O Vento E A Chama escrita por Jewel


Capítulo 22
TEMPOS...




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Enquanto o taxista remanejava seu trajeto a contragosto, meu coração parecia querer sair por minha boca e ir, ele mesmo, para o volante.

Além de preocupar-me com o tempo – olhando para o relógio, no que me pareceu, a cada 20 segundos –, também comecei a me preocupar em como os encontraria. Meu otimismo e ansiedade cresciam cada vez mais dentro de mim.

Alguns minutos, avistei a placa indicando a ala norte. Pedi ao taxista que desse a volta, enquanto eu tentava localizar qualquer aglomerado de pessoas que me parecesse fãs. Mal contornamos a ala norte, já avistei a fila de pessoas segurando faixas com declarações, espremidas ao longo de um corredor improvisado pelos seguranças.

– Por aqui está bom! Eu vou levar alguns minutos... – comecei a dizer, abrindo a porta, mal o carro parara.

– Vou cobrar a mais por isso...! – o taxista sorriu, ranzinza.

– Sem problemas! – sorri-lhe, fechando a porta e saindo correndo rumo à fila de fãs.

Havia muita gente. Olhei por cima do mar de cabeças mas não avistei ninguém conhecido no tapete do corredor, apenas seguranças.

– O Gothee já passou aqui? – perguntei à uma menina que carregava um cartaz do YoungTae.

– Ainda não. Mas já devem estar chegando!! – disse ela animada.

Sorri-lhe, compartilhando de sua animação.

Suspirei e tentei imaginar por qual lado eles viriam. Segui, me embrenhando entre as pessoas, a fim de chegar o mais próximo possível do corredor. Meu plano era fazer com que Bae me visse, afinal, foi ele quem me dera aquela idéia maluca! “E quando Bae me ver??”, estanquei com o pensamento. “O que acontece depois?”. Dei de ombros, concentrando-me na primeira parte de meu plano improvisado.

A parte da multidão mais próxima ao corredor fazia força, não me deixando passar facilmente. Pedia licença, me embrenhando, mas as pessoas só me deixavam passar depois que percebiam que eu estava sozinha. Quando estava bem próxima, senti meu corpo inteiro chacoalhar, antes mesmo que os gritos ecoassem.

Não tive nem tempo para avaliar se ficaria surda para sempre. Aproveitei que com o furor da chegada dos meninos as pessoas se distraíram, e rumei ao corredor. JungHo foi o primeiro a aparecer no caminho, seguido por Bae. Estiquei meus braços, gritando a plenos pulmões. Porém, ainda que meu tom fosse muito diferente dos demais, minha voz era apenas parte da gritaria.

Estiquei ainda mais os braços, agitando-os, na esperança de que Bae me visse, e acabei derrubando uma das pilastras baixas do cordão de isolamento. Rapidamente, vários seguranças se aproximaram, temerosos de que, com isso, as pessoas avançassem rumo ao tapete.

Vi Bae olhar rapidamente para o ocorrido. Tentei acenar-lhe, mas um dos seguranças me conteve.

– Por favor, moça, fique atrás da faixa. – disse ele, do alto de seus dois metros de altura, referindo-se à separação que não havia mais.

– Moço, você não entende! Eu realmente conheço Bae... será que pode chamá-lo para mim?

– Ah, claro, moça. Farei isso assim que permanecer atrás da faixa.

A ironia dele me deu nos nervos.

– Vocês fazem curso para isso, é?

– Para isso o que?

– Para serem insuportáveis! Eu estou falando a verdade!

Meu tom irritou o segurança, que começou a ameaçar me tirar dali. Nesse momento outro segurança, desta vez um oriental, se aproximou.

– Algum problema? – perguntou ele ao primeiro segurança.

– Essa moça está causando desordem. – pelo jeito com que ele explicou, senti uma certa hierarquia, como se o oriental fosse o chefe. – Ela alega conhecer os membros do grupo e quer falar com eles.

– Moça, por favor, contenha-se. – a voz do oriental era serena.

Quando o fitei a fim de argumentar, vi ao longe YoungTae passando rapidamente, e JinKyu se aproximando com seu segurança pessoal a seu lado.

– Por favor, eu posso provar... aquele é Jiwon, ao lado de JinKyu, não é? Pode chamá-lo que ele confirmará...

