Primavera Mentirosa escrita por fosforosmalone


Capítulo 9
Encontros


Notas iniciais do capítulo

Três meses sem postar! Peço desculpas pela demora titânica, mas a vida deu uma acelerada (fora que perdi parte da historia por causa de uma pane, tendo que reescrever). Mas enfim, aqui esta o capítulo.
Espero que gostem, e uma vez mais, desculpem a demora.
Abaixo, um resumo dos ultimos eventos
ANTERIORMENTE EM PRIMAVERA MENTIROSA
A agente Helena Belli anda ao lado do agente George Stewart, um homem gordinho, de cabelos negros, que usa um paletó.
HELENA
Dez anos atrás, uma serie de homicídios ocorreu nesta universidade. Todas as vitimas eram garotas entre dezoito e vinte cinco anos, mais ou menos. O doente estripava as coitadas, e largava por ai, igual a que vimos hoje. A imprensa o apelidou de Jack Calcanhar De Mola. Ele matou quatro estudantes, e então desapareceu.
Helena e George observam um policial retirar o lençol que oculta o corpo de Tina Becker no chão.
Bruce, Isadora, Nick e Judy conversam na lanchonete.
NICK
Só por que alguém é morto aqui dentro, não quer dizer que o cara tenha voltado.
Jack agarra os cabelos de Kelly e bate seu rosto contra o espelho, jogando-a no chão.
Helena, Sage e Ferguson encontram os cadáveres esquartejados de Megan e Nick dentro do carro.
Tony apresenta-se a Helena no restaurante do hotel.
TONY
- Meu nome é Tony Stevenson. Trabalho pra Gazeta De New London. Acho que posso ajudá-la em suai investigação.
Tony aborda Isadora e Bruce na saída do auditório
TONY
Isadora Thompson? Eu sou Tony Stevenson, trabalho pra Gazeta De New London. Foi você que encontrou o corpo de Kelly Wilson, certo?
Isadora recua horrorizada diante do corpo de Kelly no chão.
Isadora continua a conversa com Tony no auditório
ISADORA
Eu não quero falar sobre isso (Diz começando a se retirar)
TONY
Mas Isadora...
BRUCE
Ela disse não. Eu acho que isso basta
Sage e Tony conversam na saída do auditório
SAGE
Lembre-se, que quando encaramos o abismo por muito tempo, ele acaba nos encarando de volta.
Tony encontra a carta ameaçadora de Jack.
Tony e a esposa Valerie discutem.
VALERIE
Você vai acabar se matando, Tony! Mas eu e meu filho não vamos com você!
Tony e Helena conversam no quarto de hotel
HELENA
Falei com Chambers para reforçar a segurança. Vamos torcer para que nada aconteça.
TONY
Se acontecer, posso ter sacrificado meu casamento em vão (Diz tristemente).
Em um ato quase involuntário, Helena estica a sua mão, pegando a de Tony sobre a mesa.
HELENA
Nós vamos pega-lo.
Ela imediatamente se dá conta do gesto, e solta à mão do jornalista.
Bruce e Isadora conversam sentados em um banco no corredor externo.
BRUCE
Você é linda e inteligente, e eu tenho sentido que... Ah droga, chega de enrolar! Eu acho que eu te amo!
Os dois se olham em silencio. A garota parece não saber o que dizer.
BRUCE
Não precisa responder nada. Esquece o que eu disse. Só espero que isso não estrague a nossa...
Ela o interrompe com um beijo na boca.
Sage e Helena conversam no Hotel.
SAGE
- O nome Adelie Parkins lhe diz alguma coisa?
HELENA
A terceira vitima de Jack Calcanhar De Mola em 2001.
SAGE
Mas ela é mais pra você, não é Helena?
HELENA
Minha irmã (completa ela com os olhos raivosos e marejados)
Sobre a lataria da porta, foi escrito com sangue: Eu o batizo Adelie II.
Helena e Sage conversam no hotel
SAGE
Então Jack anda nos observando, e por alguma razão, escolheu você para olhar mais de perto.
Bruce e Sage se encontram na sala de espera da delegacia
BRUCE
Boa noite, Bruce. Temos nos encontrado muito ultimamente.
Helena e Sage andam pelos corredores da delegacia.
HELENA
Quem era aquele?
SAGE
Um garoto que conheci na noite em que Kelly morreu. Tem alguma coisa naquele rapaz.
Ferguson fala com Isadora no quarto dela.
FERGUSON
Sabe se Graham teria algo contra Nick?
ISADORA
Ele ajudou a inocentá-lo. Eu diria que é obvio que ele não tem nada contra o Nick!
Bruce e Isadora conversam na lanchonete. Ele fala exaltado.
BRUCE
Você não leu o livro de Tony Stevenson, leu? Tem uma passagem bem interessante em que ele fala sobre os efeitos que os crimes da Primavera Vermelha tiveram sobre os alunos de New Sharon. Segundo Stevenson, todos desconfiavam de todos. O livro diz que gerar pânico e paranóia podia ser parte do objetivo do assassino. Se for verdade, parece que a historia esta mesmo se repetindo, não é?
Tony observa o pequeno engarrafamento gerado pela fila de carros tentando deixar New Sharon.



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QUARTO DE HELENA: AMANHECER

Helena esta escrevendo em seu Notebook. Após
conversar com Tony no dia anterior, ela voltou para o hotel e dormiu dez horas
seguidas. Ao acordar a meia noite, a morena tomou um banho, e, começou a
trabalhar em um perfil psicológico de Jack. Ninguém ainda havia conseguido
traçar um perfil do assassino. Mas traçar perfis era a especialidade dela.


NOVO DORMITÓRIO

Bruce arruma a mesa do café da manhã. O estudante não esta
mais em seu antigo quarto. Quando Bruce voltou na tarde anterior ao prédio onde residia, o coordenador dos dormitórios o procurou. Ele veio oferecer ao rapaz a chance de trocar de quarto, já que achou que seria difícil para o jovem
continuar dormindo no mesmo local onde o colega assassinado dormia.

