A Árvore Dos Pássaros Mortos escrita por Kacire


Capítulo 2
Capítulo 2




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- O que é isso, Claus? - Amanda pegou o braço de Claus, finalmente parando de falar.

- Não é nada. – Claus afastou o braço.

- Isso é um corte? – Amanda olhava para o amigo, com os olhos arregalados.

- Eu me cortei no espelho, foi um acidente.

- Você mente muito mal, Claus.

Claus não respondeu, nem Amanda disse mais nada. Ficaram os dois olhando pro outro lado do gramado da escola onde estavam sentados. Algumas garotas estavam sentadas mais distantes, fazendo um piquenique e alguns garotos jogavam futebol na quadra pequena da escola.

- Acha mesmo que vale a pena fazer isso por ele? – Amanda finalmente perguntou.

- Não é só por isso, Amanda. Tem várias outras coisas...

- Ah é? Quais outras coisas?

- Você... – Mas Claus não terminou a frase. Claus ainda tinha mais motivos para dar, mas não quis dizer. Mesmo que listasse os trinta e sete fortes motivos para sua tentativa de suicídio, elas soariam banais aos ouvidos de Amanda. A dor da gente sempre vai ser menos significante que a dor do próximo... Então de nada valia.

- Para de olhar pra ele, Claus.

Claus não estava olhando de fato. Estava repassando na cabeça sobre o que acontecera na noite anterior e olhava para o vazio. Nem se deu conta do momento em que Ygor se pôs nesse vazio com uma garota.

- Amanda... – Claus desviou o olhar dos dois, que conversavam bem próximos. - Como você acha que é a morte?

- Se quer saber se eu acho que seja uma coisa boa, já vou dizendo que não! Achei absurda essa sua idéia de...

- Não, Amanda. Quero dizer...

- O que foi Claus? Você está tão esquisito.

- Eu vi a morte, Amanda.

Amanda ficou em silêncio, como se tentasse entender uma frase dita numa língua completamente desconhecida.

- Como assim? – Balbuciou.

- Eu vi a morte. Ela falou comigo... Ou melhor, ele.

- Você tentou se matar como, Claus?

- Não era por causa da bebida, Amanda. Eu tenho certeza do que vi.

- E o que você espera que eu fale, Claus?

Claus olhou para Ygor e a garota, que agora se beijavam.

- Não sei. Talvez nada; Mas eu preciso encontrar aquele garoto de novo.

***

- Ah, como eu amo o inverno! – Ao lado de Morte, uma garota rodava, brincava e sorria.

- Gosto de te ver animada assim, Amor. – Tentou sorrir Morte.

- Você podia ao menos se esforçar e compartilhar de minha alegria.

- Amor, eu não tenho muitos motivos pra isso.

- Ora, Morte! Você andava tão feliz ultimamente! Começava a se acostumar...

- Como se acostumar a ser alguém que só trás dor para outras pessoas?

- Mas é o equilíbrio natural das coisas, Morte!

- Pra você é fácil, não é Amor? Vive quase como vivia antes de despertar, com a diferença de que agora você é ainda mais feliz!

- Desculpe, Morte. – Amor tocou nas mãos de Morte, onde uma pequena fagulha roxa riscou como um isqueiro sem gás. – Eu não consigo mesmo imaginar como é estar em seu lugar.

Andaram em silêncio por um tempo.

- Mas você está diferente, Morte. Isso eu sei. O que aconteceu?

- Impedi um garoto de cometer o suicídio, Amor.

- Eu sabia! De novo, Morte?

- Ele ainda é muito jovem, Amor! Tem tanta coisa pra viver...

- Morte, olhe para mim! As pessoas têm o direito de cometer os mesmos erros que você cometeu.

- Eu sei... Eu sei. Estou com fome.

- Olhe só! E ainda não se alimenta direito! Quantas pessoas você deixou passar hoje, Morte?

- Só ele. É que gastei muito tempo com ele.

- Cuidado para não se envolver demais, Morte. Fez tudo direito?

- Fiz. Ele estava bêbado e o coloquei para dormir.

- Ótimo. – Amor encostou os cabelos loiros (tão loiros que tornavam-se brancos) no ombro de Morte e, depois de mais um tempo de caminhada, sorriu. – Morte... Não acha engraçado que o Amor e a Morte sejam melhores amigos?

- Engraçado? Não. Na verdade acho que tem muito sentido.


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