A Árvore Dos Pássaros Mortos escrita por Kacire


Capítulo 10
Capítulo 10




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Dr. Oswaldo estava sentado em sua cadeira olhando para a cara de Ygor no divã.

- E então?

- E então o quê?

- Sem se fazer de idiota, Ygor. – Sr. Oswaldo tinha começado a sessão já se demonstrando muito impaciente. – Eu não tenho mais tempo à perder com você.

- O que você quer que eu diga?

- O que está preso aí dentro há muito tempo. Só preciso de uma confissão Ygor, e isso tudo acaba! – Dr. Oswaldo levantou-se da cadeira e agora andava de um lado para o outro da sala.

- Dr Oswaldo, eu... – Ygor tentou levantar-se, mas não conseguiu. Seus músculos fraquejaram assim que se pôs de pé, caindo de joelhos.

- Renda-se Ygor!

- Não! – Ygor sentia uma dor terrível que parecia estar correndo pelas suas veias. Os músculos estavam todos fracos.

- Pra mim já chega, garoto. – Dr Oswaldo saltou sobre o corpo curvado de Ygor, segurando-o pelos cabelos – RENDA-SE YGOR!

- Não!

- ACABE DE UMA VEZ COM ISSO!

- EU MATEI O FLÁVIO. – Ygor gritou, sentindo a dor física indo embora, escorrendo pelas lágrimas. – Eu matei o Flávio.

Dr. Oswaldo soltou os cabelos de Ygor e sentou-se ao seu lado, envolvendo-o num abraço. Ygor soluçava agarrado ao médico.

- Porque... Porque você fez isso? – Ygor choramingava, cravando os dedos na nuca do médico.

- Pra te aliviar, Ygor. Você precisava dizer...

- O que? ...

- Quando você acordar, não sentirá mais culpa! Você teve medo, Ygor, cometeu um erro, mas foi acidente... Não o matou.

- Mas foi por minha culpa que ele...

- Isso não é assassinato! Você não estava preparado... Você sabe disso! Como não estava preparado para Claus.

- Como você sabe disso tudo? – A cabeça de Ygor doía, tudo girava.

- Amanhã, quando você acordar, vai saber com certeza de que a culpa não foi sua! – Disse Perdão, levantando-se. – Vá para casa e descanse! Amanhã estará tudo bem. Você está perdoado, Ygor.

***

- Mas a queda não te matou, não é? – Claus perguntou depois de um longo silêncio.

- Não... Fiquei em coma por dois meses, como você deve saber, e tive alguns ossos fraturados, mas foi tudo.

- Voltou a ver Ygor?

- Não. Ele não me visitou no hospital e nós nunca mais nos falamos. O único que apareceu foi o pai dele.

- O pai dele?

- Ele me ofereceu dinheiro para que eu não contasse pra ninguém que o Ygor tinha me empurrado. Não aceitei o dinheiro e disse que não culpava Ygor pelo que tinha acontecido. E de fato não culpo.

- Como não culpa? Pelo amor de Deus, Flávio, ele te empurrou. – Disse Claus, levantando o tom de voz.

- Ele se assustou, Claus! Posso continuar?

- Pode.

- O resto da história é um pouco mórbida demais. E acho que você conhece bem o processo. Apesar de me recuperar bem, não queria sair de casa. Tudo o que eu tinha imaginado com o Ygor pro nosso futuro estava desmanchado na minha frente... Meu pequeno sonho adolescente. Não tinha mais estímulo nenhum... Encontrei os antidepressivos... Os antidepressivos não funcionaram... E um belo dia... Tomei todos eles no banheiro da minha casa com muita bebida... Como a primeira vez que você tentou se matar.

- Mas e o penhasco?

- Ultimo pedido. Você já viu o penhasco?

- Já... Quando cheguei à cidade subi para conhecer.

- Não é lindo?

- É.

- Eu queria morrer lá. Era meu lugar preferido. Mas não teria coragem de me atirar de lá, sei que não.

- Então...

- Minha mãe foi uma mulher corajosa. Muito corajosa! Carregar o filho já morto nos braços até o penhasco só pra realizar mais um pedido de seu filho! – Morte sorriu para Claus, olhando-o no fundo dos olhos. – Mesmo tento sido um suicídio “simbólico”... Pelo menos virei uma história pra se contar.


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