– Quem? – perguntou o primeiro segurança enquanto o oriental se virava para olhar.

– O segurança de JinKyu, Jiwon. Por favor, chame ele para mim, rápido, eles já estão entrando...

– Eu sou o chefe da segurança, moça. – informou-me o oriental. – E o nome daquele homem não é Jiwon.               

Aquilo me paralisou por um momento, minha boca entreaberta, sem entender.

– Mas eu falei com ele ontem... a pedido de JinKyu... – minha voz foi morrendo, olhando para os dois, enquanto a confusão tomava minha mente. Só então me dei conta de que ele me dera um nome falso.

– Peço, por favor, que se mantenha junto aos demais. – não sei se foi impressão minha, mas senti a voz do oriental piedosa.

Assenti para ele, murchando um pouco e olhei na direção do corredor, apenas para ver MinSuk passar majestosamente. Meu coração parou por um instante ao ver a figura de um balão estampada na almofada em seus braços. Aquilo doeu muito. Suspirei e me embrenhei novamente na multidão, querendo sair dali o quanto antes, sem olhar para trás, nem mesmo quando a multidão começou a gritar ainda mais – provavelmente devido a um aceno de despedida dos rapazes.

– Pode seguir para a ala leste. – disse ao taxista, assim que entrei.

Ele obedeceu imediatamente.

– A senhora demorou... encontrou o que estava procurando?

Vi que ele me observava pelo retrovisor.

– Não... Ainda. – disse, virando-me para mirar janela afora.


Estava chovendo em São Paulo quando aterrissamos. Peguei minha mala e me dirigi para o primeiro táxi que vi. Tudo voltara a ser mecânico de novo uma vez que só havia um pensamento em minha mente.

Eu havia dormido bem desta vez durante o vôo de longas catorze horas, de modo que entrei em casa e comecei a desarrumar minhas malas, aproveitando para já colocar algumas roupas para lavar.  Não havia muito mais a ser feito, então liguei o computador, entrei em meu e-mail e comecei a escrever à Jane.

"Olá Jane! Preciso com urgência do e-mail de JungHo. Por favor, me responda o quanto antes. Beijos.

Enviei e suspirei. Olhei no relógio de parede e vi que logo estaria amanhecendo. Me deitei mas minha mente estava desperta, meditando sobre a decisão que tomara.

Acordei num sobressalto uma vez que o velho sonho do trem voltara. Levantei antes mesmo que o despertador tocasse e fui me arrumar.

No trabalho, mal cheguei em minha mesa já abri meu e-mail. Ainda era cedo para Jane ter me respondido, mas minha intenção era deixá-lo aberto e ir atualizando de tempos em tempos. Comecei a trabalhar, finalizando e encaminhando tudo o que havia para ser feito.

Perto do fim da tarde recomeçou a chover. Fui até a janela de minha sala e fiquei olhando a chuva contra o vidro. Minha mente vagou, sendo tomada por uma lista de coisas que precisavam ser feitas e riscando dessa lista as coisas que já estavam concluídas. Suspirei e me encaminhei a sala de meu chefe.

– Ivan, você tem um minuto? – perguntei pela porta entreaberta.

– Claro, Ju. – ele assentiu, sorrindo um pouco. – Eu estava mesmo pensando em você.

Entrei e encostei a porta, o que o fez levantar de leve as sobrancelhas, interessado.

– Pensando em mim? – sorri me sentando.

– Eu estava fazendo um levantamento das nossas últimas campanhas... As que mais deram resultado foram as que tiveram você ou o Lucas envolvidos. Principalmente a sua nessa última edição! – disse-me, mostrando-me uma revista.

– Obrigada. – sorri, sem graça.

– Eu estava pensando que vocês dois formariam uma boa equipe! Inclusive já tenho....

– Eu preciso tirar férias. – disse.

– ... uma boa em mente... – ele continuou, deixando sua voz morrer depois de entender o que eu havia dito.

Ficou em silêncio um momento.

– Já faz um ano que você tirou férias? – sua voz era simpática.

– Uns dez meses... – sorri, sem jeito, tentando brincar. – Eu, inclusive, tenho férias vencidas... logo outras vencerão e eu vou ter que tirar de qualquer jeito...

