The best shit escrita por LadyChase


Capítulo 34
Girl with thorns


Notas iniciais do capítulo

Eu sei o quanto eu demorei pra voltar a postar, mas as razões são obvias, eu não tinha mais nenhum capitulo pronto.
Mas do nada, literalmente do nada, me vieram mais uns 5 capítulos na cabeça, esse é meio pequeno, e trata mais sobre o Percy. Não se preocupem com a ação, teremos bastante "agito" nos próximos capítulos

Sei que é chato fazer isso, mas eu tenho que pedir, se eu não receber pelo menos 4 reviews para eu postar o proximo, preciso saber se ainda tenho leitores. No momento que receber os 4 eu posto o próximo capítulo



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Percy não foi o tipo de criança que sofreu.

Na realidade, foi a criança mais feliz do mundo. Sua família nunca teve problemas, nunca houve brigas sérias dentro de sua casa.

Em seus primeiros anos de vida, eles viveram na casa com porta de carvalho, em Nova York. Percy era um bebê risonho de olhos claros e disposição hiperativa. Uma família perfeita e feliz.

A primeira vez que Percy Jackson viu o sofrimento, ele tinha apenas 3 anos.

E viu sua mãe entrar em profunda depressão depois de perder um bebê. Viu seu pai sentado com a cabeça abaixada na cama, e sua mãe gritando no banheiro. Não tinha como ele entender o que estava acontecendo com ela, tão inocente e jovem.

Partiu a família toda para Carolina do Norte, compraram uma bela casa de frente ao mar. Sally Jackson se sentava na cadeira de praia todas as tardes, e olhava o por do sol com olhos tristes. A felicidade só voltou alguns anos depois, quando a perda já não os feria.

Percy cresceu no mar, correndo pela areia com pés descalços e fazendo desenhos que só ele entendia, a água salgada fazia parte dele. O mundo era fácil e bonito. Seu melhor amigo era seu vizinho, e eles passaram todos aqueles anos vestindo roupas de super heróis e pulando no mar. Grover fez sua infância ter valido a pena, seu primeiro melhor amigo seria o único que ele teria.

E mesmo quando cresceu, tudo era lindo e simples. Ele nunca experimentou o sofrimento, sempre tão cercado de risos e gentilezas, Percy teve o pensamento tolo de pensar que o mundo todo era assim.

Namorou várias garotas, sempre achou que amou todas. Sempre que encontrava uma era uma nova paixão acesa, e ele a vivia intensamente, vivia seu amor todos os dias. Ele era tão jovem e despreocupado, achava que já entendia do amor e que o tinha vivido inúmeras vezes, suas paixões eram sempre passageiras e selvagens.

Uma delas, foi com uma linda ruiva gentil, e como toda as outras ele viveu dessa paixão por algum tempo, ela era da mesma cidade pra qual ele estava se mudando. Perfeito não é?

Os dois seriam de Nova York. Maldita cidade.

Ele entendeu pela primeira vez sofrimento da mãe. O quanto Nova York podia ferir as pessoas. E sua vida plena e clara, se desmanchou em pontes de cinza ao vento, exatamente como ela era.

Não esperava encontrar nada que o impressionasse naquela cidade quando chegou, então lá estava ela. A menina de olhos tristes e sorriso quebrado, ela era tão extrema, tão linda e irritada.

Era intensa em tudo o que fazia, Percy não conseguia enxergar calma nela.

Não entendia como uma pessoa podia ser tão infeliz, como todas aquelas garotas podiam sofrer tanto, e mesmo assim levar a vida às extremidades.

Certa noite ele sonhou com uma criança de cabelos loiros sentado ao piano, seu vestido amarelo brilhava contra sua presença apagada. Ela estava triste, estava esgotada. Então foi assim toda a infância de Annabeth?

Percy teve os melhores anos de sua vida. Annabeth era uma bomba. Podia explodir a qualquer momento, as coisas aconteciam com ela, tinha sempre uma história pra contar. Percy não sabia lidar com o sofrimento.

Ela era o vento, era sopro caloroso no verão, era brisa constante e confortável do outono, era o ar com cheiro de flores da primavera, era a tempestade que cortava a pele no inverno.

Ela machucava como vento, era inconstante e nunca estava igual. Ela foi o primeiro sofrimento de Percy.

A tempestade que vinha chegava da cor de seus olhos, cinzentos.

Quando acordava pela manhã ele não tinha mais o tempo que passou. Não viu quando o sofrimento tomou conta dele. Não entendeu como podia estar sofrendo, não entendeu por que estava se destruindo. Ele nunca sofreu antes, não sabia lidar com isso, não sabia suportar.

