O Vento E A Chama escrita por Jewel


Capítulo 21
REENCONTROS




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Acordei e vi que Ben já havia levantado. Sentei-me vagarosamente na cama e ouvi. Silêncio.

Achei estranho e me levantei, por algum motivo tomando o maior cuidado para não fazer qualquer barulho. Fui ao banheiro lavar-me e desci
as escadas, olhando cada um dos cômodos, me surpreendendo como a casa era ainda mais bonita pela manhã. “Ainda é manhã, certo?”, perguntei-me.

Ao me aproximar da cozinha comecei finalmente a ouvir algum som. Entrei e vi Ben mexendo algo em uma frigideira.

– Bom dia Ju! – ele me deu um dos sorrisos mais bonitos que já me dera.

– Bom dia Ben! – acompanhei-o.

– Dormiu bem? – ele veio até mim e beijou minha testa.

– Sim, muito... – e era verdade. – Obrigada...

Ele não disse nada, só sorriu mais um pouco e voltou a mexer a frigideira. O cheiro estava muito bom e meu estômago se manifestou de um modo mais alto do que eu queria.

– Já está quase pronto. – Ben riu.

Eu ri também, sem graça.

– Onde está minha bolsa? – me lembrei de repente.

– Deve estar na sala de TV.

Fui até lá e peguei meu celular para ver as horas. Eram dez da manhã, mas foi a data que me chamou a atenção... Sorri, como sempre sorria todos os anos. Havia já duas mensagens me parabenizando por mais um ano de vida. “24 anos...”, comecei a meditar.

– Ju? – Ben entrou na sala escura e acendeu as luzes. – Está pronto...

Eu balancei a cabeça, abaixando os olhos para o celular, sorrindo como antes e suspirei.

– O que houve? – interessou-se ele.

– Nada... mensagens da minha mãe e de Paula..

– Aconteceu alguma coisa? – ele pareceu realmente preocupado o que me fez rir.

– Sim, aconteceu... Vinte e quatro anos atrás... – ri um pouco mais.

Ele ficou me fitando por um tempo sem compreender.

– Hoje... hoje é meu aniversário. – disse-lhe, sem graça. Era o tipo de coisa que eu preferia mil vezes que as pessoas soubessem sem eu ter que informá-las.

Ben deixou o queixo cair, totalmente surpreso por um instante. No seguinte veio me abraçar, felicitando-me.

– Puxa Ju... – disse ele, me soltando. – ... você devia ter me avisado!

– Não é nada tããão assim...

– Claro que é!

– Sei lá... – ele estava me deixando sem graça.

– Vou comprar um presente para você!

– Não, Ben, não precisa se incomodar...

Ele me abraçou apertado, dizendo:

– Hoje é o dia que eu tinha separado para irmos fazer algumas compras... eu sei como vocês mulheres gostam disso! – ele piscou,
sorrindo, e eu ri. – Se eu achar alguma coisa...

– Ben...

– Vamos comer antes que esfrie. – e saiu me puxando até a cozinha.

Depois de comer, passamos no hotel para que eu pudesse tomar um banho e trocar de roupas.


Voltamos a West Hollywood, passeando por algumas lojas bastante requintadas e repletas de itens interessantes. Comprei algumas coisas,
assim como Ben.

Depois seguimos para a famosa Santa Mônica. Além de ser um dos litorais mais bonitos que eu já vira, era também o lugar das lojas mais charmosas e maravilhosas. Andamos quase toda a área... eu estava achando uma coisa mais linda do que a outra, principalmente as roupas. Saí de um dos provadores, decidida a levar aquelas peças, o que me levaria a beira da falência, e me encaminhei ao caixa. Olhei ao redor e não vi Ben em lugar algum. Rodei a loja, que não era tão grande, e não o encontrei. Fui para o caixa e, enquanto pagava, liguei para o celular dele.

– Oi Ju! – ele parecia sorrir ao telefone.

– Onde você está?

– Estou... aqui perto. Você já escolheu?

– Sim, estou pagando já.

– Ok, um minuto e já estarei aí.

Saí da loja e vi Ben correr em minha direção.

– Puxa... você realmente gosta de fazer compras! – riu ele.

Olhei em minhas mãos, avaliando que parecia haver mais sacolas do que itens, propriamente ditos. Dei de ombros e sorri.

Continuamos andando. Por sorte o dia estava mais frio que os anteriores, de modo que não cansávamos ou suávamos, mesmo andando há algumas horas.

Por fim, fomos almoçar num lindo restaurante ali mesmo.

– Você está com um sorriso tão lindo... – disse-me ele.

– Estou acompanhando o seu. – pisquei.

Ele riu.

– Que bom que está feliz... assim não vai ficar brava...

– Brava com o que...? – minha voz foi morrendo, observando-o retirar uma caixinha do bolso e colocar sobre a mesa.

Arfei, meus olhos abrindo-se, surpresos.

– Ben... – desviei o olhar.

– Espero que você goste...

Sua voz era tão doce que me convenceu. Apertei os lábios e peguei a caixinha, abrindo-a delicadamente. Sorri, observando o colar com uma pedra vazada e brilhante em forma de estrela.

– É lindo, Ben... mas você realmente não devia ter se preocupado...

– Eu reparei que você não tira essa florzinha do pescoço... – ele sorriu. – ... aí resolvi te dar um para você revezar.

