Primavera Mentirosa escrita por fosforosmalone


Capítulo 4
Noite De Luto




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LADO DE FORA DO PRÉDIO DOS DORMITÓRIOS

Helena e Isadora aproximam-se do prédio dos Dormitórios. A agente conversou com a estudante boa parte do caminho, embora Isadora tenha se mostrado um pouco tímida a principio. Helena perguntou sobre o cotidiano da universidade, e como ele havia sido afetado pelo assassinato de Tina. Isadora respondia as perguntas de forma sucinta.

As duas chegam à entrada do Prédio Dos Dormitórios. O prédio é uma construção antiga, da cor cinza. A arquitetura gótica do lugar contrasta com alguns ar condicionados espalhados pela fachada. Helena e Isadora observam o prédio com atenção.

Isadora dirige-se para a entrada do prédio.

ISADORA

- Bem, obrigado por vir comigo, Agente Belli.

HELENA

-De nada. O portão do prédio costuma ficar aberto assim?

ISADORA

- Só em noites que tem festa ou coisa parecida.

HELENA

- Se importa se eu te acompanhar até o quarto da sua amiga?

ISADORA

- Posso perguntar por quê?

HELENA

- Queria dar uma conferida na segurança do prédio.

ISADORA

- tudo bem. É logo no primeiro andar. Mas quero que saiba de uma coisa. Sabe aquilo que me contou sobre um segurança ter faltado, e você ter se oferecido pra ficar no lugar dele? Pois bem, Não acreditei em uma só palavra dessa historia.

HELENA

- É um direito seu (Diz sorrindo)

DENTRO DO PRÉDIIO

Enquanto sobem as escadas, Isadora sente a curiosidade crescer dentro dela. Após hesitar, a garota resolve perguntar.

ISADORA

- Essa sua ronda tem a ver com o assassinato de Tina Becker, não é?

HELENA

- Por que pensa assim? (Diz com aparente desinteresse)

ISADORA

- Ah, você sabe. Estamos no meio de uma primavera vermelha. Não me diga que não pensaram em Jack Calcanhar De Mola.

HELENA

- Onde ouviu isso?

ISADORA

- Bem, por ai. Bastante gente tá comentando.

HELENA

- Quem é bastante gente?

Isadora percebe que foi tola em tentar tirar alguma coisa da agente. Pessoas como Helena tiram informação das pessoas, e não o contrario. A garota sabe que deve tomar cuidado com o que vai dizer, pois pode comprometer alguém.

ISADORA

- É todo mundo mesmo. É um comentário geral na faculdade, entende?

HELENA

- Acho que sim. (diz ainda desconfiada)

ISADORA

- O andar é esse.

As duas chegam ao andar onde se localiza o quarto de Kelly. O corredor é iluminado por lâmpadas de luz amarela. Helena esta se preparando para se despedir, quando vê uma mancha estranha no chão cinza do corredor. Isadora também nota, ficando estarrecida.

ISADORA

- Aquele é o quarto da Kelly (diz com preocupação)

As duas se aproximam cautelosamente. Um líquido vermelho e espesso escorre por debaixo da porta. Helena leva a mão à arma em sua cintura.

ISADORA

- Isso... Isso e sangue? (Diz com a voz trêmula)

HELENA

- Pra trás!

Helena saca sua arma, e dispara contra a porta. O trinco e a maçaneta são destroçadas. A agente chuta a porta com força, que se escancara facilmente. Ao ver o que esta dentro do quarto, Isadora recua batendo as costas contra a parede, enquanto sufoca um grito de horror com a mão. O corpo de Kelly esta jogado no chão, cercado por uma grande poça de sangue.

HELENA

- Meu deus! (Diz chocada)

Helena entra no quarto com a arma em punho. Ela dá uma rápida olhada no corpo de Kelly. A blusa dela esta rasgada, e seu peito foi aberto, tendo alguns órgãos expostos. A pobre garota foi estripada.

A agente olha ao seu redor. Na parede, há uma mensagem escrita com sangue, que diz “Um abraço do Jack”. Helena vê a janela aberta, e se aproxima rapidamente. Ao espiar para fora, ela vê uma arvore logo em frente à janela, e algo que lhe chama mais atenção. Uma figura sumindo na névoa. A jovem agente leva um segundo para tomar sua decisão. Ela guarda a arma e vira-se para Isadora.

