O Vento E A Chama escrita por Jewel


Capítulo 23
... E CONTRATEMPOS




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O aeroporto de Incheon era imenso e muito moderno, o que me deu um frio na barriga como nunca havia sentido. Era a primeira vez que me via sozinha, num lugar desconhecido, com um idioma desconhecido e sem certeza de como faria para encontrar o que estava procurando. Era como se eu estivesse embarcando numa grande aventura. Mas não sentia medo.

Fui andando com minha mala, ouvindo as pessoas ao redor, passando rápido, falando coisas que eu não compreendia. Ia na mesma direção que elas por um impulso, apenas fazendo parte da massa de gente que seguia.

Dirigi-me para a plataforma de trens que saía do aeroporto e fiquei olhando as placas, mapas e tabelas de preços. Por mais que sempre houvesse descrições em inglês tudo me parecia confuso demais. Claro que seria mais fácil pegar um táxi mas me lembrei que MinSuk sempre dizia que na Coréia este serviço era muito caro – coisa que confirmei pela internet antes de chegar. Além disso, eu amo trens e todos falavam muito bem do transporte urbano coreano. Ainda sim, me parecia difícil decidir entre os diferentes itinerários e taxas. Creio que fiquei uns três minutos admirando as informações quando uma jovem muito simpática – ainda que séria – veio ajudar-me. Com as informações que me deu, decidi por pegar o AREX, que saía dali a dez minutos e fazia uma viagem sem paradas até Seoul.

Entrei no trem espaçoso e me sentei. Encostei minhas costas e senti o cansaço vir, enquanto observava os outros passageiros entrarem.

Instantes antes de o trem sair, um senhor tentava entrar puxando um pesado carrinho. Uma voz feminina e mecânica disse algo que eu não compreendi e eu observei os olhos do senhor arregalarem-se. Ele fez mais força mas o carrinho havia emperrado. Então ouvi a voz repetir em inglês o que dissera: o trem estava prestes a partir. Olhei em volta e vi os demais passageiros, todos entretidos voltando de suas viagens, sem perceber a situação do senhor com seu carrinho. Ouvi um barulho e percebi que as portas começariam a se fechar. Num impulso levantei-me e corri em direção ao senhor e, sem pedir qualquer licença, lancei mão no carrinho, puxando. Ele me olhou por um ínfimo instante e puxou com mais força, para cima. As portas estavam se fechando sobre o carrinho quando finalmente conseguimos fazê-lo entrar. Ambos suspiramos aliviados. Ele então virou-se para mim e começou a falar efusivamente, de maneira alta, o que me constrangeu. Sei que provavelmente ele estava agradecendo, mas a maneira entusiasmada que o fazia estava chamando a atenção de todos ali, de modo que a única coisa que fiz foi sorrir-lhe, encolher os ombros e voltar rapidamente para meu lugar.

Ele sentou-se no corredor mais a frente, empurrando seu carrinho com a enorme caixa para um canto. Fiquei observando-o e percebi que ele destoava um pouco das pessoas ali. Ele não parecia estar voltando de qualquer viagem, pelo contrário, parecia-me cansado como um trabalhador comum. Encostou-se, relaxando um pouco. Continuei observando-o até que nossos olhos se cruzaram. Ele me sorriu, acenando com a cabeça. Fiz o mesmo e desviei o olhar sem jeito.

Fiquei observando as coisas passando depressa por minha janela, ficando para trás, pela velocidade do trem. Tudo passava... todas as casas, todas as cores, todas as coisas. Lembrei que YoungTae me dissera uma vez que sua mente sempre vagava quando estava no trem. Sem perceber, fiz o mesmo.

Comecei a pensar em YoungTae e na mágoa em seu semblante quando o vira pela última vez. Será que o veria de novo agora? Será que seria diferente? Ele me perdoaria como Bae? E MinSuk... quais seriam os sentimentos dele em relação a mim agora? “Tantas perguntas... e tantas explicações...”, refleti. Nem percebi quando adormeci.

Acordei sobressaltada reparando que o trem havia parado. Abri os olhos e dei de cara com o senhor do carrinho me olhando e sorrindo. Aquilo me assustou um pouco, embora eu não soubesse bem o motivo.

