Sentada no gramado da escola em que Claus estudava, Amor fingia ler algumas páginas de A Insustentável Leveza do Ser, mas observava o casal que se encontrava logo mais à frente. A garota estava agarrada ao pescoço do rapaz e segurava sua bunda, apertando-o mais forte contra o corpo. Amor fechou o livro e olhou com nojo para a cena.

- Sorte sua eu não poder fazer nada – Disse, cochichando baixinho antes de caminhar para fora da escola e desaparecer por uma das ruas desertas.

A garota se afastou do corpo do garoto e acendeu um cigarro com aroma e sabor de cereja. Parou olhando para a cara do rapaz, como se esperasse alguma resposta.

- Bom, eu tenho que ir pra minha consulta... – Disse o rapaz, se despedindo.

- Sempre sua consulta... Qual é a sua Ygor? Faz dois meses que eu espero que você vá pra minha casa depois da aula e você vem com essa de consulta?

- Sua casa?

- Resolvi ser direta pra ver se você entende de uma vez por todas – Disse, jogando o cigarro pela metade no chão – Eu gosto tanto de você, meu amor!

A garota aproximou-se mais uma vez do corpo de Ygor, dando-lhe beijos na boca e no pescoço. Sua mão quente entrou por baixo da camisa de Ygor, brincando com os músculos da barriga e descendo por dentro das calças.

- Mas eu realmente não posso perder minhas consultas – Disse Ygor, puxando a mão da garota e se esquivando. Estava suando e seu coração batia desesperadamente.

- Tudo bem Ygor! Vai pra sua consulta de merda! Mas não venha me dizer que eu não tentei. Quando me encher o saco, não vou pensar duas vezes em te chutar! – Esbravejou, indo pro lado oposto que Ygor deveria tomar.

- Alô? Pai? Cadê você? Vou me atrasar de novo pra consulta...

***

- Sente-se Ygor.  

Ygor sentou-se no divã e ficou longos dois minutos em silêncio, olhando para a cara de Dr. Oswaldo.

- Hoje minha namorada deixou claro pra mim que quer transar comigo.

- E você, como se sente com isso?

- Não quero transar com ela. Ela já deu pra todo mundo.

- E porque você está com ela então, Ygor?

- Porque eu não posso ficar sozinho, não é?

- Hm. – Dr. Oswaldo se conteve em fazer anotações.

- É só isso que você me fala?

- Queria que eu falasse mais o que? Não sou conselheiro amoroso, Ygor.

- Faz três meses que eu venho nessa merda e você não me serviu de nada.

- Seu pai me contratou para algo específico aqui, Ygor! Faz três meses que a merda do problema não é discutida. – Dr. Oswaldo dizia tudo na mesma calma que irritava Ygor, enquanto rabiscava na prancheta.

- Você é um bosta! – Disse Ygor, se levantando.

- Você deve ficar uma hora aqui dentro, Ygor.

- Foda-se!

Ygor virou as costas para sair, mas ao chegar à porta foi surpreendido por uma enorme força puxando-o para trás. Suas costas bateram com violência no divã. Dr Oswaldo estava em cima dele, os olhos em fúria.

- Escuta aqui seu merdinha! Seu pai está ficando muito nervoso com esse seu silêncio. Não sei por que ele insiste em fingir que o seu problema é por estar meio maluco da cabeça, mas eu sei muito bem que se você não fosse um riquinho da porra estaria atrás das grades nesse momento! Portanto te deixo meu aviso: seu pai me paga uma nota alta pra estar aqui aguentando todas as bobagens que você vem me falando esses meses todos, mas uma hora ele vai achar que isso não está servindo pra nada e vai me demitir! Então ou você abre essa boca pra me falar algo relevante ou eu farei questão de testemunhar contra você no dia do seu julgamento!

Dr. Oswaldo levantou-se e sentou em sua poltrona, a calma de sempre lhe cobrindo o rosto.

- Está dispensado por hoje, Ygor! Te encontro amanhã, no mesmo horário.

Mudo, Ygor levantou-se e foi até o carro preto que esperava do lado de fora do consultório.

- O que aconteceu? Você não passou nem vinte minutos lá dentro – Perguntou o pai de Ygor, os olhos aflitos.

- Acho que estamos progredindo, pai.