Carnage Coffee escrita por Ana Bela


Capítulo 2
Perambulando Na Tristeza


Notas iniciais do capítulo

Mais um para vocês.
Boa leitura.



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Não conseguia dizer mais nada. Não precisou ser dito mais nada por sua mãe já que suas lágrimas escorriam pelo seu rosto rapidamente parando na sua mão livre que estava apoiada no seu colo. Tentava se controlar, mas doía seu peito, por dentro sentia um vazio doloroso como se sua alma estivesse quebrada. E talvez estivesse, sentia-se quebrado.

Não queria chorar, tentava se segurar ao máximo, porém quando mais tentava mais lágrimas vinham. Respirou fundo algumas vezes e também só ouvia as lamentações do outro lado da linha. A única coisa normal que Hyde ouvia era o som que vinham fora do apartamento e pouco a pouco os sons sumiam, largando Hyde num local frio e doloroso.

Não sabia o que dizer para aliviar a própria dor e a dor da mãe. Não tinha o que dizer, naquele momento, ele que lidava com palavras, não conhecia nenhuma que desse o efeito de um calmante para o espírito.

O silêncio naquele momento parecia que a própria morte estava ali rindo de sua cara. E as lágrimas aumentavam cada vez mais e todos os momentos que passou com sua família lhe vieram em mente. Nunca foi o grande companheiro do irmão, mas o considerava tanto, quando pequeno era seu herói. E quando Hyde ficou mais velho não dava tanta atenção para família, agora já era tarde, mas mesmo assim o arrependimento andava dentro de si.

-Como descobriram que... Ele foi assassinado?

A resposta foi esperançosa. Seu irmão dias atrás havia desaparecido e encontraram um corpo perto de sua casa totalmente desfigurado, mas os pais e nem familiares próximo tinham coragem de reconhecer o corpo, Hyde teria que reconhecer, se fosse o seu irmão tocaria enterro, se não, continuaria procurando.

Hyde desligou o telefone e correu as pressas para o quarto. Teria que arrumar as malas e ir para casa ver cadáver, torcia para que fosse apenas um engano, torcia que fosse apenas uma coincidência e o irmão havia arrumado alguma namorada ou algo assim. Porque queria que tudo aquilo fosse um pesadelo e logo acordaria.

Como ainda era de noite, mas não muito tarde, os vizinhos estranharam o baixinho correndo com mala em mãos. Hyde tinha que ir o mais rápido possível, se o corpo se fosse mesmo do irmão não poderia ficar dias lá no necrotério, nem ficaria, seria enterrado como mendigo. Mas ainda estava no tempo, o corpo fora encontrado em poucas horas e a perícia ainda examinava o local, segundo sua mãe.

Saiu do prédio jogando as chaves no bolso sem se importar se elas mais tarde caíssem de lá, sua mão suava tanto que mala já era um incomodo. Foi até o ponto mais próximo de táxi e pulou no primeiro carro vazio, já suava frio para chegar logo ao aeroporto e torcer por ter passagem para aquela noite mesmo.

Quando chegou ao aeroporto corria por aquele bolo de pessoas com malas e mais malas, tentava não perder o foco principal e desabar em lágrimas. Ergueu a mão para ver a hora, mas havia esquecido o seu relógio em casa. Xingou-se mais ainda por dentro, já estava atrasado e esqueceu de várias coisas, mas não dava mais tempo.

Por sorte tinha passagem para o vôo que sairia em poucos minutos, corria como se sua vida dependesse da sua velocidade, por um lado realmente dependia queria apagar aquela preocupação da alma e acreditar que era só coincidência e seu irmão logo estaria de volta. Entrou no avião olhando para as mãos inquietas, um pouco menos de viagem que para Hyde um minuto já parecia uma eternidade.