HELENA

- Chame a segurança do campus!

Helena salta sobre a arvore, agarrando-se em um dos galhos, para em seguida se soltar, e cair de pé no gramado. Ela sente os joelhos e os calcanhares protestarem, mas ela ignora a dor, e começa a correr na direção tomada pela pessoa na névoa. Enquanto corre, Helena pensa que não pode perder aquele suspeito. Aquele tem que ser o assassino. Só pode ser ele. Enquanto corre, Helena volta a ver o vulto fugindo na neblina. A mulher grita

HELENA

- FBI! Parado!

O suspeito continua a fugir. A agente pensa em atirar, mas com a péssima visibilidade, dificilmente acertaria, e ainda corria o risco de atingir outra pessoa. Em três anos de carreira, Helena já havia participado de perseguições, mas nada como isso. Ela se sente perseguindo uma sombra em um universo branco. O nevoeiro esta do lado do assassino, e não do dela.

Helena ouve o ruído de algo caindo na grama. Ao se aproximar, a agente vê uma pequena cerca, descobrindo a razão do ruído. Ela pula a cerca, e mais uma vez, vê o fugitivo, mas logo o perde de vista. A federal percebe estar em uma pista de corrida, e quase ri da ironia. Ela já começa a sentir o ar arder em seus pulmões, mas continua a correr.

Após atravessar a pista, a agente vê surgir na névoa uma nova cerca. Ela salta por ela da mesma forma que fez com a cerca anterior. Helena sente seus sapatos colidirem com a pedra, ao mesmo tempo em que volta a ter contato visual com o fugitivo. Ela o vê entrando em um prédio em construção abandonado.

A agente entra no prédio através de um buraco da altura de um caminhão, passando por cima de uma corrente com uma placa que diz “Perigo, não ultrapasse”. Mesmo naquele ambiente interno, a névoa ainda consegue se infiltrar, devido aos vários buracos na parede e no teto. Ainda assim, a visibilidade é muito melhor dentro da construção do que do lado de fora.

Helena volta a sacar a arma. O assassino cometeu um erro ao abandonar a proteção da neblina, e ela pretende se aproveita . A agente aponta a arma em todas as direções, esperando que Jack salte de trás de um dos pilares para atacá-la. Ela ouve passos atrás de si, e vira-se a tempo de ver uma figura encapuzada correr em direção a escada. A federal ergue sua pistola, e efetua um disparo, mas o tiro atinge a parede. Jack some novamente ao subir a escada.

Ela corre até a escada, e começa a galgar os degraus.  Após subir quatro andares, ela vê o assassino passar pelo portal de acesso ao quinto andar, e cuidadosamente, o segue até lá. Helena adentra o andar. Assim como o térreo, o andar é cheio de pilares. Há buracos no teto, e vários trechos do chão são cobertos por tabuas de madeira. A agente sente a madeira ranger sob seus pés, quando pisa em uma das tabuas. Decididamente, elas não estavam firmes.

A agente passa por um grande buraco no teto, e não vê a figura encapuzada que lhe espreita de cima. Jack vai até uma pilha de canos de plástico, presos por uma corda. Ele tira sua faca da cintura, ainda manchada com o sangue de Kelly, e rapidamente, começa a cortar as cordas.

Helena ouve o som de cordas sendo cortadas, mas quando olha para cima, já é tarde demais. A corda arrebenta, e uma chuva de canos de plástico cai em sua direção. A jovem agente começa a correr. Dois canos caem do seu lado, não a atingindo por pouco. Um cano cai bem na sua frente, e ela escuta com horror, o som da madeira se partindo.

A morena sente as tabuas sob seus pés se quebrarem, e seu corpo cair. Helena cai em cima de um morro de areia no quarto andar, e rola para o chão em seguida, batendo a cabeça. Ela ainda pode ouvir o barulho dos canos batendo, antes da escuridão envolve-la completamente.

PRÉDIO DOS DORMITÓRIOS

Quatro carros da segurança do campus já cercam o prédio. Milton Chambers, o Chefe Da Segurança sobe as escadas acompanhado por mais três homens, que como ele, estão usando paletó e gravata. Ao chegar ao corredor do segundo andar. Ele encontra um grupo de nove estudantes, entre eles, Isadora. Chambers se dirige ao grupo.

