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Capítulo 8
Atiradora de pedras


Notas iniciais do capítulo

Aqui está a imagem!! Sei que não ficou muito bom, e talvez eles estejam diferente do que você imaginou, mas foi o que consegui! Fiquei um tempo sem postar (pô, eu também viajo) mas acho que tudo bem, né? Vocês não vão me abandonar aqui com esses doidos, vão? Espero que gostem do cap!



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Leon & Nicholas, cena pedida por Luisa di Ângelo:

Capítulo:

Eu fiquei lá, deitada no chão, olhando para as copas das árvores, mas não vendo nada. Como eu sou idiota. Ele já tinha percebido? Já era tempo...

Ha... Ha... Ha... Se fosse só isso, seria bom. Eu não sabia o quanto ele poderia ser cruel. Aquele garoto idiota, lerdo, que adora se meter em confusão. Quem imaginaria que um garoto desses perceberia que alguém gosta dele? E mais, se aproveitaria dos sentimentos dessa pessoa?

 Eu não podia simplesmente levantar e sair correndo atrás dele para lhe dar uma surra. Isso seria fácil. E talvez esse fosse o plano dele. Dizer “é por isso que eu não gosto de você”.

Não existia a mínima possibilidade de que ele me correspondesse. Agora, mais do que nunca, eu tinha certeza.  Ninguém nunca faria isso com a pessoa que gosta. Não faria nem com um amigo. O que será que eu sou para Mike? Um apoio de braço?

Minha maior dúvida era como me comportar diante dele daqui para frente. Nós não éramos mais amigos, isso era certo. Acho que nem como colega de acampamento ele me aceitaria mais. E eu... Eu queria que ele me aceitasse assim? Eu não preferia ficar longe?

Nunca fui dessas menininhas que observam a pessoa que gosta de longe. Elas procuram saber os gostos da pessoa, os lugares que costuma ir, mas nunca têm coragem de ir lá e puxar assunto. Ficam sofrendo, esperando em vão que o alvo note, e venha falar com elas.

Eu nunca fui assim. Primeiro porque converso com todos, mesmo os mais chatos. Não os considero amigos, mas falo com eles. Quando percebi que gostava de Mike, fui lá e fiz o que as garotas normais não fazem. Puxei assunto. Conversei. E virei amiga dele.

Tinha errado em algum lugar, isso eu percebia. Ele não me via como uma garota. Talvez eu não agisse como uma. Ou não parecesse.

De qualquer jeito, ele conseguira me deixar em um estado lastimável.

–Levante-se, garota – murmurei, mas continuei deitada no chão. Já estava escurecendo... Era perigoso. Os monstros poderiam me farejar, e eu estava sem nenhuma arma.

Tanto faz. Se algum monstro for idiota de chegar perto de mim agora, eu acabo com ele com meus próprios dentes. Sim, eu disse dentes.

Talvez, talvez. Eu acho que nunca fiquei com tantas dúvidas na cabeça antes. Não sou assim. Essa não é Annie. Annie é aquela garota nervosinha, que não pensa muito antes de agir e sempre dá o troco. Essa sou eu.

Quem estou tentando enganar? Agora eu queria uma pessoa com quem eu pudesse conversar livremente, falar sobre tudo, me abrir, e, principalmente, confiar que não contaria a ninguém.

Uma amiga, isso. Eu não tinha amigas meninas. As meninas que não tinham medo de mim me odiavam. E mesmo assim, eu não acho que conseguiria confiar nelas. Eu nunca confiei em ninguém, na minha vida inteira. Até os meus brinquedos me trairiam, eu pensava quando era pequena.

Senti inveja do garoto-zumbi. Ele tinha o tal fantasma agora. Que ninguém mais podia ver ou ouvir. E mesmo assim não era pura imaginação dele. Eu queria alguém assim.

Peguei uma pedra e joguei para o lado, sem pensar nem olhar.

– Ai! Por que você sempre me acerta? – alguém choramingou. Virei para o lado, e lá estava um garoto muito estranho.

Ele era baixinho e magrelo, bem diferente do físico normal que adquirimos treinando no acampamento. Agora tinha um hematoma roxo na testa. Seu cabelo era de uma cor diferente. Era castanho, mas ao mesmo tempo era ruivo.  Ele estava de camiseta e shorts, mesmo estando razoavelmente frio. Sua roupa estava toda manchada de tinta colorida.