– Eu sei como funciona isso, Ju.  – interrompeu-me, deixando a revista sobre a mesa e parando para me encarar.

– Eu realmente preciso resolver algumas coisas... – acrescentei.

– Você tem noção de que estamos na alta temporada publicitária? – ele inquiriu, arregalando os olhos. – Tem projetos muito bons entrando e a minha idéia era te indicar para vários deles!

Pisquei lentamente e olhei de lado. Claro que eu era consciente e ponderara sobre tudo aquilo antes de ir ali. No entanto...

– Ivan, eu sei mas... com a minha mente dividida, como eu vou conseguir dar o melhor de mim? – apelei, sabendo o quanto ele gostava daquele tipo de fala.

Ele expirou forte e encostou-se, olhando para o computador por um momento.

– Alguns dias te ajudam? – perguntou, sem me olhar.

– Quantos dias? – respondi, sem respirar.

– Uma semana?

– Duas? – insisti.

Ele passou a ver algumas coisas no computador de modo que desfrutei de um momento de silêncio, no qual minha mente pegou um lápis e se preparou para riscar o item “Obter um tempo do trabalho”.

– Ok. – ele se virou, cravando os olhos em mim. – Eu posso te dar duas semanas, mas essa semana você fica, porque tem algumas coisas que eu quero que você faça.

– Sem problemas! – minha voz saiu empurrada por um suspiro, o que o fez rir um pouco.

Falamos um pouco mais sobre os projetos e o que ele queria que eu desse andamento naquela semana.

Voltei à minha sala e vi que chegara um e-mail de Jane, com a informação que eu solicitara e mais uma série de perguntas. Antes mesmo de responder à ela agradecendo, já comecei a escrever a JungHo.

Olá JungHo. Espero que não se importe por eu estar te escrevendo. Depois de nosso reencontro em Los Angeles não sei muito bem como estamos, ainda sim, gostaria de te pedir um favor: você poderia me passar os contatos de Bae (e-mail, telefone, qualquer coisa)? Nós fizemos as pazes, mas você pode confirmar com ele se quiser. Apenas peço que me responda o mais rápido possível. Muito obrigada. Espero que tenham feito uma boa viagem. Abraços, Ju.

Enviei, ansiosa.


Na quarta-feira eu estava sentada em minha sala finalizando o esquema de uma arte quando Paula entrou.

– Como assim você vai tirar férias? – ela sorriu ao entrar.

– Você voltou! – levantei para abraçá-la. – Como foi a feira em Maceió?

Ela me abraçou feliz.

– Ótima! Mais por Maceió que pela feira propriamente dita! – nós rimos. – Mas me conta, como assim você vai tirar férias? Deu tudo certo em Los Angeles? – os olhos dela eram pura animação.

Fechei a porta e respirei fundo.

Paula ainda estava encantada pela idéia de eu e Ben juntos, então comecei a desanimá-la devagar. Contei a ela sobre como me sentia estranha por ter ido até Los Angeles já com uma intenção como aquela definida. Disse-lhe como Ben era amoroso e eu não conseguia acompanhá-lo; que nós tínhamos saído, passeado e nos divertido, mas em todo o momento eu o via apenas com carinho; contei-lhe como havíamos realmente tentado, sem sucesso.

Ela assentiu, com olhos carinhosos. Depois franziu o cenho, sem entender.

– Mas então... por que as férias? – perguntou-me.

Sorri sem jeito e ela estranhou. Então contei-lhe que havia reencontrado MinSuk. Por um momento ela fez uma expressão desaprovando, mas eu não me importei. Contei-lhe como ele pareceu feliz em me ver, sem qualquer mágoa; como parecia me odiar depois de saber por que eu estava em Los Angeles. E me aprofundei dizendo-lhe como eu me sentira sobre tudo aquilo.

– Então voc...?

– Eu vou para a Coréia, Paula. – concluí.

Ela arregalou os olhos e colocou ambas as mãos em seu rosto.

Ficamos em silêncio por alguns minutos. Pude ver que ela meditava sobre tudo aquilo, seus olhos ainda arregalados, embora sua expressão fosse mais serena.

– Mas... como vai ser? Você volta... não?