–Trem parou. – disse ele, cauteloso, mas simpático.

– Sim. Obrigada. – sorri, sem graça e comecei a me levantar.

– Você está cansada? – ele arregalou um pouco os olhos, forçando a entonação para que parecesse uma pergunta em seu inglês rústico.

– Um pouco. – respondi, sem ter certeza de que ele me compreendia.

Comecei a sair quando ele parou a meu lado. Olhei-o, tudo me parecendo confuso, por ter acordado daquela maneira.

– Obrigado por antes. – disse ele pausadamente.

– De nada. – sorri-lhe, dessa vez mais sincera e a vontade do que antes. – Adeus.

Ele sorriu ainda mais e acenou algumas vezes rapidamente com a cabeça e eu segui.

Enquanto me encaminhava para o ponto de táxi, pois dali não haveria jeito mesmo de encontrar o hotel sem isso, comecei a me sentir esperançosa e feliz novamente. Era como se eu estivesse em um filme, como num musical, em que tudo é música, cor e final feliz.

Cheguei ao hotel rapidamente pois era muito perto da estação central. Entrei e olhei ao redor admirando que, assim como o resto de Seoul que observara pela janela do táxi, mesmo o quarto modesto parecia moderno. Fui até a janela e observei que a noite caía rapidamente. Era noite de segunda-feira. Aquilo me fez rir, imaginando-me em algo como um túnel do tempo, afinal, eu embarcara no domingo de manhã e, 24 horas de vôo depois, já era segunda-feira a noite. “Em um dia, eu perdi dois!”, ri ao constatar como aquilo parecia maluco embora não fosse.

Sentia um pouco de fome, afinal tinha comido apenas um pequeno lanche enquanto esperava o trem, mas aquela não era minha primeira necessidade. Joguei-me na cama, adormecendo em seguida.


Acordei com uma luz forte invadindo meu quarto uma vez que esquecera as cortinas abertas. Pisquei algumas vezes e virei de lado, adormecendo novamente.

Quando acordei pela segunda vez, a luz estava mais forte. Olhei no relógio a meu lado e estanquei pois eram uma da tarde de terça-feira. Levantei num pulo, percebendo o quanto dormira demais. Olhei pela janela e vi que, apesar da forte luz clara, não havia sol.

De todas as partes de meu corpo dolorido, meu estomago era o que mais doía, vazio. Pedi um almoço pelo telefone que chegou rapidamente. Devorei-o quase não reparando como o gosto era diferente.

Após banhar-me peguei o telefone e disquei para Bae. Meu coração batia alto, ansioso e feliz enquanto chamava.

Yeobosaeyo.. – uma voz disse ao telefone.

– Eu poderia falar com Bae...?

– Eu não acredito! – ele exclamou, começando a rir.

– Bae? – eu estava indecisa apesar de ter telefonado para seu celular, pois nunca ouvira a voz dele por telefone.

Ju? Como você está? – sua voz era séria e amistosa, maravilhosa de se ouvir.

– Oi Bae! Eu estou bem... Estou em Seoul.

Ele ficou em silêncio e eu só conseguia ouvir a respiração dele.

Eu recebi seu e-mail. – sua voz continuava séria. – Eu estou muito feliz por você ter vindo, Ju.

– Ouvir sua voz está me deixando feliz também! – suspirei. – Eu gostaria de te encontrar, se fosse possível.

– Claro! – sua voz era carinhosa e aquilo estava me deixando com o peito apertado por algum motivo.

– Bae... estou louca para te ver e isso vai acontecer de qualquer maneira, mas... eu preciso saber como estão as coisas... sabe, com MinSuk...

– Complicadas. – ouvi-o suspirar ao me interromper.

– Como assim?

– Por que você não veio a semana passada?

– Bem... eu, tinha que resolver algumas coisas no trabalho, porque, não era o caso de um fim de semana, não é? – a pergunta de Bae parecia sem contexto o que me deixou intrigada. – Há algum problema essa semana?

– Não. – ele não foi convincente. – Olha, eu estou livre agora, você não quer que a gente se encontre?

