A Cura Do Meu Coração escrita por Rafa SF


Capítulo 2
Capítulo 2




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Capítulo 2

—-/-/Kagome/-/-

Sentia meu corpo em colapso e em cada parte, a dor indicava um outro ferimento que clamava por atenção. Assim era a morte? Uma eterna agonia? Não, a dor era imensa, mas não creio que devo concentrar-me nisso e sim, no fato de estar sentindo-a. O que claramente indicava o improvável: eu havia sobrevivido à queda. 

Talvez kami-sama ainda tenha planos para mim. 

Uma outra pontada me fez prender a respiração, eu podia ouvir a mim mesma nesse breve esforço. Meu peito estava pesado e cada respiração era audível, sofrida, tamanho o meu esforço para me manter oxigenada. 

—Ela acordou.

Uma voz grossa, não muito longe de onde eu estava, pôde ser ouvida e logo estranho, pois, mesmo que por um momento a tenha reconhecido, não poderia acreditar na coincidência. Faz mais sentido estar delirando, me sinto febril e mole. E como mais eu deveria estar? Bem, não me demorei com essa fantasia, já que uma nova pontada dolorosa se fez presente quando meus pulmões se encheram bruscamente de ar. Fiz o possível para não me mexer, mas eu sabia que quem quer que houvesse me ajudado, já sabia que eu estava consciente. 

Independentemente de ser observada ou não, mantive meus olhos fechados, tentando me localizar nos acontecimentos, minha nuca latejava com o esforço, tornando-se o novo ponto de dor preponderante. Eu fugi, isso, havia a chuva, a floresta e encontrei o youkai urso, depois pulei para a morte e acordei. 

Minhas últimas memórias vinham à tona, relembrando-me de minha atual saga. 

“Maldito Inuyasha! Porque fez isso comigo? Por que fui assim tão burra? Confiei em você! Ajudei ao seu vilarejo e confiei cegamente nele, em nossa amizade. Eu me tornei a guardiã da jóia e quando finalmente terminei a sua purificação, aquele egoísta a roubou de mim e fez o pior…” 

Calma, respira fundo. Tentei me acalmar e me arrependi profundamente quando outra região doeu e me fez gemer alto. Talvez eu tenha quebrado alguma costela, não importa, por hora devo lembrar de evitar respirar fundo. Agora seria impossível permanecer nesse teatro, eu deveria “acordar”, meu salvador estava ali, perto e eu podia sentir seu olhar atento.  

Onde estou? Pensei assim que espiei o teto irregular. 

Logo escutei o som de passos e de qualquer forma, tento abrir os olhos.  A luz me irritou um pouco, mas logo pude enxergar um teto de pedra, uma caverna com certeza. E isso responde à minha primeira pergunta. Busco pelo meu salvador, mas não o vejo, ao meu lado havia um recipiente com água turva, panos, uma fogueira mais afastada de mim, tratava de aquecer-nos na noite chuvosa. Tentei não me mover demais, uma exploração mais elaborada não era a maior necessidade do momento-ou que poderia fazer, meu corpo lembrou quando tentei erguer o pescoço. 

Experimento me mover, mas tive o aviso imediato de que meu corpo não aguentava para com minha teimosia, a dor se espalhou e, dessa vez, mais forte e aguda. Tive de fazer um esforço descomunal para não gritar na frente de quem quer que tenha me ajudado e o gosto amargo do sangue se fez presente, quando mordi meus lábios. Pude sentir lágrimas se formarem pela dor.

Passei um tempo buscando coragem novamente e, com mais calma, viro o rosto e sim, dessa vez consegui encontrar outro ser. A garota morena que tanto vi nos últimos anos parecia moer algo num recipiente, era a menina Rin, logo atrás de si, a pequena fogueira me dava uma visão disforme de seu grupo. O youkai sapo que a acompanhava, Jaken, se não me engano, seu dragão e, por último, o meio irmão de Inuyasha, Sesshoumaru. 

—Rin-san?_ tentei falar e ao que parece, não passou de um sussurro. Ela não ouviu, então repeti o ato.

Sentia a garganta seca, mas não obtive respostas, talvez não disse alto o suficiente e isso me inquietava. Tentava focar no grupo e fazer contato visual, mas a minha visão era turva. Tentei mexer-me e indicar que acordei, até que sinto pequenas mãos me deitando delicadamente, o cabelo negro e o rosto familiar me aliviaram.

—Kagome-sama não se esforce, ainda está muito machucada __ Olho para a criança ao meu lado. Ela, agora, segurava um tecido úmido, provavelmente dedicado a amenizar minha febre.

—Onde? Rin-san?__ tentei falar pausadamente, superando a aspereza que sentia na minha garganta. Ela teve que se concentrar para entender algo do que eu falava, e eu vi que não entendera.

