Nina

Eu estava tremendo e meus joelhos cederam ao cansaço físico e mental. Tudo que eu queria era estar longe dessa escola, longe do Ethan, da Letícia e, principalmente longe do Daniel. Eu achei que ele não tinha me seguido, mas é claro que eu estava errada.

– Você está bem?      

– Pra que você quer saber? Até parece que se importa comigo. – Eu disse entre lágrimas e soluços. Por que ele simplesmente não me deixava em paz? Tudo que eu queria naquele momento era ficar quieta no meu canto, jogada no chão e chorar em paz. Isso é pedir demais?

– Você pode não acreditar, mas eu me importo. Tanto que estou aqui tentando te ajudar. – Ele disse de uma maneira que me pareceu bem sincera. Esse anjo realmente não bate muito bem da cabeça. Uma hora ele quer me matar, outra hora quer me ajudar. Vai entender.

– Eu estou bem. Não preciso da sua ajuda. – Eu disse, tentando ser o mais gentil possível. Mas a minha voz saiu meio áspera e tremida, devido à raiva e o soluço irritante. – De qualquer forma, obrigada por se preocupar.

– Se está tudo bem como você disse, então porque está chorando de maneira tão desesperada? – Ele tinha que perguntar logo isso?!

Fiquei quieta e não respondi a sua pergunta. Eu estava ajoelhada no chão e acabei deitando no mesmo, em posição fetal. Queria ficar encolhida no meu canto. Lamentando a minha falta de sorte. Naquele momento eu não me importaria se ele tentasse me matar, pra dizer a verdade, seria um favor que ele iria me fazer. Qualquer coisa que fizesse essa dor sumir, eu aceitaria de bom grado.

– Nina? Porque está chorando?

– Eu não quero falar sobre isso. Por favor, me deixe sozinha. É tudo que peço. – Falei com a voz chorosa.

– É por causa do Ethan? Está assim porque o viu beijando a Letícia?

– Não. – Sussurrei de volta.

– Não? Tem certeza? Porque sinceramente, eu acho que aquela cena que acabamos de ver é a culpada dessa crise de choro.

– O que você quer Daniel? Veio até aqui pra jogar na minha cara que eu não sirvo para o Ethan? Veio me dizer que ele nunca vai me querer por eu ser filha do seu pior inimigo e que ele nunca vai me amar? Se for isso, perdeu o seu tempo. Eu não sou tão idiota quanto pareço. Sei muito bem que eu nunca terei uma chance com o Ethan. Sei perfeitamente que ele jamais vai se sentir atraído por mim ou me amar. Afinal, querendo ou não eu sou a inimiga de vocês. E um anjo jamais se apaixonaria por um demônio. Não é mesmo? 

Eu praticamente cuspi essas palavras enquanto me sentava e olhava para o anjo parado em pé, de frente pra mim. Ele apenas me olhava com uma expressão estranha, como quem não acredita no que está ouvindo.

– Você esta totalmente enganada. – Foi à única coisa que ele disse, com uma voz extremamente calma e aquele olhar angelical.

– O que quer dizer com isso?

– Eu não vim aqui jogar na sua cara que nunca terá uma chance com o Ethan. Isso não depende de mim, eu não mando no coração dele Nina. Tudo que eu quero é que o meu amigo seja feliz e, se a felicidade dele estiver ao seu lado, eu irei apoiá-lo. Mesmo eu achando que você não seja a melhor opção para o meu melhor amigo.

 Fiz uma cara de descrença e senti meu queixo cair. Eu não conseguia acreditar no que eu estava ouvindo. Esse anjo realmente não gira muito bem das idéias. O que ele estava dizendo? Ele realmente queria dizer que iria ficar do lado do Ethan, caso ele se apaixonasse por mim? Iria apoiá-lo?

– Não me olhe com essa cara. Sei o que você deve estar pensando, mas eu não estou louco e nem nada parecido. – Inclinei a cabeça para o lado e o olhei com certa desconfiança. Eu realmente tinha dúvidas em relação a sua sanidade. – Olha Nina, eu confesso que ainda não confio totalmente em você e talvez eu nunca confie, mas de uns tempos pra cá eu tenho a observado atentamente e pude ver que talvez você não seja igual o seu pai e os seus irmãos. Você parece ser diferente deles. Eu não sei. Algo aqui dentro – ele apontou para o seu peito – me diz que você é diferente e eu realmente quero acreditar que você seja diferente.

– Obrigada! – Foi tudo que consegui proferir naquele momento. Eu estava muito chocada com o que tinha acabado de ouvir daquele anjo maluco, lindo, mas ainda assim, maluco.

– É por causa dele não é?

– Como? – perguntei sem entender.

– Essa crise de choro? É por causa do Ethan? – Droga. Porque ele insistia nessa pergunta?

– Eu não quero falar sobre isso. Por favor.