– Quem diabos é você? – perguntei, tentando manter um ar rude mesmo estando deplorável.

– Meu nome é Ryan. Você é aquela garota filha de Nêmesis, não é? Como era? Anneli...

– Annie. Só. Annie.  Agora dê o fora. Ou precisa de ajuda?

–Ah, não. Não, eu não volto pra lá. – o garoto apontou para trás. – Eles vão me matar.

–Eu vou te matar se continuar aqui. Já mandei dar o fora.

–Você sempre me acerta quando joga uma pedra do nada. Tem algo contra mim?

Me levantei e encarei-o com meu melhor olhar de serial killer. Ryan se retesou, dando um passo para trás.

–Eu não tinha nada contra você. Mas se continuar aqui, eu vou passar a ter. Entendeu?

–Errr... É... Hum... Estão me perseguindo e... Bom... Se eu voltar...

–Filhos de Ares?

Ele confirmou com a cabeça.

–E você é?

–Indeterminado. Faz dois meses que cheguei e nada.

–Quantos anos você tem?

–Quatorze.

Peguei outra pedra no chão e comecei a atirá-la para cima para depois apanhá-la. O garoto acompanhava a pedra com os olhos, como se tivesse certeza de que ela ia acabar parando na sua testa.

–Isso é estranho. Há vinte e sete anos que aquele Percy Jackson fez um acordo com os deuses de que eles deveriam dar atenção para seus filhos.  Eles deveriam chegar aqui e ser selecionados com até treze anos. E você me diz que chegou aqui há dois meses, tem quatorze anos e é indeterminado?

–S-sim.

–Você fica dormindo a maior parte do dia?

–Você acha que eu sou filho de Hipnos?

–Faria sentido.

–Não. Meu pai é mortal. Eu sou filho de uma deusa.

Joguei a pedra numa árvore. O tronco fez um estalo de madeira quebrando.

–Sua doida! E se fosse a árvore de uma ninfa?

–E se fosse? Eu não teria jogado lá, seu otário! Quer que eu jogue em você, em vez disso?

Ryan parecia aterrorizado.

–V-você não tem nenhuma ideia?

–Ah, sei lá. Só espero que você não seja meu irmão.

–Por quê?

–Imagina um idiota desses no mesmo chalé que eu. Não! Nem quero imaginar.

–Ei! Sabia que você é muito...

Não cheguei a ouvir o que eu era muito, pois o som da trompa o interrompeu. Ainda não era hora do jantar, então devia ser algo importante. Ainda bem. Não aguentava mais ouvir aquele babaca falando.

–Vamos. Eu não sei o que houve, mas tenho um bom palpite de quem fez. – eu disse, arrastando o moleque pelo braço.

–Eu sei andar!

–Não parece! Anda logo, idiota, ou eu só te largo aí.

–Eu vou com você.  – ele se arregalou, olhando para os lados como se estivesse sendo perseguido.

Andamos até a área dos chalés. Aquilo estava... O inferno. Mike ia adorar ver isso.

Ops. Parar de pensar em Mike. Passo um. Tente de novo.

Havia um enorme grupo de campistas cobertos de tinta, sentados desconfortáveis, murmurando sobre várias coisas que não me interessavam.

Respirei fundo e fui até Quíron. Ou o que devia ser Quíron. Tava mais para um cavalo colorido com um tio hippie colado em cima.

–Certo! Silêncio! – ele gritava – Vocês passaram do ponto!  Mais de vinte campistas para o hospital! E já temos problemas o suficiente! Quero saber quem começou isso! Se falar logo, talvez eu não precise falar para o Sr. D.!

–Mike! É com você! – alguém não identificado gritou.

–Não foi ele! Tem um fantasma aqui! – outra pessoa insistiu.

–É claro que foi ele! Fantasma é o caramba!

Todos começaram a discutir fervorosamente e não pareciam dispostos a parar. Quíron bateu com o casco numa pedra e o silêncio voltou.

Mike se levantou hesitante.

–Não fui eu – disse, abrindo os braços num sinal de rendição – eu tentei, mas dessa vez não fiz nada.