Ele não havia pensado nisso, pois a conversa com Isa dominava
sua mente. Mas o jovem concluiu que não se sentiria bem no antigo quarto. Alem
disso, não foi difícil encontrar outro quarto. Um êxodo havia ocorrido em New
Sharon. Vários alunos, e principalmente alunas deixaram a universidade, alguns
por pressão dos parentes, outros por vontade própria.

Á noite, Bruce se mudou para o novo quarto. Alguns rapazes
que haviam ficado o ajudaram com a mudança, muitos querendo descobrir se Bruce sabia algo sobre a morte de Nick. Assim, antes da meia noite o rapaz estava estalado em seus novos aposentos.

Assim que terminou de ajeitar o lugar, o jovem recebeu uma
ligação de Isa. Bruce lhe contou sobre a mudança, noticia muito bem recebida
pela estudante. Segundo ela, não seria psicologicamente saudável ficar no
antigo quarto. A garota lhe contou que seus pais haviam tentado convencê-la a
deixar New Sharon, mas ela vetou a idéia. Não deixaria que o medo plantado por
um psicótico controlasse a sua vida. Bruce não pôde deixar de admirar a
namorada por isso, e antes que percebesse, á havia convidado para tomar café da manhã em seu quarto.


TRILHA DO CAMPUS

Isa anda em uma trilha de pedra ladeada por um bosque. O
clima está fresco, contrastando com o sol que passam pelas copas das arvores.
Muitos diriam que ela esta sendo insensata em andar sozinha por um trecho
deserto. Mas a garota faria pouco dessa idéia. Não havia névoa, e o assassino
não atacaria sem seu Cenário registrado. A cabeça da jovem tambem estava
ocupada com outros assuntos. Como o convite que Bruce lhe fizera na noite
anterior. Isadora lembra-se de ter recusado, dizendo que seria melhor eles se
encontrarem na lanchonete, como sempre faziam. O rapaz disse que estava tudo
bem, mas Isa conseguiu identificar o pesar na voz dele.

A garota percebeu que sua recusa se baseava em medo. Assim como
Bruce, Isa nunca havia tido um relacionamento sério. E agora ela estava
namorando, um fato novo, e como tudo que é novo, assustava um pouco. Foi
pensando nisso que a garota resolveu aceitar o convite.

A jovem chega ao fim da trilha, que termina em uma encruzilhada.
Antes de tomar a direção que deseja, a estudante ouve uma voz chamar o seu
nome. Ao se virar, ela vê o jornalista que havia conhecido há algumas semanas,
vindo de uma trilha paralela ao outro lado do bosque.

TONY

– Srta. Thompson! Que bom que nos encontramos. Lembra-se de mim?

ISADORA

– Sim, Me lembro. O quer de mim?

TONY

– Conversar Você era amiga de duas vitimas e esteve em um dos locais
do...

ISADORA

– Eu não to interessada em falar.

Isadora dá as costas a Tony e começa a andar, mas ele a acompanha.

TONY

– Talvez você não me conheça, mas eu estudo esses crimes há tempos. Nada que você não queira será publicado. Eu só quero a sua ajuda pra tentar
esclarecer o que esta havendo.

ISADORA

– Eu sei quem você é, e desejo boa sorte, mas eu disse não. Por favor,
não insista.

QUARTO DE BRUCE

Quando Bruce abre a porta para Isadora, a garota percebe a
alegria no olhar dele por ela ter realmente aceito o convite. Os dois se
cumprimentam timidamente, até que o rapaz a convida a entrar no apartamento,
fechando a porta em seguida.

BRUCE

– E então? O que achou do meu novo quarto?

Ao olhar em volta, a garota vê uma mesa posta para o café. Do
lado oposto do quarto, em frente à janela, esta a cama do estudante, e em
frente à cama, se encontra a televisão acomodada em cima de uma pequena
estante. Na estante, Isa ainda consegue ver alguns DVDs e livros enfileirados.
Ela ainda consegue ver a cozinha através de um pequeno portal

ISADORA

– Bem, é um quarto como outro qualquer. Não tem muito que dizer. Acho que ficou legal.

BRUCE

– Eu sei. Eu não tava mesmo interessado na resposta. A pergunta foi só
pra quebrar o gelo.

Isa contém o riso. Ela então observaa mesa. Há leite, suco, pão de sanduíche, e potes de geléia.

BRUCE

– Agora sente-se e vamos tomar Café. Fiz aquele achocolatado outra vez, Cá entre nós, você começou a reparar em mim depois daquele achocolatado, não é?

Ela lhe dá um pequeno soco no ombro pelo comentário convencido.


DELEGACIA CENTRAL DE NEW LONDON

Na sala de reuniões, Helena esta reunida com Sage, George, e
mais dois agentes que foram enviados a pedido de George, Drift e Gray. Todos
têm nas mãos uma cópia do perfil psicológico que Helena havia traçado. Sentada
na ponta da mesa, a agente começa a falar.

HELENA

– Não estamos lidando com um assassino aleatório. Jack é metódico. Ele escolhe a vitima, e a estuda. O timing dos crimes é perfeito demais pra ser só sorte. Esse louco observa os locais que
a vitima frequenta, assim como o nível de segurança e movimento desses locais.

GRAY

– Acha mesmo? E as vítimas não perceberiam? Megan Hayes, por exemplo, sabia que havia um serial killer no campus. Ela Não ficaria atenta a qualquer estranho que a assediasse?

HELENA

– Agente Gray. Como sabe, há dois tipos de psicopata. Um é extremamente antisocial. Suas excentricidades costumam chamar a atenção. Esse não é Jack. Já o segundo tipo se mistura facilmente, em geral são carismáticos, e conquistam a confiança. Há mais detalhes no perfil. Existem variáveis, mas com as informações que temos, foi o que pude fazer.

Ela toma um copo d’agua e então dá continuidade ao seu raciocínio.

