Last One Standin escrita por Lgirlsclub


Capítulo 2
Lie to me




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O jovem Yagami jogou o cabelo para o lado e sentou-se, abaixando a cabeça. Esperava que pudesse pôr sua mente em ordem. Tentou ao menos se acalmar e, quando se deu conta, a turma havia sido reduzida à fileira da frente. Reduzira-se ao seu pai e seus amigos. Engoliu em seco e refez sua postura.  Abriu seu sorriso confiante —mesmo que , de confiante, nada tivesse no momento. “Calma, Light, você dá conta”, mentiu a si mesmo.  E de mentira o destino o ensinou bastante. E como ele poderia parecer convincente. Pena que não podia de forma alguma enganar a si mesmo. Isso poderia lhe ser muito útil.

— Não sei o que dizer a vocês — começou Light. — Mas eu não tenho arrependimentos, eu queria um mundo melhor, e , quando isso for um crime ou algo passível de represália, aceitarei a mesma de bom grado.

— Qual o seu nome? — L arqueou uma sobrancelha.

Ora, ele sabia seu nome. Lógico seu nome era K... Não, não esse nome. Light balançou a cabeça avidamente. “Meu nome é Kira” pensou, convicto. Mas essa não deveria ser a resposta. Seu nome de batismo. Ele sabia que era Light Yagami. Então, por que era tão difícil colocar isso numa frase? Concretizar isso numa resposta deveria ser natural. Pigarreou e se concentrou, olhando para o jovem detetive.

— Light Yagami

— Não foi o primeiro em qual você pensou, foi?

Light se sentiu atordoado. Será que seu debate mental durara tanto tempo assim? Mesmo assim lhe intrigava: como pudera ser difícil responder seu próprio nome? Isso lhe parecia surreal, porém olhou ao redor. Realmente nada mais deveria ser surreal. Não nesse lugar. Esfregou as têmporas e olhou para L. O que ele estava tramando?

— Qual o seu nome?

— Kira — Light respondeu instantaneamente.

— Sabia — L afirmou, porém seus olhos não pareciam divertidos e nem orgulhosos de seu feito. Sua cabeça estava levemente baixa, o olhar, perdido e triste. — Kira. É realmente esse que você quer que seja o seu nome?

“Querer? A questão é essa? Como assim eu quero que esse seja o meu nome? Não entendo o L. Não entendo nada aqui... Kira? Por que me nomeio dessa forma? Não é meu nome. Sou Light Yagami. Kira é o que eu “finjo” ser, é um codinome. Ou será que eu fingi tanto que...Será que agora eu finjo ser Light Yagami?”

— Você começou a entender... — L sorriu levemente para Yagami. — Você ainda é Light Yagami? Você ainda se preocupa com o mundo inteiro, ou você quer ser Deus? Você é o Deus Kira, ou o justiceiro Light?

— Eles... Eles são a mesma pessoa.

— Pense de novo Light. Eles realmente são a mesma pessoa?

 O jovem Yagami desviou o olhar. Estava aturdido, mas se negava a demonstrar. Pigarreou e passou a mão pela testa, massageando longamente as têmporas e simulando uma dor de cabeça, um incômodo.  Não que não se sentisse incomodado, mas preferia se mostrar incomodado com L, quando na verdade se incomodava com sua própria inabilidade de negar a si mesmo. De negar que L tinha razão. Que ele já não sabia mais quem era. E começava a duvidar se algum dia já havia tido uma certeza realmente plena de quem era e do que esperava obter, de como esperava melhorar o mundo.

— Kham, L deixe de besteiras! Lógico que tenho certeza. Light Yagami é Kira. Eu sou Kira! Lembra-se? Você descobriu isso! Depois eu te manipulei furtivamente, mas isso foi depois, não é mesmo? — aproveitou para alfinetar L, porém o moreno pareceu ignorar, apenas respirou fundo e fez uma expressão preocupada para Light. Parecia pensar, “O que vou fazer com você agora, hein?”.

—Você não quer ter paz... — o moreno resmungou, preocupado com o mais novo.

— Por quê? Só porque digo a verdade? Light e Kira são a mesma pessoa, L! Acorde para a vida! Você perdeu e eu ganhei, não adianta tentar me confundir. — O jovem já negava compulsivamente como se, o fato de fazê-lo, fosse realmente tornar mentira o fato de não saber mais quem realmente era.

— Light... se eu perdi... o que você faz aqui?

O melhor estudante de Tóquio abriu a boca para falar, entretanto calou-se. L lhe pegara nessa. Será que nem a morte confundia esse cara? Ele deveria estar destinado a atormentar jovem Yagami por toda a vida. E até depois dela, incluiu mentalmente Light. Mas a verdade é que ele já não sabia o que importava. Não sabia se havia valido a pena largar sua jornada e causar dor — ele já havia aceitado isso, ele o fizera, Light Yagami era, de fato, cabeça dura, mas nunca foi burro para persistir se iludindo inutilmente — por todo aquele poder.

Kira lhe dera o poder. O caderno. A chance de moldar a sociedade. De compensar os anos que estudara não só pensando em ser o melhor, pensando também em melhorar o mundo e a sociedade em si. E a sociedade, alheia a tudo isso, estava repleta de ratos. Ratos que matavam, roubavam. Que usavam a força sobre os mais fracos. O problema é que o poder lhe era atraente — quase tão atraente quanto a vitória — e logo ele moldava a sociedade perfeita para ele, e não para a humanidade.

Ele moldava respeito — na verdade, era temor, mas isso ele nunca admitiria — a ele mesmo. Moldava um mundo regido a sua própria vontade, a seu próprio bel-prazer. Era uma ditadura de sangue, e ele era esperto o bastante para reparar nisso. Ele mataria quem quer que fosse contra. Que tentasse se opor. Ele seria o único governo, totalitário e onipresente. E quanto mais poder tivesse, mais ele iria querer. Ele entraria num ciclo infindável.  Ele se tornaria mais e mais opressor, até que ele mesmo acabasse por destruir tudo. Ele quase podia ver isso, mas fechava os olhos e fazia-se de cego.

L deixou o outro divagando enquanto ele mesmo o fazia. O detetive tinha seus próprios arrependimentos, entretanto, ele já havia aceitado a todos eles. Arrependia-se de ter se trancado para o mundo, deveria ter ao menos tentado se socializar com os da wammy. Arrependia-se de ter mantido seus sentimentos presos, frio quanto às pessoas. Arrependeu-se de não ter aproveitado com sua família — sim, o grupo de investigação havia se tornado uma família — enquanto tivera tempo. Arrependeu-se de não ter conseguido salvá-los e de, mesmo agora, parecer não conseguir salvar Light. Mas ele ajudaria; Light ainda fazia parte da família — uma parte um tanto desiquilibrada no momento, mas ainda sim, parte dela. 

“Tic-tac”, Yagami filho ouviu. “Tic-tac”. Seu tempo estava acabando. Talvez aquela fosse a última chance. A última chance de ver  aquelas pessoas que ele acabara por se apegar, por mais estranhas que fossem as circunstâncias. A única chance de pedir desculpa- mesmo que ele não gostasse de fazê-lo, ele precisava, não aguentaria continuar vendo os olhos tristes do pai lhe fitando, ele tinha que, ao menos, deixá-lo orgulhoso uma última vez. E, para isso, teria que aceitar o que ele se esforçava para continuar negando e escolher de uma vez por todas quem ele é e vai ser daí em diante.


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