Seus olhos se abriram revelando o ambiente escuro, onde a única luz parecia estar em torno de seu corpo. Sua respiração era, como de costume, lenta, e aos poucos tomava consciência de sua posição. 

Logo a sua frente apareceu. Seus longos cabelos castanhos, muito lisos. Seus olhos violetas de pupilas em fenda. Sua pele pálida. Sua expressão composta por um sorriso atrevido, mas discreto. Apenas a camisa branca parcialmente desabotoada, caída  de lado deixando o ombro dela exposto... E aparentava ser apenas isso até onde os olhos podiam ver. 

Os passos dela não tinham som, mas sua aproximação trazia um perfume doce e sutil, por mais que não houvesse vento. Um riso baixo foi ouvido quando suas mãos delicadas repousaram nos ombros largos dele, deslizando lentas até sua nuca. Suas unhas passaram do alto das costas do garoto, marcando leve sua nuca pálida e terminando por perderem-se nos macios e levemente ondulados cabelos negros dele. 

O arrepio foi intenso, incomum. Um movimento rápido o derrubou, sentindo algo macio às costas e um corpo à sua frente. O sorriso continuava ali, mas um pouco menor, menos travesso. Os lábios dela se uniram aos dele num beijo ansioso, convidando a língua do garoto a se aventurar com a dela. 

As pernas de Alice estavam uma de cada lado do corpo de Gilbert, sendo que uma de suas mãos estava na nuca dele e outra em seu ombro. A mão que estava na nuca oscilava. Arranhava com leveza, de modo sutil para arrepiar, ou arranhava com força, marcando temporariamente sua pele para fazê-lo respirar mais forte. 

A pressão do corpo dela sobre a cintura do garoto era ousada. Essa pressão o fazia se perder no que devia ou não fazer ou sentir. Sua franja ficava sobre seus olhos dourados enquanto o mesmo apenas permanecia deitado observando o que ela fazia. 

- Vai ficar ai parado olhando?

Riu ela. Na hora ele franziu o cenho. Parte pequena e forte de sua consciência voltou com aquilo. Um desafio? Dela? Aquilo pareceu um desafio. Ele a segurou pela cintura e rolou para o lado invertendo as posições. Um riso baixo. Não era o suficiente?

Seguindo seus impulsos ele levou as mãos ligeiramente trêmulas para a camisa que ela vestia, segurando e puxando para lados opostos de modo que os botões estouraram - mas não houve nunca o som deles colidindo com o chão. Alice riu o puxando contra ela e sussurrando no ouvido dele. 

-Acorde.

- Ahn... Por que?

- Por que... 

Gilbert abriu os olhos e se deparou com suas mãos realmente fazendo o que acontecera no sonho... Como uma Alice quase como a do sonho... Só que essa parecia muito mais brava. Havia estourado os botões da camisa dela e podia ver sem nenhuma obstrução o corpo da garota, ficando num misto de pânico/sensação de morte iminente com um contentamento estranho. 

Alice o encarava de um jeito extremamente estranho. A sorte dele era que a garota não tinha grandes noções de que aquilo não estava certo, mas ela tinha a sensação de que ele deveria morrer por aquilo. Ela gostava daquela camisa. 

Antes que qualquer um pudesse fazer qualquer coisa após o milésimo de segundo que havia se passado, a porta se abriu e a figura delicada com um vestido vitoriano violeta e os cabelos loiro alaranjados presos como de costume entrou.

- Bom dia, vocês não vão... Ué.

Alice e Gilbert viraram para vê-la, e apenas Gilbert percebeu que a pior pessoa para testemunhar aquela cena... Acabia de ter testemunhado aquela cena. Sharon ficou parada com a expressão estática voltada para os dois, até que tirou da manga um leque com a mesma estampa e cor de seu vestido, o batendo contra a mão e andando de modo sinistro até os dois.

- Ora, ora... O que temos aqui?

- S-sh-sha-sharon n-não... - Balbuciou Gilbert soltando a roupa de Alice e se afastando da beirada da cama com cautela.

- Que é? - Alice questionou olhando para Sharon, para então olhar para Gilbert - Que foi? O que vocês tão fazendo? Sharon... - Então a voz dela vacilou ao ver a Rainsworth próxima com aquele olhar sinistro. - O-o qu-que foi? 

- Vocês... Vocês sofrerão com as consequências.