O Vento E A Chama escrita por Jewel


Capítulo 20
A TIME IN L.A.




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Peguei um vôo noturno e cheguei em Los Angeles por volta das 10h no horário local. Mal saí da plataforma e já vi Ben sorrindo vir em minha direção.

Durante o vôo eu dormira muito mal. Ficara pensando em como seria encontrar com Ben daquela maneira, sentindo receio e muita ansiedade pesando em meu coração. Então me confortou um pouco a recepção calorosa, mas aparentemente sem segundas intenções de Ben.

– Como foi o vôo? – perguntou-me.

– Correu tudo bem. – sorri, sem jeito.

Ele pegou minha mala, tomando minha mão entre as suas. Me olhou sem jeito, como se pedisse consentimento. Sorri-lhe, demonstrando não me importar. “Não era para isso que a gente estava ali?”, dei de ombros.

– Obrigada por ter vindo me buscar! – disse-lhe quando entramos no carro. – Você deveria estar trabalhando...

– Hoje eu tirei o dia de folga. – ele piscou para mim. – Disse que uma pessoa muito especial ia chegar e eu tinha que vir pegá-la.

– E colou, é? – brinquei.

– Mais ou menos. Mas como eu sou um profissional excelente...

– ... e muito modesto! – ri.

– ...eles me liberaram hoje. – disse ele, rindo de meu comentário.

– Ok. Vou mandar um e-mail a seu chefe agradecendo!

Nós rimos.

– E aí? Planejou alguma coisa para estes dias? – perguntou-me ele. Eu neguei com a cabeça, distraidamente, então ele continuou: - É muita coisa para ver em só três dias!

– Eu não planejei nada... você é meu guia! – ri.

Ele se empertigou todo ao volante, feliz com a declaração. Eu também me sentia feliz.

– Você quer descansar, dormir um pouco?

– Não estou cansada. Mas, nossa! Eu preciso muito de um banho! – olhei a rua, tentando me localizar, em vão. – Será que a gente poderia
passar no hotel antes de começar o tour?

– Hotel, Ju? – ele pareceu chateado. – Eu falei para você ficar em casa!

– Ben, eu achei melhor assim... devagar lembra?

– Ok. – ele sorriu a contragosto.

Seguimos para o endereço que eu tinha passado. Foi mais rápido do que tinha imaginado que seria. Fiz o check-in e subimos para o meu
quarto. Era simples, mas muito limpo, organizado... quase clean. E a vista era muito bonita.

– Ah... não é nada mal! – exclamei abrindo as cortinas.

– Minha casa é bem grande. – disse ele, insatisfeito. – Tem um quarto sobrando...

Me virei para olhá-lo e sua expressão me divertiu.

– Tem piscina também... – disse ele vindo em minha direção, zombeteiro. Parou em minha frente e ficou me olhando de um modo que me perturbou um pouco, ainda que não fosse exatamente por não gostar. – E se faltar alguma coisa é só você falar... – sua voz era baixa ao dizer isso.

Seus braços envolveram minha cintura e ele me puxou para si devagar, seus olhos azuis cravados nos meus. Senti-me estremecer um pouco, prevendo o que viria. Seus lábios tomaram os meus com muito cuidado, enquanto ele me puxava para mais perto. Eu me sentia tonta com a evolução calma que me tirava o fôlego.

Ele me soltou tão devagar quanto havia puxado.

– Acho que vou dar uma volta enquanto você...

– Sim. – sorri-lhe.

– Você precisa de muito tempo? – neguei com a cabeça e ele sorriu. – Ok, eu volto em uma hora.

– Ok. – acompanhei-o até a porta e ele me beijou novamente, dessa vez mais apertado.

– Até mais tarde. – sorriu-me.

– Até. – sorri e fechei a porta.

Olhei o quarto uma vez mais, deixando meus pensamentos vagarem, tentando intuir o que aconteceria naqueles dias. Subitamente meu coração bateu muito forte, uma ansiedade estranha impelindo-o. Respirei fundo, sem compreender. Balancei a cabeça, tentando afastar aquilo, e fui abrir minha mala.


Ben ia dirigindo e falando, enquanto eu olhava tudo ao redor, como uma legítima caipira.

– É muito diferente não é? – riu ele.