—Deve estar com sede, não é?_ ela pergunta e pisco os olhos em afirmação, sendo servida pacientemente com água.

—Está há 3 dias conosco, numa caverna desde que a primeira chuva do inverno começou _ Rin começa e pisquei dizendo que entendia. Ela falava o que tinha acontecido e como me encontraram, enquanto buscava mais um pouco de água para mim. Ela direciona o recipiente para minha boca e bebo em pequenos goles, não o suficiente para me saciar, e Rin sabia disso, me deu mais e mais do líquido, sem reclamar, enquanto narrava os dias. Sinto o incômodo em minha garganta diminuir. Um copo de água nunca me fez tão bem.

—Eu tratei de seus ferimentos mais externos, enfaixei algumas partes e passei uma pasta de ervas para ajudar a cicatrizar. Mas devido a chuva, não pude ir longe em busca de alguma erva para amenizar a dor, gomene.__ ela disse, por fim, parecendo culpada pelo meu sofrimento. 

—Você fez bem pequena, arigatou.__ A agradeço tentando sorrir em gratidão. 

Estava consciente de minha própria sorte, normalmente Rin não sairia do vilarejo, pois desde que Sesshoumaru nos confiou os seus cuidados, somente o mesmo poderia fazê-la se ausentar e pouquíssimas foram as vezes que isso aconteceu. E se ela não tivesse saído do lugar, não teria me encontrado e eu não estaria a refletir sobre isso agora. Era estranho ela estar aqui, já que normalmente, o Daiyoukai a visitava, mas não a levava em suas viagens como costumava fazer antes e nunca soubemos o motivo. Lembro de Kaede-obasama ter dito algo sobre permitir a Rin viver uma vida humana e apesar de ser uma suposição da senhora, eu compartilhava dessa opinião. 

Não percebi estar encarando o ser do outro lado da caverna até ter seus olhos dourados sob si. 

Se não fosse por eles eu estaria morta agora.

—Consegue comer senhorita, Kagome?_ Rin pergunta docemente e me toma a atenção. Agradeço mentalmente a sua gentileza, pois eu não percebia o tamanho da minha fome. 

—Hai_ Respondo e tento me sentar num gesto automático, mas logo percebo que foi uma péssima ideia. 

Rin tratou de me impedir, dizendo que ela ajudaria com isso, posicionando-me de uma maneira mais confortável. Ela vai até uma fogueira mediana no centro da caverna e pega um outro recipiente, com uma paciência aquém de sua idade, a menor tratou de me elevar o tronco delicadamente, o suficiente para escorrer um ensopado em meus lábios. Uma vez, duas vezes, três, quantas vezes eu pedisse e até me trouxe um pedaço de carne, coelho ao que me parece. Não me demoro a mastigar com vontade, bebendo água no processo. Rin tornava a conversar, suavemente tentando manter um clima ameno e não deixo de pensar o quanto de trabalho devo ter dado para ela.  Após comer, sinto meu corpo exigir um descanso, por isso pedi para Rin me deitar novamente. 

—Arigatou Rin-san.

.

Dois dias se passaram até eu conseguir me sentar firmemente. A chuva não dera trégua até o momento, mas de certa forma, seu barulho constante me consolava a mente cheia. A natureza derramava-se por mim, já que eu me privara do choro enquanto Rin estava por perto, para evitar preocupar ainda mais a garota.

Eu sabia que a pequena estava se esforçando ao máximo para me manter confortável, encontrando assuntos banais para me entreter e às vezes, deixando-me a sós com meus próprios pensamentos. Eu sabia que ela estava genuinamente preocupada, assim como eu também sabia que minhas condições não eram as melhores, pelo que pude sondar nesse tempo. Tive sorte em estar viva após a queda e ainda receber um tratamento inicial, porém eu precisava de mais para me recuperar e infelizmente, ainda não consegui reunir energia espiritual o suficiente para curar mais do que os ferimentos superficiais. Dessa forma, tinha que esperar o curso natural. 

—gochisousama_ digo após terminar de comer o almoço e descanso a cabeça na parede, tentando evitar de bater o machucado em minha nuca na parede. Eu estava melhor em ignorar a dor de meu corpo, mesmo assim, eu tentava evitar qualquer gatilho. 

Como Rin diminuiu a conversação desde que eu cansei hoje mais cedo enquanto falava, isso me fez passar o dia quieta. E, se não fosse a menina, ninguém daquele grupo falava algo, isso quando os outros estavam presentes. Nesses dois dias, ela reparou que fora deixada a sós com Rin e o dragão na caverna e, inclusive, poderia contar nos dedos de uma mão as vezes que viu o Daiyoukai, pois ele era o mais ausente. Apesar do clima torrencial, o mesmo parecia ter afazeres fora dali e constantemente sumia de vista. 