E todas aquelas paixões que ele viveu na praia agora pareciam apenas divertimento que ele teve a muito tempo atrás. Ele realmente achou que tinha amado todas elas, achou que sabia o que era amor. Achava que ele era lindo, constante e inofensivo.

Até encontrar Annabeth.

Percy descobriu que o amor fere, que destrói, e principalmente que não é justo.

O amor não foi feito pra ser lindo, não foi feito pra fazer feliz.

Foi feito pra ser vivido.

Seu tempo se esgotou e ele perdeu o único amor que sentiu. Ela se foi, escapou por entre seus dedos.

Ele a beijou apenas uma vez, e naquele momento, foi por pura atração. Como poderia adivinhar que estava completamente apaixonado por ela? Como poderia alguém que nunca passou por isso entender o que estava acontecendo?

Sua menina triste ainda sim brilhava pra ele. Em seus sonhos ele a via quente como o sol, e sorrir de uma maneira que Percy sempre sorriu antes dela.

Sorrir como se nunca tivesse sofrido.

Claro que ele tentou desistir dela, largar todo aquele sofrimento.

Ele conseguia facilmente rir novamente, mas ela estava sempre lá, cravada na sua cabeça.

Será que era pra ter acontecido?

Ele estava acorrentado a ela, estava ficando tarde e cansativo.

Talvez ela só fosse uma doença.
Ele nunca teve chance de chegar perto, de sua menina cheia de espinhos.

E naquele último momento, aquele ultima chance que ele teve pra virar o jogo, ele simplesmente perdeu.

Naquele dia na biblioteca, Percy jurou que nunca mais esperaria por ela.

O dia estava claro, e como em todas as tardes, claras como aquela ou não, Percy estava na biblioteca perto do colégio.

Já tinha perdido a esperança de encontra-la lá, mas mesmo sim, todos os dias o garoto saia da escola e ia até o local para observar Annabeth caminhar pelas prateleiras cobertas e livro e pó.

Depois de semanas, Percy começou a gostar realmente da biblioteca, do cheiro dos livros, antigos e novos, do carpete com cheiro de pinheiro e da bondade da bibliotecária com ele. Então, gostar de lá era uma boa desculpa pra dizer que estava indo lá todas as suas tardes, claro que não era por Annabeth.

Que absurdo.

Ela sequer o notou nenhuma vez, sempre tão distraída, carregando pilhas de livros pelos infinitos corredores. As vezes quando tinha sorte ela se sentava em uma das cadeiras e lia grandes capítulos dos livros escolhidos por ela, dando a Percy mais tempo pra observá-la.

Por um bom tempo, o garoto fez isso, Annabeth não desconfiou, mas é claro que a bibliotecária sim. Percy sempre chegava um pouco antes da menina de cabelos loiros, e sempre ia embora assim que a mesma também fosse.

Mas mesmo percebendo, a velha senhora não comentou, apenas observou aquele amor adolescente acontecer entre livros. Sempre torcendo para o belo menino de olhos verdes tomasse coragem e ir falar com a doce jovem leitora.

Mas isso jamais aconteceu.

A bibliotecária percebeu que o garoto parecia cada vez mais triste em suas visitas, pro que a menina não estava mais lá. A loira nunca mais deu as caras por lá, mas ele continuava lá, aparecia todos os dias, e logo depois ia embora. Sempre com os olhos virados para as grandes portas, por onde passavam uma grande variedade de meninas, muitas delas loiras, mas nenhuma era ela.

E enquanto o menino de olhos verdes ia definhando atrás de filheiras de livros, a bibliotecária também parou de procurar os cabelos loiros e olhos acinzentados que tanto fariam Percy Jackson feliz.

Não se esperava mais nada naquela tarde em especial. Percy estava lá. Mas não pensou em encontra-la nenhuma vez, nem lhe passou pela cabeça.

Então uma luz estranha e desagradável capturou seu olhar, era o cabelo de uma adolescente, quase branco debaixo da luz do sol, doía os olhos para observar. Mas mesmo assim chamou-lhe a atenção, mesmo com saltos altos, ele reconhecia o jeito de andar.

Reconhecia as curvas daquele corpo que nunca pode realmente tocar.

E por mais que o rosto fosse cinza e doentio, ele reconheceu aqueles olhos cinzentos infelizes.

Annabeth.

A cadeira de Percy foi pra trás com o susto, e ele se segurou na beirada da mesa para não cair.

Annabeth.

Seu livro bateu no chão de madeira sem carpete, fazendo um eco desagradável, mas ninguém notou.

Annabeth estava terrível.

Caminhando cansada, olhando profundamente para as prateleiras, como se quisesse gravar tudo, como se nunca mais fosse ver aquilo.