***

Hyde estava sentado naquele sofá de tantas lembranças. Olhava para parede cor creme e os móveis de madeira. Voltou a olhar para as próprias mãos que agora estavam calmas e pousadas em seu colo. Não se incomodava com os raios solares que estavam lhe banhando devido a grande janela ao seu lado.

Por dentro não sentia nada, absolutamente nada. Seus olhos nem piscavam para nada. De repente uma lembrança veio na mente, uma lembrança muito recente. Sentiu seu estômago se revirar completamente, e o enjôo voltar com força, mas tentava resistir em não colocar o café que há poucos minutos atrás havia bebido.

Estava sozinho naquela sala ampla e cheia de alegria... Ou pelo menos havia alegria lá porque agora sentia a atmosfera pesada em qualquer direção que fosse. Seu irmão estava morto, completamente morto e horas atrás foi confirmar da pior forma. Só de lembrar-se daquele corpo com cheiro de sangue velho e morto as lágrimas queriam voltar. Por que tinha que ser assim?

Em poucos minutos Hyde chegou à cidade e nem foi para sua antiga casa, foi direto ao necrotério. Chegando lá explicou a situação muito ofegante e foi levado através de um corredor frio e largo a uma sala onde uma maca era coberta por um pano branco.

Respirou fundo e ele mesmo tirou o lençol de cima do corpo. Estava estraçalhado, todo o corpo havia ferimentos feitos s a faca, e por meio do médico que estava ao seu lado, foi informado que os olhos foram arrancados brutalmente.

Sentiu tanta tontura que parecia que iria cair. O médico lhe aconselhou a sair dali se não estivesse bem, mas Hyde respondeu silenciosamente o nome do irmão, e lágrimas acompanharam sua voz triste.

O mais difícil para Hyde foi dizer aos seus pais a verdade, porque ainda sim eles pareciam esperançosos com a última ligação que ele havia feito para avisar que havia chegado à cidade. Chegou à casa dos pais acabado, e quando os mais velhos viram a face molhada de lágrimas do filho, a resposta foi dita pelo vento.

Minutos cortantes se passaram quando Hyde foi chamado de suas lembranças para fora da casa, já estavam prontos para o enterro. Não havia muitas pessoas ali, apenas amigos muito próximos e poucos familiares que ainda estavam chocados com a brutalidade e injustiça que foi feita com aquele homem que sempre estava dentro da lei, não brigava com ninguém e um ótimo humor e caráter.

O caminho foi silencioso e os únicos sons vinham dos que lamentavam consigo mesmo ou dos sapatos batendo no chão. Palavras não eram necessárias, nada o traria de volta por mais que implorassem aos céus que tudo aquilo passasse. Hyde sentia que mesmo se tentasse controlar a si mesmo, suas lágrimas, seria pior, mas se segurou o máximo que pôde, teria que tentar confortar os pais. O sol parecia neve caindo sobre sua alma e a congelando.

***

Dias se passavam e Ken andava distraído com o trabalho, seu cliente favorito nunca mais apareceu no café depois daquele dia em que ele estava bem ocupado. Perguntava-se por onde ele andava. Talvez fosse por aquela madrugada ele ter se intrometido na vida de Hyde demais e ele parou de frequentar o local. Mas mesmo assim ainda era estranho, mesmo se fosse isso encontraria o cliente em lugares comuns que frequentava, como o mercado ali perto por exemplo.

Estava ficando preocupado, não que a vida de seus clientes tivesse algo a ver com a sua, ainda mais Hyde que nada sabia dele. Ele nunca foi de conversar, só naquela madrugada estranha que disse um pouco de si.

Mas sua preocupação toda se esvaiu quando o viu entrar no café, aquele mesmo horário, onde o sol não batia na mesa que ele sempre descansava tomando seu café forte. O sorriso de Ken aumentou, estava feliz por o ver ali. Porém, logo a alegria de o ver ali desapareceu quando o viu passar reto pela sua mesa e for em direção a outra, mais afastada das outras onde se encontrava uma mulher muito bonita que quando foi atender recusou no momento dizendo que esperava alguém.

