugestivo nos lábios:


– Namorada?


– Pff, até parece – Taeyeon riu alto. – Essa daí fica louca quando eu encosto um dedo nela, e não é em um bom sentido. Tenho certeza que ao final da noite irei me arrepender de tê-la trazido aqui.


– Que pena, vocês formariam um casal tão bonito.


– Não falaria isso se soubesse o quanto a nossa convivência é conturbada. Ela não me suporta e o sentimento é recíproco.


– Talvez não seja tão recíproco se você ainda fez o esforço de trazê-la aqui – Jungshin deu de ombros.


– Jungshin, eu só quero que você anote o nosso pedido, ok? – Taeyeon se sentou em frente à Jessica, séria.


– Tudo bem, tudo bem – Jungshin aproximou-se da mesa e tirou um bloco de notas do bolso do avental.


– Não estou no clima para beber, então quero apenas uma Coca-Cola Light – disse Jessica, examinando o cardápio. – E uma porção de batata frita porque eu realmente preciso de fritura na minha vida.


– E pra mim só uma garrafa de soju – disse Taeyeon.


– Certo – Jungshin terminava de anotar o pedido. – Voltarei daqui a pouco com as bebidas! – o garçom se retirou, mas sem antes dar uma piscadela discreta para Taeyeon.


– Garoto intrometido... – murmurou Taeyeon.


– O que disse? – perguntou Jessica, ainda lendo o cardápio.


– Nada.


– Certo, então – Jessica abaixou o cardápio. – Pensei que você fosse o tipo de pessoa que tomasse whisky, vodka... não soju.


– As aparências enganam – Taeyeon começou a batucar os dedos na mesa em um ritmo aleatório. – Na verdade eu sou relativamente fraca para beber. Um pouco de vodka e eu já estou meio zonza.


– Também sou assim, e é por isso que eu nem me atrevo a beber agora que estou sozinha com você.


– Isso aí, confiança é o ponto alto da nossa equipe! – ironizou.


– Não é isso... só tenho medo de falar alguma besteira e aí você teria algo para me incriminar para sempre.


– Gosto dessa hipótese.


– Que nunca virará realidade, para a sua infelicidade. Mas diz aí, se você não é a mais dura na queda, quem é?


– Sunny...


– Tá brincando! – Jessica riu. – Daquele tamanho?


– Como eu disse, as aparências enganam.


Jessica riu com a imagem mental de uma Sunny bêbada e rodeada por garrafas de cerveja. Era quase inimaginável visualizar a garota tão adorável e racional tropeçando nas palavras e falando coisas sem sentido sob o efeito do álcool.


Jungshin logo chega segurando habilmente com apenas uma mão a bandeja com as bebidas que Taeyeon e Jessica pediram. Despejou o refrigerante no copo de vidro para Jessica e botou duas garrafas de soju na mesa.


– Jungshin, eu só pedi uma garrafa – disse Taeyeon.


– Eu sei. Essa é por minha conta – Jungshin sorriu e colocou mais dois copos vazios na mesa, para a confusão das duas. – Talvez um pouco mais de álcool lhe seja útil essa noite. – Retirou-se novamente com uma piscadela, porém desta vez não tão discreta para que Jessica não percebesse.


– Você parece bem íntima desse garçom – notou Jessica.


– É, eu costumava frequentar esse lugar durante certo período da minha vida. – Taeyeon botou a bebida em um dos copos vazios e então o virou sem cerimônia, batendo o copo na mesa ao sentir o gosto do álcool.


– Oh, que legal, mais mistérios sobre vocês que eu provavelmente não sou autorizada a decifrar – Jessica tomou um gole do seu refrigerante. – Você era alcoólatra ou coisa assim?


– Não, eu só bebia para tentar esquecer. Mas era inútil. As memórias nunca se foram, e duvido que elas desapareçam tão cedo. – Taeyeon tomou o restante de soju que havia no copo e o encheu novamente.


– Ooh, drama – murmurou Jessica antes de bebericar um pouco mais de sua Coca-Cola.


– Jungshin coincidentemente era quem me atendia em todas as vezes que eu vinha aqui. Ou talvez de propósito, sei lá... Mas só sei que ele sempre falava muito mais que o necessário para um relacionamento entre cliente e empregado. Então acabamos meio que nos aproximando a um ponto em que ele até bebia comigo quando terminava o expediente.