Sorri, colocando a mão sobre a flor de hibisco em meu pescoço. Era verdade, desde que eu a ganhara dificilmente ela não estava ali.

Ele pegou em minha mão e ficou acariciando-a. A felicidade estampada em seus olhos terrivelmente azuis me comoveu.

– Muito obrigada Ben. Não só por isso... por tudo.

Terminamos de comer e nos levantamos para ir, afinal, não havia metro quadrado de Santa Mônica que não tivéssemos percorrido.

Ben estava na fila para pagar a conta, então desci os degraus da frente para tomar um pouco do sol fraco. Poucos metros a frente vi uma pessoa conhecida. A estranheza era tanta que quando dei por mim, já andava na calçada. “Não é possível...”. Eu não conhecia ninguém em Los Angeles. E aquela pessoa que eu estava vendo não era de lá.

– JungHo? – chamei.

Ele estava de costas para mim e não olhou, provavelmente achando que era uma fã. Chamei novamente e tive a impressão de que ele começara a andar. Apressei o passo e o toquei.

– Ju? – disse ele, a surpresa estampada em sua face ao me ver. – Ju, você está aqui? – ele abriu um enorme sorriso e me abraçou.

O abracei também. Nossa! Eu sentira falta dele! Só agora podia ver.

– Eu não acredito que você está aqui! Eu quis tanto te encontrar... você sumiu!

Nesse momento JinKyu chega e abre seu sorriso característico:

– Ju?

– JinKyu! – ri e o abracei apertado, só naquele momento me dando conta de quanto sentira falta dele também. Então percebi que sentira falta de todos eles. – Isso que é presente de aniversário!

– Hoje é seu aniversário?! – perguntou JungHo, sorrindo-me.

– Sim... Como vocês estão? Onde estão os outros? – minha voz estava um pouco trêmula pela emoção do reencontro.

– Todos bem... MinSuk vai ficar tão feliz em te ver! – a voz de JungHo era carregada de emoção.

Só naquele momento tomei consciência de que ‘revê-los’ incluía rever MinSuk. Meu coração começou a bater forte, como há muito tempo não fazia. Senti uma mão em minhas costas e sorri. Mas não era MinSuk. Era Ben.

Antes mesmo de olhar, já vira que a expressão de JinKyu e JungHo havia mudado. O primeiro parecia pesaroso e o segundo, um misto de raiva e decepção.

Ficamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, até que percebi que era eu quem deveria falar algo.

– Ben, estes são JungHo e JinKyu.

– Como vão? – sorriu Ben.

JinKyu sorriu sem jeito e JungHo olhou para mim, sério.

– Ben, você poderia me dar um minuto? – pedi.

– Claro. – ele havia percebido o clima. – Te espero no carro. Até mais. – disse ele para os dois, que mantinham sua expressão de pouco antes.

Enquanto Ben se afastava pude ver a situação como um todo e me senti muito embaraçada por todos eles e principalmente por mim.

– Onde estão os outros? – sorri, tentando continuar de onde tínhamos parado.

Porém JungHo estava fechado para mim.

– Acho melhor você não os ver, Ju. – disse.

– Mas... – “Eu preciso vê-los...”, pensei em dizer. Essa verdade me causou um leve desespero... minha garganta estava seca e pareceu-me muito difícil pensar na coisa certa a se dizer.

– Vamos JinKyu. – disse ele. – Adeus Ju.

Eu não conseguia entender a atitude dele, e aquilo me magoou profundamente. Tanto que eu não consegui pensar em nada e deixei meus olhos caírem, enquanto ele se afastava.

Então percebi que JinKyu se demorava para ir, em dúvida. Olhei para ele, que parecia ser um reflexo do que eu sentia.

– Eu gostaria de vê-los... – foi tudo o que consegui dizer.

– JinKyu, você não vem? Vamos nos atrasar! – era a voz de JungHo, que parara um pouco mais a frente.

JinKyu olhou para ele e se decidiu:

– Ju, nós vamos nos apresentar no Staples Center hoje a noite. Você sabe onde fica?

– Não, mas eu posso me achar.

– O show está marcado para as sete. Eu preciso que você esteja lá antes das seis se quiser mesmo ver a gente...

– Eu quero. – reafirmei. – É só o que quero...

– Procure um homem chamado... – ele hesitou por um instante. – ... JIWON.

– JIWON. JIWON. – repeti.

– JIWON. Vai se lembrar? Peça para ele me chamar e eu vou te receber.

– Ok. Muito obrigada, JinKyu... – eu o abracei.

– Não me agradeça ainda... – sua voz era cautelosa ao me abraçar.

Olhei e o vi com uma expressão grave pela primeira vez.

– Eu não sei se eles vão querer te ver, Ju...

Assenti tristemente. Aquilo realmente não tinha passado pela minha cabeça, embora ao refletir, vi que era o esperado.

– JinKyu! – chamou JungHo mais uma vez, então desistiu e voltou a andar.

– JIWON. Não esqueça, Ju.

– Ok. Jiwon. – minha voz saiu fraca ao ve-lo ir embora, correndo para alcançar JungHo.

Entrei no carro, disfarçando meu pesar, para não alarmar Ben.

– Você planejou algo para hoje a noite? – perguntei-lhe casualmente, quando alcançamos a rodovia.