- Boa tarde, Hideto.

-Boa tarde... – Hyde disse num tom de voz frio mesclado com chateação se sentando de frente para a outra.

-Eu não pedi nada porque estava lhe esperando, se quiser algo...

- Caroline. – Interrompeu impaciente. – Você sabe que estou aqui apenas para saber como andam as investigações.

- Bem, ainda está do modo de sempre. – A mulher dizia com cautela escolhendo as palavras certas enquanto mexia no seu longo cabelo ruivo. – Não encontramos nada...

- Como não? – O menor já cuspia as palavras com raiva e indignação sem se preocupar. - Vocês estão há dias nisso dizendo que procuram respostas a todo vapor, mas agora me diz a mesma coisa que me disse semana passada?

- Hideto... É complicado, afinal foi algo sem explicação...

- E daí? Se forem bons o suficiente assim como dizem, saberiam muito bem encontrar a raiz do problema!

- Mas a questão é que não encontramos... – Suspirou fechando os olhos sabia que o irmão da vítima era uma pessoa de pouca conversa. – O grupo procura todos os dias algo que possa servir de provas, porém se não tem como quer que apareça?

- E a faca? Você não disse que... – Respirou fundo para conseguir concluir o pensamento. - Ele foi assassinado a facadas? Pois bem, onde ela está?

- O assassino a levou junto, não há como a encontrarmos...

-... - Hyde estava de punho cerrado e com o olhar pegando fogo pela injustiça daquilo. – Vocês disseram que resolver o caso seria fácil, você como líder da investigação quem disse que seria rápido...

- Faz pouco tempo que ocorreu o assassinato, as provas também não sairão brotando por aí e nós a seguiremos até encontrar quem fez aquilo.

- Caroline, já faz vinte dias... – Hyde frisou as duas últimas palavras sentindo o ódio crescendo dentro de si. – Vão esperar que o caso morra na boca do povo onde meus pais moram pra se mexerem?

- Não é nossa intenção. – Interveio tentando acalmar o outro. – Mas não podemos fazer milagre.

- Eu pensei que mudando a sede da investigação para Londres vocês iriam mais rápidos com isso. Eu não quero que o desgraçado que fez aquilo com meu irmão fique vivendo solto e sorridente por aí.

- Não vamos deixar que isso aconteça, mas tenha paciência...

- Então por que me chamou aqui? Eu pensei que haviam encontrado algo...

- Bem... Eu gostaria de saber novamente se seu irmão não mexia com algo, ou amizade suspeita...

- Não. – Falou tão rapidamente que cortou a outra de continuar seu repetitivo discurso. – Ele era uma pessoa comum. Ele trabalhava, morava com meus pais, conversava com os vizinhos. Ele não tinha nada de errado.

- Tem certeza?... Talvez algo que ele só contava para você...

- Só me chame para conversar sobre assunto novamente quando realmente encontrar algo concreto. – Hyde se levantou saindo sem se despedir, sentia que as lágrimas queriam vir.

- Tudo bem... – A mulher se levantou também indo a sua direção e passando sua frente. – Mas talvez demore...

- Eu quero o assassino atrás das grades... – Hyde viu a outra sair primeiro, fez uma careta de desaprovação e saiu.

***

Hyde chegou em casa cansado, depois da conversa que teve com a líder da investigação do assassinato do seu irmão ficou o resto dia pensando sobre aquilo, estava realmente triste em ainda não encontrarem nada, nenhum vestígio que pudesse dar um começo para encontrar o assassino. Lágrimas sempre lhe vinham quando lembrava o quanto o corpo estava retalhado.

Não importava o que fizesse sua vida não estava mais a mesma. Culpava-se todos os dias por não ter sido um bom irmão, afinal Hyde sempre foi tão distante da família e quando estava com eles não era tão atencioso assim. Doía saber que alguém importante em sua vida estava comendo terra.

