Nina

Dentro de duas semanas vai aconteceu uma espécie de festival na escola, onde terá várias barraquinhas vendendo comida, bebida e acessórios, todo o dinheiro arrecadado vai ser doado para um orfanato.

Durante a tarde teremos apresentações de teatro e no período da noite teremos as apresentações musicais. Todos os alunos do 1º, 2º e 3º ano são obrigados a apresentarem alguma coisa, seja no teatro ou cantando, pois vale a nota da segunda avaliação das aulas de artes e música.

Como eu sempre fui uma péssima atriz, optei por cantar, já que eu aprendi cantar com a minha mãe e sempre ganhei vários elogios em relação a minha voz e a minha afinação. Também aprendi a tocar piano quando tinha apenas 8 anos. Todos os alunos que irão cantar vão ter q ensaiar duas músicas, pois o vencedor vai se apresentar novamente e terá que cantar uma música diferente.

O Ethan também vai cantar e o Daniel vai ser o Romeu na peça. Grande parte da minha turma, entre eles o Pedro, o Lucas e a Letícia também vão cantar. Os meus outros amigos vão representar alguns personagens na peça Romeu e Julieta.

Eles tentaram me convencer a participar da peça, segundo eles, eu seria a Julieta perfeita e o Ethan poderia ser o meu Romeu. Como se isso fosse possível. E mesmo que o Ethan aceitasse contracenar comigo, ainda assim, provavelmente eu não aceitaria o papel de Julieta, não porque eu não quisesse  atuar ao lado dele e beijá-lo, porque acreditem, eu adoraria poder dar o meu primeiro beijo, de preferência com o Ethan, mas eu sou uma péssima atriz e provavelmente seria terrivelmente vaiada. Portanto, a melhor opção é a música.

– Se você quiser eu posso ser a sua Julieta. – Eu revirei os olhos e sorri ao ouvir aquelas palavras. Eu simplesmente não podia acreditar que o Léo estava falando uma coisa dessas para o Daniel.

– Quem sabe da próxima vez Léo. Já encontramos a Julieta perfeita. – O safado disse isso e depois deu um sorrisinho com o canto dos lábios para o Léo, enquanto piscava para o meu amigo louco.

– Poxa! Que pena... Então fica para a próxima. Pode ter certeza que você não vai se arrepender de... hum... contracenar comigo... – O Léo disse isso com um sorriso malicioso no rosto.

– É fica para a próxima. – Ele disse enquanto se sentava na cadeira próxima ao Léo.

O Ethan apenas os observava, enquanto tentava se manter sério, mas tava difícil fingir não achar graça daquela conversa com duplo sentido. Enquanto ele tentava se manter sério, as meninas simplesmente faltavam rolar no chão de tanto rir com a cara de pau do Léo.

Nos dias seguintes eu ensaiei as minhas músicas e depois ficava observando a Clarisse ensaiar para a peça, ela não ia atuar, mas ia tocar as canções que seriam apresentadas durante a peça.

Os dias seguintes foram cheios, devido aos preparativos para o festival. Dentro de três dias seria o tão esperado dia do festival e das nossas apresentações, só em pensar no assunto eu já começo a suar frio e por esse motivo eu vivia ensaiando. Quando não estava ensaiando em casa eu ensaiava na própria escola, aproveitando os horários livres.

Desde o dia em que eu literalmente atropelei o Ethan na piscina, ele manteve o mais distante possível de mim. Evitava-me o máximo que podia e eu ficava agradecida por isso, mas ao mesmo tempo ficava imensamente triste e deprimida. Eu não queria que ele me odiasse, na verdade eu queria que ele gostasse de mim tanto quanto eu gosto dele, mas era óbvio que isso nunca iria acontecer e eu deveria me conformar. Eu tentava ignorar a sua presença na sala, mas essa era uma batalha perdida, uma vez que a sua presença parecia ocupar cada parte daquela sala. Os meus pensamentos me traiam o tempo todo e por mais que eu tentasse me distrair conversando com os meus amigos ou ensaiando, por mais que eu tentasse, eu não conseguia tirá-lo da minha mente.