– Na verdade não. Pensei em sairmos para jantar, tenho um lugar especial em mente. Por quê?

– Aqueles meus amigos vão tocar hoje aqui em LA. Eles me convidaram e eu gostaria muito de ir, nunca fui num show deles...

– Ah...

– Você pode ir também.

– Que tipo de música eles tocam?

– São tipo uma boyband. Mas cantam em coreano.

– Boyband? – ele riu. – Não, obrigado.

– Mas o show deles é muito bom! – defendi de brincadeira, me sentindo mal por usar psicologia reversa.

– Não, tudo bem. Eu passo essa. – ele riu, balançando a cabeça. – Mas que horas vai ser o show?

– Começa as sete em ponto. Deve durar no máximo duas horas, mas eu não pretendo ficar o show inteiro. – “Eu nem sei se eles vão querer me ver...”, pensei.

– Eu te pego lá e, de lá nós vamos comemorar.

– Combinado! – sorri, metade de mim imersa em culpa por sentir passando Ben para trás, enquanto a outra metade, mais forte, afirmava que era o que eu precisava ser feito.

De repente, minha única prioridade era rever meus amigos, me desculpar. Talvez aquela fosse minha única chance de fazê-lo.


Cheguei às portas do Staples Center. Estava lotado de gente, que já começava a entrar para aguardar o show. Acompanhei a multidão. Conforme me aproximava, me desesperei um pouco: eu não tinha ingresso, já eram quase seis horas e eu não sabia onde ir. Olhei em volta e vi um corredor que levava para o backstage. Andei decidida naquela direção, chegando bem próxima, quando um segurança me parou.

– Daqui você não pode passar, moça. – disse ele.

– Olá! Eu estou aqui para ver JinKyu. Ele está a minha espera.

O segurança arfou duvidando, e eu me senti um pouco tola.

– Sei. De todo mundo aqui, moça.

– É verdade! – afirmei. Ele riu. – Por favor, ele me pediu para procurar por seu segurança. Seu nome é Jiwon.

– Moça, por favor, aconselho que volte para a fila se quiser mesmo ver o show. – ele estava ficando irritado.

– Eu estou falando a verdade. Você pode ir lá dentro e chamar Jiwon para mim?? – eu estava começando a ficar nervosa também, não pelo tratamento do segurança mas sim pelo medo de não conseguir entrar.

Ele me olhou bem sério e entrou. Meu coração parecia querer sair por minha boca enquanto esperava. Ele estava demorando demais.

Algum tempo depois ele reapareceu, com um segurança oriental atrás de si.

– Jiwon? – perguntei quando se aproximaram.

– Sim. – ele cumprimentou-me. – Por favor, o Sr. JinKyu está a sua espera.

Arfei de alívio. Nem me demorei olhando o outro segurança, apenas segui Jiwon pelo caminho, em silêncio.

Havia muito barulho no backstage, mais do que eu imaginei que houvesse. Jiwon me indicou uma porta e eu entrei.

A sala imensa seria vazia não fosse pelo sofá branco em que JinKyu estava sentado. Ele sorriu ao me ver, mas eu pude perceber algo mais nele. Como se ele fosse portador de más notícias. Meu coração, antes batendo forte, agora estava descompassado.

– Olá Ju.

– JinKyu... – sorri, sem jeito. – Deixa eu adivinhar: ninguém quer me ver...?

Ele passou a mão no cabelo que já estava pronto para o show.

– Quando eu falei para eles que você estava aqui e que queria vê-los, eles ficaram super felizes. Mas aí o JungHo  contou para eles sobre o cara que estava com você... – ele parou de falar por um momento. Eu não consigo imaginar qual era minha expressão. Ele continuou com cuidado. – É nosso primeiro show solo aqui em Los Angeles, Ju. Eles ficaram com medo de que, se MinSuk te visse, algo desse errado...

– Espera: MinSuk não sabe que estou aqui?

– Não.

Essa parte eu realmente não entendi, porém antes que pudesse formular qualquer pergunta a porta da sala se abriu e eu observei Bae, YoungTae e JungHo entrarem. Me preparei para sorrir e abraçá-los, mas suas expressões não eram tão cordiais.

Eles entraram e começaram a falar em coreano. JungHo era o que mais falava. JinKyu parecia se explicar. Bae me olhava de canto, sem nada dizer. E nem precisava. Pude ver em sua expressão que ele não me queria ali. Olhei para YoungTae... Nunca imaginei sua face, linda como a de um anjo, tão perturbada. Ele começou a falar em coreano, olhando para mim. Eu não consegui definir se ele falava comigo ou com algum dos outros, mas pude perceber que não era nem um pouco bem-vinda da parte dele também.

– Eu... – comecei a falar e eles pararam para me ouvir. – Eu imaginei este tipo de reação por parte do MinSuk, mas não de vocês...Bae?

Bae virou a cara e saiu da sala. Os outros recomeçaram a discutir.

– Chega, estou indo embora! – elevei minha voz e virei-me para porta... bem no momento em que MinSuk entrava.

Quase fiquei surda ouvindo as batidas de meu coração, que parecia estar em todo meu corpo – pernas, peito, cabeça... tudo batia forte.