Não ficou muitos dias com os pais por se sentir mal naquela casa, a atmosfera de morte estava impregnada por mais que a casa fosse limpa milhões de vezes. E para o baixinho era pior ainda todos os dias acordar naquele quarto e quando chegava a mesa para tomar café da manhã com a família, uma cadeira estava vaga e ver a melancolia dos pais. Nem sentia fome ou vontade de ficar ali, estava ficando louco.

Os poucos dias que dormiu na sua antiga casa só deram origem a muita dor de cabeça. Pesadelos todas as vezes que pregava os olhos, sonhava com aquele corpo, sonhava com a dor, quando finalmente acordava lágrimas já manchavam o travesseiro.

Não havia acreditado totalmente com a morte do irmão, de imediato pensou que fosse sonho ruim, mas aos passar dos dias a falta que ele fazia naquela casa foi pesando em seu coração, ver os pais todos os dias chorarem e orarem pela alma dele era como se estivesse sentindo facadas em seu coração, aquela casa mudou em seu ponto de vista. E mudou muito.

Foi descansar normalmente, caiu no sono tendo o mesmo pesadelo mútuo e cheio de sangue. Acordou no meio da noite suando frio e banhado em lágrimas. Arfava, dormir se tornou um momento de tortura total. Levantou-se e foi tomar café, mas o que tinha em casa, não queria sair aquela madrugada.

Dentro de seu apartamento as horas se passavam tão lentas que os minutos pareciam horas. O sol demorou muito a aparecer, mas Hyde ficou a noite toda observando a paisagem parada fora do prédio. Quando viu o céu clareando, sentia a impressão que estava ali parado há anos.

Era sábado, Hyde pretendia ficar o dia inteiro trancado em casa, não queria sair, afinal nem tinha para onde ir. Se saísse seria apenas para casa dos pais, e não iria mesmo. Queria esquecer um pouco daquele acontecimento, mas era algo impossível já que a todo o momento lembrava-se de como era sua vida antigamente, e depois se lembrava do cheiro fétido de cadáver naquele necrotério.

Passou o dia inteiro sem comer, não fez absolutamente nada, nesses momentos por mais irônico que fosse sentia saudades do trabalho mesmo que houvesse aquelas pessoas irritantes lá, mas tinha algo para fazer, tentar distrair a mente.

Tinha realmente um trabalho de lá para fazer em casa para fazer, então resolveu o fazer para tentar distrair a mente, mas era diferente que estar no prédio do jornal, em casa se sentia mal do mesmo jeito, mesmo recebendo algumas ligações do trabalho ao longo do dia, mas no fim seu trabalho deu todo errado porque sua atenção não estava ali.

Todos os dias no trabalho perdia a fome nem mais saía do jornal para ir ao café, muito menos de madrugada. Aliás, não saia mais para lugar nenhum, só o trabalho.

No final da tarde sentiu uma grande vontade de chorar. Estava na cozinha olhando a louça acumulada na pia de dias quando sentiu aquela horrível sensação. Chorou como se precisasse daquilo, sentia que aquelas lágrimas eram aquelas que não saíram quando viu o caixão estava sendo coberto de terra naquele dia, quando tentava ao máximo consolar os pais. Talvez só agora houvesse se dado conta do que havia acontecido mesmo.

De noite assistiu um pouco de televisão, ou pelo menos tentou, pois seus olhos mesmo que olhando para tela que toda hora mudava de cor, estava com a mente no passado. Sempre voltava ao passado e lamentava-se como se de alguma forma pudesse apagar sua dor, que era impossível. Queria apenas justiça.

Desligou a TV e foi tomar banho antes de tentar novamente dormir. Nem mais aquela água morna conseguia o relaxar, antes quando voltava quebrado da rua, o banho era o que fazia descansar. Mas agora o banho não se passa mais de um mero ato de higiene pessoal Quando fechou o chuveiro e a água parou de cair nem frio sentia, mesmo com a janela aberta ao seu lado.