CHAMBERS

- Qual de vocês é Isadora Thompson?

Isadora ergue a mão.

CHAMBERS

. Onde esta o corpo?

Um dos jovens no corredor, fala com indignação na voz.

JOVEM

- Tá no quarto, mas essa daqui não deixa a gente ver.

Chambers olha com raiva para o rapaz, e se aproxima dele. Ele e mais quatro jovens, duas garotas, e dois garotos, tem uma expressão que Chambers conhece bem, depois de anos trabalhando na segurança da faculdade. Os cinco estão chapados de maconha.

CHAMBERS

- Ela fez o certo. Agora, todos voltem a seus dormitórios, com exceção da Srta. Thompson.

Alguns obedecem, mas o rapaz que reclamou, e mais um casal de amigos permanece ali.

JOVEM

- Temos o direito de estar aqui! Não pode nos mandar sair!

CHAMBERS

- Bem, esse é um caso grave, por isso chamamos a policia. Eles não são tão pacientes quanto eu com certas coisas. Talvez queiram até revistar os quartos de quem estiver aqui. Quer mesmo esperar?

Espanto surge nos olhos do rapaz. Segundos depois, ele esta subindo a escada, juntamente com seus colegas. Chambers volta-se para Isadora.

CHAMBERS

- Fez bem em preservar a cena do crime, Isadora. Você não precisa ver de novo se não quiser. Um dos meus homens pode levá-la a enfermaria agora mesmo.

ISADORA

- Não. A policia vai querer falar comigo. É melhor eu ficar.

CHAMBERS

- Não é necessário. Posso mandá-los pra enfermaria.

ISADORA

- Prefiro esperar (Diz decidida).

CHAMBERS

- Muito bem. Mas quero que fique no corredor.

A garota assente com a cabeça, e em seguida pergunta com tristeza na voz.

ISADOSA

- Sabe se vão demorar muito... Pra tirar ela dali? Kelly não ia gostar de ficar exposta assim... Desse jeito (Por um instante, parece que ela vai chorar, mas isso não ocorre)

CHAMBERS

- Vou garantir para que a polícia termine tudo o mais rápido possível. Você mencionou que havia alguém com você. Onde ela esta agora?

CONSTRUÇÃO ABANDONADA.

Helena acorda aos poucos. A agente sente uma grande dor de cabeça, ao mesmo tempo em que sente o cheiro de madeira úmida. A moça vira-se no chão, e ouve o característico som da madeira rangendo. Ela percebe estar em cima de mais um grupo de tabuas, que estão prestes a despencar. A federal sabe que precisa sair dali. São quatro andares de queda, e ninguém é tão sortudo pra cair em cima de um morro de areia duas vezes na mesma noite.

Com todo cuidado, ela começa a rastejar para fora do trecho de madeira onde se encontra. A madeira continua a ranger. Helena precisa se mover na velocidade certa, se for rápida ou devagar demais, as tabuas com certeza vão se partir. Subitamente, a agente ouve passos na escada. Não sabia quanto tempo ficou desacordada. Se o assassino a encontrasse vulnerável daquele jeito, podia ser o fim. Mas quem surge na entrada do andar, não é a figura encapuzada que ela perseguiu até ali. Helena fala surpresa.

HELENA

- O que faz aqui, Stevenson?!

Tony percebe a situação em que a mulher se encontra. Ele diz com temor na voz.

TONY

- Não se mexa.

O som da madeira rangendo fica mais alto. Tony corre na direção dela, enquanto ela tenta rastejar mais rápido para fora da superfície de madeira. As tabuas se partem, e uma vez mais, Helena sente seu corpo cair, mas Tony Atira-se na sua direção, e agarra a sua mão, impedindo a queda. Helena esta suspensa no ar. A única coisa que a impede de cair é a mão de Tony. Ela estica o braço livre, e agarra-se a borda do buraco. Tony olha pra ela, e fala com determinação.

TONY

- Vou te puxar agora. Pronta?

HELENA

- Sim.