Ele parou e ficou me olhando. Nunca saberei descrever a expressão de MinSuk... Parecia que ele tinha se preparado muito para aquele momento. Quase não havia surpresa em seu semblante, enquanto caminhava em minha direção. Parou em minha frente e sorriu de um jeito indecifrável, quase como um vencedor olha benevolamente para o derrotado – não sei se essa era a melhor descrição, mas era exatamente como me sentia. De alguma forma, consegui ver que ele estava satisfeito por me ver ali.

– Olá Ju. – disse, sua voz muito segura.

– Olá MinSuk... – minha voz não saiu tão segura assim.

Só então me lembrei dos outros. Eles tinham ficado em silêncio no momento em que MinSuk entrara.

– Vocês podem nos deixar a sós? – perguntou a eles.

JungHo e JinKyu assentiram e começaram a sair. YoungTae pareceu ficar ainda mais irritado. Começou a dizer algo para MinSuk em coreano, mas ele o calou com apenas um olhar. YoungTae me lançou um olhar magoado e saiu.

– Me desculpe por isso. – disse MinSuk ao vê-lo sair, sua voz como a de um diplomata.

– Eles só estão tentando te proteger... – disse olhando para o chão.

Ouvi a porta se fechar com força.

– Eu não sei como eles puderam pensar que eu não ia querer te ver... – disse-me.

Agora sim, era a voz de MinSuk. Ainda segura, como alguém que se preparara para uma reunião de negócios, porém com mais sentimento.

– Como você soube que eu estava aqui? – perguntei, ainda olhando ao redor.

– Eu não soube. – pela voz, supus que ele sorriu de leve. – Estava achando todos muito tensos, de repente todos sumiram. Aí eu perguntei para a equipe e eles me disseram que os outros estariam aqui. Vi Bae sair, ele nem falou comigo... então resolvi entrar para ver do que se tratava.

Ficamos em silêncio.

– Eu não consigo entender... – comecei a dizer, receosa. – De você, tudo bem. Eu mereço, eu sei. Mas deles... eu não esperava isso.

– Digamos que eles compartilharam demais comigo toda... – ele se interrompeu, e mudou de assunto. – De todas as maneiras que imaginei que te reveria, não cheguei nem perto.

Levantei meus olhos para MinSuk. Sua voz era simpática, sua expressão, nem tanto. Ficamos em silêncio pelo que me pareceu um longo momento. Me encostei à parede, minha mente a mil sobre o que dizer.

– Eu sei que eu deveria começar, eu só vim aqui para isso... – disse-lhe, de repente precisando controlar a respiração. – Eu queria saber o que dizer. Mas eu não sei. Você parece ter se preparado para isso... mas eu não.

MinSuk se encostou à parede ao meu lado. Sorriu, dessa vez mais franco do que antes.

– É verdade. Eu me preparei muito para esse momento. Tem muita coisa que eu quis te perguntar, muita coisa que eu queria te dizer... mas... – nesse momento ele cravou os olhos nos meus e eu senti meu corpo inteiro tremer. - ... é como se nada mais disso fosse necessário. A única coisa que eu consigo pensar é que você está aqui.

Afundei meu rosto em minhas mãos. Eu não esperava ver tanto carinho e perdão em seus olhos. Nas raras vezes em que pensei em um reencontro, imaginei que ele seria como Bae: apenas me ignoraria. Não aquilo. E isso começou a me desesperar um pouco.

Foi então que senti as mãos de MinSuk sobre as minhas, fazendo-as baixar. Baixei os olhos:

– Por favor, brigue comigo... – me ouvi dizer.

– Brigar com você?

– É! Grita, me ofende... – olhei para ele, consternada.

– Eu estou tão feliz que você está aqui... – ele sorria, cada vez mais parecido com o que eu me lembrava. – Não me importa... Você está aqui.

Dizendo isso ele começou a acariciar meu rosto. E eu pude sentir todo o meu corpo despertar, quase dolorido, após uma longa noite. Meu coração batia tão forte e tão rápido que achei que ia desmaiar. Meus olhos não acreditavam que estavam tão perto dele novamente. Minha mente vagava, lembrando de todas as vezes em que desejou aquilo.

Olhei em seus olhos doces e tudo o que consegui ver refletido neles era culpa. Minha culpa.

Quase como se percebesse, ele se afastou de mim. Andou um pouco pela sala e parou, me olhando. A expressão dele me confundia. Ao mesmo tempo em que agora ele não escondia que estava feliz de me ver, parecia temeroso.

– O que você está fazendo em Los Angeles? – perguntou ele.

– Eu...

– Antes de sair, YoungTae me disse que você está com uma pessoa. – disse ele me interrompendo.

– Eu estou... – minha voz saiu grossa e séria, quase cansada.

– Faz muito tempo? – não havia qualquer sentimento na voz dele.

– Não. – “Dois dias, na verdade.”, pensei, não vendo sentido em dizer.

– Entendo. – ele mirou o chão por um momento.

– Você ainda está namorando? – perguntei, tentando ser tão indiferente quanto ele estava sendo.

– Ainda? – ele pareceu não entender minha pergunta.

– Eu vi na internet. – sorri, me lembrando. – Ela é muito bonita!

MinSuk refletiu por um momento, parecendo confuso.

– Eu não sei de quem você está falando mas não deveria acreditar em tudo o que vê na internet. – ele parecia um pouco irritado.

– Desculpe. – disse, embaraçada.