Em resumo, coube a si buscar alguma distração no ambiente e escolheu a chuva. Não pôde evitar o suspiro. Evitava pensar no ocorrido, mas ficava especialmente difícil não reviver o acontecido como o silêncio do local. Por isso, começou a cantarolar sua música favorita, já que sabia não ser capaz de controlar as lágrimas caso se permitisse chorar, mas relembrar constantemente dos seus entes queridos não tornava menos dolorosa a sua situação. 

Se pelo menos eu pudesse voltar a minha era…

.

Fecho os olhos para meditar, me concentrando em alcançar o nirvana, numa tentativa de fortalecer o canal entre a energia espiritual que me rondava e meu núcleo. Estava difícil reuni-la e estar esgotada não ajudou a sentir a energia natural. Para isso, eu precisava ter paz e equilíbrio, duas coisas que me foram roubadas por Inuyasha. Era como se a calma não mais me pertencesse e essa distância da energia espiritual me deixava em pânico, como se me fosse tirado um membro, algo que faz parte de mim, que aprendi a reconhecer como parte inerente do meu ser. Eu já não conseguia me ver sem ser uma sacerdotisa, foi o que decidi há anos atrás e me empenhei em aprender, era tudo o que sabia fazer e agora, presa na era feudal, precisava pensar numa alternativa para aguentar esse momento. 

Ressoo contra meus pensamentos com um mantra, evitando a distração que eles significavam para o meu processo e tento retornar à meditação, iria ser pragmática, metódica, assim como me foi ensinado.

Sentir a energia circundante era como respirar, naturalmente simples de fazer e desgastante noutras circunstâncias, como a atual. Um dos malefícios de se esgotar era a dificuldade de reunir reiki o suficiente para a mais simples das tarefas e, normalmente, levava alguns dias até ser capaz de se “reabastecer” o suficiente, devido ao tamanho de sua reserva de reiki. Entretanto, ela conseguia ver os frutos de seu esforço hoje pela manhã quando conseguiu curar-se mais um pouco, às custas da noite anterior inteira de foco. Foram horas tentando atrair uma quantidade ínfima e foi tão cansativo como correr uma maratona, porém ela estava focada em ver o lado positivo dessa necessidade pungente de suprir-se, a distração para sua mente. 

E assim, Kagome mal percebeu ter passado o dia inteiro meditando, por isso, se surpreendeu ao abrir os olhos e deparar-se com a noite. Ela não sentiu fome ou sede de tão concentrada, mas sabia que não poderia se dar ao luxo  de não comer, então tratou de se servir da sopa que estava ao seu lado. Fez uma nota mental de agradecer posteriormente à garota adormecida. 

O sono lhe fugiu após comer, então decidiu retornar a sessão atual e avaliar-se.No fundo, o que mais lhe preocupava era o grande hematoma que adquiriu no abdômen, refletindo um sangramento interno e, por isso, ela ainda não conseguiu entender a dimensão do ferimento, mas era sabido precisar de mais energia para começar a tratá-lo. Idealmente, seria melhor ter outra miko consigo, se eu pudesse chamar Kaed… Não! Essa não é uma opção viável,  eu já não pertenço àquela vila. A ajuda estava fora de questão para Kagome e como não conseguiria resolver o abdômen por hora, voltou a concentrar-se em resolver aquilo que estava ao seu alcance.

 Estava “abastecida” o suficiente para tentar curar as escoriações mais extensas, então iniciou o ato. O processo de autocura era demorado e difícil, não precisava adicionar distrações para piorar a situação. 

Foco, Kagome. Retorno à meditação, o presente é meu objetivo. Reconhecer, mensurar, tratar. 

Agora era a vez de resolver sua nuca, o local estava especialmente sensível a qualquer movimento e foi provavelmente atingido na queda, portanto, decidiu ser sua prioridade no momento.

.

Em algum momento da noite, Rin acordou, recolheu a vasilha do jantar que estava ao meu lado e voltou a se deitar, sem, entretanto chamar minha atenção conscientemente. Por isso, mantive-me de olhos fechados em posição de lótus. Não sei se ela sabia de minha preferência por não ser incomodada enquanto treino, mas estava grata pela atitude da menor de se afastar discretamente. No vilarejo, eu sempre tive de avisar com antecedência para evitar alguma interrupção toda vez que decidia treinar. Se normalmente eu já era uma pessoa distraída, se algum dos meus amigos precisasse de atenção, eu parava imediatamente o que fazia por eles e bom, isso atrasava meu progresso. Como eu nunca a disse algo diretamente, fiquei tocada pela consideração da pequena, se pensar bem, ela mal tem alguém para conversar e se mostrou bastante comunicativa esses dias, mesmo assim, tem me deixado “quieta” desde que comecei a meditar, sem que houvesse um pedido por isso. 

