A Cura Do Meu Coração escrita por Rafa SF


Capítulo 1
Capítulo 1


Notas iniciais do capítulo

Em nossa vida, há um momento o qual paramos para perceber nosso próprio percurso. Essa obra, foi uma das minhas reflexões durante esse momentos e já estava sendo reescrita por mim, internamente. Foram muitos anos para entender que nem tudo se constrói num instante, sentimentos são tão complexos quantos os seres que os possuem e, a partir do reconhecimento, pude enxergar novos caminhos para meus personagens.
A todas as leitoras e leitores que permaneceram insistindo nessa história, convido-os a reler e reviver esse maravilhoso universo, sou grata por todos esses anos de companhia.
Esta permanece sendo uma história SesshyKah.

Uma boa leitura a todos, bjs bjs e até a próxima!



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Capítulo 1

—/-/Kagome/-/-

A cada passo que dava, mais profundamente adentrava na floresta. A vegetação densa indicava que havia tempo que já tinha me afastado da trilha principal e, mesmo assim, recusei-me a desacelerar o passo.

O caminho, como um borrão na noite, ficou ainda mais obscurecido pelas nuvens pesadas que ameaçavam desabar todas as suas angústias pela terra, como se Kami-sama acompanhasse meu desespero. E a natureza, compadecendo-se comigo, lutava inutilmente através do vento, para secar meu rosto. 

O tempo, fugaz, tratou de sumir dentro de minha confusão e perdi as horas enquanto corria desatenta pelo caminho, não que esse fosse um dos meus focos. Somente me vi pensando que antes era tarde e agora, noite, numa óbvia afirmativa dita para ninguém, e que legitimava o cansaço que senti tomar conta de mim. Entretanto, eu não pararia e nem as horas ou as árvores que insistiam em marcar meu trajeto através de seus galhos em minha pele, teriam sucesso neste fim. Era irreal ver o rubro manchar meu haori, minha mente distante para interpretar o significado daquela cor. Sentia-me anestesiada, com a alma cansada de sentir, mas tão pouco essa sensação foi o suficiente para parar os meus esforços de vazão.  

A dor física insuficiente para sanar as necessidades de minha alma. 

A falta de ar obrigou-me a parar. Em minha mente, as consequências de minha fuga refletiam-se com imagens de meus amigos e mesclavam-se com a dele, meu primeiro grande amigo e amor, Inuyasha. Os flashes forçaram-me a lembrar de nossos bons momentos, Inuyasha e eu discutindo, rindo, lutando juntos, as noites que passamos com o grupo e sozinhos. As conversas e o modo como ele fazia questão de me dizer o quão eu era importante... Eu confiei. 

Retornei meus passos e corria, como se o esforço físico pudesse superar a dor que sentia em meu peito, buscava a cada passo uma nova forma de libertar a angústia que meu futuro me causava, teimando a aceitar as cenas que ocorreram há pouco. Era surreal demais para si. Cruel demais. 

E como se os céus não pudessem mais segurar sua angústia, a chuva começou. E não tardou a engrossar.

As lembranças felizes, as quais eu tive o apreço de guardá-las na memória, como a mais preciosa das jóias fizeram questão de caçoar de minha tristeza. Como se cobrassem o preço de tamanha positividade, com juros de mil vezes, para ensinar-me uma lição. Foi sua decisão abandoná-los e deveria lidar com sua escolha, seria melhor assim, este é o curso natural do tempo.

Ela deveria aceitar que suas memórias agora fazem parte de um passado cada vez mais distante e se dependesse de si, alguns quilômetros a mais de distância ainda eram necessários, até a chuva sumir com meu rastro, meu cheiro e me tornar indetectável por ele.

.

Voltei a andar para logo depois voltar à desesperada maratona. Fugir era tudo o que pensava, queria esconder-me de todo o sofrimento. O caminho já não me importava, se é que chegou a ser significante em algum momento. Deixei que meus instintos guiassem o rumo que estava tomando e percebi a floresta mais do que familiar.

Meu corpo me guiava para casa, a única que me restou e talvez a única a qual realmente fui aceita e fiz questão de abandonar pelo tempo errado. O pensamento de voltar para a minha era me dominou. A chuva tornou o percurso lamacento, mas não desisti apesar da segunda ou terceira queda no chão lamacento, esses incontáveis tropeços, seriam os meus últimos! 