Sentei-me no pequeno sofá branco, desfrutando de mais um momento de silêncio.

– Você está apaixonada? Por esse cara? – lançou-me ele.

Suspirei. Qual era verdade para aquela resposta? Qual era a resposta a dar a MinSuk? A verdade? Qual era ela?

– Está? – sua voz era doce, ao sentar-se ao meu lado.

Eu sabia que não estava. Ainda. Se eu desse uma chance, talvez pudesse me apaixonar por Ben. Mas como eu podia dar uma chance se cada vez que pensava em MinSuk minha mente se perdia? E ao mesmo tempo, porque eu diria a MinSuk que não estava apaixonada por Ben, se aquilo só ia fazê-lo encher-se de esperanças? E para que se encher de esperanças, se nada mudara em nossa situação?

Pisquei lentamente sentindo minha mente girar com tantos questionamentos. Meu silêncio deixou-o impaciente.

– Para que você veio aqui, Ju? – sua voz era dura quando se levantou.

– Eu queria rever vocês... – disse-lhe, olhando minhas próprias mãos, de repente sentindo como se o ar me faltasse, nervosa, como se estivessem me encurralando.

– Só isso? – pude ouvi-lo engolir seco. – Você não tem nada para me dizer?

– Tenho! – de repente minha voz saiu alto. Foquei meus olhos nele, pensando em todas as coisas que eu queria dizer a ele. – Tanta coisa que você não pode imaginar!

– Alguma coisa que mude nossa situação? – ele franziu o cenho, irônico.

Abaixei a cabeça. Seu tom me magoou.

– Perdão... – comecei a dizer, sentindo-me totalmente tola e vendo o quanto aquilo, tudo aquilo, era inútil. Nada mudaria nossa situação...

Ele ficou esperando em silêncio.

– Isso é tudo o que você tem a me dizer? - havia indignação em sua voz.

Neste momento JinKyu entrou.

– MinSuk, está na hora... – ele disse.

– Se era para isso, não precisava ter vindo. Eu já tinha te perdoado. – continuou ele, sem ouvir ou sequer se importar com a presença de JinKyu.

Sua voz era tão dura que eu quis chorar. JinKyu sentou-se a meu lado, me amparando.

– Pega leve, cara. Hoje é aniversário dela. - disse.

MinSuk parou por um momento, pego desprevenido.

– Então fique para o show. Vou cantar algo em sua homenagem. - seu tom era de desprezo, sua expressão era feito pedra.

Ele não se demorou olhando para mim, saindo rapidamente.

JinKyu nada disse, apenas ficou lá me amparando por alguns minutos. Eu sentia tanta tristeza que não fui capaz de deixar uma lágrima sequer sair. Aquilo sim era exatamente o que esperava dele, mas nem por isso doía menos.

– Eu tenho que ir, Ju. – disse JinKyu. – Você vai ficar, não vai?

– Melhor não... Ninguém me quer aqui. – minha voz era serena e ao mesmo tempo carregada de mágoa.

– Eu quero. – disse ele, abrindo um de seus enormes sorrisos. – A gente sabia que ia ser difícil. Você sabia que tinha magoado MinSuk profundamente, mas também magoou muito aos outros. Bae se apega fácil às pessoas e ele te tinha como uma grande amiga. Ele até imaginou que, depois de algum tempo, você e MinSuk pudessem se separar, mas achou que ele seria seu amigo para sempre... – JinKyu riu.

Minha expressão suavizou um pouco com aquilo. Eu podia ver que seu silêncio era o melhor que Bae podia me oferecer... mas não era o bastante.

– E YoungTae? E JungHo? – inquiri.

– YoungTae sente muito por causa de MinSuk. Você não pode imaginar como foi difícil esses meses... até eu temi que fosse o fim do Gothee que eu conhecia. Ver MinSuk sofrendo... estava acabando com todos nós. – a voz de JinKyu soou triste ao lembrar. – YoungTae sofreu junto com ele, todo o tempo. Quanto a JungHo... ele já sofreu por amor, você sabe. Durante um bom tempo ele torceu tanto para que você e MinSuk reatassem, para que vocês tivessem o final feliz que ele não teve... Acho que foi por isso que ele ficou tão desapontado de ver você com aquele cara. Mas ele não te odeia. – ele sorriu.

– E você JinKyu? – estreitei meus olhos e respirei fundo. – Por que está me ajudando?

Ele riu, sem jeito.

– Lembra quando eu te levei aquelas flores, em Chicago?

Eu assenti, sorrindo.

– Aí MinSuk chegou. – ele continuou, sorrindo também. – Quando eu vi você olhando para ele, eu percebi tudo. Quando ele me disse que gostava de você também, tudo se encaixou. Eu sabia que logo vocês estariam juntos. – nesse momento ele apertou minha mão, e eu pude sentir muito carinho e amizade sincera vindo dele. – Era muito feliz ver vocês juntos. O sentimento que tinham um pelo outro transbordava aos olhos... E eu vi esse sentimento nos seus olhos quando JungHo falou de MinSuk hoje a tarde.

Baixei os olhos e assenti de leve com a cabeça, lembrando como a simples menção de seu nome, da possibilidade de revê-lo havia mexido comigo.

– Eu não sei porque você se afastou, porque vocês não se entendem de uma vez... mas eu consigo ver o que você ainda sente por ele. Igualzinho na época. Não é?