A lista de agradecimentos para com Rin só aumentava.  Não era hora de distrair-se com isso, então reiniciei o mantra mentalmente, limpando meus pensamentos até conseguir conectar-me ao meu redor. Isso até sentir uma presença próxima.

—Humana _ Me assustei ao escutar sua voz à minha direita mais próxima do que imaginei e com o susto, tentei repelir o demônio com uma barreira, mas não tive forças. O arrepio me subiu à espinha quando estremeci ao sentir o youki dele contra a fraca kekkai, era profundo e amedrontador, uma energia que lembrou-me de que deveria estar sempre atenta à sua presença.

—tão silencioso _ resmungo baixo. Acalmando meu coração assustado, ao perceber que era somente Sesshoumaru.

—Onde está o hanyou?_ Ele questiona autoritário.

Ergui meu olhar, cruzando com os âmbares dele, sérios, como sempre foram por debaixo das sobrancelhas finas. Sem esperar pela minha resposta, deu-me as costas e sentou-se confortavelmente, por assim dizer, à minha frente. Imitando minha posição ao cruzar as pernas como se fosse meditar. Resolvi respondê-lo brevemente, dando de ombros, mas ele não entendeu e tive de verbalizar:

—Não sei. 

Mantivemos o contato visual, ele não perguntou nada, entretanto parecia saber de minha mentira. Após um tempo, o vi sumir num piscar de olhos e surgir no outro lado da caverna, ainda sentado, mas agora com a bakusaiga sob o colo numa ameaça velada. Eu encarava a espada, atenta a qualquer atitude do maior.

—Deveria.

E você deveria cuidar da própria vida. Pensei em resposta, felizmente estava sã para evitar falar tal coisa. Ela, mais do que ninguém, sabia da crueldade do ser à sua frente.

O youkai manteve sua forma altiva e pude sentir outro calafrio quando seus olhos de fogo pousaram sob os meus, a fogueira os deixavam com um ar sombrio. Como ouro aceso pelo calor da fornalha, ao mesmo tempo, era um olhar gélido, insensível, capaz de paralisar qualquer um que o visse, forçando a obediência somente ao encará-lo.

—Por que não estava com o hanyou, Humana do Inuyasha?__ Ele continuou, inconsciente de como eu fui atingida por aquelas palavras.

—Kagome _ eu exigi em vão, pois ele permaneceu imóvel, me encarando, esperando sua resposta para a pergunta anterior.  

—Meu nome é Kagome._ falo com esforço pela voz embargada, mas firme, de algum modo. 

—O que lhe levou a pular no Rio, Ka-go-me?_ ele diz com um tom de desprezo que me fez preferir que não insistisse em me chamar pelo nome, eu o havia irritado? 

Era claro que ele queria uma resposta e eu obviamente não queria responder. Baixo minha cabeça, eu sentia que o devia alguma satisfação, porque no fundo, eu sabia do crédito dele ao permitir à criança adormecida me ajudar. 

Sem ele, eu estaria morta. É, ironicamente, o albino cruel e sanguinário era o meu salvador.

—Responda _ disse altivo, deixando a mostra que não estava com um bom humor. 

—Estava... Fugindo _ respondo sussurrando, sei que ele conseguiu ouvir. Seu olhar me avaliou, vi uma de suas sobrancelhas se erguer, a pergunta claramente feita. 

Ele queria que eu contasse tudo? 

—De quem?_ perguntou novamente, quase como um suspiro impaciente ao perceber meu silêncio, sem alterar a voz. Eu o encarava, sem realmente o vê-lo, as lágrimas turvaram minha visão e facilitaram que minha mente me pregasse a peça de confundir a imagem dos dois irmãos. 

As lembranças me invadem e desvio o olhar, sentindo as lágrimas escorrerem pela simples menção mental do hanyou e amaldiçoei-me por não conseguir segurar-me, envergonhada por mostrar esse lado para um completo estranho. Pela força dos soluços, percebi que os últimos dias evitando o assunto não serviram de nada para aplacar meus sentimentos.

Droga, não agora, por favor. 

—De... De..._ Não consegui terminar a frase, os soluços silenciosos exigindo-me atenção.

Por que o youkai tinha de me lembrar de Inuyasha? 

Alguns minutos de silêncio da parte dele e soluços do meu formaram uma harmônica companhia para o crepitar da madeira ao toque do fogo. Sesshoumaru não me encarava mais e agradeci por essa pequena privacidade. Já me sentia humilhada demais ao lembrar-se do seu irmão, quanto mais chorar copiosamente na frente do Daiyoukai. 

Minha última visão foi das costas do albino, quando saiu da caverna.

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Fui deixada sozinha, aos prantos e algo em meu íntimo agradecia pelo comportamento do youkai. A humilhação de ter me descontrolado dessa forma para um estranho já era o suficiente para mim, tê-lo aqui para ser testemunha da minha derrota só pioraria as coisas. Por isso, permiti-me chorar em silêncio até esgotar essa vontade em mim. 