Recomeço os passos ao avistar a clareira do poço come-ossos, sabia que o relógio era meu inimigo e que era possível que já tivesse perdido essa batalha. Aprendi com esses últimos 4 anos, que era teimosa em muitas coisas, e no íntimo, torcia para a minha esperança ser suficiente somente dessa vez.

Meu peito estava se rasgando a cada novo soluço que dava. A cada lágrima que caia numa esperança infundada de que tudo acabaria bem, como se eu não sentisse que uma parte de mim se esvaia a todo o momento. Só conseguia pensar que meus amigos entenderiam a minha decisão. Agora tudo o que eu quero é o meu porto seguro, minha família, afundar em meus travesseiros e derramar tudo o que guardei com tanto apreço.  

E o trovão acompanhou-me no pulo somente para sentir o chão de terra aumentar meu desespero, sumindo com aquela sensação entorpecente de antes. Eu não podia acreditar! Senti minhas forças esvaindo, tal como a chuva acompanhando meus soluços e o grito foi abafado por outro trovão e do jeito que cai, fiquei. 

O poço come ossos não funcionava e nunca mais iria, já que agora já não passava de um poço normal.

Pois a jóia não mais existia. 

.

Foi tudo uma farsa... Uma piada.

E eu era a graça. 

—Inuyasha!

Gritei para o vazio, quando meu corpo desabou num descanso. Seu nome, sempre tão doce aos meus lábios, agora soava como o mais rude dos xingamentos, era amargo. Meu peito estava fundo em sua própria dor, sofrendo para buscar o ar que me faltou por causa da longa corrida. Perdi meus limites e não tinha uma direção a seguir, fugia por instinto, esquecendo que meu perseguidor poderia seguir-me a qualquer lugar. 

Enquanto o tivesse guardado em mim, meu coração afundaria-me consigo. 

.

Com dificuldade escalo o caminho de volta, o sol teimava em aparecer e eu não poderia me manter próxima à vila de Kaede, este não era mais o meu lar e seria o primeiro lugar que buscariam por mim. Se havia alguma certeza concreta em mim, era a de que agora, eu deveria ceder este tempo para a parte de minha alma que verdadeiramente pertence a esta era. Kikyou.

Ando devagar até uma árvore próxima, me abrigando da chuva, que corria fracamente agora. Estagnada por falta de energia, sinto que toda a adrenalina que me incentivou a chegar aqui,  que me manteve longe dele, se foi. Meu corpo pedia por descanso e minha visão estava turva, confusa. Minhas pernas fraquejam e sento em sua raiz, o desespero me atinge novamente ao reviver suas palavras, seus toques, tudo o que pensei ser real se despedaçando diante de mim tal qual a cruel realidade de entender que eu não mais pertencia a essa era, e sabia ser uma questão de tempo até que minha existência fosse apagada pelo fluxo temporal. 

Pela primeira vez, senti vontade de sumir, pelo alento de saber que todo o sofrimento acabaria. Desejei que jamais houvesse atravessado o poço e assim, que nunca o houvesse conhecido. O desejo de paz me agradava, pois não há mais nada que uma humana possa fazer num mundo onde youkais reinam. 

.

Sinto-me fraca, o anoitecer me fez perceber a falta de alimentos, isso e o embrulho do meu estômago. Escolhi recolher-me próxima a um tronco grosso o suficiente para barrar um pouco do vento gelado. A chuva não dava sinais de descanso. Estava frio, pois o inverno começaria daqui a algumas semanas e não trouxera nada consigo além das roupas que vestia. Seu traje sacerdotal, por sorte, era de um tecido mais grosso, para a meia estação e mesmo molhado ainda servia para afastar um pouco do vento gelado.  

Pelo menos foi o que pensei até num momento de autoconsciência, perceber que deixei de sentir meus pés e mãos há pouco, a chuva potencializava o frio e cada vez menos sentia vontade de mudar a situação. 

Talvez devesse ficar aqui até sumir, eventualmente a jóia tornaria isso realidade, tragando-me novamente ao vazio a fim de corrigir a linha temporal. Nunca saberei se de uma boa ou má forma. Foram diversas as conjecturas que tive nesses dois dias. Ter a alma reabsorvida ou perecer para que a natureza só possua uma cópia simultaneamente, talvez ser levada de volta ao meu lar. Seria a melhor das hipóteses, apesar de simplesmente não acreditar nisso, já que agora o futuro seria alterado pela existência da sacerdotisa morta. Deitei na relva, à espera de algo, mas sem saber necessariamente do quê. O que faria? Como seguiria agora que não lhe restou mais nada? 

