Eram seis da manhã. Não acreditava que tinha acordado a esse horário. Estava tentando domar meus cachos, que por algum motivo estranho, não queriam parar de jeito nenhum no lugar.
De repente, eu vi um arco-íris se formar ao meu lado e então vi Orb, o filho de Hécate.
_Alice? Não! Eu não queria falar com você! Eu queria falar com a Alicia C. James, filha de Hefesto! Não você! Ah, que droga, gastei um dracma à toa!
_Orb? _ olhei para ele confusa, depois, disse, em tom de urgência._ Orb! O que está acontecendo aí!!
Eu podia ouvi os tão conhecidos barulhos de espada contra espada. A testa do menino estava banhada em sangue e eu ouvia gritos de pessoas em agonia.
_Está acontecendo uma batalha._ disse ele, sem rodeios. E vendo que eu olhava para sua testa completou._ Foi minha irmã querida, a Keila Darwin. Muito simpática ela não? Ela me ama!_ então ele passou a mão a testa e o olhou o sangue, fazendo uma careta._Não para! Que saco!
_Ah, meus deuses! O Peter tá bem? E a Olie? Ah, meus deuses. E a Annabeth, o Percy? A Íris, a Diana e a Sunny. E… ah, meus deuses, o Dimi!! Ah, meus deuses!
_Quer parar de falar isso?
Respirei fundo, tentando não parecer a beira de um ataque histérico e disse:
_Está tudo bem?
_ O que você acha? Estamos em guerra!!
Isso foi o bastante para eu começar a xingá-lo.
Vi Orb revirar os olhos e então a sua imagem sumiu.
Estava brava com ele. E preocupada com os outros. E apaixonada pelo Art. E confusa por causa de todos os sentimentos dentro de mim que se misturavam…
Espera, eu já ouvi isso antes? Essa descrição…
Ah, sim. Éris.
Éris, a deusa da discórdia que estava do lado de Cronos.
Pensar neles, me fez pensar nos semideuses que eu sabia que eram maus.
Emily Sathur.
Paul e Emmett White.
Keila Darwin.
Theodor Galen.
Uma tal de Jennifer sei-lá-o-que.
Uma garotinha de mais ou menos 9 anos que parecia ser filha de Afrodite e que mandou matar a mim e ao Orb quando estávamos na ilha do titã.
E também tinha Will Solace, que na verdade era um espião.
Tinha bem mais gente, mas esses eram os que me pareceram ter mais importância, meio que pareciam mandar nos outros.
Desistindo de domar meu cabelo, simplesmente peguei uma piranha de cabelo e o prendi em um coque, deixando alguns cachos mais teimosos soltos.
Art estava sentado olhando pela pequena janela.
Aproximei-me dele.
_Nuvens._ ele simplesmente disse, quando percebeu minha presença._ É tudo o que posso ver. Nuvens.
Coloquei a mão em seu ombro.
_Eu sei.
_Nuvens cinza. Cinza… Como os seus olhos.
Fechei os olhos.
_Eu sei.
_Como os olhos da garota que matou Melanie.
Abri os olhos e vi quando ele levou uma mão ao rosto, impedindo uma lágrima de escorrer pela sua bochecha.
_Ah, Art.
E eu lhe abracei.
***
Estávamos em um ônibus. Tinha acabado de contar sobre a mensagem de Orb. E os olhos de Cristal se arregalarem mais do que já tinha visto até em tão.
_Orb? Ele está bem?
_Ele tinha um corte na testa e disse algo sobre o corte não parar de sangrar.
_Mas ele está bem, não é?
_Acho que sim, continua o mesmo idiota de sempre.
Vi que Cristal relaxou um pouco e me perguntei o porque disso, mas antes que eu tivesse tempo o suficiente para pensar melhor, Yasmin disse:
_Sabe o que eu acho? Acho que devíamos nos concentrar na nossa missão e deixar os assuntos do acampamento para depois. Eles são em bem mais do que nós, sabem se virar.
_Estou um pouco preocupada. – disse.
_Com o que Alice? – perguntou Art.
_ Eu acho que até agora Cronos não sabia que nós estávamos indo para salvar Apolo e Artemis. Acho que ele pensava que estávamos no acampamento. Mas não estamos e sei que os meio-sangues que atacaram o acampamento vão descobrir qual nossa missão. Ou seja, muito provavelmente teremos muito mais problemas agora. Seremos atacamos muito mais vezes.
_Mas desta vez nós não estaremos despreparados. E além disso, agora nós temos um ciclope conosco. Monstros não gostam de ciclopes.
_Nem você, não é, Apolo? Você não gosta nenhum pouco do Bronte. – disse Yasmin, divertida. – Mas eu adoro ele. Ele é muito hilário.
_Só para você… - disse ele entre os dentes.
Depois disso, a conversa foi encerrada, cada um de nós cinco se encostou no seu assento. Eu estava olhando pela janela, distraída e imersa em meus próprios pensamento.