Ele parecia ter sido atacado por uma manada de búfalos coloridos. Ele estava sem camisa, com o cabelo todo pintado, tinha um hematoma no olho direito, sem camisa, a calça toda rasgada, faltava um dos tênis e estava sem camisa.

Tive que lembrar a mim mesma de que deveria parar de gostar dele ao perceber que não conseguia tirar os olhos... Bem, deixa pra lá.

–Não foi você? Quem foi, então? Eu que não fui! – um campista resmungou.

–Nem eu.

–Tira os olhos de mim!

–Não fui eu, para de me encarar.

–Para de mentir, moleque, a surra que eu te dei não foi o suficiente?

–Não fui eu – ele insistiu – Não fui eu, e vou continuar dizendo isso até vocês acreditarem. Por incrível que pareça, eu não fui nem ligeiramente responsável por essa bagunça.

–Foi aquele menino estranho. – alguém do grupinho de Afrodite disse, mas era impossível identificar quem. Eles estavam os mais coloridos dos coloridos.

–Que menino estranho? – Quíron perguntou, ainda de olho em Mike.

–Aquele lá... Do chalé de Hades. Nicholas.

Mike arregalou os olhos, ainda mais surpreso do que os outros. Ele fez que não com a cabeça, respirou fundo e falou:

–Era brincadeira. Fui eu, sim. Desculpe, Quíron. Não pude aguentar.

–Você mente muito mal, garoto – Quíron suspirou – Onde está o Nicholas?

–Não sei...

–Ele sumiu...

–Ninguém nunca repara nele...

–Não tem como saber...

–Eu vi ele – eu disse, levantando a voz, atrás de Quíron, que se virou para me encarar. Ryan se encolhia atrás de mim, como se tentasse desaparecer. Hã? Ele ainda estava ali, é verdade. Tinha esquecido.

–Onde ele estava?

–Eu... Ele estava na floresta. Procurando um tal de Leon.

–Leon? Não tem nenhum campista aqui com esse nome. Seria talvez... – O centauro pôs a mão no queixo, pensando.

–Provavelmente – sussurrei, não querendo chamar a atenção – mas só podemos ter certeza se perguntarmos a ele. Acho muito provável que o... Que tenha causado a confusão.

Quíron pensou mais um pouco, e então se virou para encarar o grupo. Eles estavam cochichando, debatendo sobre quem seria Leon e porquê nunca tinham ouvido falar dele antes.

–Está encerrado por hoje. Eu vou procurar Nicholas e ter uma conversa com ele. Podem ir.

Os campistas se levantaram, resmungando, e se dirigiram para seus respectivos chalés.  Alguns filhos de Afrodite pareciam meio petrificados e levaram vários chutes antes de arrastar seus traseiros até o palácio da Barbie.

Mike continuava lá, parado, segurando o braço como se estivesse inseguro. A expressão dele estava tão fofa... Quero dizer, ele estava lá parado. É. Só isso.

Quíron colocou a mão no meu ombro.

–Não se preocupe. Não vai acontecer nada de ruim com seu amigo.

–Ha! Ele não é meu amigo. E seria bom se acontecesse algo de ruim, assim ele pararia de me encher o saco com sua presença! – falei, ríspida, e me afastei. Ryan continuou lá, dessa vez se escondendo atrás de Quíron. Ele parecia uma criancinha do primário se escondendo dos valentões.

Pare de reparar nos outros como se eles importassem, Annie. Assim você só vai se machucar. É melhor guardar tudo só parar si.

–Annie! – alguém me chamou. Ignorei, e continuei andando para o chalé de Nêmesis. – Annie!

A pessoa me puxou pelo braço, me obrigando a olhar para ela.

Era Mike. Ainda com aquela expressão insegura.

–Que foi? Veio tirar com a minha cara? Já não se divertiu o suficiente? Há quanto tempo você sabia? Por que nunca me perguntou nada? Estava esperando o melhor momento para brincar comigo? Você não sabe que isso machuca? Me larga, não quero falar com você nunca mais! – disparei, sem pensar.

–Do quê você está falando? – ele perguntou, num tom inocente.