Agora Percy arrastou a cadeira com cuidado, para não fazer barulho contra o assoalho velho como todo o prédio. Mas mesmo com esse cuidado, sua cintura bateu com força na quina da mesa que estava sentado, além da dor que surgiu em sua perna e foi para todo seu corpo, o som que ecoo chamou atenção de Annabeth.

Que pela primeira vez em todos aqueles meses percebeu Percy ali.

Que momento pra isso acontecer não?

Antes que pudesse chama-la, a garota deu as costas, os olhos arregalados de surpresa, partiu em direção a porta. Mas os saltos não ajudavam, e Percy era mais rápido. Quando ouviu suas passadas apressadas atrás dela, tentou correr.

Tropeçando em um não notado parafuso solto de uma tabua qualquer.

Ia cair de cara no chão, o salto ia quebrar e talvez junto com ele sua perna.

Mas antes que essa pequena tragédia pudesse acontecer, o garoto que já tinha lhe avançado, pegou sua mão a tempo e a puxou com toda força para cima.

Mais tarde Percy desejou que ela tivesse caído e arrebentado a cara.

–O que está fazendo aqui? - a voz dela soo grossa e ríspida, foi como um tapa na cara de Percy, que esperou por ela todos aqueles dias inacabáveis, na escola e na biblioteca.

–Ora, estou lendo.

–Você não lê, você odeia isso.

–As pessoas mudam. – os olhos dele percorreram por ela pela primeira vez em muito tempo, mas diferente de todas aquelas outras vezes, Percy não sentiu satisfação nem prazer com o ato. Foi diferente, ele quase sentiu nojo. Ela estava terrivelmente magra e usava roupas nada agradáveis à visão. Annabeth era uma puta do rock, adotou uma personalidade que não servia nela. Em outras garotas, essas roupas poderiam ser sexy, mas nela não. Era como se alguma coisa estivesse fora do lugar, Percy a acharia mais bonita se usasse apenas um saco plástico.

–Nada de indiretas Jackson. Estou indo embora. – e ela se virou bruscamente, puxando com força o braço de Percy que a segurava.

–Ah não. Não. Não. Não.

Ele a puxou de novo, dessa vez com força.

–O que aconteceu com você? - perguntou ele.

–O que aconteceu comigo? - ela perguntou incrédula, o sarcasmo impregnado na voz, aquele tom de voz o irritou profundamente.

–Você sumiu da escola, das suas amigas, e aparece vestida assim. Qual é o seu problema?! – ele falou alto demais, chamando atenção de várias pessoas. Um segurança fez cara feia pra eles.

–Não. Qual é o seu problema? É minha vida desde quando isso interessa a você?

–Desde... – Percy ia falar uma idiotice.

Uma grande idiotice. Tinha certeza que seu rosto tinha ruborizado, então começou a tossir sem motivo, pra tentar disfarçar.

Annabeth riu.

Não aquela risada bonita que ele sempre gostou de ouvir, melódica e feliz. Foi uma risada zombeteira e nojenta.

–Pobre Percy. Acha que eu não sei qual é o seu problema?

Ele afrouxou a mão em volta dos pulsos dela, ela puxou mais uma vez com violência. Mas não tentou fugir dessa vez. Olhou pra ele com puro desprezo, esse olhar fez Percy se sentir um lixo.

–Apaixonado pela garotinha rica que desaprendeu a rir. Tadinho dele.

–Cale a boca, Annabeth. Olhe só as coisas que você está dizendo. Está se drogando?

–Eu não sou burra seu tapado. Eu vi o jeito que olhou pra mim naquele dia desgraçado na sua casa. Você me quis. Não como amiguinha. Quis me ver nua em sua cama como todo os outros. Quis me comer. Não foi?

Se ele não fosse quem era, teria dado um tapa na cara dela. As palavras não machucavam, mas sua voz, o jeito que ela disse isso, parecia uma grande bola de demolição. Pisando nos sentimentos de Percy com saltos altos, Annabeth continuou com suas insinuações podres.

Uma pior que a outra, Annabeth zombava dele, jogando em sua cara que sabia bem dos sentimentos dele, e que se desfazia do mesmo como se fosse descartável. Ele estava lutando pra se mostrar indiferente, mas seus nervos estavam gritando.

Ele não iria perder o controle com ela. Não ia gritar.

–Você é ridículo. É nojento. Queria só se aproveitar. – ela cuspia as palavras.

–O que está fazendo Annabeth? O que tem na cabeça? Por que veio aqui depois de tanto tempo?

E pela primeira vez ela resolveu responder uma pergunta dele com sinceridade.

