Nellie partiu no outro dia, bem cedinho, para a Índia. Ela entendeu a funcionalidade de sua equipe. Alistair para decifra, ela para impulsionar, Broderick para convencer e Lion para defender. Era como se fosse uma versão reduzida de um pelotão de reconhecimento. Nellie era o comando, Alistair e Broderick os exploradores e Lion a autometralhadora.  Dan e sua equipe partiram mais tarde para a Venezuela e depois do almoço a equipe de Amy partiu para Vancouver.  Aquele avião tinha trios ao invés de duplas de poltronas. Amy sentou-se entre o musculoso Hamilton e o magricela Magno. Jonah e Ian sentaram ao lado de um velho gordo que dormia e roncava. Magno usava óculos e tinha cabelos cacheados e cor de ouro, um pouco cumpridos. Seus olhos eram cinza e ele era alto. Amy sorriu para ele tentando ser menos tímida e um pouco mais receptiva, já que ele não conhecia ninguém.

- Magno Brain, Ekat. Muito prazer.

- Amy Cahill, Madrigal. Prazer também.

Se o cumprimento de Magno foi um sussurro baixo, o de Amy foi quase inaudível. Magno se espantou um pouco, mas logo voltou a si. Quando chegaram a Vancouver alugaram um carro. Ian estava dirigindo e Amy ia ao banco da frente.

- E então, Amy, para onde? (Ian)

- Acho que primeiro deveríamos ir para o hotel no qual Fiske falou que deveríamos nos hospedar...

- Acho que todos devem descasar também... Não preguei o olho essa noite. (Hamilton)

- Estou à base de energéticos... (Jonah)

- Bem, eu também não tenho dormido suficientemente... (Magno)

Eles foram para o hotel. Não era luxuoso, mas era um lugar confortável.

- Poderíamos procurar um hotel melhor... – Ian sugeriu timidamente.

- Fiske mandou vir para esse, e eu concordo com ele... Temos que lembrar que estamos com Jonah Wizard – Amy sussurrou de volta.

Na recepção, Ian se dirigiu a atendente com uma educação que até então, para os outros, era incomum.

- Boa noite.

- Boa noite. Posso ajudar senhor?

- Pode sim. Não tenho certeza, mas acho que temos reservas.

- Nomes, por favor?

- Cahill, Kabra, Wizard, Holt e Brain.

Ela levou um pequeno tempo digitando.

- Tenho duas reservas. Um quarto triplo no nome de Ian Kabra e um duplo no nome de Hamilton Holt. É isso?

- Sim, sim...

 Ian e Hammer entregaram seus documentos à atendente e pegaram as chaves dos quartos. Foram todos para o elevador carregando as próprias malas. Amy pensava no que seria menos constrangedor.  Em um quarto sozinha com Hamilton, ou em um quarto com Ian e mais um? Ficar sozinha com qualquer um era pior...

- Vou ficar no quarto triplo. – Amy declarou

- Se não se importam, eu gostaria de fazer companhia a Amy, visto que já iniciamos a comunicação no avião... Além disso, acho que precisaremos de muito tempo para compartilhar informações durante esse período. Estar no mesmo aposento facilitará...

Magno falou e Ian deu uma olhada rápida e perscrutadora nele.

- Somos eu e Hammer então... – Jonah.

Os quartos eram simples, mas aconchegantes. Amy pegou a cama próxima à janela e Magno a da parede. Consequentemente, Ian ficou no meio. Amy fez sinal para que eles procurassem pontos de escuta, microfones, rastreadores e câmeras escondidos. Magno achou uma escuta e Ian uma câmera. Fizeram isso enquanto Amy ia ao quarto de Hammer realizar o mesmo trabalho. Ela achou uma câmera e Jonah uma escuta, ambos muito bem escondidos. A ela, pareceu que eram do Fiske, mas por via das dúvidas, destruiu todas. Amy, Ian e Magno estavam sentados em suas camas, Ian olhando o celular, Magno o notebook e Amy um livro, até que esta decidiu tomar banho. Abriu a mala procurando o pijama, quando o achou ela quase enfartou.

- Ian, o que significa isso?

- É o seu pijama, Amy... Ou não é?

- Por que diabos pegou justamente esse pijama?

- Achei que de todos era o mais confortável... Não sabia que viríamos para Vancouver, mas aqui tem aquecedor...