Então era isso: estava ali, para quem quisesse ver. Menos para MinSuk. “Melhor assim...”, refleti.

– Como é que eu posso mentir para você? – sorri.

Ele sorriu apertando os olhos .

– Fique para o show. – disse, apertando minhas mãos.

– Ok.

– Vem, eu vou te levar a um lugar perfeito para que você veja tudo bem de perto!

Levantei e deixei que ele me puxasse pela mão. Ele me levou para o palco, num corredor lateral por onde os dançarinos e eles mesmos iriam entrar e sair de cena. Dali eu conseguia ver o palco como um todo, e também as primeiras fileiras, já cheias, da arena.

– Faltam apenas 10 minutos para o show começar, Ju. Eu preciso ir lá dentro, mas daqui a pouco eu volto com os outros.

– Ok. Estarei aqui.

Ele sorriu e se afastou.

Fiquei vendo a arena, já lotada, encher ainda mais. As pessoas da produção iam de um lado para o outro, finalizando os últimos detalhes.

– Ju? – era JinKyu.

Olhei para ele e vi que os outros estavam lá também.

– Vocês estão lindos! – sorri-lhes.

MinSuk e Bae me ignoraram. YoungTae me olhou por um instante depois virou a cara. JungHo permaneceu me olhando, sua expressão mais suave do que antes, o que me deu algum conforto.

– Nós vamos descer para nossas plataformas agora. – explicou-me.

– Ah! Vai ser aquela entrada, surgindo e saltando? – perguntei, tentando me animar um pouco mais para ver o show.

– Isso! Essa mesma!

Alguém da produção os chamou.

– Boa sorte meninos! – disse-lhes. Só JinKyu me sorriu.

Suspirei e aguardei o começo do show.

Uma coisa era certa: o show era empolgante. Por mais que eu não estivesse me sentindo bem-vinda ali, por mais que houvesse muita coisa pesando em meu coração, eu esqueci de tudo.

As canções que se seguiram, me animaram ainda mais. Os vi passando rapidamente para o camarim, e voltando mais rápido ainda para o palco, já com outra roupa.

Chegara o momento das apresentações solo. JungHo seria o primeiro. Ele aguardava ao meu lado, enquanto o anunciavam.

– Eu lamento ter sido tão rude com você. – disse ele, sem me olhar.

– Eu lamento qualquer coisa que tenha feito você passar, JungHo.

Ele me olhou, parecendo em dúvida. Então seu nome foi anunciado e ele foi para o palco.

Quando voltou foi direto para o camarim, de onde saiu YoungTae. Ele ficou parado, longe de mim, esperando seu nome ser anunciado. Quando nossos olhos se cruzaram eu sorri. A expressão dele não se alterou.

Enquanto assistia YoungTae se apresentar, percebi alguém ao meu lado. Era Bae. Ele olhava fixamente para o palco, fingindo que eu não estava lá. Engoli seco, me sentindo muito mal.

– Eu sinto muito. – dei por mim, dizendo. – Eu nunca quis magoar nenhum de vocês, Bae. Muito menos você! Justo você que eu adoro tanto!

A expressão dele também não se alterou. Ele continuou me ignorando.

– Eu também sofri com a saudade de vocês, Bae. Me dói muito pensar que você não acredita em mim...

Nesse momento ele me lançou um olhar tão sério que eu parei de falar.

Jinkyu chegou bem neste momento. Bae voltou a olhar para o palco.

YoungTae saiu diretamente para o camarim também, enquanto Bae entrava no palco.

Eu e JinKyu ficamos vendo-o se apresentar. Quando ele terminou, era a vez de MinSuk. Olhei ao redor procurando-o, mas ele só saiu do camarim, direto para o palco, quando seu nome foi anunciado. Nem sequer olhou para nós.

Bae não foi para o camarim, permanecendo ao lado de JinKyu enquanto MinSuk entrava em cena.

Quando ouvi o começo da música, senti meus ombros caírem.

– Grenade? – me ouvi dizer.

– Ele ensaiou várias músicas nas últimas semanas. – tentou se explicar JinKyu.

– Feliz aniversário, Juliana! – sorri, cansada.

– E o que mais você esperava? – Bae falou comigo pela primeira vez.

– Nada. – disse-lhe, sem tirar os olhos de MinSuk. – Eu não tenho o direito de esperar nada.

No palco, MinSuk me chamava de mentirosa, de louca, de má, dizia-me que eu nunca tinha lhe amado... as fãs gritavam histericamente, alheias aos meus sentimentos.

Aquilo foi me magoando cada vez mais. Então aquilo é o que ele tinha pensado em me dizer todo aquele tempo? Mentirosa? Como ele podia achar que eu nunca tinha lhe amado? Então ele achava que eu ia sair me declarando, indo para cama, sem o amar de verdade?

– Chega disso! – disse, me afastando.

– Ju... – JinKyu tentou me deter.

– Como ele pode achar isso de mim? Com ele pode achar que eu menti para ele, JinKyu? Se você consegue ver meus sentimentos, por que ele não?

Olhei em seus olhos, desesperada por uma resposta, que ele não pôde me dar.

– Obrigada por tudo JinKyu! – sorri-lhe.

Comecei a afastar-me, desejando ardentemente não ter ido ali. Então senti, alguém segurando meu braço.