HELENA

–Antes de mutilar as suas vitimas, ele as observa. As roupas de Tina,
Kelly e Megan, tem rasgos que não condizem com os ferimentos. Já no caso de Nick, a única vitima masculina, todos os rasgos de tecido condizem com os ferimentos. Jack admira as garotas que mata para depois... Bem, os olhos sumidos de Megan não me deixam mentir. Mas não pensem que Jack não tem laços femininos. Ao contrario. Ele precisa disso pra não vê-las só como presas, E os sentimentos que ele tem por essa mulher ou mulheres, podem ser genuínos.

QUARTO DE BRUCE

Após ter tomado café da manhã Isa notou sobre a instante o
DVD de “O Médico E O Monstro”. Ela perguntou se o rapaz já havia assistido, e
ao receber negativa, o convidou para ver o filme.

BRUCE

– “O Médico E O Monstro”? Quer ver “O Médico E O Monstro”? (Pergunta ele surpreso)

ISADORA

– Eu quero. Tá a fim?

Bruce assente, e levanta-se, dirigindo-se até a instante para
pegar a caixa do DVD.

ISADORA

– Eu sempre disse que quando namorasse, ia querer in no cinema com ele. Aqui não é o cinema, mas vai servir até irmos a um de verdade. E o lado bom é que dá pra gente ver o filme deitados. (Ela vai
até as janelas e as fecha. Em seguida, deita-se na cama).

Bruce coloca o disco no aparelho, e vira-se para a namorada.
Ele a observa com atenção.

ISADORA

– Não vamos fazer nada que não se faça no cinema, entendeu?

BRUCE

– Eu não pensaria em outra coisa.

O rapaz ativa o aparelho, deitando-se ao lado da namorada. No
instante em que os créditos começam a passar na tela em preto e branco, a jovem
vira-se, e beija Bruce com intensidade.

ISADORA

– Eu li o livro. Não preciso prestar tanta atenção pra acompanhar. Mas se quiser se...

Ele a cala, devolvendo o beijo na mesma intensidade.

PATIO NORDESTE DE NEW SHARON

Helena anda por um dos pátios do campus. Quando um grupo de
três garotas passa por ela, a agente capta o medo que elas estão sentindo. As
estudantes andam coladas, como se tivessem medo de que se afastando, poderiam perder-se para sempre uma da outra. A culpa invade a agente. Ela sabia que todas aquelas moças estavam em risco, e ainda sim votou para que a universidade permanecesse aberta. Cansada, Belli senta-se em um dos bancos do pátio. É neste instante que seu celular toca. O identificador de chamadas denuncia o numero de Ferguson.

HELENA

– Agente Belli falando.

FERGUSON

– Você pediu que eu a mantivesse informada de tudo. Realizamos uma prisão no campus. Mas não se anime. Não tem nada a ver com os assassinatos.

Helena arregala os olhos, e olha ao redor, para certificar-se
de que ninguém esta ouvindo

HELENA

– Não me diga que prendeu um aluno? (incrédula)

FERGUSON

– Não tivemos escolha. Um dos meus homens viu esse rapaz em atitude suspeita. A reação à abordagem não ajudou. Na mochila dele, tinha uma boa quantidade de maconha.

HELENA

– Tem noção das conseqüências que esta prisão pode causar?! (nervosa)

FERGUSON

– Acha que eu não sei? Mas tinha droga o bastante pra enquadrá-lo por
tráfico. Ele jurou que era tudo pra consumo próprio, e pelo estado dele eu
acredito, mas regras são regras.

Helena olha para o céu azul, que não parece combinar com os tempos caóticos que se aproximavam de New Sharon.

APARTAMENTO DE BRUCE

Os créditos de “O Médico E O Monstro” sobem na tela, enquanto
Bruce e Isadora assistem concentrados. A garota tem a cabeça encostada no peito
do namorado.

ISADORA

– “O Médico E O Monstro” é genial, né? Quero dizer, não é só uma boa
historia! É uma metáfora sobre a natureza básica do ser humano!

Bruce ri da empolgação de Isa, enquanto se levanta da cama, e
vai até a cozinha.

BRUCE

– O principio de Jekyll e Hyde. Você sempre gostou da idéia de que cada um de nós tem uma faceta benévola e outra maléfica, né? (Diz servindo-se de um copo d’agua).

ISADORA

– Não é questão de gostar, mas de acreditar. E não é tão simples quanto você falou. Mas me desculpe. Eu devo tá sendo uma chata Quando eu começo a falar disso, não paro mais.

BRUCE

– Tudo bem. Eu tambem passo 90 % do tempo falando de filmes

ISADORA

– Mas então? Sobre o que quer falar agora?

BRUCE

– Sobre a gente (Diz sentando-se diante dela e tomando um gole d’agua).

Isadora observa o rapaz com atenção, esperando para ouvir o
que ele tem a dizer.

BRUCE

– Bem... Eu Quero que saiba que não é por que nós estamos namorando que você tem que se sentir pressionada sobre... Você sabe, sexo. Vai acontecer quando tiver que acontecer.

A garota parece um pouco encabulada.

ISADORA

– É mesmo muito gentil da sua parte dizer isso. Mas... Eu não me sinto
pressionada

BRUCE

– Ótimo. Eu fico feliz por isso (diz sem jeito).

ISADORA

– Bruce, se a gente quiser continuar, eu tenho que te perguntar. Acha que eu sou virgem?

BRUCE

– Bem, essa duvida passou pela minha cabeça. Mas agora eu acho que não, correto?

ISADORA

– Isso incomoda você? (pergunta com mal disfarçado temor).

BRUCE

– Eu seria um babaca se isso me incomodasse (Diz sentando-se ao lado dela na cama)

ISADORA

– E você?

Sem responder, Ele pega o copo vazio das mãos dela e se
dirige para a cozinha. Há um momento de constrangido silencio.

ISADORA

– Tudo Bem. A gente não precisa mais falar...

BRUCE

– Ok, Eu sou virgem (diz rapidamente)

Ele senta-se novamente na cadeira, envergonhado. Isa senta-se
ao lado dele, pegando-lhe a mão.

ISADORA

– Eu seria uma idiota se isso me incomodasse.

Os dois se abraçam.