Mesmo que monstros apareçam agora, estaremos preparados. O Art tem o arco-e-flecha dele; a Cristal, uma adaga; Yasmin, sua magias; e eu tenho o meu chicote e meus dois punhais.
A Alice fica mais linda a cada dia que passa.
Ok, isso foi estranho. Eu juro que não pensei nisso.
O quê?
Alice? É você? O que você está fazendo na minha cabeça?
Art? Ah, não. É aquela conexão mental de novo! Escute, seja lá como é que nós fazemos isso, não é uma coisa boa. Eu gosto de ter privacidade pelo menos na minha mente.
Olha quem fala, não foi você que acabou de pensar que…
Que eu fico mais linda a cada dia?
Isso.
Escute, eu te acho um fofo e te amo muito, mas não gosto dessa conexão.
Eu não disse que gostava.
Sei disso.
Então não brigue comigo. Eu não sei como parar isso.
Nem eu.
Então vamos conversar mentalmente para sempre?
Da outra vez a conexão parou quando começamos a falar, eu vou tentar.
Tá bom.
Virei a cabeça para Yasmin e disse:
_Então, está com medo?
_Não me faça rir. – disse ela, sorrindo.
_Eu estou, um pouco. Mas não por mim, pelas pessoas que eu amo.
Yasmin abaixou os olhos e pude ouvi-la engolir em seco. Ela respirou fundo duas vezes e piscou sem parar antes de voltar a me olhar e então disse:
_Eu sou uma estúpida.
Fiquei surpresa e confusa com o que ela disse. Tá, tudo bem, ela podia ser uma estúpida às vezes, mas por que ela estava me falando isso agora?
_Eu sou uma estúpida. – ela repetiu. – Eu sou uma estúpida, uma egoísta, uma… Ah! Você é tão corajosa, tão nobre, tão… correta! Eu só consigo pensar em mim mesma! Eu fico pensando no que você já fez, pelo Apolo, pela Cristal, por mim! Sei que você entraria em uma guerra sem pensar duas vezes se algum de nós estivesse em perigo. Eu… Eu sou uma estúpida!
Vi as lágrimas em seus olhos e Yasmin tentando contê-las, mas fracassando completamente.
Por alguns momentos eu fiquei simplesmente sem saber o que fazer. Yasmin sempre se demonstrou forte, impermeável, (tirando quando ela fala do Christian) e ali estava ela, deixando que todos os murros, que ela construía envolta dela, caírem, e eu ver a pequena, insegura e frágil Yasmin que existia dentro dela.
_Eu sou uma idiota! Uma imbecil! Eu me odeio. – ela fungou.
Abracei-a. E comecei a murmurar palavras sem nexo e sem sentido, apenas para acalmá-la.
Yasmin fungou mais uma vez antes de se afastar de mim.
Seu rosto estava horrível. O nariz estava vermelho e a maquiagem estava borrada. Não me lembrava de ter visto a Yasmin mais desarrumada antes.
_Eu estou horrível, não estou?
_Não. – menti. – Está linda, você só precisa…
_Vou ao banheiro.
Yasmin pegou a bolsinha dela (que tinha um feitiço de extensão e era ligado diretamente com o armário dela no acampamento) e se levantou.
Cristal e Art estavam nos assentos depois do corredor. Ela olhava sonhadora pela janela.
_Deu certo. – disse para ele, só mexendo os lábios.
_O que aconteceu com a Yasmin? – ele tinha a testa franzida e também falava apenas mexendo a boca.
_Nada.
Algumas horas se passaram sem que nada de novo acontecesse. Yasmin tinha voltado e parecia ter reconstruído os muros envolta dela.
Acabei adormecendo depois de um tempo.
Meus sonhos foram perturbados por imagens de guerras. Sangue. Muito sangue para todos os lados. Pessoas caídas. Mortes.
Hora de acordar. Seus amigos precisam de você.
Abri os olhos e vi que o ônibus havia parado. Olhei para Yasmin, Art, Cristal e Brontes.
_Por que estamos parados? – perguntou Yasmin. – Ainda não podemos ter chegado.
Dei de ombros.
_Talvez tenha furado um pneu…
Mas no fundo eu sabia que não era isso.
_Acho bom nos prepararmos. – disse, olhando com certa preocupação, para os outros.
Nesse ponto o ônibus começou a tremer.
Olhei pela a janela e vi vários monstros horríveis, que me fizeram gelar até a espinha.
Não por causa dos monstros. Mas pelo significado deles estarem ali.
Eram 5 ou 6 garotas nada bonitas. Eram pálidas como papel e tinham uma perna marrom, peluda com o casco de um burro; já a outra era como uma perna humana, mas era feita de bronze. Elas tinham os olhos vermelhos e os caninos bem maiores do que os outros dentes.
Eram empousas.
Hécate tinha entrado na guerra.