Quando abri os olhos de novo, estava tudo escuro. Era noite.

            Sentei-me depressa e minha vista embaçou. Por um momento, pensei ter visto uma ave imensa, mas, ela desapareceu com a mesma rapidez com que surgiu e conclui que era apenas fruto da minha cabeça confusa.

            Estava me sentindo realmente péssima.

            Ainda estava no carro, mas alguma coisa mudara. Olhei para Percy, apenas olhou para mim e sorriu. Mas, era um sorriso forcado, como ele estivesse se obrigando a mostrar que estava tudo bem, mas não estava.

            Olhei então pela janela. Não parara de chover.

            _Peter? Percy? Annabeth? Está tudo bem?

            _Tudo ótimo. Por que a pergunta?_Era Peter.

            _Nada._ Falei, finalmente me colocando sentada, tirando a cabeça do ombro de Percy.

            Tudo permaneceu silencioso por uns dez minutos, quando Olivia começou a chorar.

            _Calma, calma._ dizia Annabeth, tentando controlar a garotinha.

            _É fome!_ Falou Peter.

            _Não, ela deve ter sujado a fralda._ sugeriu Percy.

            _ Ela está com cólica!_ Falou depressa tia Sally.

            _Deixem de ser bobos! Ela está com sono!_ Disse eu.

            _Certo, Alice. Como você sabe?_ falou Annabeth. 

            Dei de ombros.

            Annabeth entregou Olivia para Percy, que aninhou a menina e ela finalmente dormiu, deixando o silencio no ar de novo.

            Peter pigarreou.

            _Que foi?_ era papai.

            _Nada…

            Comecei a encarar a paisagem por sobre o ombro de Peter, que tinha colado na janela. A incessante chuva não parava e eu já estava começando a me preocupar. As chuvas de verão normalmente são rápidas.

            Mas, enquanto começava a pensar nisso, o carro parou.

            _Chegamos?_perguntei.

            _Sim, chegamos. Só que não ao acampamento. Chegamos ao lugar onde vamos morrer!_ gritou Peter, olhando, aterrorizado para frente.

            Segui seu olhar e entendi o que ele queria dizer com aquilo.

Merda!, pensei.

Amaldiçoei-me mil vezes.

            Como eu podia ter sido tão burra a ponto de não ter matado a Quimera? Essa coisa era resistente. Não morria nunca!

            E como eu podia ter tão azarada a ponto da Hidra estar na minha frente? Inteira e com todas as suas cabeças? Não podia simplesmente morrer e nos deixar em paz?

            Mas acima de tudo, senti pena do Percy. Já era a quarta vez que ele lutava com o Minotauro.

            Os três monstros estavam lá. Prontos para lutar. Enquanto isso, dentro do carro, nós tínhamos dois mortais, um bebê e quatro meio-sangues, sendo que só dois deles estavam armados (eu e Percy).

            Todos nós saímos do carro correndo, Olivia, ainda dormia.

            Eu, como não sou burra nem nada (e tenho certa experiência com isso) falei para todos pegarem suas malas.

            Assim que saímos. A Hidra pisou em cima do carro.

            Sorte que tínhamos saído.

            Percy se abaixou e abriu a mochila.

            _Percy, o que você está fazendo?_perguntou Annabeth.

            Ele continuou mexendo na mochila. Pegou alguma coisa, e a entregou a Annabeth.

            _Toma.

            Ela examinou o que tinha em mãos e entendeu o que ele queria.

            _Tem certeza?

            _Mais do que já tive minha vida inteira.

            _Percy…

            _Vai logo, Annabeth!

            Ela começou a chorar. Como colocou o boné na cabeça e ficou invisível junto com Olivia.

            Entendi o que ele queria. Queria proteger seu amor e a filhinha. Foi um gesto nobre.

            Mas, ainda tinha a tia Sally e papai.

            E Peter, não podia me esquecer de Peter, que apesar de saber fazer plantas crescerem do nada, era meu irmãozinho.

            _Di immortales!_ gritei._ Percy! Faça alguma coisa!

            O Minotauro estava atacando meu pai e tia Sally.