– E por que ele trouxe duas garrafas? Não que eu esteja reclamando de algo grátis, mas a bebida não vai ficar quente quando você terminar a primeira?


– Hum – Taeyeon coçou o queixo. – Acho que essa aí é pra você.


– Isso por acaso é um complô para me deixar bêbada? – Jessica levantou as sobrancelhas.


– Eu juro que não tenho nada a ver com isso, mas seria rude fazer com que a gentileza de Jungshin fosse em vão, não é?


– Mas eu... – Jessica resolveu não argumentar quando seus olhos encontraram o olhar frio de Taeyeon. – Tá, tá! Só me deixa terminar o meu refrigerante, por favor.


Ficaram em silêncio por alguns minutos, nenhuma sabia muito o que dizer à outra para continuar a conversa. Jessica bebia vagarosamente o seu copo de Coca-Cola, enquanto Taeyeon estava tão afoita que se encontrava prestes a terminar sua garrafa de soju.


– Pensando melhor, talvez seja bom você não tocar nisso mesmo – Taeyeon puxou a garrafa verde na frente de Jessica e despejou a bebida em seu copo ao ver que a sua própria já havia secado. – Ao menos uma de nós deveria estar sóbria, só para o caso de...


– Você tá fazendo isso de novo – cortou Jessica.


– Isso o quê? – perguntou Taeyeon, confusa.


– Essa paranoia!


– Tá, tá, eu também não queria ser uma idiota ao te forçar a beber álcool – admitiu.


– Que fofo, Taengoo! – caçoou Jessica, fazendo aegyo. Ela caiu na risada ao ver o olhar ainda mais frio de Taeyeon. – Obrigada, sério. Já tive experiências traumatizantes o suficiente na faculdade para nunca mais querer tocar em um copo de álcool.


– Tipo? – perguntou Taeyeon, que pela primeira vez na noite deixou transparecer seu interesse na conversa.


– Uma vez bebi demais em uma festa e, quando acordei, estava seminua em uma cama desconhecida com um cara só de cueca do meu lado.


– E vocês fizeram... – disse Taeyeon, gesticulando com um olhar horrorizado.


– Não, era só um garoto virgem que queria contar vantagem para os amigos. Tirou até uma foto, mas eu o obriguei a apagá-la depois de um belo chute no saco – Jessica riu. – Era até bonitinho, mas não fazia meu tipo.


– Não esperaria menos de você – Taeyeon deu uma risada abafada e tomou mais um gole de soju.


Jessica sorriu involuntariamente ao ver Taeyeon rindo genuinamente de sua história. Se soubesse que uma garrafa de soju era o suficiente para lhe tornar mais acessível, com certeza já teria se utilizado deste truque meses atrás. Logo Jungshin reapareceu na mesa com seus cabelos sedosos e uma generosa porção de batata frita.


– Aqui estão suas batatas fritas, senhorita...


– Jessica – disse ela.


– Jessica-sshi – Jungshin botou um pequeno cesto transbordando com batatas na mesa, junto com um molho o qual Jessica não conseguiu identificar de vista. – Tenham um bom apetite!


– Ele fala como se estivesse nos servindo um prato de restaurante – murmurou Jessica quando Jungshin já havia se retirado.


– Jungshin está especialmente eficiente hoje. As porções de batata frita que eles servem aqui não são nem um pouco cheias como essa – Taeyeon virou o copo novamente. – Talvez estivesse com saudades de mim.


– Ou talvez ele tenha gostado da sua acompanhante especial – Jessica pegou uma batata e enfiou-a no molho antes de comer. Logo sentiu uma sensação picante em sua língua e fez uma careta. – Argh, esqueci que vocês gostam de tudo apimentado. Não tem ketchup?


– Você soa como se não tivesse passado a maior parte de sua infância aqui.


– O que posso fazer? Sou uma legítima americana agora. – Jessica deu de ombros e comeu outra batata.


– Tudo bem então, yankee – disse Taeyeon em inglês, provocando uma risada de Jessica pelo sotaque.