LANCHONETE BOM SABOR

Tony sai de dentro da Lanchonete com uma garrafa de agua na mão,
e senta-se do lado de fora. Não muito longe dali, ele consegue ver um grupo de
jovens reunidos. Um rapaz com barba por fazer e rabo de cavalo se destaca de pé
em cima de uma mesa, discursando para os outros.

ESTUDANTE

– Com um louco solto por ai, matando varias de nossas colegas, vocês não acham que a policia deveria estar mais interessada em pega-lo do que em prender alunos por besteira?

Ouvem-se vários murmúrios em concordância.

ESTUDANTE

– Primeiro o Reitor traz gente de fora por que não consegue cumprir seu dever, e agora deixa a policia maltratar os alunos? É por isso que eles vieram? Pra sitiar o nosso campus e não pegar o assassino? Então por que não vamos a reitoria dizer ao Winkless o que pensamos?

Liderados pelo jovem de rabo de cavalo, vários alunos marcham
para longe, em direção à reitoria. Tony podia sentir que as coisas iam
esquentar bastante em New Sharon.

CENTRAL DE POLICIA DE NEW SHARON

Helena e George estão sentados na sala de reuniões. No grande
quadro branco da sala, há varias fotos das vitimas de Jack Calcanhar De Mola,
tanto dos crimes atuais, como daqueles ocorridos em 2001. Pequenas anotações
feitas com pincel atômico vermelho destacavam fatos importantes de cada um dos
crimes. Entretanto, os dois agentes pareciam bastante desanimados e cansados.

GEORGE

– Sinceramente, eu já não sei. Analisamos este caso de todos os ângulos. Viramos do avesso as vidas de cada uma das vitimas, e não existe conexão alguma! (Diz com frustração).

HELENA

– Paciência, George. Tenho certeza que a resposta esta bem na nossa
frente.

GEORGE

– Você tá começando a falar que nem o Sage.

HELENA

– Não diz isso nem brincando. Frank é ótimo, mas...

GEORGE

– É um pouco assustador,eu seu. Acha que ele esta certo? Que as vitimas tem algo em comum?

Ela balança a cabeça afirmativamente, enquanto lê determinado
arquivo pela centésima vez.

GEORGE

– Então por que ainda não encontramos?

PRÉDIO DOS DORMITÓRIOS: SALA DE JOGOS

A noite cai sobre New Sharon., os poucos alunos que ficaram
no campus estão em suas aulas noturnas. Mas Bruce Graham não tinha aulas
noturnas, e por isso se encontra na sala de jogos, no andar térreo do prédio. O
rapaz esta de pé em frente a uma mesa de bilhar, com um taco em mãos. Ele se
prepara pra dar uma tacada, mas interrompe o movimento subitamente.

BRUCE

– Eu posso ajudá-lo, Sr. Sage?

Sage está encostado na entrada do cômodo, com um cigarro na
mão.

SAGE

– Pode sim. Mas termine a tacada. Eu odiaria estragar o seu jogo.

BRUCE

– Outra hora. Deve haver uma razão importante pro senhor vir até aqui (Diz desconfiado).

SAGE

– Sim e não. Vim falar com você sobre um assunto que já deve estar
cansado de ouvir.

BRUCE

– Nick. Normalmente eu diria que estou cansado, mas vou abrir uma exceção (Diz sério).

SAGE

– Importa se de jogarmos enquanto conversamos? Adoro bilhar, mas há anos não tenho a oportunidade de jogar.

BRUCE

– Por mim tudo bem (Diz com divertido estranhamento).

Frank contorna a mesa, se colocando no lado oposto ao que
Bruce esta. O ex agente pega um taco do porta tacos, e o admira contra a luz da
lâmpada.

SAGE

– Posso dar a primeira tacada?

O rapaz assente com um movimento de braço. Bruce abre a
gaveta sobre a mesa, espalhando todas as bolas sobre a superfície. Depois ele reúne todas no centro do pano verde, com a ajuda de um triangulo de madeira, exceto a escura bola seis. Frank já se posicionou na ponta da mesa. Pegando seu taco novamente, o jovem rola a bola seis para o veterano, que a intercepta.

SAGE

– Você não estava em casa quando Nick saiu, certo?

BRUCE

– Não. Eu devia estar saindo do prédio de comunicações. Eu tinha perdido o toque de recolher. Mas contei isso a policia.

SAGE

– Me diga. O que você acha que aconteceu ?

Frank dá uma forte tacada que atinge as bolas no centro da
mesa. Elas se espalham, e uma das bolas pertencentes a Bruce cai dentro da
caçapa. Mas ele parece não ligar.

BRUCE

– Como assim o que eu acho?

SAGE

– Sobre tudo o que aconteceu. O fato de Nick ter sido morto junto com
Megan, Ou de ter levado o telefone e tudo mais. Você deve achar alguma coisa.

BRUCE

– É obvio que Nick foi atraído até lá. Eu não gosto de falar mal dos
mortos, mas Nick não era muito esperto.

Bruce dá a tacada. Uma das bolas de Sage é encaçapada, a
outra é deixada na boca da caçapa.

FRANK

– Tendo a concordar. Espero que não se ofenda com a minha próxima
pergunta. Mas... Se você fosse o assassino, o que diria a ele no telefone para
atraí-lo?

BRUCE

– É uma pergunta maldosa, Sr. Sage (Diz sem se mostrar ofendido).

SAGE

– Eu sei, e peço desculpas por isto. Mas acho que você agüenta.

Sage dá outra tacada, tirando a sua bola da boca da caçapa, e
encaçapando uma das de Bruce.

BRUCE

– Muito bem. Vou dizer o que eu faria. Nick estava se sentindo culpado
por não ter agradecido Megan por ela ter limpado a barra dele. Ligar pra ele e
ameaçá-la seria a melhor forma de usar a impulsividade dele para atraí-lo. E o
senhor? Faria algo parecido?

Bruce dá a sua tacada, mas acaba marcando ponto contra.

BRUCE

– Droga!

SAGE

– Todo mundo faz uma jogada ruim, garoto. Não perca a cabeça por isso. Mas respondendo a sua pergunta, sim, eu acho que faria algo parecido se fosse o assassino.