Ian falava sério, mas estava se matando para não rir. Amy estava indignada. Porque Ian Kabra havia escolhido justamente o pijama da Vitória Secrets que Nellie havia dado a Amy? Amy continuou vasculhando sua mala. Estava atrás de roupas intimas agora... Quando as achou teve vontade de voar no pescoço de Ian. Estava ficando vermelha. No ímpeto da raiva suspendeu um sutiã de renda rosa.

- E isso aqui, Ian Kabra?

- O que? É seu...

- Eu não quero nem pensar mais sobre você mexendo em minhas gavetas...  Tio Fiske anda tendo péssimas ideias!

- Vocês são namorados?

Magno perguntou indiferente.

- Não mesmo!

Amy respondeu com cara de pit bull, pegou suas roupas e a nécessaire e foi tomar banho.  Ela voltou com o pijama lilás que tinha usado na noite passada. Era um shortinho com uma camiseta, mas era muito menos escandaloso que o pijama preto que estava na mochila... Ian estava deitado na cama com os braços atrás da cabeça e um sorriso bobo. Amy olhou para ele de cara feia e se enfiou em baixo das cobertas. Não demorou que ela dormisse. Na Venezuela, Dan também estava no hotel. Ele dividia um quarto triplo com Natalie Kabra e Laura Sapperd. Lucília Cranius, Reagan e Madson Holt ficaram no quarto ao lado. Laura era uma Janus, muito bonita e carismática. Olhos azuis bem vívidos, rosto de boneca e cabelos cor de mel. No começo Dan não estava à vontade por dividir um quarto com duas meninas, mas ele e Laura conversaram a maior parte da viagem, agora ela falava sobre roupas com Natalie, completamente adorável, enquanto Dan vasculhava o quarto. Já Lucília era tímida e inteligentíssima, uma Ekat legítima. Era loira também, porém de olhos negros. Não era vaidosa, e quando resolvia conversar falava com propriedade sobre qualquer assunto. Ela estava se dando muito bem com Reagan e Madson. Estava um pouco quente e Dan resolveu tomar um banho. Quando abriu a mala se deparou com uma bagunça horrível.

- Natalie, você realmente não sabe arrumar uma mala... Cadê meu pijama?

- Eu não sei arrumar uma mala? Seu quarto é uma zona, Daniel Cahill! Quase me perdi lá dentro! Cheio de cards de baseball, decalques de tumulo e coisas de ninja! Eu tropecei naqueles dois pedaços de madeira ligados por uma corrente – “nunchako” Dan corrige - Furei meu pé em uma daquelas estrelinhas de metal – “Shurikan” Dan corrige novamente - Aquele gato demoníaco queria estraçalhar meu vestido e você vem dizer que EU NÃO SEI ARRUMAR UMA MALA?

Daniel olhou para Laura e piscou, depois foi para o banheiro com a mochila inteira.

~~~~~~

Já era muito tarde, há àquelas horas todos já dormiam e Amy estava em um sono solto. No sonho de Amy ela estava sentada em um banco, sorrindo para uma foto de Arthur e Hope. Era como senti-los por perto de novo. Então um braço forte e cor de canela abraçou seu ombro, era o braço de Ian Kabra. Então uma voz fria como aço penetrou seus ouvidos.

- Olá, nora querida! Saudades dos pais?

Era Isabel. Ian apertou Amy em proteção e ela se retesou.

- O que acha de fazer companhia a eles, Amy?

Quando Isabel terminou de perguntar tudo eram chamas, todos haviam sumido, ela só podia ver os rostos de Arthur, Hope, Grace, Lester e Irina gritando “corra Amy! Corra! Não deixe ela te pegar!” Foi aí que Amy acordou assustada e se sentou de súbito. Estava escuro ainda, e mesmo com o fuso estava tarde para ligar para Dan. Sentiu falta de tê-lo por perto, tudo que precisava era saber se ele estava bem. Na manhã seguinte Jonah foi o último a descer para o café.

- Aê galera!

Ele falou, como sempre.

- Jonah, sente-se. Estávamos discutindo assuntos importantes. (Ian)

Amy engoliu o pedaço de panqueca que estava mastigando para poder voltar a falar.

- Então, acho que deveríamos começar pelo monumento que o meu tio falou no jantar, eu pesquisei, mas não achei quase nada de interessante... Só sei de alguns relatos da família mesmo...

Amy falava baixo e de maneira neutra para evitar que alguém escutasse. Na verdade ela estava era rezando para que o bisonho do Hamilton entendesse e não colocasse tudo a perder com uma pergunta alta e expositiva.