            Percy lançou um olhar preocupado para mim e correu salvar nossos pais.

            Enquanto isso, Peter e eu começamos a lutar contra a Quimera e a Hidra.

            Olhei para Peter, o encorajando. Depois, voltei minha atenção para os dois monstros.

            Peguei meu chicote e com um grito de guerra, ataquei a Quimera (a odeio profundamente. Eu não consigo matar essa coisa!) deixando a Hidra para Peter.

            Chicoteei a Quimera, que teve seu corpo de cabra ferido. Alice, 1; Quimera, 0.

            O monstro avançou com seu rabo de cobra me olhando feio, como se pudesse me atacar a qualquer momento. Apenas olhei feio para ela.

            Estava decidida a fazê-la sofre antes de mandá-la para o Tártaro.

            Da segunda vez, acertei a boca de leão dela.

            Mas, de algum modo, a Quimera se atirou sobre mim e com suas patas gigantes, acertou meu ombro esquerdo. Ponto. Alice, 2; Quimera,1.

            Quimera rugiu e, mas uma vez, segurei firme o chicote e me concentrei. Passei toda a minha força para ele, fiquei mais poderosa.

            Com um grito de fúria, me atirei sobre a Quimera e (não me pergunte como) cai sentada sobre ela.

            Sua cabeça de cobra tentou me picar, mas, justo nesse momento, me joguei para o lado e cai de cima dela, fazendo com que picasse a si própria.

            Ela urrou de dor.

            _Ei, Quimera! Vem me pegar!

            Pouco antes de eu atacar, ouvi uma voz muito distante, como se não pertencesse a esse mundo.

            _Acabei com o Minotauro!!

            Lutar, era isso o que eu ai fazer. Matar a Quimera era o que importava, o resto podia esperar.

            Ferida, a Quimera cambaleio tentando chegar até mim. Não dei tempo a ela.

            Com a minha força dobra e o chicote aumentado, chicoteei ela quantas vezes eu pude. E quando cansei de brincar, soltei um último grito e com toda a minha força, acertei o focinho do monstro, que, desapareceu em poeira.

            Fim de jogo. Alice, 5; Quimera, 1.

            Aos poucos, senti o meu lado divino retornar ao seu lugar, o chicote voltou ao tamanho normal. Soltei-o. Caindo de joelhos no chão.

            Respirei fundo. Puxei todo o ar que podia e me levantei. Peguei o chicote e tirei a lama dele.

            Ainda chovia.

            Peter e Percy vinham em minha direção.

            _Alice!_ disse Peter, me abraçando._ Tive tanto medo. Achei que você fosse morrer.

            _Quando é você quem abraça pode, né?

            Ele me soltou na hora.

            Papai chegou logo depois e me abraçou.

            Mas o abraço mais forte de todo, com certeza, foi o da tia Sally.

            Senti-me sonsa.

            Olhei para o meu ombro esquerdo. Sangue. O curativo tinha se desfeito e agora me sentia fraca. Senti meus joelhos cederem.

            Percy e Peter me seguraram, um de cada lado. Se não, teria caído no chão.

            _Matamos a Hidra._ falou Percy, como isso não fosse óbvio.

            _Certo.

            _Agora, vamos para o acampamento. Papai e tia Sally vão pegar carona com as Irmãs Cinzentas.

            _Quem?

            _Três irmãs que tem um táxi, se eu entendi direito. Elas dividem um olho e um dente.

            _As Gréias.

            Percy assentiu.

            _Peter. Poderia levar a Alice para o acampamento? Vou chamar o táxi.

            _Certo.

            E assim, Peter pegou nossas malas e me ajudou a subir a colina. Olhando uma última vez para trás, vi um táxi cinza parado no meio da rua. Papai e tia Sally olhando preocupados um para o outro e Percy conversando com as três estranhas motoristas do taxi.

            Depois, continuei subindo.

            Descemos, Peter me levou para a Casa Grande e bateu na porta. Quíron atendeu.

            Devia ter veneno nas garras da Quimera. Comecei a piscar sem parar e assim que vi o rosto assustado de Quíron, apaguei.