Sagé dá uma tacada certeira, não apenas marcando um novo
ponto, mas fazendo uma barreira de bolas em frente à bola seis, tornando a
próxima jogada de Bruce quase impossível.

BRUCE

– Nick era fácil de ler. Qualquer pessoa esperta poderia ter armado algo
assim pra ele.

SAGE

– Inclusive você (Diz casualmente).

BRUCE

– Inclusive eu. Mas seria me dar crédito demais. O senhor, por exemplo, éum homem muito sagaz. Nick me contou sobre o pequeno desentendimento de vocês durante o interrogatório. Sabe que sempre me intrigou o fato de Jack sempre lhe escapar?

Bruce posiciona o taco embaixo da
bola seis, e com uma tacada bem calculada, á faz saltar sob a barreira de
Frank. A bola seis bate em uma das bolas de Sage, encaçapando-a.

SAGE

– Jogada brilhante (Diz impressionado)

BRUCE

– Sorte. Sr. Sage, o jogo esta muito legal, mas tenho um compromisso na cidade. Quero tomar um banho e sair antes do toque de recolher. Importa-se de terminarmos a conversa?

SAGE

– Tudo bem. Tambem tenho que ir. Terminamos o jogo outro dia. Obrigado pela atenção,

Sage bota o taco sobre a mesa, e começa a se dirigir até a
saída. É quando Bruce pergunta a ele com aparente despreocupação na voz.

BRUCE

– Suspeita de mim, Sr. Sage?

Frank vira-se com um sorriso enigmático no rosto.

SAGE

– Ora rapaz. Se eu suspeitasse, eu não lhe diria, certo?

APARTAMENTO DE HELENA: NOITE

Helena mais uma vez esta sentada diante co computador. O
relógio digital marca oito horas da noite. Na tela, passam a intervalos
regulares, fotos das duas ultimas cenas do crime de Jack. Por um instante, a
agente assustou-se consigo mesma ao perceber como aquelas imagens horríveis já não mexiam mais com ela. Subitamente, a campainha toca, distraindo a morena de seu trabalho.

A agente levanta-se indo até a porta, e respira fundo ao ver
Tony através do olho mágico.

HELENA

– O que você tá fazendo aqui?! (Diz antes mesmo de abrir a porta).

Ela abre a porta, encontrando um Tony bastante aflito.

TONY

– Eu sei que disse que não devíamos nos encontrar de novo, mas precisava muito falar com você (Diz
ele entrando sem esperar convite).

HELENA

– Esta se arriscando vindo aqui. O assassino pode...

TONY

– Você mesma disse que Jack já sabe que mantivemos contato. Então não faz diferença. Já desobedecemos às ordens dele.

HELENA

– Ainda assim provocar um serial killer não é boa ideia. Principalmente
quando se tem família.

TONY

– Eles estão bem protegidos.

HELENA

– Ele já mostrou que é muito bom em driblar esquemas de segurança.

TONY

– Pelo que eu saiba, você tem se arriscado bastante tambem (Diz com certa dureza).

HELENA

– Esse é meu trabalho. Não é a toa que eu carrego uma arma. Se era só
isso...

TONY

– Por que não me contou sobre você e Adelie Parkins?

A agente olha para Tony com um misto de surpresa e raiva.

HELENA

– Eu não tenho que te contar nada! Isso não é da sua conta!

TONY

– Foi por isso que ele te ligou, não foi? Jack sabe de você e Adelie, e
de alguma forma esta usando isso pra te atingir!

HELENA

– Não é da sua conta! Agora sai daqui antes que eu te bote pra fora. (Diz friamente).

TONY

– Eu... Eu não posso.

HELENA

– É mesmo? E por que não?!

Tony hesita antes de responder

TONY

– Por que... Por que eu acho que estou gostando de você (Diz ele sério)

A agente olha para o jornalista, com uma mistura de choque e
incredulidade.

HELENA

– Você tem noção do que esta dizendo? Nos conhecemos há pouco mais de um mês! Você terminou com a sua mulher outro dia! Não pode estar gostando de mim!

TONY

– Eu não disse que estou amando você! Eu só... Eu só gosto de você. Acho você uma mulher inteligente e atraente. Quanto ao meu casamento... Eu e Valerie já não estávamos bem há algum tempo. A carta de Jack Calcanhar De Mola foi só a gota d’agua.

Helena olha para o chão, sem saber o que responder.

HELENA

– Você esta falando besteira (Diz com insegurança).

TONY

– Não estou não. E pela sua reação, eu acho que tambem sente alguma coisa por mim.

HELENA

– Não seja ridículo!

Helena vai em direção à porta, com o intuito de expulsar
Tony. Inesperadamente, o jornalista agarra a agente e a beija. Por alguns
segundos, a morena se entrega a atração que vinha sentindo. Mas logo recupera o
controle sobre si mesma. Ela pega o pulso do jornalista e o torce com força,
forçando-o a solta-la.

HELENA

– O que acha que esta fazendo?! (Diz sem largar o braço dele).

Tony encolhe-se de dor pela torção no pulso, mas não reage.

TONY

– provando uma coisa pra você e pra mim! Será que pode me soltar? (Diz com um olho marejado)

Helena o solta, sentindo a confusão de seus próprios
sentimentos.

HELENA

– Provar o que?

TONY

– Que o que venho sentindo por você era real. Vai me dizer que não sentiu nada?

Ela fica em silencio. É claro que sentiu. Os últimos meses
foram como um mergulho em um pesadelo, em que os fantasmas do seu passado
voltaram para assombrá-la, ao mesmo tempo em que um psicopata atirava todos
aqueles horrores em sua cara. Helena não se lembrava de um período de sua vida
em que se sentira tão sozinha. Nem mesmo o período após a morte de Adelie se
comparava. Mas ao compartilhar aquele momento com Tony, por alguns segundos,
todo o peso que incomodava seu espírito sumiu.

HELENA

– Seu filho da mãe.

Helena avança na direção de Tony e agarra seu pescoço,
dando-lhe um caloroso beijo O jornalista retribui. Enfim, os dois estão se
entregando as suas emoções. Ela o joga na cama, e começa a desabotoar a própria blusa, enquanto Tony tira a camisa. Ele pergunta ofegante.