Escovou os dentes, vendo sua face refletida naquele grande espelho. Era evidente que estava muito diferente, as olheiras que estavam em volta dos seus olhos era o que mais denunciava, depois vinha o semblante triste e perdido. Não se importava com que os outros pensavam de si daquela forma, continuava sendo ainda mais frio com todos para esconder toda sua dor.

Preparou-se para dormir, tudo programado, menos o sono. Deitou na cama e ficou olhando por longos minutos para o teto e nada. Sentia medo de dormir e ter aquele pesadelo horrível novamente, só precisava dormir e o sua dor voltaria. Mais minutos se passavam e a única coisa que via era aquela escuridão a cada ponto do quarto, qualquer barulho diferente já era motivo do seu coração saltar.

Levantou-se e foi até o interruptor de luz do quarto o iluminando, não dormiria nem que o sono viesse também. E não aguentaria ficar naquele apartamento uma madrugada inteira sem ter absolutamente nada para fazer, já passou a tarde inteira e a noite, a madrugada não repetiria. Iria sair para qualquer lugar, mas ali não ficaria contraindo aqueles sentimentos horríveis.

Tirou o pijama azul e pegou no guarda-roupa algo discreto como sempre fazia de madrugada, mas não colocou nenhum casaco ou sobretudo, aquela madrugada estava estranhamente quente. Largou a cama desarrumada e o pijama jogado nesta, quando chegasse em casa arrumaria, mas naquele momento queria fugir do apartamento, nem que pulasse pela janela.

Enquanto andava pelos corredores, descia os seis lances de escadas, não se incomodava com o barulho que seus sapatos faziam, um barulho alto pelo horário, nunca gostou do som, mas andava tão indiferente para o mundo exterior, ou seja, fora de seu apartamento, que qualquer coisa não mais o incomodava tanto assim, menos as pessoas que para Hyde continuavam as mesmas, torrando sua paciência e destruindo o seu pingo de paz.

Quando saiu do prédio se arrependeu de não ter pegado algum casaco, aquelas rajadas de vento faziam todo seu corpo arrepiar. Mas aquilo não era algo que o acalmava mais como antes, pelo contrário, o deixava mais inquieto com vontade de desaparecer dali, daquele ambiente, agora enjoado e sem vida.

Mesmo com um pouco de frio não saiu correndo ou andando rapidamente, pelo contrário, caminhava muito devagar, aproveitando o momento fora de sua casa, fora de lembranças grudadas na sua cabeça.

Sua mente estava naquele momento vazia, só prestava atenção no caminho que seguia e as coisas a sua volta. Nada mudou ali de madrugada, continuavam as mesmas coisas. Agradeceu por não tem ninguém na rua, não queria ser assaltado ou perder a paciência com algum bêbado inconveniente.

A visão que Hyde tinha daquelas ruas de madrugada, eram diferentes de como antes via, agora aparentavam ser mais sombrias e tristes a seu ver. Mesmo durante o dia com toda aquela luz, cores, pessoas, sons variados era algo melancólico. De madrugada então parecia que estava em mais um dos seus sonhos macabros.

Passou por aquela praça vazia, não se sentiu atraído a ir para lá, sentar em algum banco e ver as estrelas. Passou indiferente por ela, como se na verdade não existisse nada ali. Olhava para o chão e via sua sombra devido a luz dos postes o iluminarem, mesmo se quisesse passar despercebido aquelas luzes o denunciariam.

Quando finalmente viu o café, sentiu-se bem, ao menos lá as memórias passavam despercebidas, pois sempre observava o movimento na rua, o jeito das pessoas, e nunca na própria vida, nos próprios problemas. Como se lá fosse um lugar para esquecer-se de si. Poderia até considerar o lugar um calmante.