Em algum momento, pude observar o nascer do sol e percebi que as lágrimas já não desciam com o fim da crise de choro. Estava com uma sensação estranha, a mente nublada como se não pertencesse ao meu próprio corpo, como se estivesse emocionalmente anestesiada naquele momento e isso me afastava da dor que surgiu em meu corpo. Tornando fácil ignorar os incômodos em meu tórax. Enxuguei o rosto e permaneci a observar a mata, concentrando-me nos sons dos animais no começo de mais um dia. Não me sentia apta a fazer qualquer outra coisa além disso.

Eventualmente Sesshoumaru retornou e não me dirigiu a palavra enquanto se sentava, de forma a parecer que não saiu dali durante toda a noite. Também não fiz questão de retornar ao nosso tópico. Melhor assim. Pensei, reduzindo-me a prestar atenção no canto dos pássaros.

.

A manhã se passou rapidamente com a presença da animada Rin. Tentei ao máximo acompanhar sua conversa e evitar vácuos que denotassem minha distração. A sua imagem era energética, estava alegre por não ser outro dia de chuva que a obrigaria a ficar presa numa caverna. Apesar de eu permanecer assim.

Comemos algumas frutas como desjejum antes dela indicar que iria revisar o meu estado e, para isso, precisava sair atrás de água limpa. Quando a questionei, ela indicou que não iria longe, por isso, não precisava me preocupar. Mesmo assim, logo após sua saída, vi Sesshoumaru ordenar que Jaken a seguisse, num curioso gesto protetor, mas não cabia a mim questionar. De qualquer modo, o silêncio era bem vindo. 

 

Pelo menos achei que o fosse. 

Um ledo engano, percebi ao ver Sesshoumaru se aproximar e ficar de pé diante de mim. Alguma coisa em sua postura me fez entender que não poderia fugir dessa vez, mesmo assim, eu não me sinto compelida a lhe dar quaisquer respostas sobre minha vida pessoal. Eu nem mesmo entendo essa súbita curiosidade de sua parte.  Ele me salvou, sim, indiretamente, entretanto não temos nenhuma relação para que ele tenha direito de me exigir algo

— A resposta.__ exigiu. Sem mais, nem menos e algo em seu tom me enfureceu. Eu sei, é um tanto irracional ficar com raiva só por causa disso, até porque esse sempre foi o jeito que ele agiu, porém eu não vou deslegitimar qualquer sentimento meu. Sesshoumaru se engana ao pensar que sou um de seus servos.  

— Se houver uma pergunta que eu queira responder, você a terá. __ Certo, minha resposta também não o agradou, ou foi assim que interpretei o leve franzir de suas sobrancelhas, estamos quites. Só não esperei seu comentário ácido em resposta:

— A gratidão humana sempre impressiona. 

Certo, eu provavelmente ouvi errado, isso ou o sentimento amargo subiu rapidamente a minha cabeça.

— O que disse, Youkai?

— Creio ter dito em bom tom, Miko.

Prepotente. Pensei em meio à cólera, pronta para responder-lhe agressivamente. Porém um pensamento diferente me passou pela cabeça bem a tempo. Não vou permitir que me atinja novamente. Respire fundo, Kagome, e se acalme. Seja superior, ele não merece qualquer reação sua, isso é totalmente desnecessário. 

Alguns segundos foram necessários para que eu me equilibrasse novamente. Ótimo

A melhor forma de quebrar um tirano é mostrar que ele não tem controle sobre si. Por isso, lhe sorri de maneira cortês e educada, pronta para quebrar suas expectativas: 

— Está enganado sobre uma coisa, Sesshoumaru. Eu, Kagome Higurashi, sou extremamente grata pelo seu ato altruísta e lhe agradeço por tal feito. __ Fiz questão de dizer olhando-o nos olhos, o que seria mais fácil se o mesmo não estivesse em pé. 

Tudo que recebi em resposta foi o olhar seco já costumeiro do rapaz.

Um barulho próximo chamou a atenção, eram os passos de  Rin. Então o Rio está próximo mesmo daqui.

— Senhorita Kagome, voltei!_ Ouço Rin gritar e volto minha atenção para si e para o pequeno youkai ao seu lado que carregava um recipiente maior do que si. 

—Okaeri Rin-chan_ a recebo com um sorriso e vejo seu rosto se iluminar. Sinto um leve calor no peito, simplesmente por vê-la contente, não era de hoje que percebi que a pequena tem esse dom de alegrar seu redor.  Diferentemente de seu protetor, que fazia exatamente o oposto aonde quer que fosse.

—Arigatou Senhorita Kagome!_ ela diz enquanto coloca o balde próximo a mim, trocamos algumas amenidades enquanto ela se organizava para trocar meus curativos. 