–EU ESTOU FALANDO DAQUELA MERDA QUE VOCÊ FEZ COMIGO! – berrei, não me importando que os outros ouvissem. Seria bom. Eu não gostaria que sentissem pena de mim, mas, no fundo, não ligava. Eu queria que passassem a ver Mike como alguém cruel e desalmado, que é como eu o via agora.

–Hein? Desculpe! Eu não sabia que você ia ficar tão brava só por eu te abraçar... Achei que ia sair correndo atrás de mim logo depois, para me bater!

–Pare de agir como se não soubesse!

–Não soubesse do quê?!

–Você... Não percebeu..? – essa foi a minha vez de ficar arregalada. Mike não parecia estar fingindo. Ele não sabia fingir tão bem assim. Mentia mal, muito mal. Até comentavam que isso ia lhe causar problemas um dia desses.

–Perceber o quê? – ele continuava com um tom confuso. Suspirei. Então, foi um mal-entendido? Ele só queria me atrasar para poder fugir?

Foi uma das melhores sensações que já tive na vida. Antes, era como se houvesse um anel prendendo meu peito, eu não conseguia pensar direito. Agora... Ele se soltara. Fiquei tão feliz que foi difícil conter o impulso de abraçá-lo.

–Que cara é essa? Você está me assustando. – Mike deu um passo para trás.

–Mike – eu disse, depois notei o tom doce na minha voz. – Mike... Seu... Seu...

Ele recuou mais um passo. Peguei uma pedra no meu bolso. Sempre tinha algumas guardadas para ocasiões como essa.

–Annie...

–Se você correr rápido o suficiente – eu continuei, voltando ao tom doce – talvez eu não te acerte.

O garoto virou as costas e disparou como se sua vida dependesse disso. Joguei a pedra com força, e ela o acertou bem no meio das costas. Um filete de sangue escorreu.

–SE VOCÊ ESTIVESSE DE CAMISETA – berrei, me divertindo – TALVEZ NÃO TIVESSE MACHUCADO!

Ele não respondeu nada, e continuou tropeçando em direção ao chalé de Éris. Idiota. Se pensa que vai se safar só com isso, está muito enganado.

–V-você é forte mesmo – Ryan comentou, tentando se fundir com a paisagem.

–Ainda está aí? Não tem perigo agora, vai logo embora. Tá me irritando, já disse. – resmunguei.

O garoto ficou meio vermelho, como se estivesse com vergonha. Não. Ah, não. Pare de pensar coisas idiotas, Annie. O moleque é dois anos mais novo que você.

–Eu... Err... Mike... Ele é seu namorado?

–Não. Ainda não. Agora, circulando. Sai do meu pé antes que eu te acerte também.

Ryan pareceu aliviado. Deu uma última olhada para os lados e saiu correndo em direção à Casa Grande. Então ele dormia lá. Diferente, mas não tinham muitos indeterminados, afinal.

Espero que ele tenha entendido o recado. Mas por que eu sentia como se tivesse tomado a conclusão errada? Alguma coisa estava estranha ali, e eu tinha a impressão de que quem ia acabar se dando mal nisso era eu.

Fechei os olhos e atirei outra pedra sem mirar. Um grito de dor me informou de que eu acertara Ryan. De novo. Aquele garoto tem um ímã natural, só pode.

Voltei para o chalé de Nêmesis, mas não conversei com ninguém. Havia coisas demais na minha cabeça. E arrumar encrenca desnecessária com meus irmãos não era uma boa ideia.

Pare de pensar assim, Annie. Deve ser só uma impressão. No final, vai acabar tudo bem. Sim. Tudo bem.

Não é?


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Notas finais do capítulo

PS: Eu quase coloquei o nome desse capítulo em inglês, tipo Rock Shooter - but not Black. Se alguém entendeu porquê eu colocaria isso me dá um toque ;P
PPS: Espero que isso não tenha ficado grande demais. O outro da Annie foi tão curto, né?
PPPS: O certo seria colocar mais P's ou mais S's ??
PPPSS: Eu também queria perguntar se... Ok, Annie, tire essa espada da minha garganta, se não eu não vou conseguir postar.
Annie: Anda logo, otária, eu ainda tenho que acertar as contas com aquele moleque de Íris! E vocês, leitores, se não deixarem reviews, eu vou ter que acertar as contas com vocês, EN-TEN-DE-RAM??? Então até mais!!!