– Totalmente. – fechei um pouco a boca que pendia, me recompondo. – Quero dizer, é muito diferente do que eu imaginava!

– O que você pensava? Cidade de praia?

– Não exatamente... mas não pensei que fosse tão urbana também!

– Sim. É uma verdadeira metrópole, com tudo de bom e de ruim que tem nelas. – explicou-me. – Algumas pessoas dizem que não gostam de Los Angeles por causa do trânsito, da fumaça, da lotação de gente... muita gente querendo só se dar bem! – ele fez uma careta. – Mas a verdade é que, depois de morar esses meses aqui, posso te garantir que ninguém daqui, que mora aqui, se importa com isso.

– Sério? – olhei as ruas novamente e realmente as pessoas pareciam quase tranqüilas. – Claro que é bem diferente, mas em São Paulo as pessoas se estressam demais com essas coisas...

– Aqui as pessoas estão mais preocupadas em desfrutar bons momentos na praia, caminhar pelas colinas, visitar galerias e museus, curtindo bandas, assistindo a filmes obscuros que ninguém mais no país consegue ver, comprando em ótimas butiques locais, e fazendo refeições deliciosas e saudáveis... Essa é a Los Angeles de verdade.

– É essa Los Angeles que você vai me mostrar?

– Eu vou tentar. – e ao dizer isso ele sorriu e pegou em minha mão.

– Você realmente está empolgado com essa cidade!

– Sim. É fabulosa! Mas não se engane... – ele piscou para mim. – Aqui dentro ainda tem um cara simples de Idaho!

– Sei... esse bronzeado em pleno inverno mostra muito! – ri.

– O inverno aqui acaba antes de no resto do país. Agora estamos na pré-primavera!

Olhei para fora e vi que era verdade. Ainda que não houvesse o sol dourado e o vento quente das descrições que sempre ouvira, tampouco
parecia inverno. No máximo um dia ameno de outono.

Começamos pelo lugar mais óbvio: Hollywood. Ben me explicou que quisera começar por ali por várias razões. Primeiro porque ele queria me acompanhar, uma vez que ali não era uma região muito segura para uma pessoa, turista, andar sozinho. Segundo porque liberaria os outros dias para ver coisas mais legais e não tão famosas.

Fomos andando pela famosa calçada da fama. Eu tirava muitas fotos, das estrelas, dos outdoors e lojas caracteristicamente hollywoodianas. Ben parecia se divertir com minha reação ‘típica de turista’. Eu me divertia também. Entravamos em algumas lojas comprando alguns souvenires baratos. Pegamos uma sessão de um filme de arte que me pareceu muito confuso, mas que valeu a pena por se tratar de uns dos cinemas mais antigos de Los Angeles. A arquitetura era realmente incrível! Ben me deu cobertura enquanto eu tirava algumas fotos escondida.

Paramos para almoçar num restaurante indiano. Eu já havia provado comida indiana,e me lembrava de não ter gostado muito. No entanto, quando a comida veio eu me surpreendi, provando e aprovando todos os pratos. Ben me explicou que os restaurantes sempre ‘americanizavam’ um pouco as comidas, de forma a se tornarem mais atraentes e se ajustarem melhor ao paladar californiano. Explicou-me que na Índia as coisas eram muito mais misturadas e fortes do que aquelas.

Seguimos para algumas praias, sempre de carro. A costa parecia ser infinita e muito, muito bela. Havia bastante gente nas praias, ainda que poucas na água.

– A água está muito fria nessa época?

– Acredito que não... – disse Ben, olhando de relance o mar. – Mas os californianos não gostam nada de frio. A maioria só entra quando a temperatura beira os 30°C. Hoje é um dia frio... – ele riu.

Voltamos para o Hotel, pois o cansaço finalmente me alcançara. Por sorte, tudo era incrivelmente perto em Los Angeles.

– Eu te ligo mais a noite para ver como vai estar o seu pique.

– É só eu cochilar umas duas horas... – sorri.

Nos beijamos de leve e eu desci do carro.

Cheguei a meu quarto e me joguei na cama, adormecendo em segundos.


Eu estava andando pelas praias, o sol estava fraco iluminando o dia. Não havia ninguém por perto. Andei lentamente e me preparei para pular na água quando alguém segurou meu pulso.