– Eu não sei... Eu não sei de nada... – engoli seco, tamanha a verdade. – Eu só sei que eu preciso ir. – minha voz se afinou um pouco, emocionada.

Ela suspirou sofregamente e ficamos nos olhando em silêncio.

– Você já comprou as passagens? – perguntou-me e eu neguei com a cabeça. – Viu onde vai ficar? – eu continuei balançando em negativo.

Paula pareceu irritar-se, bufou e sentou-se em minha mesa, puxando o computador para si. Eu não compreendia nada enquanto ela começava a digitar rapidamente. Fui para trás dela e sorri.

– Espero que esse MinSuk valha a pena...! – comentou, parecendo mal-humorada enquanto entrava rapidamente em sites de companhias aéreas e hotéis.

Aquilo me fez rir e eu a abracei.

– Obrigada. – disse-lhe.

– De nada... sua louca. – ela riu também.


Sábado a tarde comecei a arrumar minhas coisas para ir. Liguei o computador para verificar, pela bilionésima vez meu e-mail. Dessa vez, para minha surpresa, havia um e-mail do próprio Bae.

Oi Ju! Desculpe a demora em responder... Como está? Resolveu as coisas? Você vem? Quantas perguntas... kekeke. Seguem meus contatos. Um beijo, Bae.

Meu coração batia forte e feliz ao respondê-lo.

Oi Bae! Puxa... você demorou demais para responder! Eu precisava tanto da sua opinião... mas agora é tarde. Eu me decidi. Estou indo para a Coréia. Há tanto que quero falar com você... Espero que possa me receber. Até logo, Ju.

Deixei o computador ligado, na esperança de que talvez ele me respondesse novamente. Abri meu guarda-roupa, me preparando para escolher o que levar quando a janela do skype começou a piscar.

– Jane! – sorri ao vê-la.

– Olá!! – ela sorria também. – Até que enfim te peguei online! Fiquei tentando a semana inteira!

– Essa semana foi muito corrida! – sorri-lhe.

– Hm... eu tenho uma surpresa para você!

Pisquei, curiosa. Pouco tempo depois, Mayreen e Lucia apareceram ao lado de Jane.

– Meninas!! Lucia você voltou?

– Sim. – Lucia riu. – Eu não agüentei ficar longe de Chicago...

– Nem do Robert! – brincou Jane.

Todas rimos.

– Mayreen! Você não me dava notícias há algum tempo! – fingi-me brava com ela.

– Desculpa, Ju... – disse ela, apertando os olhos orientais ao sorrir. – Eu realmente ando ocupada...

– Sei. Jane me contou sobre o Eric!

Ela ficou um pouco vermelha, mas sorriu assentindo e me contando também sobre uma bolsa que estava tentando conseguir.

– Eu nem acredito que vocês estão aqui! E bem nesse momento tão importante...! – disse-lhes.

– O que está acontecendo? – inquiriu Jane.

– Estou arrumando as coisas para ir para a Coréia.

Via webcam, foi muito engraçado vê-las recebendo a notícia e arregalando os olhos, deixando o queixo cair, em seguida sorrindo, surpresas.

– Não acredito! Você vai mesmo atrás do MinSuk? – riu Jane.

– Sim. – eu já havia contado brevemente a ela por e-mail o que acontecera em Los Angeles, então agora eu só estava atualizando Lucia e Mayreen.

Nesse momento a campainha tocou. Pedi licença e fui atender.

– Paula? – sorri surpresa.

– Oi! – ela sorriu animada. – Vim te ajudar a arrumar as coisas!

Dei passagem a ela e fomos para meu quarto. Apresentei Paula a Lucia, Mayreen e Jane. Elas riram um pouco com a situação.

– Quando você vai, Ju? – perguntou Lucia.

– Amanhã de manhã.

– E só está arrumando as coisas agora?! – exclamou Jane.

– Vocês nem imaginam... – disse-lhes Paula. – Há três dias, ela não tinha nem passagem!

As três amigas de Chicago riram e começamos a arrumar minha mala. Jane entrou num site de clima e me falou qual seria o tempo em Seoul. Paula mostrava algumas peças pela webcam, enquanto as outras faziam comentários... Ri observando como, de alguma forma, minhas grandes amigas estavam presentes naquele momento. E me senti imensamente feliz.


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