–Estou indo embora. Não é ótimo?

–Você o que...

–Estou me mandando daqui. Vou pra puta que o pariu. Pra qualquer lugar.

–Está fugindo.

–Não. Vivendo. Quer escutar uma coisa? Aquelas garotas que chamei de amigas, todas elas se foderam na vida, e construíram sonhos e rebeldia sem motivo por que sua vida real é trágica. Estou indo viver de verdade, diferente delas.

–Você está construindo a porcaria de um sonho maior, não vai conseguir sair disso.

–E por que você se importa? - ela praticamente berrou. Talvez por sorte, não havia mais ninguém por perto pra ouvir.

–Por que eu gosto de você. Porra. Eu realmente gosto de você. – e foi.

Simplesmente assim, o sapo que estava engasgado na garganta de Percy foi cuspido pra fora de uma vez.

De olhos arregalados, Annabeth deu dois passos pra trás.

Ela sequer desconfiava.

Estava gritando com ele a pouco, tirando sarro dele, sem sequer saber da verdade.

Uma briga se seguiu depois disso, uma briga tão séria que eles foram expulsos da biblioteca, e continuaram a briga lá fora, aos berros, para todos que quisessem ouvir.

Percy se arrependeu das palavras, e gritou com ela, sobre a decisão de fugir a abandonar tudo. E depois de palavras dolorosas, Annabeth deixou rolar uma lágrima. Apenas uma.

–Eu também gostava de você Percy. Mas eu não posso gostar de mais ninguém além de mim agora. Estou fugindo sim, pra me proteger.

Uma centelha se acendeu dentro dele, uma pequena faísca de esperança, essa faísca foi o que alimentou todo o incêndio dos meses seguintes,

–Se você gostou de mim então...

–Não. Percy. Não agora. Vou embora, vou viver.

–Annabeth não faça isso. – Ele segurou sua mão, e se sentiu ainda mais triste por notar a diferença, não era mais macia e delicada, era áspera e fria, como a mão de um morto.

Talvez ela precisasse ir embora, talvez ela precisasse de férias.

O pensamento foi afastado no segundo seguinte.

Ela deveria ficar aqui, com as amigas dela. Pedir ajuda e sobreviver, se curar.

Ela deveria ficar aqui comigo.

Sua mão seca tomou o rosto de Percy, e Annabeth abaixou a cabeça, fungando baixo.

–Talvez um dia eu volte.

E se aproximou dele, lhe beijando o rosto.

–Talvez um dia eu volte por você.

E depois disso, se desvencilhou dele, e partiu. Andando pelas ruas de Nova York, sumindo em meio tanta gente, se tornando apenas mais um.

Vou esperar por você.

Gostaria que ela não tivesse ligado pra ele de madrugada, gostaria de não ter ouvido sua voz.

O celular de Percy infernalmente tocou de madrugada.

Em meio de travesseiros e cobertas ele se mexeu desconfortavelmente, ignorando a música indesejada.

Podia ser algo importante, gemendo de insatisfação ele empurrou os lençóis e alcançou as cegas o celular na mesa ao lado da cama.

–Alo? - atendeu o telefone de olhos fechados, e suspirou, quem poderia ser?

Ninguém falou nada.

–Alo? Quem é? - afastou os cabelos negros dos olhos e se sentou na cama.

Pode ouvir uma respiração cortada do outro lado, tinha realmente alguém.

Então ouviu, um pequeno suspiro, rápido e simples. Seguido de um gemido de dor mais curto ainda.

Percy pulou da cama no mesmo segundo.

Era ela.

Ele sabia.

Controlou seus nervos e falou indiferente.

–Eu sei que é você. Conheço essa respiração. Só não sei por que ligou justo pra mim.

Outro suspiro, agora mais leve e comprido.

–Boa noite, Percy.

–Boa noite, Annabeth Chase.

E ela desligou.

O Som de sua voz ecoa em sua cabeça até o final da noite e o começo da manhã, quando conseguiu pegar no sono novamente.

Ela parecia ligeiramente mais madura, quase conseguia ver seu rosto, levemente mudado pelo tempo, talvez o rosto estivesse mais magro, talvez o cabelo estivesse curto, sua voz era mais forte e crescida.

Todos eles mudaram nesses meses.

Estava na hora de seguir em frente.

Não contou pra ninguém de sua ligação. Decidiu deixar Annabeth decidir quando querer voltar.

E ele realmente achou que esse era o sinal.

Mas nos meses seguintes, ela não apareceu, não mandou recado.

E ele se convenceu que nunca mais escutaria sua voz, Thalia deixou isso claro pra ele.

“-Percy, Annabeth não vai voltar”.


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