Chegou perto da porta de vidro e viu o dono do local dormindo. Achou graça daquilo, sempre que chegava aquele horário lá ele estava dormindo estendido no balcão. Entrou fazendo barulho o suficiente para que ele acordasse e quando este o viu parecia bem surpreso com sua presença. Também, fazia tempo que ele não frequentava o local aquele horário.

Ken dormia quase sonhando até quando ouviu o barulho da porta. Abriu os olhos e se ajeitou, ficou surpreso ao ver seu cliente preferido lá. Ficou feliz em o ver ali, quando viu Hyde durante o dia nem o atendeu, afinal ele ficou poucos minutos naquela mesa com aquela mulher e saiu com uma cara de decepção.

Mas vendo de perto, o cliente estava muito estranho, seus olhos estavam bem inchados e um pouco vermelhos e parecia chateado com algo. Pensou que fosse o trabalho dele, pois era algo que muitas vezes poderia dar muita dor de cabeça e cansaço bem maior.

- Boa noite, quanto tempo. –Ainda sorrindo viu o menor se ajeitar num baquinho.

- Boa madrugada... – Hyde respondeu seco ignorando o comentário do outro.

-Vai querer café né? - Ken já tinha até se virado para preparar quando Hyde o interrompeu.

-Não, eu quero cerveja.

- Como?- Estranhou o pedido do cliente, ele nunca, pelo menos no café, foi de beber.

- Eu disse que quero cerveja, algum problema nisso?

-Não, não é isso, mas é que... Geralmente você nunca pede.

-Mas hoje eu quero.

-Tudo bem...

Ken pegou uma garrafa de cerveja e um copo de vidro para o cliente e se espantou quando ele tomou apenas em dois goles na garrafa mesmo. Estava o estranhando muito. Primeiro pela ausência por dias, depois quando chega está com uma mulher, fato que estranhamente o incomodou muito por dentro, depois aparece de madrugada com olhos inchados pedindo cerveja que bebeu rapidamente.

Mas para aumentar seu espanto, Hyde pediu outra garrafa. Não contrariou o pedido, lhe deu outra no qual Hyde nem se importava em despejar no copo pare beber, colocava a boca direito no recipiente e bebia. Quando acabou a segunda foi para terceira, depois a quarta, e a quinta. Na sexta, Ken ficou muito preocupado e resolveu se intrometer.

- Tem certeza que quer mais uma? Você parece mal...

- Eu quero... Hic... Não encha o saco... Hic...

Ken se preocupou ainda mais, pois Hyde já estava visivelmente bêbado, aquilo o faria muito mal.

-Mas acho que já está bom, né... Você está bêbado... – Disse cauteloso observando o outro.

-... Droga... Hic... Eu quero outra cerveja...

O maior desistiu de tentar argumentar com o baixinho, sabia muito bem que pessoas naquele estado iriam teimar e são muito mais insuportáveis do que geralmente são. Deu outra garrafa já com a decisão de caso ele pedisse mais uma, recusaria e o colocaria para fora como sempre fazia com todos os clientes.

Mas não aconteceu quando Hyde colocou na boca, sua mão desequilibrou e a derrubou muito daquele líquido na própria roupa. Ken suspirou já se preparando para colocá-lo para fora, mas desistiu da ideia quando viu o outro com a cabeça apoiada no balcão dormindo profundamente com a face calma. Parecia um anjo.

Apesar do cheiro forte de álcool, achou o menor muito bonitinho dormindo daquela forma. Ficou com dó do cliente, deveria estar realmente mal para beber a ponto de acabar dormindo apoiado num balcão. Suspirou, e arrumou algumas coisas e jogou fora aquela garrafa de cerveja que o outro antes de cair no sono largou ali em cima.

Depois de terminar tudo o que tinha que fazer ali, olhou para Hyde e suspirou. Não teria outra forma de escapar, levaria o outro para o seu apartamento.


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Notas finais do capítulo

E agora?



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