– Tudo bem! – sorri, feliz com a possibilidade de revê-lo.

– Ok. Me diga onde você está que eu vou aí te pegar...

Troquei de roupas e fiquei lutando contra a ansiedade. Olhava pela janela, andava pelo quarto, me olhava no espelho... e voltava para janela.

Cerca de quarenta minutos tinham se passado quando meu celular tocou.

– Alô?

– Ju, sou eu, Bae. Estou aqui embaixo, mas preferia não entrar no hotel...

– Claro! Estou descendo.

Desci e olhei ao redor procurando. Um carro do outro lado da rua buzinou e eu vi Bae ao volante acenar-me. Atravessei e entrei no carro. Fiquei olhando para ele que apenas sorria.

– Você veio... – disse-me.

Sorri, assentindo.

– Como você está? Fez uma boa viagem?

– Sim. Um dia inteiro...

– É uma lástima morar do outro lado do mundo! – brincou ele.

– Mas cheguei bem. – sorri olhando minhas próprias mãos. – Eu cheguei me sentindo tão feliz, Bae... você não pode imaginar! – então olhei para ele. – É por isso que o seu jeito está me deixando encanada.

Ele sorriu e se virou para o volante.

– Vamos falar sobre amenidades enquanto eu te levo para um lugar. – sugeriu, sua voz ainda séria e amistosa, como poucas vezes eu tinha ouvido.

– Tudo bem. – virei-me para frente colocando o cinto de segurança. – Como foi o retorno de Los Angeles?

– Ótimo! Quer dizer, o vôo foi tranqüilo. – o tom dele me confundiu.

– E tiveram boas notícias, quero dizer, os fãs gostaram? A gravadora aprovou o show solo de vocês lá?

– Ah, isso sim! – ele riu, entusiasmando-se. – Acabou sendo muito maior e muito melhor do que a gente mesmo esperava! Tanto que a gravadora está tentando agora nos levar para Nova York. Aí sim, vai ser demais! Você vai né?

– Onde?

– Em Nova York ué! – piscou ele, e nós rimos.

– Ah, claro! Mas primeiro eu tenho que ver minha agenda... sabe como é! Sou cheia de compromissos...!

Minhas caras e bocas o fizeram rir alto.

– Quando vai ser? – perguntei.

– Não sabemos ainda...

– Vocês já têm uma próxima turnê?

– Para os próximos meses vamos a Singapura, Tailândia... vai ter um Concert na França de novo, talvez na Espanha! – ele me olhou insinuante e eu ri.

– Quanto tempo vocês tem de folga?

– Ei! Estamos trabalhando aqui na Coréia! – ele fingiu se ofender, mas seu sorriso diminuiu rapidamente. – E... bom, semana que vem a gente volta para o Japão.

– Uau... – exclamei sem sorrir. – É por isso que você me perguntou porque eu não vim semana passada?

– É...

A gravidade na afirmação de Bae me fez refletir por um momento. Ele era meu amigo e estava feliz que eu tinha ido para a Coréia. Era certo que queria passar um tempo comigo... mas havia algo mais naquele leve pesar.

– Bae, há algo que você queira me dizer?

– Bastante... mas antes eu queria confirmar uma informação. – aquilo me fez arregalar os olhos. Ele me olhou e sorriu, carinhoso. – Calma, estamos quase chegando.

Seguimos o resto do trajeto em silêncio. Pouco depois, ele estacionou. Desci e olhei em volta, admirando a beleza do lugar. Parecia-me um bairro residencial, porém as casas eram enormes e com uma arquitetura tradicional coreana. Algumas árvores, ainda sem muitas folhas, ladeavam a rua comprida. Quando voltei-me para olhar, Bae estava a meu lado.

– Deixe-me te recepcionar direito! – sorriu ele, me abraçando em seguida.

Abracei-o feliz, sentindo-o do mesmo jeito. Acariciei seu cabelo e seu rosto quando nos separamos e ele fez o mesmo comigo.

– Estou tão feliz que tenha vindo! – sorriu.

– Estou vendo que está feliz, mas por que eu estou sentindo você triste?

– Não é triste, Ju... É culpado.

– O que houve?