Não demorou muito até ela começar a retirar as bandagens mais distais e limpar a região, reaplicar a pasta de ervas nas feridas mais profundas e enrolar-me novamente no pano. Ela ficou surpresa com o estado das escoriações e lhe contei sobre meu recente esforço para curar-me. Isso a animou mais, se é que foi possível e desencadeou diversos questionamentos sobre o poder sacerdotal. Então, pacientemente me pus a explicar alguns conceitos, de modo simplificado, sobre o reiki e ela pareceu absorver cada palavra dita, como uma estudante aplicada. 

Tão fofa!

Bom, quando chegou o momento de retirar as faixas do tronco, tornei-me consciente de que não estávamos sozinhas ali. Cheguei até a conferir os outros seres do local, mesmo desconfiada de que estivessem prestando atenção em mim e, simplesmente confirmei o seu desinteresse. Se pudessem demonstrar mais que não se importam, eles fariam uma faixa. 

Era vergonhoso estar despida ali, mesmo assim permiti que ela retirasse as ataduras de meu abdômen e tronco, mantendo a faixa dos seios. 

—Ah, o corte abriu. Kagome-sama, por favor, não se mexa.__ Me pediu com a expressão preocupada, somente assenti e a observei retirar o sangue seco de minha pele com cuidado, depois torcer o pano em água limpa e repetir o processo.  

— Gomen, Rin-chan, eu devo ter me movido de mal jeito.__ pedi envergonhada, eu sabia exatamente como havia aberto a ferida, só não queria lhe contar que foi por que chorei como uma criança por horas depois de ser relembrada de minha infeliz situação pelo simpático Sesshoumaru-kun ali. 

 — Não pode curar estas daqui, Kagome-sama?__ Me apontou o local das costelas, enquanto passava delicadamente o emplasto que moeu e me perguntei se deveria ou não explicar como funciona o processo de auto cura. 

— Lie, seria necessária muita energia, é um pouco complicado de explicar, mas é diferente de quando eu trato outra pessoa.

Pensei que iria receber alguns questionamentos depois dessa confissão, mas tudo que a menor fez foi sorrir para mim e voltar-se para o que fazia.

— Não precisa se justificar, Senhorita Kagome, foi uma pergunta boba. Só estou preocupada. 

— Está tudo bem em ter curiosidade, Rin-chan, eu não me importo de lhe falar. Só pode ser chato de ouvir.

— Então mudemos de assunto.

.

Quando Rin terminou, eu me vi enfaixada do umbigo para cima, inclusive o pescoço e membros, apesar de eu ter curado a parte interna de diversos deles, Rin achou melhor enfaixá-los novamente para impedir uma infecção. 

Realmente, senhora Kaede lhe ensinou bem, a pequena até parecia uma curandeira experiente agindo. Sobre meu haori, eu decidi mantê-lo, mesmo que resultasse em vestir a peça destroçada, ela servia para cobrir o básico. 

Já a calça estava em melhores condições e me poupou de mais um constrangimento. Era engraçado que somente agora tomei consciência da aparência que tinha, prioridades né. Enfim, o resultado final era de uma egípcia japonesa fantasiada de zumbi.

— Você me transformou numa múmia, Rin-chan!__ Brinquei, rindo comigo mesma da piada. 

Entretanto seu rosto confuso a denunciou e percebi que ela não conhece a expressão. 

Então decidi explicar um pouco sobre e vi sua curiosidade aflorar e então passei a lhe explicar alguns fatos históricos comuns sobre civilizações antigas que aprendi no meu tempo, na medida do possível com o meu conhecimento. 

E de alguma forma, notei que minha plateia era maior do que pensei e percebi meu erro. Estava revelando informações demais para o tempo errado, na frente de um ser que provavelmente pode alterar o fluxo da história em posse dessas informações... Sei que falar essas coisas para Rin não terá impactos no futuro, porém, com Sesshoumaru era diferente. Desviei meu olhar para o sujeito e o avaliei à. procura de qualquer sinal de interesse;

Sesshoumaru estava do outro lado da caverna e tinha a aparência distraída, sentado próximo da entrada do local, observando o horizonte e talvez até além dele. Porém algo em mim sabia, eu conhecia aquela postura, a cabeça meio inclinada em nossa direção lhe denunciou mesmo quando o orgulho não permitiu. Coisa de família, talvez Pensei ironicamente. Estava claro para mim que mesmo sem nos dirigir o olhar, o youkai estava atento a cada movimento nosso e consciente desse fato, inventei uma dor de cabeça para terminar a conversa bruscamente. 

 

—-/-/Sesshoumaru/-/-

 

A miko escondia algo. 