TONY

– Você tem certeza?

HELENA

– Você começou isso, Stevenson. Vamos até o fim agora.

Ela o beija novamente, enquanto termina de desabotoar a
blusa.

QUARTO DE ISADORA

O som do secador enche o quarto, enquanto a garota seca os
cabelos. A jovem pensa em como tudo mudou em pouquíssimo tempo. Ela se
reaproximou de Kelly, só pra perder a amiga pouco tempo depois. E agora, estava
namorando Bruce, o que pareceria impensável algum tempo atrás.

A estudante desliga o secador, e após tirá-lo da tomada, senta-se
em frente ao seu notebook. Durante o resto daquela manhã que passou com Bruce, eles tiveram a idéia de mudar seus perfis no facebook na parte do
relacionamento. A idéia surgiu quase como uma brincadeira, pois nenhum dos dois
era grande fã de redes sociais. Mas agora, ela não pôde deixar de sentir uma
alegria quase juvenil ao olhar para o perfil de Bruce na tela do computador, e
ver a foto que os dois haviam tirado juntos naquela manhã, com as palavras “relacionamento sério” abaixo.

Isadora estica o braço, e pega a sua bolsa, procurando seu
pen drive lá dentro. Para a sua surpresa, sua mão toca não um, mas dois pen
drives. Ao puxá-los, a garota vê que os dois pen drives são idênticos. São da
cor preta, e possuem o mesmo modelo. Um dos Pen Drive era o dela. O outro
pertencia a Bruce.

A jovem lembra-se de ter pedido para salvar algumas fotos
suas no computador do namorado. Ela pensa que deve ter guardado o seu próprio
pen drive na bolsa, e ao ver outro idêntico, deve ter repetido a ação. Isadora
pega um dos aparelhos, e o coloca na entrada de seu notebook, para conferir se
trata-se do seu Pen Drive ou do de Bruce. Assim que os arquivos e pastas surgem
na tela do computador, a garota percebe que aquele é o dispositivo de memória
de Bruce e não o seu. Quando esta prestes a retirar o Pen Drive do plug, uma
das pastas de arquivo chama sua atenção. Ele está nomeado como “O Caso Jack”.

QUARTO DE HELENA

Helena esta sentada na cama, de calcinha e sutiã, enquanto
Tony esta de pé, terminando de por a camisa. A morena esta pensativa. Tony
vira-se para ela.

TONY

– Arrependida?

Ela dá um pequeno sorriso.

HELENA

– Não. Eu nem tava pensando nisso na verdade. Pra onde vai daqui?

TONY

– Aonde eu vou? (Diz parecendo nervoso)

HELENA

– Nós só transamos, Tony. Não assumimos nenhum compromisso. Você pode ir ver a sua família sem me dar satisfações (Diz ela como que constatando o obvio).

O jornalista coça a cabeça, envergonhado.

TONY

– Helena, foi muito bom o que aconteceu entre a gente.

HELENA

– Se esta tentando arrancar um elogio de mim, você pode esquecer (Diz levantando-se, e pegando um robe no guarda roupa).

TONY

– Não foi isso que eu quis dizer. Eu só...

HELENA

– Tudo bem, Mas agora eu acho melhor você ir. Nós dois temos muita coisa pra fazer (Diz terminando de vestir o robe).

TONY

– Você esta certa. Eu vou indo então. Boa noite, Helena.

Tony começa a se afastar, mas ela vai até ele e o segura pelo
braço.

HELENA

– Eu não to te botando pra fora. Mas eu tenho que trabalhar, e...

TONY

– Tudo bem, eu entendo. Até mais.

Helena o acompanha até a porta, e lá os dois se despedem com
um beijo no rosto. Ao fechar a porta, a morena sente-se aliviada por enfim ela
e Tony darem vazão a atração que sentiam. Ela tambem percebe que a enorme
pressão que pesava sobre ela parece ter diminuído. Por outro lado, a agente
federal sente-se culpada por deixar-se distrair de seu objetivo principal.
Entretanto, a federal lembra-se das palavras de um professor dos seus tempos de
faculdade que dizia que “Às vezes a melhor forma de encontrar alguma coisa é
simplesmente parar de procurar um pouco”.

QUARTO DE ISADORA

Isa hesitou muito antes de abrir o arquivo. Aquilo era
invasão de privacidade pura. Talvez fosse melhor simplesmente perguntar ao
namorado no dia seguinte sobre o que era aquele arquivo. Entretanto, Isa sentiu
que enlouqueceria até a manhã seguinte se não soubesse o que havia naquela
pasta de arquivo. Quase sem perceber, a estudante moveu o cursor até a pasta, e
a abriu.

Dentro da pasta, havia varias outras pastas, cada uma batizada com o nome de uma das vitimas de Jack Calcanhar De Mola, desde as garotas mortas dez anos antes, até as vitimas mais recentes.

Com as mãos trêmulas, Isadora clica sobre o arquivo
intitulado “Kelly Wilson”. Varias colagens de matérias da internet a respeito
do assassinato de Kelly surgem na tela do computador. À medida que ela explora
os arquivos, ela encontra o que parecem ser anotações pessoais feitas pelo
próprio Bruce a respeito do crime. Coisas como “roupa rasgada”, morte em casa”,
e “terminou com Nick” estavam escritas nas ultimas paginas do arquivo.

ISADORA

–Meu deus, Bruce. O que esta fazendo?

QUARTO DE HELENA

A agente sai do banheiro usando o robe, e secando os cabelos
com uma toalha. Ela pega o controle da TV, e a liga, deitando-se na cama em seguida. Helena estava decidida a descansar. Assistiria um pouco de televisão, e então teria uma boa noite de sono. No dia seguinte, com a mente fresca, ela com certeza poderia trabalhar melhor, e decidir o que fazer com o que começava a sentir por Tony. De uma coisa a morena tinha certeza. Ela não queria que esse sentimento ultrapassasse os limites da amizade e da atração física.