– Eu acredito em você. – disse Bae, suas expressões tão duras quanto antes. – Mas você consegue imaginar como foi difícil para todos nós? Nem eu sabia o quanto gostava de MinSuk até vê-lo daquele jeito! – sua expressão se suavizou um pouco, tomado de indignação e alguma tristeza. – Nós todos compartilhamos a dor dele. Eu, duplamente, porque eu também sentia sua falta! – os olhos dele estavam cheios de lágrimas.

– Oh Bae! – eu o abracei, sentindo-o começar a chorar. – Eu não queria ter abandonado você! Nem MinSuk... – ao contrário do que ocorrera no camarim com MinSuk, agora as palavras sinceras fluíam de meu coração. – Eu simplesmente não sabia o que fazer... doía tanto pensar em vocês que... achei que se talvez isolasse vocês da minha vida doeria menos, mas não foi assim, Bae, não foi!

Ele me apertou forte e eu pude sentir seu carinho e perdão – e aquilo fez meus olhos se encherem de lágrimas.

Fiquei confortando-o enquanto ele se acalmava.

– Não fique magoada com MinSuk... – ele pediu, enxugando os olhos. – Ele cantou ‘Talking to the moon’ até o último show.

– Mas hoje ele escolheu ‘Grenade’. – sorri. – O que eu disse é verdade, Bae. Eu não tenho o direito de esperar nada diferente, mas me chamar de mentirosa? Depois de tudo o que aconteceu... me magoa muito.

– Ele está triste porque agora acabou de verdade. Você está mesmo com outro cara não está?

– Estou. Há dois dias, Bae.

– Dois dias? – os olhos dele se arregalaram. – Então você não o ama ainda...

– Não. Nem sei se tão cedo vou.

– Então... você e MinSuk...! – ele puxou minhas mãos, como costumava fazer.

– Você acha que é mesmo simples assim? MinSuk me odeia agora.

– Ele só está achando que acabou.

Nesse momento meu celular vibrou. Era Ben.

– É o cara?

– É. Ele está me esperando para ir comemorar meu aniversário... – disse guardando o celular. – É melhor eu ir. Mas eu vou em paz por saber que você me perdoou.

– Ju... volta para o MinSuk. – ele pediu uma vez mais.

– Bae, eu...

– Não precisa ser hoje. Nós vamos embora amanhã de manhã, no LAX. Nosso vôo é as oito, não lembro a plataforma, mas eu sei que é na ala norte.

– Também não vai ser amanhã, Bae.

– Que seja semana que vem. Não importa. – ele me abraçou. – Resolve aí seu rolo com esse cara e nos procure. – disse ele em meus ouvidos.

– Bae... – suspirei, acariciando seu belo rosto quando nos separamos.

– Só não demora, ok? Depois de hoje, não sei quanto tempo mais MinSuk vai te esperar.

– Ele não vai.

– Vai, sim. Eu sei. – seu olhar era tão doce que eu não me importei com a tolice que dizia.

– Se cuida, Bae!

– Até logo, Ju...

Sorri-lhe e fui embora. Do lado de fora tudo estava deserto. Ventava bastante e eu desejei que o vento pudesse levar meus pensamentos para longe, em vão. “Então é isso. O Fim. Aquilo que faltava para que eu seguisse em frente, como dissera Jane.

Fui caminhando enquanto ligava para Ben. Ele já estava nas redondezas e não demorou muito para chegar.

Me esforcei para parecer normal a noite inteira. Ben estava muito bonito, alegre, comentando sobre minha visita. Eu respondia da melhor maneira que podia, tentando mostrar-me animada também.

Depois saímos para andar na praia. Ele segurava minha mão enquanto caminhávamos em silêncio.

– Aconteceu alguma coisa, no show? – ele parecia realmente preocupado, então decidi ser sincera.

– Ah... digamos que nem todos eles ficaram felizes em me ver. – sorri.

– Mas eles não são seus amigos?

– São. É que eu magoei alguns deles... – “todos, na verdade...”, e pensar isso me entristeceu. – Mas eu não quero falar sobre isso.

– Tudo bem. – disse ele me abraçando. – E sobre o que quer falar?

– Acho que eu não quero falar sobre nada. – ri.

Ben parou e me olhou demoradamente. Seus olhos tinham algo que eu conhecia muito bem. Ele me puxou para si e eu não me importei.

Nosso beijo era pesado. Eu podia sentir os sentimentos de Ben contrapostos aos meus. Naquele momento, tudo o que eu mais queria era me apaixonar por ele. Queria me perder em seus braços... Mas, para isso, precisaria me esforçar mais.

– Vamos para sua casa? – perguntei-lhe.

Ele assentiu, surpreso.


Quando chegamos, eu o puxei para mim, sem saber muito bem o que deveria fazer. Eu precisava que meu corpo despertasse como no dia anterior, ainda que pensando em MinSuk, para que minhas atitudes não parecessem tão forçadas. Ben me carregou para o quarto, me colocando suavemente em sua cama. Eu o beijava, com medo de que, ao menor distanciamento, minha coragem desaparecesse. Deixei minhas mãos passearem por suas costas, tentando ganhar familiaridade com seu
corpo, esperando o desejo me consumir. Ben respirava pesado, desejando-me, enquanto eu tirava sua camisa. Grudei meu corpo ao dele, esperando que o calor de sua pele fizesse a minha arder. Meu coração batia forte, ansioso pela chegada do desejo. E nada ocorreu.