– Vamos entrar, eu te explico.

E dizendo isso ele me puxou pela mão, guiando-me até a porta de uma das casas. Abriu e deu passagem para que eu entrasse.

– Sinta-se em casa, Ju. – disse.

Olhei em volta estranhando.

– Estou na casa dos Gothee? – disse pausadamente, arregalando os olhos.

Bae assentiu, rindo de minha reação. Nesse momento reconheci a voz de JungHo vindo de outro cômodo. Bae me conduziu até lá.

Entrei e vi que JungHo falava em coreano ao telefone. Na mesa a sua frente, a figura pensativa de JinKyu.

– Olá...! – disse ao entrar.

JungHo arregalou os olhos e continuou a falar. JinKyu abriu seu lindo e característico sorriso e se levantou para me abraçar.

– Ju! Que feliz estou em te ver! – disse ele.

– JinKyu! – meu sorriso acompanhava o dele. – Dessa vez foi pouco tempo, mas, puxa! Senti falta de vocês! – disse olhando para ele e Bae.

JungHo parecia falar rapidamente no telefone se despedindo. Desligou e me olhou, sorrindo, parecendo sem jeito.

– Olá Ju.

– Oi JungHo. Tudo bom? – sorri, bastante receosa.

Ele andou até mim e sorriu.

– Posso? – perguntou-me.

– Claro! – e estendi meus braços para recebê-lo.

– Sinto muito por... – ele começou a dizer quando nos separamos.

– Tudo bem, tudo bem. – interrompi-o, balançando a cabeça. – Eu te entendo, você me entende... está tudo bem entre nós!

– Estou feliz em te ver.

– Eu também! Estou feliz em ver todos vocês! – suspirei, me sentindo imensamente feliz. – E quero...

Nesse momento um barulho me interrompeu, algo como uma porta sendo batida com força. Observei os três abaixarem a cabeça, embaraçados.

– O que foi isso?

– Foi... YoungTae. – disse JinKyu, sério.

Bae perguntou algo para JungHo em coreano e ele começou a responder, porém eu interrompi:

– Por favor gente.. não estou gostando desse clima, podem por favor falar em inglês?

– Você não disse a ela? – perguntou JungHo a Bae.

– Não.. estava esperando chegar aqui. – disse ele, se jogando numa cadeira.

– O. Que. Está. Acontecendo? – perguntei, focalizando cada um deles.

– O MinSuk sumiu. – lançou Bae.

Demorei alguns segundos compreendendo o que aquelas palavras significavam.

– Como assim? – sentei-me também, apesar de ninguém ter me oferecido.

JinKyu e JungHo sentaram-se do outro lado.

– Conta Bae! – mandou JungHo.

– Pois é. Tudo começou quando a gente se reencontrou em L.A. Foi horrível e tal. Aí eu te perdoei, tudo ficou lindo... essa parte você sabe. – Bae começou a contar, gesticulando e fazendo caras e bocas. – Ficou muito claro para mim o quanto você ainda ama o MinSuk e como você tinha sofrido tanto quanto ele com a separação. Aquilo me fez pensar. “Ok, todo mundo crucificando a Ju, mas e aí? O que o MinSuk fez para encontrá-la?”. Então eu vi o MinSuk todo bravo, todo orgulhoso... ficou falando que “agora tinha acabado”. Aquilo me irritou bastante. – ele arregalou de leve os olhos. – Ele também podia ter feito algo, não podia? Em vez disso ficou aqui, infeliz, fazendo a vida de todo mundo que gostava dele um inferno!

Ele balançou a cabeça, parecendo irritado.

– Então depois que você foi embora ele ficou lá, na maior pose, tipo “Eu consegui. Está feito.” – ele fez uma careta que fez JinKyu rir. – Ah! Me irritou! Fui lá e falei tudo isso para ele!

Coloquei minha mão sobre meu rosto, fitando-o, segurando o riso, quase não acreditando.

– E aí? – perguntei.

– Ele se ofendeu! – ele balançou a cabeça, rindo, achando aquilo absurdo. – Disse que eu não sabia nada, que eu não tinha direito... – ele fechou a cara por um momento.

Ficamos em silêncio.