Helena começa a zapear pela TV. Ela passa por um canal de esporte,
pela previsão do tempo, um canal de vendas, e enfim para em um canal de filmes.
No filme, varias pessoas atiram raios umas nas outras usando uma varinha. Belli
aperta um botão no controle remoto e descobre que se trata do filme “Harry
Potter E A Ordem Da Fênix”. Apesar de gostar de alguns filmes da serie do
bruxo, a morena não gostava muito deste que estava passando. Ela então colocou
o timer no televisor, e virou-se para dormir.

Helena deixou a sua mente vagar para tempos mais tranqüilos,
sentindo o sono chegar aos poucos. Enquanto ainda não dorme, a agente acompanha o filme apenas o escutando, mas sente que caíra no sono a qualquer momento. É quando ela ouve uma voz sabia falando no filme as seguintes palavras “Não são as semelhanças, Harry. São as diferenças”.

Subitamente, Helena abre os olhos, e levanta-se da cama como
se tivesse levado um choque. Era isso! O padrão não estava nas semelhanças
entre as vitimas, mas sim nas diferenças! A agente se recrimina por não ter
pensado nisso antes. Ela imediatamente desliga a televisão, e vai em direção à
mesa, voltando a examinar os arquivos dos crimes de Jack Calcanhar De Mola.

CASA DA MÃE DE VALERIE

Tony está sentado em uma poltrona na sala de estar. Valerie
entra trazendo uma xícara de café, que é entregue ao jornalista. Ele agradece a
ex mulher. O clima de constrangimento entre os dois é quase palpável.

TONY

– Eu recebi a intimação. Não achava que você daria continuidade ao
divorcio tão rápido.

VALERIE

– Já esperamos demais, você não acha? (Diz sem olhar para ele

Os dois ficam em um encabulado silencio por alguns segundos.

TONY

– Pretende morar com sua mãe por um tempo, ou esta procurando outro lugar?

VALERIE

– Eu estou procurando um apartamento. Nada muito grande, mas que seja confortável o bastante pra mim e pro Josh.

TONY

– Sabe que pode contar com o meu apoio. Em todos os aspectos.

VALERIE

– Eu nunca duvidei disso.

TONY

– Eu... Posso ver o nosso filho?

VALERIE

– Claro que sim. Ele esta no quarto. Mas acho que já esta dormindo.

QUARTO DE JOSH

Quando Tony entrou no quarto, seu filho Josh já estava
deitado. O menino vira-se na cama, e fita o pai com olhos sonolentos. A única
iluminação do quarto era a luz do abajur.

JOSH

– Papai?

TONY

– E ai, filho? Só vim dar um oi. Pode voltar a dormir.

JOSH

– O senhor vai ficar aqui esta noite?

TONY

– Não. Só até você dormir.

Tony não sabe dizer quanto tempo ficou ali, observando o
filho dormir. Se havia alguma coisa realmente valiosa para ele neste mundo, era
Josh. O jornalista não queria sair daquele casamento brigado com a mãe de seu
filho. Ele ainda tinha carinho por Valerie, embora não fosse o amor de outros
tempos. Será que esse amor foi transferido para Helena? Não, pouco provável.
Com certeza ele estava gostando de Helena, e se sentia incrivelmente atraído
por ela, como a transa daquela noite provara. Mas não podia dizer que era amor.
Pelo menos ainda não.

De repende, surge um som. É um apito baixo, mas que sobe
progressivamente. Josh apenas se mexe na cama. O jornalista se levanta, e
começa a seguir o apito, que fica cada vê mais alto. Tony chega ao armário do
quarto, encontrando a fonte do apito é um relógio de pulso luminoso. O homem
pega o relógio e o desliga, mas ao agarrar o relógio, sente um liquido aguado
na mão.

Tony olha para seu dedo, e percebe que ele esta manchado com
uma substancia avermelhada. Ele ilumina o armário com o relógio, e vê um
pequeno saco plástico próximo de onde encontrou o relógio. O jornalista pega o
pacote plástico, que parece conter duas esferas. Ele coloca o pacote diante dos
olhos, e é então que percebe com asco e horror que tratam-se de olhos humanos.
Tony dá um grito abafado, deixando o pacote cair no chão.

Um dos nervos ópticos já começava a saltar para fora do
pacote. O homem olha para o menino na cama, mas ele continua a dormir. Em
pânico, Tony recolhe o pacote do chão e o enfia no bolso antes que Josh consiga
vê-lo. Enquanto sai do quarto com “aquilo” no bolso, um turbilhão de
pensamentos passa pela mente do jornalista. Como o maldito assassino passou
pela segurança de Sage?

VALERIE

– Tony, tudo bem? Você esta pálido!

Tony vê Valerie o observando com preocupação. Ele não pode
falar sobre o que encontrou no quarto de Josh. Apenas a deixaria histérica. Ele
precisava procurar pelos homens de Sage. Ou melhor, precisava procurar em
Helena. Seria a única pessoa em que poderia confiar agora.

TONY

– Eu não estou me sentindo muito bem. Eu preciso ir. Tchau, Valerie.

Ela tenta chama-lo de volta, mas o homem já havia saído porta
afora.

CARRO DE TONY

Tony andou até seu carro, olhando ao redor da rua tentando
encontrar algum sinal dos homens que Sage havia posto para vigiar a casa, mas
não viu sinal de viva alma. Quando entrou no carro, o jornalista mal teve tempo
de raciocinar, pois seu celular começou a tocar.

TONY

– Alo? (responde nervoso)

Uma voz fria e sinistra responde do outro lado da linha.

JACK

– Ola Tony. Gostou do presente? Foi meu jeito de dizer que estou de olho em você.

Tony sente o sangue gelar.

TONY

– Você é... Você é...

JACK

– Você sabe quem eu sou. Tem me procurado há tanto tempo que se tornou praticamente meu biografo. Como se sente ouvindo minha voz depois de tanto tempo me procurando?

O medo de Tony é subitamente substituído pela raiva.

TONY

– Escute aqui seu doente! Se chegar perto da minha família de novo, eu
vou...

JACK

– Você vai o que?! Vai me matar?

