Uma noite só sem trocar as roupas de baixo não iria nos matar, vá lá. É claro, era nojento, mas, falando sério, dá para ver do que somos capazes para ficar com eles. Bem, não, ficar com eles sem trocar calcinha – isso soa estranho –, mas... você entendeu! É nessas horas que me lembro do que minha mãe falava quase sempre: “Mulher é bicho besta”. Coloca besta nisso.

Por sorte, nós estávamos com nossas bolsas e nossas nécessaires, logo, tínhamos nossos itens de sobrevivência lá. Por muita sorte mesmo, porque eu raramente carrego bolsa, mas, hoje de manhã, eu simplesmente fiquei com vontade de colocar minha Mulberry preta no ombro (que, aliás, era das minhas favoritas).

- O banheiro é logo ali. – Onew nos informou entregando toalhas limpas para nós. – Nós vamos procurar pelos sacos de dormir para vocês.

- Obrigada, Onew! – agradecemos e entramos no banheiro assim que ele deu as costas.

Nos esprememos no banheiro para despejar – não literalmente – nossos pertences na bancada da pia. Mag tinha trago sua nécessaire de bolinhas rosa, Ann a sua cinza com xadrez preto e a minha era azul de ursinhos, sushis e cerejinhas com kanjis.

Nós três carregávamos praticamente as mesmas coisas dentro de nossas nécessaires: creme de mão, lip balm, elásticos de cabelo, escova e pasta de dente, pente, protetor solar, espelho de bolsa, lencinhos, desodorante, porta-perfume de bolsa, lencinhos anti-oleosidade, sabonete líquido, e um mini-kit com algumas poucas maquiagens. Sim, tudo isso.

- Nós estamos todas enroladas. – disse. – Esquecemos de pegar as roupas para nos trocarmos aqui.

- Você está organizada, é isso mesmo Sunie?

- Acho que a pancada mexeu um pouco com ela... – Ann riu.

- Ann! – censurei, rindo enquanto pegava minha toalha provisória para tomar banho no box. – Mas então, – continuei. – creio que a gente vá ter que escolher as roupas, e para isso... – deixei minha voz com um tom sacana pairar no ar enquanto fechava a porta do Box e abria o chuveiro.

- Nós três de toalha passando para o quarto. – Maggy finalizou rindo também.

- Pelo menos não precisamos passar pela sala! – Ann disse.

- No final das contas não adiantou muita coisa trazermos as coisas para cá porque vamos nos arrumar no quarto... deles? – estava relaxando com a água quentinha.

●

Nós meio que tivemos que chamar o Onew (como líder, foi o único que nos deu segurança para que colocássemos só a cabeça para fora do banheiro e falássemos para ele nosso problema). Ele nos avisou, rindo, que as roupas ficavam em outro quarto, no fim do corredor, onde era o closet. Onew voltou para a sala e fomos correndo uma atrás da outra, rindo, enroladas nas toalhas e carregando nossas bolsinhas até o quarto um pouco mais a frente do corredor.

Entramos no quarto/closet e fechamos a porta.

- Meu Deus, tomara que eles não nos expulsem, nós estamos sendo...

- Intrusas. – Ann finalizou por mim.

- Totalmente abelhudas.

- Abelhudas. – repeti rindo de Mag.

Havia um monte de roupas. Sério. Mesmo para cinco garotos, era roupa pra caramba. E estava tudo super arrumado em cabides e gavetas. Nós começamos a bisbilhotar mais pelas roupas, tentando descobrir quais eram de quem.

No fim deixamos de nos importar com os donos das peças e vestimos algo que nos agradasse. Nós ficamos com nossas calças jeans novamente (planejávamos só tirá-las na hora de dormir) e pegamos suéteres. Fiquei com um cinza simples que, de tão grande, quase batia nos meus joelhos, Mag gostou de um vermelho escrito “Billionaire boys club” em amarelo e Ann quase quis ficar com o Adidas para ela. Adivinha por que ela gamou no suéter? Era da coleção Adidas e Star Wars e o desenho era de um AT-AT.

Terminamos de nos arrumar e fomos para a sala onde os garotos estavam. Onew (mais uma vez tão receptivo, mas ainda assim meio atrapalhado) estava procurando algum número de pizzaria ou delivery na lista telefônica. Key estava no banho e os outros estavam esparramados no sofá, e logo se concertaram quando nós aparecemos.