– Bae... você não deveria ter brigado com ele... – comecei a dizer.

– Eu não fui brigar, Ju. Não fui! Eu só queria mostrar que ele não podia olhar as coisas só pela sua própria perspectiva. Havia outra pessoa envolvida: você. – ele apontou para mim, sua voz calma agora, o que me comoveu. – Eu não imaginei que ele fosse tão teimoso... ele que brigou comigo!

Acariciei o braço de Bae, agradecendo em silêncio. Ele me sorriu triste.

– Quando chegamos aqui, teríamos duas semanas para terminar alguns trabalhos. – continuou JinKyu. – Quando desembarcamos em Incheon, MinSuk disse que ia para casa de seus pais visitá-los.

– Ele nem se despediu de mim... – reclamou Bae em voz baixa.

– Claro! Você foi injusto com ele! – reclamou JungHo.

– Eu não fui injusto!

– Bom, você poderia ter dito num momento melhor... de um jeito melhor... – disse JinKyu com voz suave.

– Pensei que você concordava comigo! – exclamou Bae.

– Eu concordo. Totalmente. Por isso não disse nada na época.

– E por que está falando agora?

– Me desculpe, é só uma reflexão.

– Agora é tarde! – irritou-se JungHo.

– Gente! – interrompi. – Me desculpe, mas dá para voltar um pouco, por favor?

Eles assentiram e JinKyu voltou a contar.

– Alguns dias depois a gente tinha uma campanha para fotografar, então liguei para a casa de MinSuk e sua mãe disse que ele não estava. Eu liguei dois dias seguidos, de manhã e de tarde, até que um dia ele atendeu e disse que queria ficar um pouco ali. Perguntou se podíamos fotografar na próxima semana, essa agora, e eu disse que ia verificar e o avisava.

– O nosso empresário disse que tudo bem e ficou para essa semana... – continuou a contar Bae. – Quando eu recebi seu e-mail dizendo que viria, contei para JinKyu e ele ligou imediatamente para a casa de MinSuk...

– Só que ele não estava mais lá. – disse JungHo. – A mãe dele falou que ele tinha voltado para Seoul. Mas ele não estava aqui...

– Ela começou a me perguntar se ele estava aqui, se tinha acontecido alguma coisa. – contou JinKyu. – Eu fiquei com medo de alarmá-la, então dei uma desculpa dizendo que eu não estava em casa e não sabia que ele já tinha voltado.

Eles ficaram em silêncio.

– E ninguém tem idéia de onde ele está? – inquiri.

– Bom... a gente ficou super preocupado de que pudesse ter acontecido alguma coisa. – JungHo começou a falar, olhando em volta. – Mas quando o JinKyu pegou o telefone para chamar nosso empresário, YoungTae apareceu e disse para que a gente não se preocupasse porque MinSuk estava bem. Que ele só queria ficar em paz um tempo...

– Com certeza ele sabe onde MinSuk está! – disse Bae, batendo na mesa.

Cruzei meus braços, murchando lentamente.

– É por isso que você está preocupado com o tempo, não é Bae? – perguntei, sorrindo sem ânimo.

– Sim. Semana que vem a gente vai par ao Japão... se ele quiser, ele pode ir direto para lá...

– Não se preocupe. – sorri-lhe. – Eu estou decidida. Vim aqui para falar com MinSuk e vou fazê-lo... nem que eu tenha que ir para o Japão com vocês!

Os três riram.

– Seria divertido! – sorriu JinKyu. – Mas creio que não será preciso... nós vamos encontrá-lo!

– Como? – JungHo deixou a boca entreaberta dramaticamente. – Eu acabei de falar com a casa dele de novo. Ele não está lá. E também não está aqui...

– A gente procura! Ele pode estar na casa de algum amigo. E nós conhecemos a maioria deles! – piscou JinKyu.

Eles sorriram e começaram a listar algumas possibilidades, muitos nomes conhecidos por mim, de outras estrelas de K-pop. Enquanto eles discutiam, meu olhar se perdeu na madeira da mesa, minha mente indo um pouco além.