Abri meus olhos e fitei Ben, também de olhos abertos.

– Quer que eu pare? – sussurrou ele.

– Não. – disse-lhe.

Ele me deitou na cama e veio sobre mim. Joguei minha cabeça para trás, deixando que ele começasse a me despir. Minha mente estava alerta, buscando algo em que se apoiar.

– Assim eu não quero, Ju... – a voz de Ben saiu empurrada por sua respiração.

– O que? Como assim?

– Você não está a fim. – ele apertou os lábios numa linha fina.

– Estou sim! Não pare, por favor. – pedi.

– Não está não. – disse ele se levantando.

– Eu quero, Ben. Quero muito!

Ele olhava o chão, os braços caídos ao lado do corpo.

– Nós não precisamos fazer isso, Ju. Você não me deve nada.

– Assim você me ofende! – disse-lhe, me levantando também.

– Ontem você estava a fim e pediu que eu parasse. Hoje você não está e quer que eu continue... Eu não entendo.

– Me ame, Ben. – disse-lhe, afundando meus dedos em seus cabelos louros. – Por favor.

Ele me puxou novamente para si e recomeçamos. Enquanto ele beijava meu corpo, parecia que eu começava finalmente a corresponder. Por outro lado, minha mente se desesperava cada vez mais. Eu sabia que, se algo acontecesse entre mim e Ben, eu me apegaria a ele. Eu me apaixonaria por Ben e esqueceria MinSuk. Deixaria tudo o que vivera e tudo o que sofrera para trás. Tudo teria sido em vão.

Naquele momento eu soube que não era aquilo que eu queria.

– Ben, pare. – minha voz saiu fraca, porém decidida.

– O que? – ele arfou. – Mas agora você... – ele se levantou, irritado.

Eu me encolhi no canto da cama, abraçando e apoiando a cabeça em meus joelhos. Tentei segurar, mas algumas lágrimas escorreram mesmo assim. Enxuguei-as o mais rápido que pude e me encolhi ainda mais.

– Desculpe... – disse Ben, se abaixando ao meu lado. Sua voz era baixa. – Não queria te assustar.

– Me desculpe, Ben. – mais lágrimas.

Ele ficou em silêncio, até que sua respiração se acalmou.

– Você me quer. Mas não quer me querer. – ele estava sério.

Afundei ainda mais a cabeça em meus joelhos.

– Tem alguma coisa que eu possa fazer? – perguntou-me.

– Não. – minha voz saiu fraca.

Então ele sentou ao meu lado e esperou.

– Me diz o que há, Ju, por favor.

Ponderei sobre aquilo.

– Eu não quero te magoar, Ben. E eu sei que se nós fizermos, é isso o que vai acontecer.

Ele respirou fundo.

– Você está com medo de se apaixonar por mim?

– Talvez... – disse-lhe. – Medo de perder meu amigo.

– Aí fica difícil. – ele sorriu, sem jeito.

– Acho que errei vindo aqui... Eu não me sinto pronta, Ben. Desculpa ter estragado tudo. – minha voz saía, consternada.

A expressão de Ben era suave.

– Toda vez sou eu quem estrago as coisas... então você tem algum crédito.

– Você é demais, Ben. Eu queria muito conseguir...

– Você conseguiria, Ju. Se quisesse, você conseguiria.- ele mordeu os lábios de leve, coçando os olhos. – Mas tudo bem, eu tentei, fiz o meu melhor. Quem sabe chegando ao Brasil você enxergue as coisas de outro modo.

– Quem sabe... – sorri-lhe.

Fiquei em silêncio por mais um tempo, minha mente perdida em diversos assuntos enquanto me levantava e recolocava minha blusa.

– Você pode me levar para o hotel? – pedi-lhe. – Está ficando tarde.

– Seu vôo é às 9h, não é?

– É, mas eu nem arrumei minhas malas ainda. – suspirei. – Muito obrigada, por tudo, Ben.

– Eu adorei esses dias. Mesmo agora. Obrigado por ser sincera comigo.

O abracei, sentindo um imenso carinho por ele.


Quando cheguei a meu quarto, comecei a arrumar as coisas rapidamente, de qualquer jeito, apenas me certificando de não esquecer nada. Me joguei na cama, adormecendo logo em seguida.


Acordei sem me lembrar de ter sonhado, mas com um aperto muito grande no peito. Me arrumei lentamente, ponderando sobre tudo o que ocorrera em apenas três dias.

Entrei no táxi e fiquei vendo Los Angeles passar por minha janela. Comecei a prestar atenção à música que tocava no rádio.

– Que música é essa? – perguntei ao taxista.

– ‘Good Thing’, da Ilse Delange. Uma beleza, não?

Assenti com a cabeça, voltando a prestar atenção a letra. “All those angels running, picking up the pieces, putting back together hearts broke long ago… I know a good thing when I see it, and it's a bad thing to let go…

Meu coração batia forte em meio a epifania.

– Por favor, siga para a ala norte. – disse ao taxista.

– Mas nós não íamos para a ala leste?

– Sim, mas eu preciso passar lá antes.

– A senhora que manda.

Olhei ao relógio. Eram 7:10. Tinha que dar tempo.


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