Tony começa a puxá-la, enquanto ela própria faz força com o outro braço para içar-se para cima. Com o esforço combinado dos dois, Helena consegue voltar à segurança do piso de concreto. Ambos ficam ofegantes por alguns segundos, até que a agente levanta-se nervosa.

HELENA

- Cadê a minha arma?

TONY

- Como é que eu vou saber? Acabei de chegar!

HELENA

- Ainda não me disse o que faz aqui (Diz desconfiada)

TONY

- Eu estava indo para o estacionamento, e ouvi tiros.

HELENA

- E o que faz em New Sharon de madrugada?

TONY

- Tinha uma entrevista com o reitor. Tomamos drinques até tarde. Depois fui ao prédio do jornalismo olhar os murais da minha velha turma, e quando voltava ao estacionamento eu ouvi... É aquilo que esta procurando?

O repórter aponta para a pistola caída no chão. Helena a recolhe rapidamente. Ouvem-se sirenes ao longe, ao mesmo tempo em que Helena ouve vozes gritando o seu nome.

HELENA

- Vamos sair daqui. Você vai na frente.

TONY

- Você tá bem? Tá sangrando (Diz preocupado).

A agente coloca a mão na testa, e percebe que um fino filete de sangue escorre debaixo dos seus cabelos. Ela segue o filete com o dedo, chegando a uma pequena ferida oculta por seus cabelos negros, que explode em dor ao ser tocada.

HELENA

- Isso não é nada (Diz limpando o sangue da testa).

TONY

- Ainda sim, acho que devia ver um médico.

HELENA

- Vamos logo!(Diz ela com irritação)

LADO DE FORA DA CONSTRUÇÃO

Helena e Tony saem do prédio, e vêem vários fachos de luz surgindo na neblina. Após a dupla passar pela corrente de isolamento, eles vêem vários homens usando o paletó que serve como uniforme dos seguranças da universidade, segurando lanternas. Ela se dirige a eles.

HELENA

- Ola! Sou a Agente Helena Belli.

SEGURANÇA

- Estávamos procurando por você. A senhorita esta bem? Soubemos que estava perseguindo um suspeito. Por acaso é ele?

Tony arregala os olhos diante da pergunta do segurança.

TONY

- Eu não to usando algemas, cara.

Helena ouve uma voz conhecida, ao mesmo tempo em que vê Sage surgir na neblina.

SAGE

- Perdoe a nossa surpresa, Sr. Stevenson, mas encontramos a Agente Belli com o senhor, e até onde sabíamos, ela perseguia um suposto assassino.

Tony vai responder, mas Helena o impede com um gesto de mão.

HELENA

- É uma historia um pouco longa, Frank. O Sr. Stevenson vai dar as explicações necessárias. Mas não agora. Primeiro quero voltar para a cena do crime.

Ela volta-se para o segurança que parece comandar o grupo.

HELENA

- Quero que continuem revistando a universidade. O assassino ainda pode estar por ai. Levem o Sr. Stevenson também. Quero falar com ele mais tarde.

TONY

- Esta me retendo aqui? Por acaso sou suspeito? (Pergunta com certa indignação)

HELENA

- Não, só estou pedindo pra você ficar um pouco mais. Você pode continuar com o reitor. Tenho certeza que ele esta acordado agora.

Helena dá as costas ao repórter, e começa a se afastar, sendo seguida por Sage, e alguns dos seguranças. Três seguranças ficam com Tony. Um deles se dirige ao jornalista.

SEGURANÇA 2

- Vamos senhor. O senhor pode ficar na central de segurança até ser liberado.

PRÉDIO DOS DORMITÓRIOS

Helena e Sage chegam ao prédio dos dormitórios. O local já esta cercado por curiosos e seguranças da universidade, que orientam os moradores do prédio a seguir direto para seus quartos. Policiais vindos da cidade também já estão presentes, tentando isolar a área. Enquanto entram no prédio, Frank fala com a jovem agente.

SAGE

- Você esta bem?

HELENA

- Uma garota foi morta. Decididamente, eu não estou bem.

SAGE

- Estava falando fisicamente. Tem sangue na sua testa.

A ferida na cabeça de Helena voltara a sangrar. Ela tira um lenço do bolso, e limpa o pequeno filete de sangue.