Eu não me sentia nem um pouco feliz ou satisfeita pela defesa de Bae, uma vez que fizera com que ele brigasse com MinSuk. Não era certo. No entanto, não era verdade? “O que MinSuk havia feito além de me culpar todos aqueles meses por nossa separação?”, refleti, me censurando em seguida, lembrando-me que ele dissera que tinha me perdoado mesmo antes de nos reencontrarmos. Perdi alguns instantes imaginando como ele poderia fazê-lo. Entrando em contato com Jane, com Robert, com a escola de Chicago... Ele também poderia ter feito algo e se bem o conheço ele teria feito. Mas o que tinha passado por sua cabeça que o impedisse? “Mentirosa...”, lembrei-me de ‘Grenade’. Eu podia ser uma mentirosa... eu poderia ser até casada! Quem garantia a MinSuk o contrário? Meu silêncio e falta de respostas é que não...! Ainda sim, pensar aquilo me encheu de raiva. “Como é que ele pode ter pensado algo assim?! Vou falar com ele, nem que seja para esfregar na cara dele que...

– Ju? – a voz de Bae interrompeu meus pensamentos.

– Desculpe. – voltei rapidamente a mim. – Eu viajei.

– JinKyu e JungHo vão verificar algumas possibilidades...

Observei-os pegando os casacos para sair.

– E nós? – perguntei.

– Nós vamos passear! – disse Bae se levantando. – Você veio a Seoul me visitar também não foi?

– Claro! – me levantei, não tão animada como antes.

– Vou fingir que acredito! – piscou ele.

– Eu te adoro demais Bae! – abracei-o.

Ele me abraçou, afundando um pouco em meus cabelos.

– Me desculpe Ju. – disse ele em meu ouvido. – Se eu não tivesse falado demais, MinSuk estaria aqui e vocês já teriam se acertado.

– Bae... – olhei em seus olhos quando nos separamos. – Eu não gostei nem um pouco de vocês terem discutido por minha causa. Me sinto culpada... Mas você fez o que achou certo, seguiu seus sentimentos... eu nunca ficaria brava com você. – sorri-lhe e ele me acompanhou cabisbaixo. – E se for para MinSuk e eu nos acertarmos, isso vai acontecer. Não importa como. Eu estou aqui para isso.

Ele respirou fundo, concordando.

– Vamos? – sorriu-me.


Bae e eu andamos por toda a extensa parte central da cidade. Ele estacionou e nós andamos por diversas ruas, praças e algumas lojas. Comemos algo com um nome indecifrável mas de sabor muito bom.

A noite Bae, JinKyu e JungHo me levaram para sair – YoungTae não nos acompanhou. Segundo JungHo, ele estava indisposto mas eu sabia que ele ainda não havia me perdoado como os outros.

Fomos para uma espécie de bar com música ao vivo. Eu pude experimentar o famoso makgeolli, uma espécie de licor de trigo e arroz, com bindaetteok (as panquecas coreanas que MinSuk sempre falava!). No começo achei a bebida um pouco forte mas depois da segunda concha era fácil apreciá-la.


No dia seguinte, Bae me levou para mais algumas lojas. Ele era fissurado por elas e estava me contagiando pouco a pouco. A cada loja eu ficava mais vidrada nos itens, cada um mais diferente e lindo que o outro.

Ele me disse que JinKyu e JungHo continuavam procurando por MinSuk.

– Por que nós não o ajudamos? – inquiri enquanto seguíamos para almoçar.

– E alarmar o mundo do K-Pop? – ele foi sucinto e eu concordei.

Entramos no restaurante japonês e seguimos para uma área reservada. Sentamo-nos em silêncio enquanto a comida não vinha.

– E se MinSuk não quiser nem me ver? – me vi dizendo, deixando meus pensamentos escaparem.

– Você vai para o Japão com a gente.

– E se mesmo assim ele se recusar a me ouvir? – cravei meus olhos nele. – E se ele se trancar, se recusar?

– Eu não sei... – sua voz era cansada.

– YoungTae nunca vai nos dizer onde ele está, não é? Isto é, se ele sabe...!

– Já nem sei mais se ele sabe onde o MinSuk está... – ele apoiou a cabeça nas mãos. – A única coisa que ele diz quando a gente pergunta é que MinSuk está bem.

