A Árvore Dos Pássaros Mortos escrita por Kacire


Capítulo 9
Capítulo 9




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– Achei que nunca mais te veria novamente.


Claus estava sentado, mais uma vez, em sua cama, olhando para o rosto de Morte.


– Achei que você não queria me ver.


– É claro que eu queria te ver. Eu sempre quero te ver. Aliás, é só isso que eu ando querendo nos últimos meses...


– Ainda desencantado com a vida? – Morte sentou-se ao lado de Claus.


– Não acho que o encanto se recupera uma vez que ele acaba. É como aquela mágica da moeda atrás da orelha que toda criança vê quando é pequena. Por um momento você acha que pode até ficar rico! E depois você descobre que a moeda estava escondida na mão do mágico o tempo todo... Tem como essa mágica voltar a ser surpreendente e interessante?


– Por isso os mágicos não devem revelar seus segredos, Claus.


– Desculpe pela minha reação na casa de Ilusão... – Claus segurou as mãos geladas de Morte.


– Eu é que peço desculpa. Claus... Resolvi dar as caras mais uma vez, mesmo sem saber se você ia querer me receber pra dizer que não quero mais me intrometer nas suas escolhas. – Morte disse, com dificuldade.


– Vai me deixar morrer? – Claus tinha um brilho nos olhos. Morte assentiu de leve com a cabeça.


– Mas antes, eu quero... Eu acho que devo uma explicação por ter impedido seu suicídio tantas vezes.


Claus não disse nada, apenas esperou que Morte lhe narrasse sua explicação.


– Ygor!


Claus estremeceu ao ouvir o nome sair grave dos lábios de Claus.


– O que tem... Como você? – A cabeça de Claus foi invadia por um turbilhão de dúvidas.


– Olha bem pro meu rosto, Claus... – Morte se aproximou abruptamente do rosto de Claus. – Nada?


Claus sempre achara que os traços de Morte eram muito familiares. Claus olhou para cada pedaço do rosto de Morte, tentando buscar qualquer coisa nas marcas e nas expressões que pudesse explicar um pouco do que Morte estava falando.


– Você tem que voltar um pouco no tempo Claus... E procurar nos cantos que você mal olhava!


Claus estava entrando em desespero. Queria tocar o rosto de morte e arrancar as respostas com as unhas. Seu coração ficava apertado a cada segundo.


– Florzinha! Florzinha! Florzinha! – Morte começou a remedar, com uma voz irritante, como se caçoasse de Claus. – FLORZINHA!


– MEU DEUS – Claus fechou os olhos e se jogou para longe de Morte – Não... Flá... Flávio?


– Finalmente. – Morte disse, aliviado.


– Flávio... Claro! Você... Você mudou. – Claus sentiu-se enjoado.


– Um pouco mais branco, apenas...


Claus sentiu que ia chorar, mas a necessidade de um sentido pra história falava mais alto. Flávio tinha havia se suicidado se jogando do topo do penhasco que decorava a cidade e fazia dela um ponto turístico. Muitas visitas diminuíram depois do suicídio.


– O que Ygor tem com essa história? Flávio... O que aconteceu?


– Ygor me apoiava tanto! Quando cheguei na escola e fui alvo de provocações ele se encontrava comigo às escondidas, depois das aulas, para me dar forças! Foram dias belíssimos Claus! Eu... Eu estava tão apaixonado! Não ligava pros segredos... Cada um tem o seu tempo pra essas coisas...


– Não... Não... – Claus já pressentia como a história iria acabar.


– Foram meses de felicidade! As chacotas não me incomodavam Claus... Porque... Porque eu estava bem com ele! Só existia ele!


– E como?...


– Estávamos na casa dele. Subimos no telhado para fumar. Era nosso lugar de fazer planos! Ele dizia que quando o ensino médio acabasse nós iríamos para fora da cidade, viver na capital, onde ele finalmente ia poder viver sem medo dos outros. E que teríamos a nossa casa, trabalharíamos para nos sustentar e seríamos plenamente felizes! NOS CASARÍAMOS NA PRAIA! Ele me beijava a cada novo plano. Nossas vidas evoluíam pra um futuro não muito distante e com isso também evoluíam os beijos, o calor... O tom de voz! Quando os sonhos já nos sufocavam e pesavam os lábios, eles não mais cabiam entre a gente! As palavras perdiam os sentidos... E ele me deu o melhor beijo da minha vida... Interrompido pela voz do pai de Ygor que subia no telhado. Interrompido pelo susto de Ygor e pela mão espalmada no meu peito que transformou o carinho num impulso.


Morte ficou em silêncio, olhando para Claus que chorava encostado na parede, os olhos arregalados e as mãos sufocando os soluços que finalmente escaparam.


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Notas finais do capítulo

PS: não enlouqueci. Eu sei que morte disse, em algum dos capítulos iniciais, que tinha se matado no banheiro de sua casa... É que a história ainda não acabou, mas a próxima parte não é APENAS Morte que irá narrar.
Alguém ainda precisa se render.......