– O Ethan é o cara mais legal que eu já conheci e eu não falo isso porque o tenho como um irmão, falo isso porque é a verdade. Ele merece ser feliz. Por isso eu vou te pedir uma coisa. – Eu o olhei totalmente confusa. O que ele poderia querer de mim a essa altura do     campeonato? – Não o magoei. Eu não quero machucá-la, mas se você o machucar de alguma maneira, é comigo que você vai acertar as contas. Eu não vou permitir que ninguém machuque o meu melhor amigo, o meu irmão.

– O que te faz pensar que eu algum dia iria magoá-lo? Caso você não tenha percebido, eu sou meio demônio e o Ethan é um anjo. Ele nunca vai se apaixonar por mim. Nunca vai me olhar como um homem normal e apaixonada olha para a sua amada. Eu nunca serei essa pessoa Daniel. Nós dois somos de mundos diferentes, mesmo eu desejando com todas as minhas forças que tudo isso seja apenas um pesadelo e que logo acabe. O pesadelo não vai acabar, nunca vai. E sabe porque? – ele continuou me encarando, – Porque somos como água e azeite. Como os rios Negro e Solimões que, apesar de se encontrarem, suas águas correm juntas por quilômetros sem se misturarem. – eu disse constatando que tudo que havia acabado de dizer era a mais pura verdade.

– Talvez você tenha razão. Mas isso não quer dizer que você não possa ser uma boa pessoa e proteger a humanidade, ao invés de fazer o mau, como o seu pai e os seus irmãos fazem.

– Eu sei. Eu não quero fazer mal a ninguém. É isso que estou tentando fazer você e o Ethan perceberem desde que eu cheguei nessa escola. Eu não vim estudar aqui com o intuito de fazer o mau. Eu estou aqui para terminar os meus estudos, ser uma garota normal, na medida do possível e, se possível, me esconder da minha família paterna.

– Vamos fazer um trato. Eu e o Ethan não machucamos você se você prometer não tentar nos matar e nem fazer mau a ninguém. O que acha?

Eu sorri com a sua proposta. Era justo o que ele estava propondo, por isso resolvi aceitar de bom grado. – Ok! Eu aceito a sua proposta. – Apertei a sua mão estendida em minha direção e dei um largo sorriso, mesmo com o coração doendo por saber que o Ethan está saindo com a Letícia. Ele sorriu de volta e depois soltou a minha mão.

– Sabe. Apesar de tudo, eu devo dizer que você tem chances com o Ethan. – Eu o olhei mais chocada do que nunca.

– Tem certeza que você está se sentindo bem? Não me leve a mau, mas você está muito esquisito hoje. Quero dizer, primeiro você vem todo preocupado comigo, depois diz que acredita em mim e agora me diz que eu tenho chances com o Ethan. Eu to começando a achar que você andou usando algum tipo de droga. – Ele riu. Sério. Ele apenas riu, ou melhor dizendo, gargalhou profundamente. Esse anjo realmente é mais louco do que pensei.

– Eu também não me entendo às vezes. Aliás, ninguém nunca me entende. Acho que o   único, além de Deus, é claro, que me conhece tão bem, é o Ethan. Talvez pelo fato de estarmos sempre juntos e sermos como irmãos.

– Ele não gosta de mim Daniel. Ele se quer olha pra mim. E depois do dia em que nos encontramos no clube ele começou a me ignorar o máximo que pôde.

– É o que você acha?

– É a verdade.

– Bem. Eu penso diferente, mas como eu havia dito anteriormente, eu não mando no coração dele. -- Ficamos em silêncio por alguns segundos e em seguida ele resolveu mudar de assunto. -- Bom! É melhor voltarmos, a aula já deve estar começando.

 – Ok! Vamos.

Fomos para sala e ao chegarmos juntos, ganhamos um olhar interrogativo do Ethan. Ele provavelmente estava se perguntando o porquê de termos chegados juntos e atrasados.

Depois da aula eu fui ensaiar um pouco no teatro e aproveitando que o piano estava livre eu comecei a tocar e cantar uma música que eu simplesmente amo e que tem tudo a ver comigo e com a minha louca vida. A música se chama You don't know da banda Westlife. É uma música que fala sobre continuar sendo a mesma pessoa e conservar os amigos de sempre, apesar das pessoas acharem que você mudou, que é outra pessoa.

Eu pensei em cantá-la no festival, mas tem outra música que tem ainda mais a ver com o momento que estou atravessando. Espero não fazer feio na frente de toda a escola, pois é uma música difícil de cantar e que tem uma letra forte, não no sentido pornográfico, mas no sentido sentimental.

Eu ensaiei mais um pouco e depois fui me encontrar com Clarisse. A sua aula devia estar acabando e ela iria ficar uma fera se eu demorasse a ir encontrá-la.