O jornalista ouve seu interlocutor dar uma risada doentia e
cruel.

TONY

– Sim. Se você se aproximar de Josh de novo, eu te mato! (Diz tentando parecer ameaçador)

JACK

– É possível. Pouco provável, mas possível. Ouça, eu não tenho intenção de machucar a sua família. Mas parece que você não entendeu o meu aviso pra ficar longe desse caso, e principalmente longe daquela vagabunda complexada! (Fala elevando a voz).

TONY

– Se esta falando da Helena...

JACK

– Oh sim, Helena. Eu sinto que quer protegê-la tambem. Mas não pode
proteger a todos, seu idiota. Uma hora ou outra você vai ter que fazer uma
escolha. Mas é difícil lhe explicar isso por telefone. Por que não nos
encontramos pessoalmente?

TONY

– Pessoalmente? (Diz ocultando o medo na voz)

JACK

– Sim. Você e eu. Cara a cara. Não precisa ter medo. Eu prometo que não
vou machucar você. Mas lembre-se. Se avisar o jornal, a policia, a vadia do FBI
ou qualquer um que seja, eu vou saber. E então, eu vou cortar a garganta do seu filho antes que você pisque. Entendeu?!

Tony se mantem em silencio, que é respeitado pela sinistra
voz do outro lado da linha. Ele podia avisar Helena e o FBI do encontro. Se
lhes falasse sobre a ameaça a sua família, a segurança seria triplicada. Jack
estava louco em se expor assim, e essa era uma chance de pegá-lo. Alem do mais,
o tal encontro muito provavelmente era uma armadilha.

Por outro lado, Jack conseguiu entrar na casa da mãe de
Valerie e colocar o saco com os olhos de Megan Hayes no armário de Josh. Quem
sabe do que esse louco era capaz. Não! Não iria arriscar mais a vida do seu
filho do que já o fizera.

TONY

– Tem a minha palavra de que não vou dizer a ninguém.

JACK

– É o bastante pra mim.

TONY

– E se eu não for a esse encontro? (Diz desafiador)

Uma nova risada é escutada.

JACK

– Ah, você vem! Procurou isso por dez anos. Não vai recuar agora que tem a possibilidade de chegar mais perto, não é? Agora pare de perder seu tempo e o meu, e anote o endereço!

E assim, Tony anotou o endereço do local onde se encontraria
com um assassino.

QUARTO DE HELENA

A agente federal continuava a amaldiçoar a si mesma e a todos
que haviam trabalhado naquele caso. A ligação entre as vitimas estava na sua
cara o tempo todo. Podia não ser nada, mas tambem podia ser tudo. Todas as sete
garotas mortas nas duas ondas de assassinato estudavam em New Sharon, mas
nenhuma delas compartilhava o mesmo curso. A única exceção era Nick, que era
colega de curso de Kelly. Mas Nick era uma exceção por si só. Após analisar os
arquivos repetidas vezes, a agente verificou que a única diferença que todas as
sete vitimas compartilhavam era a diferença dos cursos.

HELENA

– Te peguei, filho da mãe! (Diz com um sorriso).

DOCAS DE NEW LONDON

As instruções que Jack Calcanhar De Mola deu a Tony o levaram
a zona velha das docas de New London. Ao descer do seu carro, o jornalista não
vê ninguém na rua de paredes pichadas e postes de luz quebrados. Sentindo um
frio na espinha, o homem começou a andar em direção ao endereço que a sinistra
voz lhe passara pelo telefone.

Tony chegou diante de um pequeno armazém. Os postes de luz
diante do armazém lançam uma iluminação fraca sobre a fachada. O jornalista se
aproxima da entrada, somente para perceber que ela foi bloqueada com tábuas,
assim como as janelas. Ainda seguindo instruções que recebeu pelo telefone,
Tony contorna o armazém, encontrando uma porta dos fundos. Assim como as outras entradas, ela foi bloqueada com tabuas. Mas estas tabuas estão frouxas, e ao serem empurradas, revelam uma abertura, pequena, mas larga o bastante para que o jornalista consiga se espremer para dentro do armazém.

Assim que entra, Tony ouve as tabuas batendo contra a parede
de concreto, o que lhe dá a incomoda sensação de ter sido engolido pelo armazém. O homem tira do bolso uma lanterna que guardava no porta luvas de seu carro. Ao acender a lanterna, e apontar o feixe de luz para frente, o jornalista vê um grupo de figuras carecas de pé em sua frente, o observando. Tony dá um grito abafado, e tropeça ao recuar, deixando a lanterna cair no chão. Ele consegue segurar a lanterna, impedindo que ela role. Mas o impacto no chão abriu a portinhola das pilhas, que rolam no chão de concreto.

TONY

– Mas que merda! (Pragueja ele em voz baixa)

O jornalista olha para as silhueta das figuras, que permanecem
imóveis. Sentindo o coração bater acelerado, ele pega o celular do bolso, e o
usa para iluminar o chão. Com alivio, ele encontra rapidamente a lanterna, e as
pilhas a sua frente, encostadas no que parece ser um pé de plástico. Tony pega
as pilhas, e as coloca de volta na lanterna, pondo-se de pé em seguida.

O feixe de luz volta a cortar o breu, revelando a verdadeira
natureza das figuras. Dez manequins postos de pé em frente à entrada. Com
certeza, Jack escolheu um lugar bem pitoresco para o encontro. Tony continua a
andar, tentando ignorar o grupo de manequins imóveis. O jornalista tenta
ignorar o cheiro de mofo do local, enquanto sua lanterna ilumina algumas mesas
podres, onde repousam caixas com pedaços de manequins desmontados. No fim do cômodo, há uma escada levando ao andar de cima. Quando põe o pé no primeiro degrau, a sinistra voz de Jack parece ecoar pelo local.

JACK

– Eu sabia que viria, Tony. Suba aqui e vamos conversar. Eu vou lhe
explicar como as coisas vão funcionar de agora em diante.


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Notas finais do capítulo

Se puder, comentem o que acharam, o que gostaram, o que não gostaram. Enfim...