Ontem o dia foi difícil pra mim. Como sempre a Letícia estava grudada no Ethan. Mais parecia um cachorrinho atrás do dono. Ela realmente estava conseguindo me irritar e olha que isso é uma coisa difícil  de acontecer. Eu provavelmente sou uma das pessoas mais paciente desse planeta, coisa que até hoje intriga a Clarisse, já que tanto o meu pai quanto os meus irmãos se irritam facilmente. Enfim, como eu estava dizendo, a Letícia ultimamente não deixa o Ethan respirar, vive grudada nele. O fato de ele estar me evitando só piora as coisas, pois eu gostaria que ele conversasse comigo e não com ela. Eu sei que eu não tenho o direito de desejar isso, sei muito bem qual é o meu lugar e com certeza não é ao lado do Ethan, mas dói saber que ela pode ficar com ele e eu não. Dói muito quando eu o vejo sendo agarrado pela Letícia, mesmo eu tendo a impressão que ele gostaria que ela o deixasse em paz. Mas se ele quer que ela o deixe em paz, porque ele não faz nada? Porque simplesmente não pede a ela que o deixe em paz? Isso me faz pensar que talvez eu esteja errada sobre o fato de ele querer se ver livre dela.

Hoje aconteceu uma coisa que me surpreendeu e muito. Eu simplesmente fiquei chocada a ponto de não conseguir acreditar no que aconteceu. Demorei um bom tempo para perceber que eu não estava sonhando, ou melhor dizendo, tendo um pesadelo.

Eu estava andando pelo jardim como sempre fazia quando tinha alguma aula vaga, quando vi o Ethan com a Letícia grudada em seu pescoço, parei para observar o que estava acontecendo e me arrependi amargamente pela minha curiosidade, pois a cena que vi a seguir fez o meu coração doer de uma forma que nunca havia doido antes, era como se tivessem enfiado uma adaga no meu peito e o acertado em cheio. Eu senti o coração apertar dentro do peito, os olhos começaram a arder devido às lágrimas que começavam a brotar em meus olhos e insistiam em descer pelo meu rosto.

A minha cabeça doía e a respiração ficou desregular devido ao soluço que eu insistia em prender. Eu sabia que ele não era meu e nunca seria, mas ainda assim, doía muito vê-lo beijando outra mulher. Eu sabia que ela tinha muito mais direito que eu, afinal ela é uma humana, mas isso não quer dizer que eu não tenha o direito de amar só porque o meu pai pretende destruir todos os anjos existentes no universo para assim poder dominá-lo.

Eu não tenho culpa de ser filha dele e definitivamente não pretendo me juntar a ele. Meu pai é um ser desprezível e tudo o que quer é reunir o máximo de almas possíveis, uma vez que elas o fortalecem. Eu não sou igual a ele e quero apenas viver a minha vida como uma garota normal, embora eu tenha que admitir que eu esteja longe de ser uma garota normal.

Eu não conseguia afastar os meus olhos da cena a minha frente, por mais que eu tentasse me afastar, eu não conseguia. Eu chorava e soluçava, chorava compulsivamente e rezava pra que ninguém me visse chorando. A última coisa que eu precisava naquela hora era ter que dar explicações para quem quer que fosse.

Eu continuava com os olhos no Ethan, com a Letícia grudada em seu pescoço e beijando-o, quando ouvi uma voz me chamando. Ignorei-a e continuei olhando-os, mas a voz me chamou novamente e eu percebi que a pessoa que me chamava estava muito próxima, olhei rapidamente em direção a voz que tentava chamar a minha atenção e quase tive um infarto quando vi quem estava ao meu lado, olhando-me de maneira curiosa. Sua sobrancelha estava erguida de maneira interrogativa e em seguida virou a cabeça em direção ao local onde o Ethan e a Letícia estavam se agarrando.

Ele voltou a olhar-me com uma expressão confusa, mas antes que ele me perguntasse qualquer coisa eu fugi. Corri para o meu lugar favorito naquele jardim, parando apenas quando cheguei no lago, envolto de tulipas e uma grama muito verde.

Eu estava tremendo e meus joelhos cederam ao cansaço físico e mental. Tudo que eu queria era estar longe dessa escola, longe do Ethan, da Letícia e, principalmente, longe do Daniel.

Eu achei que ele não tinha me seguido, mas é claro que eu estava errada. Como sempre.