Vento no Litoral escrita por Janine Moraes, Lady B


Capítulo 8
Capítulo 8 - Tudo muda. Tudo é tempo.


Notas iniciais do capítulo

Vamos ser sinceras, esse capítulo está chatinho. Mas do próximo eu gosto! Tenho que começar a escrever logo, porque mais dois capítulos e meus extras acabam. Triste!
Espero que gostem do capítulo mesmo ele não sendo tão agitados.



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Cheguei pro jantar na casa de Ceci animado. Eduardo estava jogando vídeo game com Alexandre, que ria. Dona Betty passou por nós, nos dando beijos na bochecha. No começo da gravidez de Ceci e ao saber de toda a confusão, ela brigou comigo e me xingou até a alma. Mas agora, vendo que eu me esforçava para ser um bom pai, me tratava como se eu fosse mais um de seus filhos, muitas vezes com mais mimo do que tratava suas meninas. Eu tinha sorte dela ser mente aberta e ter um coração tão grande.

– Precisa fazer essa barba, Igor. – ela ralhou.

– Dois dias só. Pra dar uma arranhada. – ela riu de mim, e sacudiu a cabeça em desaprovação.

– Sintam-se em casa e a o jantar vai atrasar um pouquinho, certo?!

Ela saiu animada, de um jeito que eu nunca vi, para a cozinha. Percebi que Ceci estava inquieta ao lado de Alexandre, então imaginei que ela já sabia que Malu estava aqui. Ceci adquiriu um quase medo de que Malu a odiasse, já que tinham perdido contato nos últimos 5 anos. O que era praticamente a vida toda de Eduardo. Mas para mim, muitas vezes, parecia que ela tinha mais medo de que a achássemos má e Malu também, do que preocupada com os sentimentos verdadeiros da irmã para com ela. Ceci sempre fora fútil, embora agora tivesse evoluído, a imagem que tinha de si mesma ainda era importante para ela.

– E aí, Alexandre?

– Oi.– Ele disse vagamente, concentrado na luta.

– Ganha logo dele, Eduardo. Vamos! Vamos! – encorajei, fazendo Eduardo sentar em meu colo. Logo, ele tinha ganhado de Alexandre e eu fiz cócegas em Edu, que riu da nossa comemoração improvisada.

– Você ta feliz, pai.

– Demais!

– Por quê? É por causa minha tia?– Estanquei, confuso.

– Como?

– Vovó ligou pra minha oooutra tia agorinha. A que me mandou aquele trenzinho elétrico maneiro no Natal. Ela brigou com ela e mandou ela vai vir pro jantar como castigo. Que dó da minha tia, né?

– Sério que ela vai vir?

– Arraan. Eu vou ver ela, por isso minha mãe me fez tomar banho tãaao cedo. Uma chatice, né pai?

– Você já sabia que ela está aqui? – Alexandre me perguntou, surpreso.

– Longa história.

– Longas pernas. – Pablo disse, me provocando novamente. Peguei uma almofada e taquei com toda força nele, o fazendo tropeçar. – Ok, já parei.

Alexandre riu, já entendendo o que ele quis dizer. Eu e Alexandre éramos amigos agora, podia-se dizer. Ele tinha ficado com Ceci apesar de tudo e deu força para ela quando o bebê nasceu. Se apegara a ele e eu não podia duvidar que ele amava Cecília apesar de tudo. Nessa mesma hora, me tirando o foco dos pensamentos, a campainha tocou e eu me levantei rápido junto com Eduardo. Ele estava tão nervoso quanto eu. Já tinha visto fotos da tia que mandava os ‘presentes mais legais’ e até mesmo gostava dela, mais do que Karol que aos 11 anos, entrando na pré-adolescência, andava mal humorada e como dizia Eduardo, muito chata. Dona Betty foi correndo abrir a porta, e sorriu abraçando a filha, que a propósito, estava divina em uma blusa branca e um shorts colado, por causa da noite super quente. Altiva e feliz, até me ver...


Pov. Malu

– O que foi aquilo no Planetário?– Edith praticamente gritou animada enquanto jogava a bolsa no chão do quarto de hotel com duas camas de solteira no qual estávamos hospedadas.

– Nada. – tentei fugir das perguntas. Ela me perturbou o caminho inteiro. E eu sabia que ela faria isso por um bom tempo.

