A Árvore Dos Pássaros Mortos escrita por Kacire


Capítulo 4
Capítulo 4


Notas iniciais do capítulo

depois de tanto tempo, mais um capitulo :)



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Pela primeira vez Claus tinha motivos para sorrir. A mão quente de Ygor estava repousada sobre seu peito que antes só carregava feridas causadas pelas mesmas mãos. Ygor sorria tranquilo ao seu lado e Claus ouvia repetidamente as últimas palavras pronunciadas por ele antes de dormir: eu te amo.

Encostou o nariz nos cabelos do rapaz, para sentir o perfume que tanto desejara sentir. Tentou manter o sorriso, mas um odor fez suas narinas arderem. Claus abriu os olhos e o rosto de Ygor se transfigurava lentamente no rosto de Morte, que tentava se agarrar a ele. Quando conseguiu se desfazer do abraço de Morte, encontrou-se preso em uma cama em chamas. Uma dor aguda lhe atravessava o corpo todo. Sentia cada milímetro de pele de seu corpo derreter e desgrudar, caindo como plástico.

- PARE COM ISSO, ILUSÃO.

Claus abriu os olhos. Diante dele, um rapaz de pele muito clara e cabelos loiros estava com a palma da mão levantada. Os olhos fechados e um sorriso nos lábios davam a impressão que tinha acabado de ter um orgasmo. Era assustadoramente belo e tinha vestes claras e leves sobre os pés descalços, como uma representação de um deus grego.

- Ora, Morte. Achei que você estivesse me presenteando. – Disse Ilusão, ainda arfante. Desejo estava sentada numa poltrona ao fundo e gargalhou. Desejo gargalhava de tudo.

- Preciso de um favor seu, Ilusão! – Morte disse, retomando seu objetivo.

- Não deveria pedir esse favor para mim, Morte? – Disse Desejo, levantando-se da poltrona e abraçando Morte por trás, o aroma alecrim invadindo as narinas de Morte e perfumando todo o ambiente.

- Preciso que o faça esquecer de nós!

- Deixou mais um se livrar de você, Morte? – Ilusão finalmente abriu os olhos. Claus contraiu mais um pouco no chão ao ver o vermelho vivo da íris de Ilusão.

- Não lhe importa Ilusão! Só preciso que você faça isso. Você me deve! Já chega, Desejo! – Disse por fim, empurrando desejo para longe do seu corpo com tamanha violência que ela se chocou contra a parede, perdendo o equilíbrio. Desejo ria, caída no chão.

- Ah, esse pobre coração partido de Morte, cada vez mais apaixonado. – Desejo se arrastava para perto de Claus – E você, meu querido? Tão quieto desde que chegou... Não é possível que você goste que ele tome decisões assim sobre você! – Desejo abraçou Claus. Seria quase como o abraço de sua mãe, se os seios rígidos de Desejo não se pressionassem tanto contra suas costas – Ele só pode te oferecer dor, eu posso te dar o que você quer – Disse com os lábios colados aos ouvidos de Claus.

- Afaste-se dele, Desejo. – Disse Ilusão. Os olhos dourados de Desejo fitaram Ilusão, incrédulos. Levantou, transfigurando-se. Os cabelos morenos ficaram terrivelmente verdes, lembrando as cobras de Medusa. Claus viu toda a beleza desaparecendo aos poucos do rosto de Desejo. Quando voltou a sentar-se na mesma poltrona em que antes estava, parecia ter envelhecido vinte anos. Os olhos antes dourados estavam apenas amarelos, dando a impressão que estava com alguma doença terrível.

Ilusão levantou as mãos novamente em direção a Claus e fechou os olhos.

- ESPERE UM SEGUNDO – gritou, finalmente, Claus. Ilusão abriu os olhos, sorrindo. – Desejo está certa! Você não pode decidir o que fazer comigo. Não pode me obrigar! Eu não estou morto ainda, Morte!

- Claus, entenda... – Morte tentou argumentar.

- Não, entenda você Morte! Achei que você pudesse ser quem iria me explicar às coisas que acontece comigo. Achei que finalmente tinha encontrado alguém que pudesse entender os meus motivos, os meus demônios, mas você é pior do que todos juntos! Deve ter tirado sua própria vida por covardia e não por necessidade!

Desejo gargalhou mais alto que nunca e a juventude lhe retomou o rosto. O cabelo, agora roxo, sacudia gostosamente.

- Finalmente alguém com coragem de jogar o que todos queriam dizer na sua cara, Morte. - Morte estava com o rosto contraído em dor. – Vem, meu docinho, acho que você deseja voltar pro mundo de lá, estou certa?

- Sim. Por ora, sim.

- Então diga, benzinho. – Disse Desejo, abraçando Claus da mesma forma que fizera com Morte, o perfume alecrim quase sufocando Claus.

- Eu... Desejo voltar.

E antes de desaparecer, Claus olhou para os olhos de Morte, negros como nunca. Um segundo, não mais que um segundo antes de não enxergar mais nada, ouviu ao longe a voz de Desejo.

- Essa sua paixão vai nos dar muita história pra contar, Morte! Dessa vez eu quero ver onde seu amor vai chegar.


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