Constatei o óbvio ao observá-la por um tempo. Faz dias que ela estava sob os cuidados de Rin e isso a entretia o suficiente para que eu lidasse com alguns assuntos sem ter minha ausência notada pela criança.  Ou seria, caso o tempo melhorasse. As chuvas de inverno se iniciaram abundantes esse ano, o que limitou minha movimentação temporariamente, visto que se saísse, iria demorar mais do que o necessário para retornar, também não poderia expor Rin a uma viagem nessas condições. Tais condições me tornaram ocioso o suficiente para aflorar uma curiosidade desnecessária acerca dos motivos da humana, característica que iniciou após sua emocional recusa em responder simples perguntas minhas.

Então passei a observá-la como distração, tecendo hipóteses sobre sua situação como um passatempo até que seu grupo a procure perto o suficiente para que eu indique minha presença. A chuva deve tê-los atrasado esses dias, mas este sabe que não tardariam a chegar e nesse momento, ela já não seria mais da responsabilidade deste Sesshoumaru.  Talvez 2 dias.  Se ela sobrevivesse.

O cheiro de sangue impregnava o ambiente, apesar dos cuidados de Rim para com o estado da mulher. Mulher a qual encontra-se mentindo continuamente ao longo do dia, numa tentativa tola de enganar a menor sobre a realidade de sua situação. Mas não engana a este.

A expressão de desconforto em sua face era sutil e surgia aos movimentos mais pronunciados, como quando mudou de posição para se alimentar numa postura rígida. Posição a qual permaneceu a maior parte do tempo.

À tarde, percebi sua tentativa em concentrar energia e lhe direcionei minha atenção ao vê-la concentrada, as suas intenções claras. Portanto, permiti à passagem, através de minha barreira, da densidade de poder espiritual que ela atraia, mesmo de modo intermitente. Observei-a livremente, seu corpo pequeno tremia pelo esforço após manter-se naquele estado por horas, denotando o desgaste do processo de “autocura”, como chamou mais cedo. Entretanto, não vi sinais de desistência, apesar do cheiro de sangue presente e forte. De certo, seu orgulho a impede de aceitar a condição de sua natureza, sua mortalidade. 

Este reparou se entreter bastante ao vê-la tentar esconder sua dor, era cômica a sua tentativa de se passar de forte quando, na verdade, fazia parte da espécie mais frágil.

Senti o fluxo energético diminuir e desviei-me da cena ao deparar com os anis, eles não olhavam para um local específico, mesmo assim, procurei algo na floresta. Num disfarce para minha atitude anterior.

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—Kagome-sama, posso dormir com você?_ ouvi Rin perguntar, era tarde da noite, e as observei pelo canto do olho. A menor coçava o olho devido ao sono e a maior lhe sorriu, abrindo os braços de modo caloroso, como se estivesse acostumada a abraçar a criança.

Rin exitou, no começo, obviamente surpresa com a atitude, porém foi questão de tempo até, com cuidado cuidado, deitar-se no colo da humana, que começou a acariciar seus cabelos e sussurrar algo. Por um tempo, o som de uma melodia desconhecida me atingiu e, num agradável conjunto, ressoou com a chuva, ninando minha protegida até que sua respiração se tornasse lenta. 

—Oyasuminasai Rin-chan_ ela sussurra e mesmo com o aroma férreo ameno, o simples ato de abaixar-se trouxe a tona uma expressão incômoda, a qual não fez questão de esconder. A observei livremente quando ela alcançou a testa de Rin e ali depositou um beijo numa demonstração de afeto natural e se ela percebeu ser observada por este, tratou de ignorar a situação. A cena emocional o fez questionar a profundidade da relação entre as duas, tecendo a conexão entre a permanência de Rin no vilarejo o qual a sacerdotisa morava e possíveis situações que gerem uma convivência entre elas.

Então são próximas. Constatei ao velar o sono dos presentes. Não era de seu costume dormir em suas viagens, portanto pôs-se de guarda, sentindo cada ser ao nosso redor, nas proximidades ou a quilômetros de distância, em busca de qualquer ameaça. 

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Foi um pouco além do meio da noite quando o som de palavras incoercíveis chamavam sua atenção para a humana adormecida. Ela se movia bruscamente, perturbada em seu sono ao ponto de seu corpo tremer violentamente e o cheiro de sangue e suor se fazer presente.

Uma mancha rubra embebedou o tecido que cobria seu abdômen, local do seu maior ferimento. Frágil. Observou seus movimentos, sem nenhum ímpeto de contê-la. O suor fez com que seu cabelo escuro grudasse na testa alva, enquanto ela se movia de um lado para o outro e o nome do maldito hanyou pôde ser ouvido saindo de seus lábios junto as lágrimas.

—Lie!__ ela acordou num pulo, os olhos assustados buscando se localizar. Mantive-me quieto, observando sua respiração ofegante, desviando somente para acompanhar o crescimento da mancha em suas vestes. Encarei curioso a sua prioridade em retirar Rin de perto, quase erguendo-se para apoiar sua cabeça em alguns tecidos mais distantes de si. Como se buscasse afastá-la da morte que se aproximava.

