Anne Bergerac: As Portas Da Contradição escrita por Ana Barbieri
Capítulo 9
Foram necessárias uma tarde e uma noite para que Holmes se recuperasse por completo e mesmo com a minha saída do quarto, ele insistiu para que eu voltasse. Eu até considerei aceitar, se não fosse pela Sra.Hudson me passando um sermão por tê-la desobedecido. Acabei por passar o resto do meu dia trancada no meu quarto, lendo Edgar Allan Poe. Contudo, isto tudo é passado e não devemos pensar mais nisso. Devemos nos concentrar no caso. Sherlock Holmes nem sempre é uma pessoa sociável. Existem dias em que ele fica trancado no laboratório o dia todo. Não sai para comer, respirar um ar sem todo aquele gás infernal e nem me reprovar. Hoje é um desses dias.
Aqui estou eu, sentada em uma poltrona da sala. Esquecida, deixada de lado, enquanto nosso brilhante detetive provavelmente está resolvendo o caso de uma maneira perspicaz que apenas ele compreende. Reprovador... Ou será apenas medo de sair comigo e acabar sendo baleado novamente? Humpf... A questão é, eu gostaria de estar lá também. Poderia ler um romance de Edgar Allan Poe, mas, isso me parece tão chato e desinteressante, enquanto duelar com Holmes e pesquisar detalhes sobre o caso foram emocionantes.
_ Anne, está tudo bem?
_ Claro Watson... Por que não estaria?
_ Por nada... É que quando eu entrei você estava suspirando. – Watson... eu não estava suspirando.
_ Parece que Sherlock vai ficar lá o dia todo não? – ele se sentou em sua poltrona e sorriu.
_ Sim. Na verdade, faz tempo que ele não se tranca lá. O caso deve ser especialmente difícil.
_ Não. Um caso de assassinato não é nada difícil para ele. Além do mais, contando com hoje, só faz quatro dias que ele pegou este caso. – aqui, Watson me olhou sério.
_ E não era ele que conseguia resolver este tipo de problema em questão 24 horas?
_ Bem, era. – eu ri. – Talvez ele esteja ficando velho demais para tais dotes intelectuais. Não devemos apressá-lo. – rimos juntos. Holmes perdendo a inteligência... É mesma coisa de eu começar a apostar em cavalos. Impossível.
_ Acho que Holmes andou passando mais tempo discutindo com você, do que resolvendo um caso. – O que? Não... Ele discute comigo, durante os casos. Nunca que discutir comigo seria mais interessante para ele do que um caso.
_ Mas é claro que não! Que besteira Watson...
_ Não é besteira Anne. Posso não entender de lógica como você e ele, mas... Assuntos do coração... Sentimentalismo como ele diz. Disso eu entendo. Qualquer idiota sabe o que está se passando nesta casa, desde o dia que você chegou.
_ Oh não! Todos descobriram sobre meu plano para jogar Sherlock Holmes no rio?! Céus Watson, isso é mesmo alarmante!
_ Não é brincadeira Anne. Eu o conheço a mais tempo do que você e entendo que...
_ Entende o que?! Sei aonde você quer chegar Watson... E peço para que não se esqueça sobre quem está falando.
_ Por mais que ele sempre tenha dito que desprezava... O amor. Ele não deixa de ser um ser humano Anne. Talvez o motivo de todo este desdém, seja o fato de nunca ter encontrado...
_ Encontrado uma mulher que o intrigasse?! Mentira... Ele encontrou sim. Ou por acaso você acha que eu não sei como ele se dirigia a Irene Adler?!
_ Na verdade, Irene e Holmes sempre foi mais uma competição do que amor. Já você...
_ Watson! – eu estou prestes a explodir. Já teria, mas, ele não sobreviveria da mesma maneira que Holmes sempre faz. – Por favor! Chega! Por favor! – ele se calou. Aquilo parecia tão absurdo para mim. Irene e Sherlock era apenas uma competição. E eu? O que eu tenho haver nessa história?! Eu também competia com Holmes. Nossas discussões eram competições... Não. Não eram.
Toda vez que discutíamos, era sempre o mesmo assunto. Mulheres e suas futilidades. Depois, o assunto mudava sempre para uma única mulher... Eu.
_ CONSEGUI! – eu também acho...
_ Ah Holmes, saiu do seu covil finalmente.
_ O que foi que você conseguiu? – todos estão curiosos.
_ O cheiro na boca da senhorita Gautier. Eu lhe disse Watson, aquele dia, que parecia familiar. E era. Bela Dona!
_ Uma erva usada como sonífero, mas...
_ Se usada em excesso... Serve como veneno. – completei.
_ Exatamente! Tudo indica que ele colocou excesso de Bela Dona na bebida da senhorita Gautier, antes de acertá-la com o machado.
_ Mas, se ele já havia a envenenado... Por que o machado?!
_ Despistar. Não havia manchas de dedos no cabo, o nosso homem usava luvas. Mas, isso não consegui explicar o cheiro de Bela Dona também estava impregnado na lamina da arma.
_ O corte foi feito abaixo do peito dela. Bem próximo ao estomago... Talvez, nem todo o veneno tivesse sido digerido. Leva tempo para causar o efeito da morte. Tenho a resposta para a minha pergunta e não é despistar Holmes. Minha teoria diz que mesmo com a demora do efeito da morte, ela já estava entorpecida. Então, discretamente alguém levou o machado para o assassino. Ele a matou e ao fugir, deixou o machado, ao que me parece, bem debaixo da janela. Um descuido, mas, as mentes criminosas nem sempre são as mais brilhantes.
_ Quem teria levado?
_ Causa-me desgosto em admitir, mas, acho que uma mulher ajudou neste caso. Charlotte Craiven. Com certeza mentiu sobre estar de serviço e sobre não ter escutado nada. Ajudou o assassino.
_ Mas então, por que ela teria vindo relatar o ocorrido? – perguntou Watson confuso.
_ Aí sim, foi para despistar. Prostitutas, às vezes, também são ótimas atrizes. Agora só temos que checar a lista de clientes da senhorita Gautier e prender o culpado!
_ Bravo Anne! Bravo! – Sherlock Holmes correu ate mim e me rodopiou no ar, como se eu fosse uma criançinha. Confesso que fiquei até feliz com essa demonstração de admiração. – Você me surpreende a cada dia minha cara! Trabalhou mais rápido que eu! E usou meu método de dedução. Na verdade, não me lembro de tê-lo questionado antes.
_ Não na sua frente. – eu ri. – Bem... Sempre ouvi dizer que o melhor aluno é aquele que questiona os métodos de seu professor e que o melhor professor é aquele que inspira o aluno. – me esquecendo completamente que ele ainda tinha minhas mãos nas dele, terminei meu pensamento. – Você tem sido um ótimo professor Holmes, melhor do que Poe. – Watson olhava para nós sorrindo. Sherlock sorriu e soltou um riso abafado. Ergueu minhas duas mãos e as beijou.
_ Acredite, tem sido uma honra e um prazer ser seu professor. Embora, eu acredite que tenha aprendido mais com você, do que o contrário. – eu sorri, corando. Ele soltou minhas mãos, meio que a contragosto e eu olhei para Watson, censurando aquele tom de “Eu não disse?”.
_ Eu acho melhor descer e ver se a Sra.Hudson não precisa de ajuda. Com licencia. – e sai andando dali, tentando tirar a sensação do toque das mãos de Holmes nas minhas da minha cabeça.
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