– Ele contou para o MinSuk que eu estou aqui?

– Acho que não. Acho que ele sabe que talvez MinSuk queira te ver, como em Los Angeles. – ele sorriu. – É a mim que ele está evitando, Ju.

– De qualquer jeito, também não me agrada.

Ele sorriu e pegou minhas mãos entre as suas, apertando-as como costumava fazer.

– Nós vamos achá-lo. Vocês vão conversar. Vão se acertar. E vai ser tudo lindo!

Suspirei evitando pensar no depois. Eu não sabia como ia ser, mesmo se nos acertássemos. Ele viria para o Brasil? Eu para a Coréia? Como, se nem ele mesmo ficaria lá? Seria um namoro a distância?

Por sorte a comida chegou e começamos a comer conversando sobre outros assuntos.

Estávamos seguindo para a casa deles quando um vento forte e amarelo apareceu.

– O que é isso? – perguntei, fechando bem as janelas do carro.

– É o Vento Amarelo! – riu Bae. – Nunca ouviu falar?

Neguei com a cabeça e ele continuou:

– Nós estamos prestes a entrar na primavera, então aparecem esses ventos que trazem essa areia do deserto que há na fronteira com a China.

– Tudo isso é areia?

– Basicamente. Quer dizer, hoje em dia também vem um monte de poluição junto, entende?

– E é perigoso?

– Bom, só para algumas pessoas que tem problemas respiratórios... Mas é aconselhável a todo mundo usar máscaras.

– Você tem máscaras aí?

– Ah sim! Eu ando com uma caixa delas para o caso de emergências. – ele fez uma careta, irônico, e eu ri. – É só colocar a blusa no rosto e apertar os olhos assim. – e dizendo isso ele apertou bem os olhos orientais.

– Assim?- imitei-o, o que o fez rir.

Descemos e eu segui as orientações que ele me dera. Porém o vento era mais forte do que eu imaginara. Meus cabelos voavam, revoltosos, e uma chuva seca vinha em minha direção.

– Eu vou correr na frente! – gritou Bae. – Aí abro para você!

– Tá legal! – gritei em retorno.

Fui andando com cuidado, pois estava apertando bem os olhos, quase não vendo o caminho em minha frente. Era desagradável respirar pelo pano da blusa, mas imaginei o quanto seria pior não fazê-lo.

Quando virei para pegar o caminho da casa, areia entrou em meus olhos. Parei de andar e comecei a tentar limpar com a mão, de costas para o vento. Nesse momento um vulto passou a meu lado, o que me assustou.

Soltei uma exclamação qualquer e o vulto se virou. Mesmo de máscara, pude ver YoungTae olhar para trás, muito sério e grave, para mim.

– YoungTae! – gritei, andando em sua direção.

Ele permaneceu me olhando e eu dei mais alguns passos. No momento em que me virei na direção do vento, mais uma porção de grãos de areia entrou em meus olhos e eu me virei agachando. Quando voltei a olhar, ele já se fora.

– Vem Ju! – era Bae se aproximando, e me entregando uma máscara.

– Achei que vocês não tivessem máscaras para emergência! – zombei.

– Em casa nós temos! – riu ele por baixo de sua máscara.

Entramos e JungHo e JinKyu vieram nos saudar. Segui para o banheiro a fim de lavar meus olhos. Fiquei olhando-os no espelho, me certificando de que estavam limpos.

– Está tudo bem? – perguntou Bae, entrando.

– Sim. – olhei-o pelo espelho. – Era YoungTae não era?

– Era.

– Isso me incomoda tanto! Por que ele continua assim comigo? – virei-me para ele, encostando na bancada do banheiro. – Por que ele sai quando chego? Com certeza ele contou a MinSuk que estou aqui...

– A gente já falou sobre isso hoje...

– E se ele sai para encontrar MinSuk? Era só a gente seguir ele e... – seu olhar me fez parar. – Desculpa. É que toda essa situação está me deixando meio louca da vida.

– Eu também não achei que seria assim, Ju.

Seus olhos estavam tristes. Então sorri-lhe, me desculpando novamente e saímos do banheiro.