HELENA

- Não é nada, só um cortezinho. Assim que terminarmos aqui, eu vou à enfermaria.

Os dois sobem as escadas, chegando ao corredor do primeiro andar, que esta apinhado de policiais. Uma fita de isolamento esta posta em frente ao quarto de Kelly. Helena vê Isadora no fim do corredor, junto do Chefe Da Segurança, e do sargento que conheceu no dia em que veio ver o corpo de Tina Becker. Expectativa surge nos olhos de Isadora quando ela vê a agente

ISADORA

- Agente Belli! Você o pegou?

HELENA

- Não, querida. Ele escapou. Mas vamos pega-lo.

Chambers dirige-se a Helena.

CHAMBERS

- É bom ver que esta bem, Agente Belli.

HELENA

- Obrigado. Mas não esperava encontrar essa moça ainda aqui, Sr. Chambers. Achei que ela já tivesse sido levada para a enfermaria.

CHAMBERS

- Bem, ela insistiu. Queria falar com a policia antes de ir embora.

Helena vira-se para o Sargento.

HELENA

- Já tomou o depoimento preliminar dela?

O homem confirma com a cabeça.

HELENA

- Então podemos tirá-la daqui. Sargento, pode mandar alguém levá-la para a enfermaria?

ISADORA

- Não preciso ir á enfermaria! Eu só quero... Só quero ir pro meu quarto.

SARGENTO

Tudo bem. Um dos meus homens vai levá-la até lá.

Após uma ordem do Sargento, dois policiais escoltam Isadora para fora do corredor. Helena vira-se para o sargento.

HELENA

- Onde esta o Chefe Ferguson? Achei que já estaria aqui.

SARGENTO

- Demoramos um pouco para encontrá-lo. Mas ele já ligou, e disse que esta a caminho.

LADO DE FORA DO PRÉDIO

Os dois policiais levam Isadora até uma das viaturas. A jovem pode sentir sobre ela os olhos curiosos dos estudantes que ali estão. Por um instante, ela amaldiçoou aquele bando de enxeridos, mas lembra envergonhada, que se não fosse ela ali, também estaria entre os curiosos, tentando saber o que aconteceu. Os policiais abrem a porta do carro para a garota, entrando em seguida. Logo, a viatura já esta abrindo caminho entre os estudantes.

CENA DO CRIME

Helena, Sage, Chambers, e o Sargento, entram no quarto. Todos usam luvas de borracha. Kelly continua no mesmo lugar onde Helena a viu antes. Deitada sobre o próprio sangue, com a blusa rasgada, e um enorme corte do pescoço até o umbigo, deixando seus órgãos a mostra.

O sargento liga a luz do quarto. O quarto é completamente iluminado. Helena consegue observar os detalhes que não percebeu em sua primeira visita. Há um notebook caído no chão, e o espelho do quarto esta quebrado. Há pequenas gotas de sangue salpicadas no espelho. A agente também pode reparar melhor no rosto de Kelly. É fácil notar que ela foi uma garota muito bonita em vida, mas não há beleza no gelo da morte estampado no rosto da garota.

Há pequenos cortes em seu rosto. Seus lábios e queixo estão manchados de sangue, provavelmente regurgitado após o assassino ferir algum órgão vital. E os olhos azuis, que provavelmente foram cheios de vida um dia, agora estão arregalados, fitando o vazio. Como um registro eterno das ultimas sensações que a garota sentiu, medo e dor.

E é claro, a assinatura escrita com o sangue de Kelly na parede, que diz “Um Abraço Do Jack”. Helena conhecia muito bem o caso Calcanhar De Mola. Passou os últimos dias lendo o dossiê do caso. Ela sabe que somente uma vez o assassino deixou uma mensagem como aquela. Quando matou Adelie, sua irmã de criação. A voz do sargento traz Helena de volta a realidade.

SARGENTO

- Meu deus! Esse cara é doente!

Sage põe seus óculos, e observa a mensagem na parede mais de perto.

SAGE

- Essa mensagem confirma o que suspeitávamos. Estes crimes estão ligados com os de 2001.

HELENA

- Mas Jack nunca tinha invadido um dormitório. Sempre atacou suas vitimas na rua.