De tão absorta, talvez devido ao cansaço e à fome, não percebi não estar mais sozinha. 

Um rosnar se fez presente, próximo de mim. Um youkai urso apareceu, provavelmente em busca de mais uma refeição antes de hibernar, infelizmente eu parecia estar no seu cardápio. Pelos seus dentes à mostra e os olhos sanguinários, ficou claro que eu era sua presa. O observava calmamente. Seria esse o meu fim? 

Seus passos eram calculados e assim ele se aproximava, eu podia ver seus olhos prontos para perseguir qualquer tentativa que eu demonstrasse de fugir. 

Ele avisava, era o fim, mas não pude deixar de rir com a situação. Nunca me imaginei desistindo assim, eu, Kagome Higurashi sempre lutei por aqueles que amo, sempre tentei fazer o meu melhor para ser aquilo que todos precisavam que eu fosse e agora, deitada na relva, o que eu era? 

O youkai me estudava, mais perto do que achei que estivesse. Levanto devagar e encaro meu oponente, comparando qual o tempo que levaria para ele me alcançar versus eu lançar minha flecha. Lentamente me posiciono para lutar. Meu braço bate em minhas costas vazias, na busca de meu arco e percebo que não o trouxe. 

"Droga"

Como se esperasse isso, o youkai urso avança em mim,  me esforço em formar uma barreira e uma graciosa luz rósea é vista, fraca e insuficiente para parar um demônio daquele porte. A adrenalina era a minha única energia. Com desespero e me jogo para o lado, para fugir de seu ataque. Me recuso a morrer dessa forma! 

Vi que o urso já estava pronto para mais um ataque. Não daria tempo de pensar muito, teria que agir. Esperei que ele viesse novamente em minha direção e concentrei o quanto de energia pude no meu dedo, sabia que não era prudente ser seu próprio corpo como condutor, mas era tudo o que eu tinha no momento. Ataquei-o no último momento de seu ataque, quando ficou de pé pude ver que consegui atingir sua perna direita, o suficiente para cair grunhindo em dor, mas eu sabia que não fora o suficiente por muito tempo.  

Eu estava fraca e essa era a minha chance. Uma nova onda de energia correu pelo meu corpo e comecei a correr em direção à floresta, não poderia me acabar aqui, eu tinha que escapar, depois pensaria no futuro!

A urgência fez com que exigisse o máximo que minhas pernas permitiam, mas, sabia que a cada passo perdia velocidade, era doloroso continuar. Seria uma questão de tempo até que o youkai me alcançasse. 

A mata fechada se rarefaz até findar num declive pedregoso, com mais metros do que eu poderia contar no momento, e seu fim dava para um rio de águas turvas. Não pude avaliar sua profundidade até que o som gutural do youkai anunciasse seu paradeiro, e eu sabia que não haveria como dar a volta no penhasco sem ser pega. Olhei para o rio mais uma vez, rezando para que fosse fundo o suficiente. Aproximo-me da beirada com a ideia insana de como escapar, se sobrevivesse.

Apesar do longo treinamento que passei, nunca perdi tanto condicionamento. Nenhum exercício era capaz de me preparar para tamanha provação. Eu havia perdido tudo, tudo pelo o que batalhei durante esses últimos anos, toda a base que estava preparando para o resto de minha vida como protetora da jóia de 4 almas. 

Observava o abismo atentamente, talvez pela possibilidade de ser a minha última visão e lembrei de uma frase que dizia que ele também olharia para mim. 

Espero que seja o suficiente para sobreviver a essa loucura.

 

—/-/Sesshoumaru/-/-

 

Caminhávamos lentamente em direção ao abrigo de uma caverna, os sons graves anunciavam a tempestade ao norte que não tardaria a nos alcançar.  Rin estava um pouco mais a frente, cantarolando uma canção sem letra enquanto colhia as poucas flores que tiveram o azar de não se fecharem com o tempo. 

—Rin, não se afaste. Sesshoumaru-sama não tem tempo para perder indo atrás de você_ diz Jaken numa voz arrastada que irritava meus ouvidos. Arurun ia ao lado da pequena, deveríamos nos apressar, ainda temos 20 minutos de caminhada até a caverna. Outro trovão. Observo o céu em sua fúria e escuto o rio encher, um rugido ao longe e os animais recolhendo-se perante a fúria da natureza. 

Nesse ritmo o rio subiria antes de atravessarmos.

