Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 9
Capítulo 9 - Nada vai mudar isso


Notas iniciais do capítulo

Era pra eu ter postado ontem, mas acabei não conseguindo. Desculpem por isto. rs
Hoje tem conversa Malu e Igor!
Eu gosto muito desse capítulo. rs



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Pov. Igor.

Eduardo estava animado e hiperativo depois do jantar. O açúcar aumentando ainda mais a energia dele. Jogava vídeo game com Alexandre e Edith, uma garota muito agradável e brincalhona, que o enchera de elogios, e parecia totalmente conquistada pela timidez de Eduardo ao ser elogiado por uma mulher bonita. Ele havia puxado Malu no processo, encantado com a nova tia, e lá estava ela, espremida no canto do sofá, rindo de Eduardo e suas peripécias, que fazia de tudo para impressioná-la.  Pablo estava em pé comigo ao lado da escada, tentando me distrair. Malu conversava sobre o casamento com Cecília também, mas eu mal acompanhava o que elas falavam, só ouvia sua voz.

– Mais um pouco e você baba. – Pablo disse, rindo.–  Eu estou ficando constrangido aqui, ta legal?

– Cala a boca, Pablo.

– Hum...– ele murmurou pensativo.

– O que é?

– Aquilo é uma aliança no dedo dela? Está mais com cara de um escudo, porque meu Deus, olha só a grossura daquele anel! – ele falou. Isso me gelou. Olhei o dedo de Malu, pequeno. Havia uma aliança de ouro ali mesmo. – Você vai se casar, Malu?

Malu olhou para nós indiferentemente por alguns instantes. Depois olhou para o seu dedo e abriu um sorriso doce e melancólico.

– Sim, estou noiva há quase dois anos já. Não temos data ainda, mas para todos os efeitos, eu vou me casar. – engasguei com o suco em minha mão. Pablo me deu vários tapas nas costas, demonstrando sua surpresa e eu recuperei o ar surpreso.

– Pai, você ta bem?– Eduardo perguntou, os olhos arregalados. Não respondi, apenas assenti e encarei Malu por alguns segundos e ela me devolveu o olhar. Cecília correu para abraçá-la e felicitá-la, cheia de gritos animados e nem ao menos tentando conter a empolgação perto de mim. Senti uma raiva brotar dentro de mim. Saí para fora da casa batendo a porta com força. Sentei nos degraus da escada.

Senti algo rasgando lentamente dentro de mim, um ciúme possesso e incrédulo que eu havia esquecido que podia me dominar. Uma raiva e um sentimento de possessão indescritível. Eu não havia pensado que Malu poderia ter outra pessoa, só em meus pesadelos. Quando ela apareceu novamente fosse como se ela estivesse numa caminhada rápida para de volta aos meus braços. Sentia tudo ruindo devagarzinho. Os planos, as expectativas, os sonhos e desejos que eu criava ao longo dos anos. Além da fúria que comecei a sentir por um desconhecido. Eu não sabia lidar com ciúmes, nunca soube.

 – Você está bem?– aquela voz baixinha me assustou.

– Eduardo?

– Dã, quem mais seria?– Eu ri sem humor do meu filho, ele se sentou do meu lado e apoiou a cabeça no meu ombro.

– Está se divertindo?

– Sim. Minha tia é muito bonita e legal. Podíamos chamar ela pra praia amanhã, não podíamos?

– Ela não vai querer.

– Por quê?

– Por que... – optei por ser sincero com Edu, ele me entendia na maioria das veze,s melhor que ninguém. – Ela não vai querer ir comigo.

– Por quê?

– É complicado. E não me pergunte o porquê.

– Desculpe, pai. Mas como quer que eu aprenda as coisas se eu não perguntar o porquê? – Ele comentou, rindo.

– Garoto esperto...

– Eu sei... Vamos entrar! Ainda tem a sobremesa, e eu adooro pudim! Você sabe disso. Preciso de você pra pedir pra mãe deixar eu comer pudim!

– Já estou indo...

– Ta bom, mas não demora! – ouvi a porta se abrir, mas não a ouvi se fechar. – Ah, pai...  Tio Pablo mandou que eu te dissesse pra você deixar de ser estúpido e abrir os olhos senão vai acabar perdendo aquelas pernas. O que isso significa?

– Significa que você tem que ir atrás da sua mãe, isso não é coisa de criança.

– Coisa de criança? Ai ai, viu! – ele fechou a porta e eu ri baixo, balançando a cabeça.


Pov. Malu


A porta foi fechada com estrondo e eu permaneci rígida no sofá. Os olhares em mim, abaixei a cabeça, constrangida e incomodada. Cecília mal se importou com a saída de Igor, me crivou de perguntas sobre o casamento. Tentei dizer que não tínhamos nada planejado ou nem nada assim. Era como um namoro, só que um pouco mais sério. Fizemos planos para o futuro juntos, planos modestos. Mas ela não descansou. Embarcou com Edith e a minha mãe em um assunto repleto de abobrinhas sobre casamento. Alexandre conversava com Pablo, mas sentia que eles me observavam de esguelha.

Sem poder me conter, levantei sorrateiramente e fui até a cozinha. Enchi um copo d’água e me virei. Dando de cara com Igor do outro lado da mesa. Derramei um pouco de água na minha blusa pelo susto.

– Droga! – exclamei, pegando um pano e tirando o excesso de água. Olhei para Igor e ele estava sério.

– Não precisa limpar, a sua blusa fica melhor molhada.

– Como é?