– Me engana que eu gosto! Anda, Malu. Desenrola.

– Ok. Ok! – suspirei, sentando no chão e ela na cama. Parecendo duas adolescentes.

– Ótimo! – eu nunca tivera um bom contato com as pessoas do mesmo sexo do que eu. Nunca tivera uma melhor amiga, no máximo colegas. Edith era diferente, porque, assim como eu, ela sofria com relacionamentos amorosos. Os dela, curtíssimos, sempre a deixava de ressaca e chorando, como se a cada fim ela morresse e no dia seguinte renascesse depois de uma bela ressaca. Era uma criatura confusa, muito firme, mas nos assuntos do coração meio desequilibrada. Lembrava demais como eu sou. Comecei a contar toda a história com calma e sem tentar dar muita atenção aos quesitos sentimentos, mas foi impossível. Ela fizera perguntar durante toda a explicação.

– E foi assim que a nossa história chegou ao fim. Satisfeita? – Terminei a minha narrativa para uma Edith que estava em frente ao ventilador. Ela ficou agitada enquanto eu contava, soltando gritinhos e exclamações, mas agora estava muito séria.

– Fim? Está bem, está bem, se iluda!– fiz uma careta e ela riu baixo, tapando a boca. Quando parei de encará-la assassinamente ela murmurou concentrada, fazendo com que eu revirasse os olhos. – Muito novelesca a sua história.

– Obrigada... Eu acho.

– Mas ta na cara que não essa história chegou ao fim coisa nenhuma! – sabia que ela diria algo assim! Estava demorando pra ela explodir em exclamações ao invés de perguntas, concluí. – Está na sua cara pra falar a verdade. Escrito em letras garrafais!

– Claro, que está. Acorda! Está vendo esse anel aqui? Então, eu sou do Victor agora.

– Vou te confessar uma coisa, Malu. Sempre achei que você não fosse de ninguém. Mesmo estando com Victor, não era a ele que você pertencia. Francamente achei que era da sua personalidade e tudo o mais. Da sua natureza não poder ser do Victor. Mas agora vejo que você pertence a alguém. E não pode mudar, por isso se irrita tanto e se prende a Victor assim. Porque não consegue admitir pra si mesma que sim, garota rebelde, você tem dono. E um dono muito musculosinho e gostosinho, viu?

A olhei pasmada. Sem saber o que falar. Queria rir da cara dela, mas ela me olhava daquele jeito que mostrava que tinha razão. Droga! Meu celular tocou e eu me apressei a atender.

– Alô?

Maria de Lourdes! Como é que você chega na cidade e nem liga pra sua pobre mãe? – gelei, soltando um xingamento baixo. Soltei, arrastada:

– Oi, mãe...

Filha! Estou tão magoada!

– Como você soube que eu cheguei?

Victor me contou. Ele é um docinho, não é? Disse que queria falar com você, porque jurava que você ia ficar hospedada aqui em casa. Tsc tsc. Como pode fazer isso com a sua pobre, mãe? Se acomodar em um mísero hotel?

– Eu fico mais confortável aqui, mãe. Você sabe que aí deve estar apertado.

Certo. Certo.  Eu te desculpo, mesmo estando tão magoada. – Mães e seus dramas... – Quando é que vai chegar pro jantar?

– Jantar?

Hoje é sexta, Maria de Lourdes!

– Ah... Lasanha. – Sempre tinha lasanha as sextas. Coisa que nunca mudou. Independente das brigas, dos divórcios e dietas de Cecília.

Lasanha? Lasanha? Eu, por acaso, ouvi lasanha?– Edith disse se agitando.

– É, venha querida. Por favor, estou com saudades.

– Eu também.– Suspirei.– Mas acho melhor não...

Até as 7, benzinho.

– Mãe! – ela desligou. Bufei.

– Vamos comer lasanha? – Edith pulou na cama animada.

– Pois é.

Então fomos as duas nos arrumar. Meu cérebro trabalhava rapidamente, fazendo planos alternativos, torcendo para que Igor não fosse a esse jantar. Por outro lado eu estava morrendo de saudades da minha mãe. E eu queria conhecer Eduardo. Porque, aliás, era meu sobrinho. Acabamos nos atrasando porque Edith demorava demais se arrumando.