- Não se preocupe Onew. Eu posso dar uma olhada na dispensa e tentar preparar algo? – Anna sorriu.

- Sério?

- É. Se não se incomodar, claro...

- Ah, não, não. Pode ir, obrigado. – ele abriu seu sorriso fofo.

Anna migrou para a cozinha e Mag também foi atrás. Eu até pensei em ir, mas minha ajuda na cozinha nem sempre é um bom auxílio. Peguei minha câmera na bolsa e fui sentar-me no sofá com os garotos. Sem ter mais nada o que fazer enquanto eles assistiam um dorama na TV, fiquei revendo as fotos e excluindo algumas que não tinha gostado. Já deveria estar excluindo a terceira foto (quando as fotografias são de paisagens eu raramente excluo muitas) quando  senti o olhar de Jonghyun do meu lado direito sobre minha câmera. Olhei para cima para confirmar.

- Você é boa mesmo. – ele fez bico com a boca.

- Ah, obrigada. – eu sorri, voltando para as fotos.

●

Ann e Mag já estavam nos matando na sala com o aroma da comida quando, finalmente, soltaram um “o jantar está pronto”. Os garotos literalmente pularam de seus lugares para a cozinha. Ann tinha preparado sua especialidade: macarronada com atum.

Depois da janta, eu sabia que não ia passar despercebida, Ann me mandou lavar a louça suja.

- Awww. – fiz eu.

- Vai logo, Sunie, você não fez nada!

- Mas se eu faço vocês dizem que eu estrago. – choraminguei.

- Sunie. – ela me mandou um olhar intimidador.

Me levantei e fui até a pia. Quando fui morar com as meninas pensei que não ia ter mais mãe para encher meu saco para esse tipo de coisa, mas, enganada eu estava, Ann é como minha segunda mãe.

Da cozinha, de costas para a sala, eu ouvi os meninos falarem com Minho, sem nem tentarem diminuir a voz:

- Vai lá ajudar a Sunie, Minho.

- Eu?

- Você.

Acho que Minho suspirou antes de se levantar vindo até meu lado na pia. Eu evitei olhar para cima e só continuei esfregando os pratos.

- Posso ajudar secando e guardando? – ele murmurou ao meu lado. Foi mais um murmúrio de vergonha porque ele sabia que, da sala, todos estavam de olho em nós.

- Claro. – foi a única coisa que disse até o final da lavagem.

●

Passavam das onze da noite e estávamos eu, Minho, Onew e Jonghyun na sala assistindo TV. Taemin tinha levado Anna para ver a coleção de mangás deles e Key chamou Mag para navegarem na internet. As duas estavam voltando e passaram na sala para me chamarem para dormir. Eu não estava com sono, mas as acompanhei até o quarto-closet. Tinha três sacos de dormir no chão e três cobertas em cada um.

Nós tiramos nossas calças e ficamos com os suéteres, enroladas agora nos cobertores prontas para dormir.

- Boa noite meninas. – Anna disse antes de se virar para dormir.

- Boa noite. – eu e Mag respondemos juntas.

Eu fechei os olhos e até tentei mesmo dormir, mas minha cabeça ainda estava a mil e meu coração também não havia se aquietado, portanto, eu não conseguiria dormir tão cedo. Eu pensava em tudo. Desde a tarde no acidente com Jong até o momento que meus olhos tinham encontrado os de Minho. Até mesmo o Ed tinha passado pelos meus pensamentos naquele momento, e eu não gostei tanto dessa lembrança.

Ed fora um cara que se apaixonou por mim e que fez de tudo para que eu o amasse também assim que soube que eu estava meio dramática por causa do Minho que tinha ido embora. E eu, sinceramente, sabia porque ele tinha tomado parte dos meus pensamentos. Apesar de ter reencontrado os garotos e tal, eu não tinha certeza nenhuma dos sentimentos atuais do Minho para comigo, então eu pensava que talvez o único cara que ainda goste de mim seja o Ed, lá em Manhattan. Mas depois do fora que eu dei nele, acho que não vai mais estar tão interessado em mim. E eu não consigo gostar dele da mesma maneira que eu gosto do Minho. O que eu sinto pelo Ed nunca chegará em, no mínimo, 1% de meus sentimentos pelo Choi, e isso talvez nem seja exagero meu.