SAGE

- Ele não quis repetir Tina Becker. Tentou algo diferente desta vez, elevando o nível.

Chambers e o Xerife o olham sem entender.

HELENA

- Frank quer dizer que quem esta fazendo isso quer atenção. Quer que saibam que foi ele. O filho da mãe esta tentando nos impressionar (Diz com raiva)

CHAMBERS

- Acham que ela o deixou entrar?

SAGE

- Acho que não. Houve uma luta violenta aqui. Se o assassino a conhecesse, podia ter escolhido um momento em que ela estivesse mais vulnerável, e a dominado facilmente. Mas pelo que eu vejo, não foi isso o que aconteceu.

SARGENTO

- Isso é circunstancial. Talvez o assassino tenha se descuidado. Não vejo nada que indique que o assassino não a tenha seduzido para ser convidado a entrar.

HELENA

- Esta sugerindo que ela pode tê-lo trazido pra cá com intenções sexuais, Sargento?

SARGENTO

- Estamos em uma universidade. Sabe como esses jovens são. Alem do mais, soube que houve uma festa hoje. Sabe o que dá combinar jovens mais bebidas.

HELENA

- Um clichê cruel, mas verdadeiro. Só que dessa vez, não é isso. Olhem como ela esta vestida. Acham mesmo que estava tentando seduzir algum namorado?

O sargento olha para as roupas que o cadáver esta usando. Uma calça comprida, e uma blusa, que devia ter sido comportada antes de ser brutalmente rasgada

O Sargento fica quieto diante das observações. Sage olha para o peito aberto da vitima.

SAGE

- Parece que ele não levou nenhum órgão desta vez.

HELENA

- Talvez a garota e eu o tenhamos interrompido.

Há um momento de silencio entre o grupo. Sage tira os óculos, e declara.

SAGE

- bom, acho que esta é a avaliação preliminar que podemos fazer. O resto é com a pericia.

Enquanto Sage se vira, Helena se abaixa ao lado da vitima, olhando para seu rosto. O agente veterano vira-se, e observa a cena.

HELENA

- Qual era o nome dela?

CHAMBERS

- Kelly Wilson.

Helena olha piedosamente para o rosto de Kelly, e então passa a mão sob seu rosto, fechando os olhos da garota.

ENTRADA DO PRÉDIO

Helena e Sage saem do prédio. Enquanto Frank tira um cigarro do bolso, e o acende, Helena observa o Chefe De Policia descer do seu carro, e se aproximar.

FERGUSON

- O que ele esta fazendo aqui?(Diz apontando para Sage)

HELENA

- Frank esta prestando consultoria ao caso. Vou formalizar isso amanhã.

FERGUSON

- Você decidiu isso?

HELENA

- Foi. E depois de ver o recado que o assassino deixou, você vai me dar razão.

Ferguson olha para ela com atenção.

FERGUSON

- Ok. Mas me avise antes de envolver um civil. Este caso ainda é da Policia De New London.

HELENA

- Eu peço desculpas. Não vai mais acontecer.

FERGUSON

- Tudo bem. Vou ver como os peritos estão trabalhando a cena do crime.

Ferguson dá as costas ao agente, mas Helena o chama novamente.

HELENA

- Quero um exame de sangue pra saber a quantidade de álcool que ela ingeriu. Peça pros peritos analisarem a porta tambem. Procurem um sinal de arrombamento. Atirei na porta, mas a fechadura esta intacta. Não precisam de mais nada para averiguar o que eu pedi.

Helena se afasta, sendo acompanhada por Sage. Ele fala com uma expressão séria.

SAGE

- Vai mesmo requerer minha consultoria oficialmente?

HELENA

- Depois do que aconteceu hoje, vou sim. Vamos precisar de toda ajuda que puder.

SAGE

- Obrigado pelo voto de confiança. O que vai fazer agora?

HELENA

- Interrogar Stevenson. Quero conferir a historia dele.

SAGE

- A policia pode fazer isso. Você precisa descansar.

HELENA

- Eu estou bem.

Subitamente, ela sente o filete de sangue voltar a escorrer pela sua testa, ao mesmo tempo em que sua visão fica turva e suas pernas ficam bambas. Helena perde o equilíbrio do próprio corpo, e só não cai no chão, pois Sage a ampara.