– Aliás, preciso agradecer-lhe. Por ter botado Amber de olho na minha irmã e tal.


– Amber? – perguntou Taeyeon, confusa. – Eu não a mandei fazer nada desde que saímos dos Estados Unidos.


– Como assim? – Jessica olhou para Taeyeon, preocupada. – Pensei que havia me dito que ela ficaria observando caso algo anormal acontecesse, lá no avião!


– Ahhh – disse Taeyeon lentamente, como uma criança. – Na verdade eu só falei aquilo para lhe tranquilizar, eu nunca disse para ela ficar de olho em ninguém.


– Taeyeon! – o olhar de Jessica agora era enraivecido. – E se ela for uma agente dupla ou algo assim? Minha família pode correr perigo!


– Não se preocupe. Amber é uma garota de confiança, ela provavelmente chegou a conhecer sua irmã de algum jeito e se apegou a ela, sei lá. Eu não tinha dado muita importância à possibilidade de eles irem atrás de alguém além de você, então de repente foi até bom que ela tenha pensado nisso.


– Você não me passa confiança de que ela é confiante! – Jessica exclamou um pouco mais forte.


– Volta pra lá e toma conta deles então.


– Ah, eu irei. Arrumarei minha mala assim que voltarmos para casa, tenho dinheiro o suficiente para uma passagem de volta!


– Tá falando sério? – Taeyeon riu, incrédula. – Depois de quatro meses treinando duro, você quer voltar para o lugar em que você sabe que eles podem te encontrar?


– Ao menos parece mais seguro que ficar aqui e ter sempre a sensação de que podem me matar a qualquer momento! – Jessica bateu na mesa.


Taeyeon riu novamente e dessa vez nem mesmo se preocupou em encher seu copo, tomando a bebida diretamente da garrafa. Suspirou e então adquiriu uma expressão mais séria e pacífica.


– Jessica, eu realmente só quero o seu bem. Estamos tentando descobrir onde você se encaixa neste quebra-cabeça, e mesmo que você não seja uma peça muito importante, irei lhe proteger com a minha vida se necessário for – Taeyeon bebeu mais um pouco de soju e comeu duas batatas fritas. – Então, por que você não me conta algumas das suas histórias da faculdade?


A respiração de Jessica havia ficado pesada com a sua exaltação e era a única coisa que podia se ouvir entre as duas naquele momento. Deu um suspiro e sentiu a raiva indo embora junto com o ar que exalava lentamente. As palavras de Taeyeon lhe soavam genuínas, mas Jessica não sabia se era pela sua confiança na líder ter aumentado ou pelo fato de ela estar ficando bêbada.


– Vou lhe falar sobre a vez em que minha colega de quarto fez o zagueiro do time de futebol americano correr pelo campus só de cueca.


– Parece uma história divertida – Taeyeon riu sozinha.


Jessica começou a relatar diversas situações engraçadas e curiosas que se lembrava do período em que morava no campus da UCLA antes de voltar para casa e ajudar a sustentar sua família. Coisas que aconteceram dois ou três anos atrás, mas que pareciam ter sido há uma eternidade. Algumas histórias eram um tanto exageradas ou até inventadas, já que a vida universitária de Jessica não era tão excitante quanto ela fazia parecer, mas queria ter pleno sucesso na missão de manter Taeyeon entretida. E estava funcionando; ela parecia realmente estar se divertindo, até mesmo contribuindo com algumas histórias bobas sobre situações que havia passado com Sunny.


E então Jessica decidiu que Taeyeon já havia se divertido demais quando notou as cinco garrafas vazias na mesa.


– Vamos, garota – Jessica levantou-se e puxou Taeyeon gentilmente da cadeira. – Você já bebeu demais por hoje.


Taeyeon levou a mão ao bolso da jaqueta e tirou de lá algumas notas. Entregou-as para Jungshin na saída e despediu-se do amigo. O garçom parou Jessica que vinha atrás dela e disse baixinho:


– Toma conta dela, por favor. Às vezes ela fica meio... instável quando bebe.


– Certo – Jessica achou o aviso um pouco inquietante. – Obrigada, Jungshin.


– Foi um prazer! – Jungshin sorriu.