Eu abri os olhos e vi, pela brecha da porta, que a luz da sala ainda estava ligada. Pensei que talvez fosse Minho, já que todos tinham ido dormir – até Jonghyun e Onew que estavam na sala também –, menos ele.

Levantei sem fazer barulho e coloquei o cobertor nas minhas costas, me enrolando nele. Olhei as horas no celular antes de abrir a porta bem devagar na ponta dos pés e vi que já era quase uma da manhã. Fui até a sala enrolada no cobertor. Minho estava deitado no sofá maior com as mãos atrás da cabeça, a TV desligada e só um abajur ligado com a luz bem fraquinha.

Fiquei em pé ao lado da TV por alguns segundos fitando aquele corpo longo e esguio deitado no sofá. Minho percebeu a minha presença e se sentou corretamente no sofá num salto.

- Desculpe. – fui caminhando devagar até ele arrastando parte do cobertor no chão. – Estava sem sono.

- Ah, eu também.

- Posso? – apontei para a parte vazia do sofá ao lado dele.

Ele assentiu com a cabeça, me olhando. Me sentei e coloquei minhas pernas para cima, abraçando-as confortavelmente com o cobertor quentinho ao meu redor.

- Não está com frio? – perguntei sem olhar para ele.

- Um pouco.

Eu olhei para o meu cobertor e depois para ele, abrindo uma parte para entregá-lo. Minho se aproximou mais de mim e abraçou o cobertor ao redor do seu corpo. Nós dois olhávamos para a TV desligada, sem ter o que dizer.

- Porque vocês foram sem se despedir? – deixei sair da minha boca num tom muito baixo, mas não ousei fitá-lo.

- Hã?

- Quando vocês foram embora... e pediram para uma garota nos avisar que vocês já estavam partindo de volta. – eu murmurava.

- Todos nós quisemos ter nos despedido direito, Sun. Nós nem queríamos ter ido embora, mas era preciso. Você não entende?

- Eu entendo. Só queria... só queria ouvir isso de você. Para ter certeza... – suspirei e finalmente olhei para ele. – Eu morri de saudades.

- Eu também. – seus olhos eram dois pontos brilhantes em cima de mim. – Eu só me toquei do quanto estava gostando de você quando nós partimos e eu realmente senti saudades.

Eu tive que sorrir ao abaixar a cabeça.

- Você ainda gosta de mim? – minha voz estava bem baixa, num tom suficiente para que ele, bem ao meu lado, escutasse, e mais ninguém.

- Sunie, a saudade só fez aumentar o que eu sentia por você, você tem alguma dúvida disso?

Eu podia sentir que não era tão fácil para ele dizer aquilo. Assim como não era para mim. Sabe, às vezes a gente realmente sente aquilo e quer que a pessoa saiba, mas a insegurança, o medo de que o que a outra pessoa sinta não seja tão intenso é maior e nos faz temer dizer tudo.

- Mas e você? – ele prendeu a respiração. – Deve ter encontrado algum cara, não é?

- É. – respondi. Eu tremia. Não por frio, mas pelo momento. – Eu encontrei. E ele... ele se declarou para mim.

Minho estava de cabeça baixa com os lábios franzidos numa linha reta sem dizer nada.

- Mas eu não pude ficar com ele.

- Não pôde?

- Não. – respondi. – E nem quis. Porque eu não conseguia deixar de pensar um único dia no cara que roubou o meu coração, e que, por má sorte, vivia do outro lado do mundo e estava muito longe de mim. E que tinha ido embora sem nem deixar um endereço de e-mail ou telefone. E eu tive que esperar até hoje para reencontrá-lo. – eu fiz uma pausa. – Agora, sabe como meu coração está? – arfei.

Minho virou a cabeça para mim me olhando de cima a baixo antes de me puxar para ele e me abraçar.

- Fique quietinha e me deixe senti-lo.

Meu corpo todo pulsava, estremecia. Era como se o gelo e o fogo lutassem dentro de mim para tomar espaço. Era como ter uma febre enlouquecedora ou talvez pior. Bem pior.