A humana não escondia seu choro naquele momento e acompanho o líquido abundante que percorreram seu rosto. Foi curioso ver a humana priorizar o bem estar de Rin antes de si mesma, claramente, ela ignorou seu instinto de preservação por um capricho desnecessário. 

Pouco tempo depois, sua expressão se neutraliza e o lamúrio diminui. Devagar, a observei retirar as vestes manchadas, sua primeira atitude sensata, revelando a real extensão dos ferimentos.  

Acompanhei a cor lhe sumir e sua pele se tornar ainda mais pálida que o mármore, pensei que desmaiaria, mas ela permaneceu firme em continuar observando seu estado, como se analisasse a si própria e o que fazer. E o fez. Uma luz rósea  e incrivelmente densa se formou ao seu redor e a cobriu rapidamente para logo depois se concentrar na pior ferida com uma exatidão que este Sesshoumaru nunca presenciou acontecer. 

A surpresa não o permitiu desviar a atenção, até o momento que sentiu o incômodo em permanecer ali, tamanha densidade de energia sagrada que inundou o ambiente. Todavia se recusou a sair do local, curioso em saber até onde a Miko conseguiria ir nesse estado.

Não demorou muito até acontecer a mudança em sua face e um gemido doloroso surgir, declarando haver algo errado. Os cabelos bagunçados cobriam os olhos inchados e avermelhados, mesmo assim a imagem da mulher pareceu murchar à medida que o reiki deixava de ser visível. 

Seu coração bate rudemente, lutando para manter seu trabalho. A respiração estava acelerada é prova do esforço, porém impressionantemente ainda a via concentrada em manter a energia em si. Pode perceber que a humana estava por um fio, mas aguardei, como um espectador, esperei para descobrir se sua perseverança seria o suficiente.

O tom rosado se intensificou uma vez mais, antes de apagar subitamente e o ferimento voltou a sangrar. Ela estava perdendo muito mais sangue agora.  Frustração era o que via em si, as mãos apertadas como prova de seus sentimentos. Vejo-a olhar ao redor com o brilho de resignação em sua face ao perceber sua realidade, até seu olhar fixar em mim. Ela me observa, parecia nervosa e uma de suas mãos vai em direção ao abdômen tentando estancar o sangue ou escondê-lo. Tarde demais.

—Não dormiu?_ perguntou com um pouco de dificuldade, denotando sua completa falta de primazia. A observo em silêncio, não preciso indicar o óbvio. Talvez a dor alterasse seu bom senso. A questiono em silêncio, esperando uma resposta para suas ações e fui incompreendido pela mulher. Me vi forçado a responder sua pergunta com o óbvio, tornando claro que essa é uma conversa inútil.

—lie _ respondo, ela me olha surpresa, mas logo sua expressão muda, dor. O sangramento era incontrolável e o líquido escorre através de sua pele. A observei enquanto esforçava-se novamente para se curar. Em vão, já que nem o mínimo de energia se prontificou a ajudá-la, noto que ela se tornara ainda mais pálida.

Há algo errado.

—Se cure. _ Disse e indiquei a menor ao seu lado. Não a perdoaria se fizesse com que Rin sofresse com sua perda. 

—Estou bem._ ela mente descaradamente.

— Mentira.

Que cheiro insuportável.

— Sesshouma-

—O cheiro _ falo um pouco irritado, era óbvio que seu teatro fora desmascarado há tempos, qual a vantagem ela tinha em omitir o seu estado? A olho impaciente, fazendo ela se calar e abaixar a cabeça enquanto abafa o grito.

—O que aconteceu?_ pergunto, cansado daquela cena e ela me olha surpresa.

—Não… sei_ fala com a voz entrecortada, sua mão cada vez mais rubra pelo sangue que tentava estancar. Não foi a primeira vez que tive essa sensação gélida. Era a morte. 

Ela estava morrendo. E então, a sensação do passar do tempo se perdeu.

A dor estava estampada em sua face enquanto mordia o lábio inferior tentando conter os gemidos para não acordar Rin. O cheiro do submundo se fez presente e Tenseiga pulsa em minha cintura, emitindo sua vontade de salvar. Entretanto, a decisão de embainhar a espada era minha, apesar de muitas vezes a arma tomar como minhas as suas próprias vontades, tal como agora, num joguete com o destino, entrelaçando-me com os seres mais improváveis.  Era uma irritante vontade de simplesmente devolver a vida. 

Os mensageiros da morte a cercaram.

Não desta vez. Tenseiga. Este Sesshoumaru não terá nenhuma intenção acima da sua.


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Notas finais do capítulo

Torço para que gostem, confesso que estou bem nervosa com a reação de vocês!