Eu lembro de ter mudado de posição várias vezes seguida. As vezes eu me esparramava na cadeira, balançava de um lado pro outro, mexia no cabelo, andava ao redor do barco, cantava algumas musiquinhas, voltava pra cabine, cochilava, e acho que cheguei a ver o dia amanhecer.

Meus olhos estavam bem pesados até, já deviam ser quase três da manhã e eu tinha o propósito ainda de ver o sol nascer, mas acho que o sono me pegou bem antes disso e eu dormi na parte da frente do barco, nas laterais acolchoadas onde na noite anterior eu conversava com Justin e com o Golfinho Jeff.

Não sei quanto tempo fiquei dormindo, mas acordei com um barulho gostoso de água chacoalhando. Sentia uma brisa gelada e muito gostosa no rosto, fui abrindo meus olhos aos poucos e a primeira coisa que vi foi o céu, ele estava azul e com poucas nuvens, gaivotas já circulavam e faziam suas manobras.

Eu me sentei no acolchoado do barco e olhei pro lado, estávamos no lugar mais lindo que eu já tinha visto em minha vida. O mar tinha um leve tom de azul cristalino onde podíamos ver o fundo, e de onde eu estava eu via uma estrela do mar bem longe - deveria ter seis metros de profundidade, pelos meus cálculos - o barco estava parado ali, o sol refletia na água e Justin nadava pra lá e pra cá feliz.

Não havia ilhas próximas, estávamos em alto mar. Mas era totalmente diferente da água azul escura e monótona de antes, era uma água de tirar o fôlego. Eu via cardumes de todas as cores e espécies nadarem pra lá e pra cá sem se importar com os movimentos bruscos de Justin.

Conseguia ver dali de cima corais de peixes e outros animais marinhos que eu não sabia o nome, dei um sorriso ao ver aquilo e senti o desejo de me tacar ali subir descontroladamente pelo meu corpo.

Andei pelo barco até mais próximo de Justin, assim que ele me viu ele abriu um sorriso:

– A água esta uma delícia! - ele sacudiu a cabeça pro excesso de água sair do seu cabelo.

– Como encontrou este lugar? Estou me sentindo no Caribe - eu abri um sorriso maior, ainda mais encantada.

– Quase isso.. - ele deu um sorriso que fez meu coração saltar. O que tinha naquele garoto pra fazer isso com o coração de qualquer menina?! Ah que merda, ele já tinha namorada, era muito irritante e eu ainda sentia certos calafrios só de ver o sorriso dele?! - E sobre a sua pergunta de como encontrei esse lugar.. Bom, a correnteza que nos trouxe pra cá e eu não quero saber como, eu só sei que está bom aqui e você deveria aproveitar um pouco também, eu já ancorei o barco e acho que podemos curtir um pouquinho.

– Sim, nós merecemos - eu tirei meu vestido que agora já estava seco, Justin nadou pro lado para que desse espaço pra eu pular, eu subi no parapeito do barco e olhei ao redor tomando fôlego pra poder pular e foi ai que eu vi uma sombra se mecher na água.

Meu sorriso foi embora na hora, Justin percebeu quando meu sorriso murchou e balançou os ombros:

– Amarelou?!

– Justin.. - eu falei olhando aquela sombra sinuosa que se mechia na água. Eu não conseguia ver o que era porque estava um pouco longe de mim, mas talvez se eu andasse um pouco pro lado eu chegava mais perto daquela figura e foi isso que eu fiz.

Sentia meu coração na boca, eu não sei o que eu estava pensando. Justin falava algumas coisas que meu cérebro não fez questão de raciocinar, eu tinha que ver o que era aquilo antes que fosse..

– JUSTIN, SAI DAÍ! - eu berrei histérica, o que por sinal eu sei fazer muito bem.

Justin levou um susto e olhou para onde eu estava olhando, vi o terror em seu olhar. Era um tubarão, eu não sei definir qual tipo era, mas de qualquer jeito era um tubarão com dentes afiados a procura de carne.

Justin nadou super rápido, o mais rápido que pôde. O tubarão vinha logo atrás, deveria estar sentindo a movimentação intensa dos pés de Justin. Ele se apoiou sobre o parapeito do barco, agarrei em seus braços, o tubarão deveria estar apenas três metros dos pés dele, e eu o puxava com toda força.

– Puxa, Puxa!! - ele gritava, eu o segurei pelos dois braços e flexionei meu corpo pra trás com toda a força. O corpo molhado de Justin deslizou sobre os canos de ferro que faziam a segurança da lateral do barco e caiu sobre o casco do navio.

Meu corpo bateu com força na cabine e eu cai sentada, meu coração parecia ''pular'' da boca. Justin não quis se levantar, ele ficou deitado no chão em choque. Eu passei a língua em meus lábios secos e fiz com que meu corpo se levantasse pra ajudar o Justin. Me ajoelhei ao seu lado e ajudei-o a levantar:

– Justin! - eu o saculejei e fiz com que ele sentasse no acolchoado do barco - Você está bem?!

– Foi por pouco.. - ele cuspiu as palavras no meio de um suspiro. Nós dois tivemos a idéia de olhar pra trás e o que parecia a cena perfeita de uma ilha do Caribe, agora estava banhada por um medo de ambas as partes.

Lá estava o tubarão, ele estava circulando nosso barco de forma ameaçadora.

– Temos que dar um jeito de sair daqui - ele disse percebendo a mesma coisa que eu - Ele pode atacar no casco do barco.

– Seria perca de tempo, você não acha? - Eu perguntei olhando-o - Ele é muito pequeno pro barco.

– Prefiro não arriscar - Justin se recuperou do susto e correu pra trás do navio, ele estava de sunga mas reprovei meus pensamentos maliciosos logo, quando eu percebi a gravidade do assunto. – Se ele conseguir acabar com o barco nós vamos parecer sardinhas na boca dele.

Justin começou a puxar a âncora, o que assustou o bicho de nadadeiras assustadoras. Ele se afastou um pouco e com muito esforço Justin tentava tirar ela toda de baixo da água.

– Sophia! - ele me chamou parecendo que fosse um grande trabalho falar meu nome tentando puxar aquele peso todo - Ergue as velas pra que continuemos a andar com o barco já que o motor está ruim.

Fiz exatamente o que ele mandou, subi com dificuldade por cima da Cabine e ajeitei as velas. O vento estava fraco mas foi o suficiente para que nos arrastasse aos poucos para longe dali. Lá de cima eu fiquei olhando Justin, ele já tinha tirado a âncora toda do mar, e agora estava debruçado no barco olhando o barco se afastar da bonita praia e deixando o tubarão para trás.

Agora daqui de cima eu via seu corpo, e desta vez analisava cada curva bem feita dele. Ele parecia ter sido desenhado, tinha as costas largas e com curvas perfeitas, sua pele era bem clarinha, seu cabelo loiro.. e eu me imaginava automaticamente nos braços dele, mordi meus lábios reprovando os pensamentos. Talvez eu não fosse bonita mesmo, meu espelho nunca mentiu pra mim, sempre me mostrou na lata o quanto eu era estranha. Mas é culpa da minha mãe que dizia que eu era linda, e eu inocente, acreditava naquelas coisas.