Jessica apressou o passo para alcançar Taeyeon, que não havia percebido que ela havia ficado para trás. O caminho de volta estava sendo bem mais silencioso que a ida, com as duas garotas não trocando uma palavra sequer entre si.


– Você está até bem para quem tomou cinco garrafas de soju. Se fosse eu, não estaria conseguindo nem andar em linha reta – brincou Jessica.


– Acho que sou mais resistente do que pensava – Taeyeon enfiou as mãos nos bolsos, abaixou a cabeça e encolheu os ombros.


– Você é mais legal quando está bêbada, sabia? – Jessica a cutucou com o ombro.


– Sou, é? – Taeyeon sorriu timidamente. – Pena que você vai me ver nesse estado poucas vezes. Acho mais divertido quando estamos nos bicando.


– Talvez, no fundo, eu também ache – Jessica sorriu e freou seus passos quando percebeu que Taeyeon havia parado. – O que foi?


– Ouviu isso? – Taeyeon franziu as sobrancelhas, encarando o horizonte.


– Isso o quê? – Jessica olhou ao redor e ficou atenta para qualquer ruído estranho, mas não conseguia ouvir nada além dos automóveis que passavam ocasionalmente pela pista e conversas paralelas em uma lanchonete ao longe.


– Meu nome – Taeyeon olhou preocupada para Jessica. – Alguém chamou o meu nome. Foi um sussurro... – apontou para um beco escuro pelo qual haviam passado segundos antes. – Acho que veio dali.


– Por favor, não me diga que você pretende ir lá checar – os pelos da nuca de Jessica se eriçaram apenas com o pensamento de adentrarem aquele local. Odiava lugares escuros.


– Você pode ficar aqui se quiser.


Apesar das palavras de Taeyeon, suas ações não ofereciam muita alternativa a Jessica. Ela viu-se obrigada a seguir a líder, já que ficar sozinha e desprotegida no meio da rua à noite lhe parecia tão aterrorizante quanto entrar no beco. Aproximavam-se com cautela, Taeyeon mantinha as mãos sempre à frente do corpo tanto para defesa quanto para usar sua telecinese caso necessário. Já Jessica, que não sabia muito o que fazer com as suas, apenas segurava nos ombros de Taeyeon.


– Kim Taeyeon – pronunciou uma voz grave e sinistra, e desta vez Jessica havia ouvido em claro e bom tom. – Hoje é nosso dia de sorte.


E tão rapidamente quanto uma bala, alguém saltou da escuridão e encurralou Taeyeon contra uma das paredes sujas do beco. Jessica quis ajudar, mas ficou tão atordoada e surpresa que mal conseguia se mover; não que fosse mais necessário, pois Taeyeon já havia se livrado de seu agressor atingindo-o brutalmente com uma garrafa de vidro na cabeça usando o seu poder. Enquanto ele estava desacordado, ela percebeu que estava armado com uma faca e então a pegou.


– Fácil demais – disse Taeyeon. – Jessica, prepare-se! Outros devem vir!


Taeyeon mal havia terminado a frase quando surgiu alguém de uma porta que ligava o beco à cozinha de um restaurante. Desta vez era uma mulher munida não apenas de uma, mas duas facas. Taeyeon a empurrou para a cozinha e defendia seus golpes com sua própria faca, aproveitando uma pequena brecha na defesa de sua inimiga para mandar uma grande panela de pressão em sua cabeça.


– O que é isso?! – Jessica gritou, apavorada.


– Pegue as facas dela e me ajude a lutar! Preciso de apoio já que não estou totalmente sóbria.


– Você bêbada é mais habilidosa do que duas de mim sóbrias! – Jessica catou as facas do chão, tentando convencer a si mesma de que seria plenamente capaz de ferir alguém com elas se fosse necessário.


– Certo, vamos entrar no restaurante. Tenho certeza que lá terão pessoas que virão nos atacar, mas eu cuido delas. Apenas defenda-se.


Taeyeon empunhou sua faca e chutou a porta que levava ao restaurante, confirmando suas suspeitas. No exato momento em que o fez, dois homens altos e fortes vieram para cima dela e um terceiro, mais baixo e franzino, atacou Jessica, que apenas bateu forte com o cabo de uma das facas em sua cabeça, o que o atordoou por um instante.