Encontramos os outros dois na cozinha. Quando entramos imediatamente eles pararam de falar coreano.

– Hoje também não tivemos sucesso. – informou-me JinKyu.

– Para mim, o MinSuk vai direto para o Japão... – acrescentou JungHo, desanimado.

–Eu estava pensando hoje... – começou a dizer Key. - ... e se ele ainda estiver na casa dos pais em Incheon? E se ele tiver apenas pedido que ninguém dissesse que ele está lá?

Ficamos em silêncio.

– E como vamos confirmar? – disse JungHo. – Eu e JinKyu já ligamos, não podemos ligar mais ou vamos acabar preocupando os pais dele, se ele não estiver lá...

– Eu não estou falando de ligar. Estou falando de ir até lá. – continuou Bae. – Você e JinKyu não, porque já ligaram. Mas eu posso ir. A mãe dele me adora mesmo...! – brincou ele.

Nós rimos.

– Pode ser... aliás, parece bem provável. – JinKyu começou a balançar a cabeça em afirmativo. – Nós fomos às casas dos melhores amigos de MinSuk que conhecemos e ele não estava em nenhum lugar, e nem sabiam dele. Talvez ele simplesmente ainda esteja em Incheon!

– Eu posso ir para lá hoje mesmo.

– É uma boa. – aprovou JungHo. – E nós continuamos ligando.

– Há alguma coisa que eu possa fazer para ajudar? – perguntei.

– Não se preocupe Ju. Curte sua viagem. – sugeriu Bae, simpático. – Estes dois te fazem companhia hoje enquanto eu vou buscar MinSuk!

Eles me olharam e sorriram, assentindo.


No começo da noite Bae seguiu para Incheon enquanto JinKyu, JungHo e eu íamos jantar. No caminho aproveitei para sanar uma dúvida.

– JinKyu, por que você me disse que seu segurança chamava Jiwon? – ele pareceu não entender, então expliquei melhor. – Em Los Angeles, você me disse para procurar seu segurança pessoal, Jiwon. No dia seguinte, quando fui até o aeroporto tentar falar com vocês, o chefe da segurança estava me bloqueando, aí eu pedi para falar com Jiwon e ele me disse que não havia ninguém com aquele nome...

– Me desculpe, Ju. Não é que eu quis mentir para você... – ele começou a se desculpar. – ...mas é uma medida de segurança. Eu não podia dar o nome verdadeiro dele, do contrário qualquer pessoa que conhecesse ele ou que soubesse o nome dele, às vezes por ter ouvido mesmo, poderia chamá-lo e tentar entrar nas áreas restritas, o que é bem perigoso em algumas situações...

Eu continuei olhando-o, a idéia começando a fazer sentido em minha mente.

– Dessa maneira, ele saberia que, se alguém fosse procurá-lo como Jiwon, era porque realmente tinha recebido a informação de mim, entende?

– Sim. Agora entendo perfeitamente. – concordei com a cabeça.

– Me desculpe por qualquer situação constrangedora...

– Não tem problema, JinKyu. Você não poderia imaginar.

– E o bom é que aí ela teve que vir nos visitar! – brincou JungHo ao volante.

Eles estavam animados e divertidos como sempre, e minha bochecha doía de tanto rir. A comida era muito boa e o ambiente muito agradável. As horas passaram rapidamente.

No entanto, no momento em que me vi sozinha em meu quarto, o pesar se abateu sobre mim. A alegria e esperança que eu sentia quando chegara haviam me deixado. Era óbvio que MinSuk não queria me ver e aquilo enchia meu coração de receios. Eu não pensava, em nenhuma hipótese, em desistir e ir embora sem falar com ele. Mas toda essa hostilidade... me desanimava imensamente.

Me deitei ainda pensando nos motivos de MinSuk. Meus pensamentos continuaram nele, porém seguiram para o caminho das lembranças de Chicago, seu sorriso, seu toque, sua presença... Apertei o travesseiro contra mim, desejando ardentemente revê-lo. “Por favor MinSuk... por favor, permita pelo menos que eu te veja uma vez mais...Só isso. Pelo menos isso... por favor.”, orei.


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