– Definitivamente precisamos de um carro. – ela disse, pagando o táxi.

– Essa é a casa da minha mãe. – murmurei, meio nostálgica. Lembrando de como fiz as pazes com Igor alguns anos atrás, quase uma vida, apenas parada em frente a porta. Sorri para mim mesma, não havia motivo para me deixar abater por Igor ou me prender a uma atração distante, de uma vida que ficou para trás. Edith me puxou e bateu na porta três vezes. Minha mãe surgiu sorridente e me prendeu em um abraço esmagador. Sem dizer nada, retribui o abraço, o coração aos pulos. Ela me soltou devagar, me analisando.

– Você está tão linda.

– Mãe, não vai chorar, vai? – sorri para ela que limpou as lágrimas rapidamente. Ela olhou para Edith, curiosa. – Essa é Edith, e essa é a minha mãe Betty.

– Prazer... – Elas se cumprimentaram e entramos na sala. Parecia maior, analisei o ambiente antes de chegar às pessoas. Alexandre estava lá, ao lado de Ceci. Sorri abertamente e ele veio ao meu encontro, me abraçando fortemente. Senti esse abraço com uma saudade dolorida.

– Senti sua falta, pequena.

– Eu também. – nos afastamos e Ceci parou perto de mim. Revirei os olhos e a puxei para um abraço rápido. Murmurando um elogio que ela simplesmente amava, com todo meu dom de ironia na voz. – Você ta gorda.

– Cala a boca, estúpida. – ri baixo de sua falsa irritação. Pelo menos isso não havia mudado. Cumprimentei Pablo com um aceno de cabeça e vi Igor parado próximo a TV. Segurando a mão dele estava um menino.

– Este é o meu filho, Eduardo.– Cecília disse, orgulhosa. Não era por menos, a criança era adorável. Uma verdadeira miniatura de Igor. Os olhos eram castanho claros; quase esverdeados, numa cor de areia incomum. Os cabelos eram castanhos aloirados iguais os de Igor. Assim como o nariz e aquele mesmo sorrisinho. Ele me olhava sorrindo, parecendo envergonhado. A pele queimada de sol, mas ainda assim as bochechas rosáceas.

– Oi.

– Oi. – Ele repetiu.

– Não vai dar a benção para a sua tia? – fiz uma careta. Tia? Qual é! Eu era nova demais para ser tia. Ele caminhou desengonçado e me abraçou com força pela cintura. Me abaixei e o abracei melhor.

– Obrigado pelos presentes. – ele sussurrou no meu ouvido. Me afastei olhando para ele.

– Você gostou?

– Eram maneiros. – ri baixo do jeito natural como ele falou, e após dizer isso ele acabou se afastando. Voltando para perto de Igor, que me olhava meio sorrindo, meio sério. Os olhos debochados... Alegres. Verdadeiramente alegres. Desviei os olhos e apresentei Edith a todos de forma rápida.

– Onde está Karol?– Perguntei, procurando a minha irmã que fugia de mim a cada contato que eu tentava fazer por telefone.

– Está os últimos dias na casa do pai. – Minha mãe respondeu tristemente.– Ela está assim desde o divórcio, sabe? Onze anos e já rebelde.

– Ah... – o divórcio. Minha mãe havia se separado do pai de Karol há uns dois anos, e pelo jeito Karol ainda não tinha lidado com isso muito bem. Ao contrário de mim e Ceci, que dividíamos os mesmos pais, Karol era nossa meia-irmã e ela meio que considerava isso como se devesse ficar longe de nós.

Fiquei em silêncio por alguns segundos e vi que Edith engatou em uma conversa com Alexandre e Cecília, que falavam do casamento. Nessa hora minha mãe anunciou que devíamos ir pra sala de jantar logo. Deixei que ela me guiasse até a cozinha, ainda maior.

– O que houve com essa casa mãe?

– Aumentamos, fizemos mais um andar. Para ficar maior, por causa de Eduardo e Alexandre.

– Ficou ótima.

– Vai ficar melhor quando o quarto de Cecília e Alexandre no andar de cima ficar pronto. O casamento deles é daqui a alguns meses. Passa tão rápido.

– É verdade. – Rápido demais!




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Notas finais do capítulo

Obrigada por lerem, doçuras!