—Rin, suba em Arurun._ Ordeno e me ponho a flutuar numa velocidade que o dragão de duas cabeças pudesse seguir. Mais alguns minutos até que o rio entre em meu campo de visão. 

O vento estava revolto e trouxe consigo o cheiro de sangue humano. Farejo mais uma vez, a procura de algum perigo para a pequena e reconheço o odor, sem me importar. O que dizia respeito ao meu meio irmão, não me interessava. Isso até Rin se manifestar ainda em cima do dragão, o fazendo se aproximar das águas. 

—Sesshomaru-sama tem alguém ferido ali!_ Ela grita atrás do corpo humano que flutuava rio abaixo. Ela sobrevoou o corpo e o dragão o pegou entre as patas, os levando até a margem e o jogando na relva. 

—Rin, volte aqui!_ diz Jaken correndo até a menina.

—É a Kagome-sama, ela está ferida!

Rin pulou e correu em direção a Miko ensanguentada. Olhei para cima, ao longo do curso do rio procurando a provável causa de sua situação, mas nada indicava o motivo. Assim como também nenhuma criatura a perseguia. Voltei-me para a criança. 

Observei minha protegida se abaixar e virar o corpo da humana mais velha, encostando sua cabeça em seu peito. Seu corpo era coberto por escoriações, nada profundo, mas o sangue que manchava o dorso de suas vestes indicava que não fora uma queda simples.

Onde estaria o hanyou? Busquei brevemente pelo perímetro, mas nem mesmo a humana possuía o cheiro dele, deveriam estar viajando separados.

—Ela está viva! Sesshoumaru-sama, temos que ajudá-la!_ Rin suplicou com água em seus olhos, o que me incomodou profundamente. Se lembrava que as duas possuíam alguma relação, mas não ao ponto de fazê-lo abrigar outra humana consigo. Seria um estorvo. 

—O que devemos fazer Sesshoumaru-sama?_ pergunta jaken.

Faltavam alguns minutos para a chuva cair e não queria que Rin adoecesse. Deveríamos nos abrigar o mais breve possível e logo mais retornar para o Oeste.

—Ignore._ digo e  volto a flutuar, mas não sou seguido dessa vez. 

—Não podemos deixá-la, Sesshoumaru-sama! Ela está ferida! Não conseguirá fugir da chuva e vai morrer! Onegai_ Suplicou derramando os sinais de sua fraqueza.

E não precisava vê-la para saber disso. 

—Vamos._ Tento mais uma vez convencer a menor, mas a sua teimosia me surpreendeu. 

—Não. Vou!_ Rin bateu o pé e deixou claro suas intenções. Depois se virou para a humana ferida como se buscasse saber a extensão dos ferimentos.

—Mais que afronta! Como ousa tratar o Sesshoumaru-sama desse jeito! Você merecia..._ jaken começou a falar, mas, interrompo-o.

—Cale-se

—Mas Sesshoumaru-sama, um desrespeito desses não mere..._ ele reinicia e o olho com um desprezo maior do que o normal, ele sabia muito bem o significado e se calou. A chuva começou a cair próximo de nós, podia ouvir claramente seu contato com a terra.

—Rin monte em Arurun_ digo e vou em sua direção. Sabia que ela estava irredutível, uma das poucas vezes que a vi me contrariar. Não poderia me demorar aqui, logo, antes que ela negasse novamente a me obedecer, me aproximo da humana caída e a jogo em Arurun.

—Iremos levá-la._ digo a contragosto, vendo um singelo sorriso surgir na face da pequena. Sinto-me satisfeito ao vê-la enxugando as lágrimas. 

Encaro a humana do hanyou, sua situação não era boa, diversos ferimentos podiam ser vistos na pele à mostra, mas sabia que haviam outros além da vista. Não demoraria muito até o cheiro da morte se fazer presente nela, estava muito fraca e me impressionava ainda estar viva.  

—Arigatou Sesshoumaru-sama!

Rin me olha apreensiva, seu coração acelerado. Como uma criança, ela logo entenderia a essência do mundo em que vivemos, crescer significava passar por adversidades e isso serviria de lição. Aguardaria pelos acontecimentos, tornando-a responsável pelo seu destino. 

—Cuide dela até que possa voltar para o hanyou_ impus minha condição, deixando claro que não deveria demorar com isso.

—Hai!_ ela correu para o dragão, que logo se pôs em voo baixo enquanto uma fina garoa começara a cair.


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