– Vê se ataca direito! – gritou Taeyeon enquanto chutava a cabeça do homem em que havia acabado de cravar sua faca. – Não precisa matá-lo, basta apenas machucá-lo!


– Mas eu... – Jessica interrompeu sua frase quando sentiu uma dor súbita na região do abdômen e percebeu que havia acabado de ser esfaqueada. Seu primeiro instinto foi atacar o jovem com um golpe certeiro no pescoço e virar o rosto para não encarar a vítima do primeiro homicídio que havia cometido em sua vida. Sentiu-se fraca e desabou no chão, apoiada apenas por uma parede.


– Jessica! – Taeyeon empurrou o corpo desfalecido do segundo homem que o atacou e correu até ela ao perceber que havia sido ferida.


– Droga... – Jessica gemeu de dor quando Taeyeon puxou a faca de seu ferimento. – E... e agora?


– Calma, vai ficar tudo bem. Vou te levar correndo de volta pra casa e Tiffany irá lhe curar. Você não vai...


– Taeyeon, sai daí!


Jessica gritou o mais alto que pôde, mas não conseguiu impedir o golpe desferido pelo homem que havia sido derrubado no beco, agora muito bem acordado. Taeyeon caiu sobre si com uma faca cravada nas costas, e novamente seu instinto falou mais alto e lhe fez jogar a faca que estava em sua mão exatamente entre os olhos do inimigo. Duas mortes.


– Isso sim não é bom... – Taeyeon sentia dificuldade para respirar com o profundo ferimento em suas costas.


E como se não tivesse sido esfaqueada em um ponto vital momentos atrás, Jessica levantou-se com vigor e arrastou Taeyeon de volta para o beco. Ao passarem pela cozinha, perceberam que a mulher já não estava mais lá; provavelmente fugiu para poupar sua vida. Jessica ajoelhou-se na calçada e abraçou o corpo enfraquecido de Taeyeon para tentar retirar a faca de dentro dela. A cada grunhido e gemido de dor Jessica ficava ainda mais nervosa, mas conseguiu retirar o objeto com sucesso.


Mas para piorar a situação, Jessica percebeu que Taeyeon não havia sido ferida apenas nas costas. Sua blusa estava encharcada de sangue; também fora atingida na mesma região que Jessica enquanto lutava contra os dois homens.


– Aguenta firme, líder. Você vai ficar bem.


Jessica acariciou o ombro de Taeyeon e não conseguiu conter as lágrimas de desespero. Tentava encontrar uma solução, mas todas as opções pareciam inviáveis: estavam longe demais para que conseguissem voltar para casa à pé e não dispunham de nenhum telefone celular para que pudessem chamar Tiffany até lá. Taeyeon estava inconsciente e perdia sangue demais, obrigando Jessica a tomar a única decisão que lhe restava.


Que se danem os superpoderes, Jessica iria resolver aquilo do jeito normal.


– Já volto – murmurou Jessica mesmo que Taeyeon não pudesse ouví-la. Ela correu até um telefone público e discou o número de emergência. Explicou a situação tão rapidamente para a telefonista que até mesmo duvidava se ela havia conseguido entender todos os detalhes. Sentiu-se mais aliviada quando ela se prontificou a enviar uma ambulância o mais rápido possível.


Jessica retornou para o lado de Taeyeon e segurou sua cabeça em seu colo, acariciando gentilmente seus cabelos. Ela não sabia se era a adrenalina, o medo ou seus instintos lhe segurando para que pudesse tomar conta de Taeyeon até que ambas estivessem fora de risco, mas já não sentia mais dor. Levantou o moletom e tateou seu abdômen, surpreendendo-se quando notou que não havia mais ferimento algum lá.


Não podia ser. Ou estava delirando, ou...


Pegou a faca que havia sido usada para ferir Taeyeon e fez um pequeno corte em seu dedo indicador, profundo o suficiente para que o sangue escorresse. E então arregalou os olhos quando viu o corte se fechar diante dos seus olhos sem deixar sequer uma cicatriz ou qualquer outro resquício, além do sangue, de que um dia existiu.


– Oh... meu... Deus...





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Notas finais do capítulo

Save Jessica, save the world~ (piadinha interna pra quem já assistiu Heroes)