– Gosto de branco, mas transparente é melhor. – ele falou calmamente, como se estivesse falando do tempo. Senti meu rosto esquentar e fui incapaz de responder. Tentei me recuperar do que ele disse, sentindo um bolo de vergonha na garganta.

– Você parece pior do que antes. – falei, satisfeita pela minha voz permanecer firme.

– Você continua igualzinha.

– Errado! Eu mudei. – ergui o queixo involuntariamente.

– Continua enrolada, cora por qualquer coisa e se irrita facilmente.

– Enrolada? Se eu fosse enrolada e me irritasse por qualquer coisa eu não conseguiria um emprego tão bom e você sabe disso. E quanto a corar... Isso é involuntário. Coro por calor, por raiva e muitas vezes por tédio. Então... Parede tentar falar como se ainda me conhecesse, Igor. Suas conversas no final das contas só me deixam vazio. É batido. Sempre a mesma coisa...

Eu estava mentindo. Nunca era a mesma coisa com Igor, todas as vezes, eram novas, mas igualmente conhecidas. Eu sentira na pele e me amaldiçoava por lembrar delas tão bem. E mesmo sabendo disso, eu sentia uma vontade de agredi-lo, de tirar aquele sorriso pertinente daquele rosto.

– É isso que seu noivo, é? Original?– Senti meu rosto ferver de satisfação ao ver o olhar de Igor, raivoso. Me senti melhor, como se pudesse provar que ele não era minha única opção.

– Não. Ele é um clichê, sabe? Mas o bom é que... Ele sabe lidar consigo mesmo, se controlar e tudo o mais. Me faz bem a segurança dele.

– E assim como ele lida consigo mesmo. Eu conseguia lidar com você.

– Errado de novo! Eu tive que lidar com você, o tempo todo. Você se lembra?

– De tudo, de todas as noites, de todas as risadas, de todas as pizzas, de todas as gotas, de toda falta de luz... – a voz rouca dele trouxe a tona uma noite distante. A afugentei raivosamente.

– Preferia que esquecesse isso!

– Não posso.

– Tente!

– É meio difícil... – ele voltou a sorrir, provocativo. Senti novamente raiva. Como alguém podia me irritar tanto?

– Difícil? Faça-me o favor... As coisas sempre eram fáceis pra você.

– Ter um filho não foi fácil, não foi um parque de diversões.

– Mas fazê-lo com a minha irmã com certeza foi fácil. Sem sombra de dúvidas foi divertido. – nos encaramos em um ódio mudo, meu ódio mudo. Só senti satisfação ao ver o brilho de dor em seus olhos, na sua expressão vacilante. Virei de volta para a pia, me apoiando nela. Abaixando a cabeça, mas logo a levantei, sentindo raiva e ao mesmo tempo o coração batendo forte.  Eu não fraquejava, não deveria deixar me afetar. Ou ao menos não deixá-lo reparar. Ficamos em silêncio, até a voz de Igor sair, sussurrada, atiçadora:

– Mas perder a garota que eu amava não foi fácil! Ou foi fácil pra você ir embora, Malu?  Foi fácil? Porque pra mim... Pra mim foi e continua sendo um martírio todos os dias. – apertei o pano de prato entre os dedos, e virei o rosto para o lado.

– Eu vou me casar.

– Isso não significa nada.

– Claro que significa! – exclamei, voltando a olhar para ele. Procurei manter a calma. – Significa que eu amo ele e prefiro ficar com ele do que com você.

– Claro, claro. Você mente, como sempre e eu finjo que acredito. Só me responde, vai casar com ele porque é mais fácil?

– Não! Vou me casar porque ele é bom, bom demais até pra mim. Vou me casar porque ele é um homem bom, por que... Porque eu o amo! E também... Porque isso é o certo pra nós dois, Igor.

– Nunca existiu nós, esqueceu Malu?

– Eu estava errada. Fui boba, absolutamente infantil. Sempre foi nós, até quando estávamos separados. Mas eu estava certa em ir embora, achei que esqueceria assim. E eu consegui, já passou. Foi bom, ótimo na verdade. – falei de um jeito que parecia mais estar me convencendo do que a Igor, que se mantinha impassível. – Me fez amadurecer e acho que agora eu estou pronta a entrar de vez na minha família, e ter a minha própria vida. As coisas se ajeitarão. Não adianta brigar agora, por coisas que já passaram. A propósito, seu filho é lindo, encantador, e te adora.

– Eu sei. – sorrimos tristemente um para o outro. – Ao menos amigos?

– Não acho que seja uma boa ideia. – ele tamborilou os dedos na mesa, mordendo o lábio. Engoli em seco. – Boa noite, Igor.

– Boa noite...– me virei, caminhando para fora da cozinha. – Malu?

– Sim? – parei, virando de leve. E dando de cara com os olhos de Igor ali, ele caminhou para perto de mim e eu senti seu cheiro me inundar. As pernas bambearam, mas eu me mantive firme, tentando me lembrar que era passado. Ele levantou a mão e colocou uma mecha de cabelo meu atrás da orelha. Olhando fixamente para mim.

– Continua sendo nós e você sabe disso. – ele sussurrou e me olhou por alguns segundos. Depois se afastou, indo para a pia e enchendo um copo d’água. Bebeu lentamente enquanto eu me recuperava, confusa e perdida. Ele me olhou de cima a baixo e sorriu, tão triste... – Eu realmente gosto dessa sua blusa branca.




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Notas finais do capítulo

Igor e Malu dizem tudo sem dizer nada. Incrível! KK Não sei quando sai o próximo capítulo. Digamos que estou travada, vocês sabem que eu tenho esses meus momentos. Vou torcer pra conseguir ter ideias logo! Obrigada por lerem!