SAGE

- Opa, garota! Isso é o que acontece quando a adrenalina acaba (Diz tranquilamente)

Ele passa o braço dela sobre seu pescoço, para ajudá-la a se sustentar.

HELENA

- Foi só uma tontura. Eu não comi nada a noite inteira (Diz com a voz fraca).

SAGE

- Então vamos comer algo no hospital, depois que você fizer alguns exames (Diz taxativo).

HELENA

- Não preciso de hospital.

SAGE

- Não foi uma sugestão. Vamos. Se não me engano, seu carro não esta longe.

Helena sente-se fraca demais para protestar, e se deixa conduzir. A agente repara que a névoa começa a se dissipar. Entretanto, ela sabia que diferente da neblina, a presença de Jack Calcanhar De Mola permaneceria na universidade. Esta noite, o assassino plantou uma semente de medo em New Sharon, e a regou com o sangue de Kelly Wilson.

Eles andam em silencio até o estacionamento, onde esta o carro de Helena. Frank a coloca no banco do carona, acomodando-se em seguida no banco do motorista. A morena pressiona seu lenço contra o ferimento na cabeça, para deter o sangramento.

SAGE

- Dessa vez, eu dirijo (Diz brincalhão).

Ela olha profundamente para ele, e pergunta com uma nota de desesperança na voz.

HELENA

- Nós vamos pega-lo, Frank?

Sage não responde imediatamente. Ele tira os óculos do casaco, e os coloca no rosto. Então olha para a moça, e sorri.

SAGE

- Descanse, Helena. Organize os pensamentos e as emoções.

Ela dá um riso amargo, e vencida pelo cansaço, adormece.

QUARTO DE ISADORA

Isadora esta sentada em sua cama há quase duas horas, olhando pela janela. O nevoeiro já se dissipou totalmente. O dia começa a amanhecer.  O céu esta cinza, com imensas nuvens negras se formando sobre a universidade. Era a segunda fase da Primavera Vermelha começando. Em breve começaria a chover.

Quando Isadora chegou ao seu prédio, ela sentiu a necessidade de pedir aos policiais que a acompanharam para conferir o seu quarto. Ao se lembrar disso, a garota pensou com tristeza que Jack já começou a espalhar o medo por New Sharon.

Grossas gotas de chuva começam a fustigar a janela. A jovem sabe que não vai conseguir dormir. Toda vez que ela fecha os olhos, vê Kelly ensangüentada no chão, com o olhar congelado de pavor e com as tripas expostas. Neste momento, seu celular toca. Ela deixa o aparelho tocando até cair. Mas o silencio não dura muito, pois alguém toca a campainha. Isadora se levanta, e olha no olho mágico. Bruce esta do outro lado da porta. Ela se afasta, pensando o que o rapaz quer. É quando ele fala do lado de fora.

BRUCE

- Eu sei que você tá ai, Isa. Abre a porta, por favor.

Ela não responde.

BRUCE

- Não precisa falar nada. A única coisa que me interessa é saber como você tá. E se acha que eu vou te deixar sozinha nesse momento, se enganou completamente.

Ainda não há resposta.

BRUCE

- Tudo bem. Não precisa abrir. Eu vou ficar aqui no corredor, tá bom? Não vou sair daqui. Qualquer coisa que precisar...

A porta se abre. Isadora faz sinal para que ele entre. Assim que o rapaz entra, a moça fecha a porta. Os dois se olham em silencio por um instante. A jovem então fala

ISADORA

- Não devia ter vindo aqui com essa chuva (diz sem jeito).

BRUCE

- É só chuva.

Ela ri sem alegria.

ISADORA

- Você não me escuta. Nenhum de vocês nunca escuta. Kelly era igual. Pedi pra ela me esperar pra irmos juntas.

Lagrimas começam a rolar pelo rosto de Isadora.

ISADORA

- Por que ela não me esperou? Por quê?

A garota enfim desaba em um choro doloroso. Bruce vai até ela e a abraça, falando em tom consolador.

BRUCE

- Tudo bem. Eu to aqui. Eu to aqui.

Isadora ficou ali um bom tempo, chorando a morte da amiga, nos braços de Bruce.


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Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado. Em breve, o Capitulo Cinco.
Até!