– Onde você vai? – perguntou-me a voz familiar.

– MinSuk? – eu estava atônita. Olhava em volta, assustada. – O que você está fazendo aqui?

– Como assim? Eu estou aqui... com você.

– Não está não! – eu comecei a me afastar, medrosa. – Eu estou aqui com Ben.

– Quem é Ben? – MinSuk parecia impaciente.

Comecei a ouvir um som conhecido.

– Ben é quem está cantando... – disse-lhe.

– Claro que não... isso é The Verve! – zombou ele.

– Então... Ben está me chamando! – gritei. – Está ouvindo, MinSuk!!


Acordei atordoada. Meu celular tocava e, pelo toque (Lucky man, do The Verve), eu sabia que era Ben. Massageei a testa em movimentos circulares enquanto atendia, tentando acordar totalmente, ainda com o sonho louco em minha cabeça.

– Alô... – minha voz saiu rouca.

Você estava dormindo ainda?

– Que horas são?

Quase 20h! – brincou ele, a voz suave ao telefone. – Um cochilo de duas horas, sei! – zombou.

– Oh my...! – sentei-me, mas fazê-lo me causou uma tontura muito forte, de modo que me joguei novamente para trás.

Você está cansada mesmo!

– Não... sou só preguiçosa! Quanto mais durmo, mais quero dormir...

Se quiser eu vou aí te pegar e a gente pode ficar junto... de preguiça.

– Era isso que você tinha em mente? – lancei, me arrependendo em seguida. Por algum motivo, me sentia receosa com qualquer coisa que dizia para Ben.

Para ser bem sincero, não. – confessou ele. – Eu tinha pensado em te levar em uns barzinhos de rock...

– Uns barzinhos...? – inquiri, rindo.

– Sim. Tem uns muito bons! Podemos passar em vários... e ver o que houver de melhor! Mas se você estiver cansada, nós...

– Não... – interrompi-o. – Eu só estou preguiçosa... me arrumo em... – tentei calcular, mas minha mente estava lenta.

– Eu passo aí daqui uma hora, pode ser?

– Perfeito!

Despedimo-nos e eu desliguei. Virei para o lado e fechei os olhos, concentrando minha mente, de modo a despertar. Levantei lentamente e dessa vez não houve tontura. Segui para o banheiro e comecei a me arrumar.


Fomos para West Hollywood. Ben me explicou que ali era um lugar bom para se andar e se divertir, tanto de dia quanto de noite. Havia muitas galerias de artes e lojas dedicadas à música, bem como muitos bares que só abriam depois das seis – algumas, inclusive, tinham ambas as funções, e foi por uma delas que começamos. Era muito diferente ver um palco e uma banda de rock alternativo tocando forte, rodeada de quadros modernos e esculturas delicadas. Mal a banda fez um intervalo, Ben já me arrastou para outro bar, poucos metros a frente. Nesse estava uma banda que me lembrou muito The Strokes, de modo que nós curtimos o show do princípio ao fim mesmo sem conhecer uma música sequer.

Seguimos para mais dois bares totalmente diferentes entre si, sendo que no último estava rolando uma espécie de rock n’ roll party. Nós dançamos muito até bem tarde.

Passava das três da manhã quando Ben foi me deixar no hotel. Nos empolgamos um pouco na despedida, Ben me cativando da mesma maneira familiar. Eu sendo a chata e cortando o clima. Tudo como sempre.


No dia seguinte Ben me ligou logo cedo, me informando que teria que trabalhar, mas tentaria sair mais cedo para podermos passear um pouco mais. Disse-lhe que estava pensando em ir à praia e ele me advertiu sobre os lugares seguros e os lugares que eu devia evitar, bem como algumas atitudes também. O cuidado dele, me fez sentir-me protegida, querida e feliz.

Saí, munida de mapa e uma lista de lugares que queria conhecer. Peguei um táxi e segui para a praia. O dia estava ensolarado, ainda que não muito quente. Havia mais gente nas praias do que no dia anterior, alguns se aventurando a entrar na água, idéia que eu tinha a princípio, porém abandonando-a ao ver como até a areia estava fria.

Sentei-me e fiquei observando as pessoas. Eu sempre tinha gostado de fazer isso, mas parecia que em Los Angeles isso era mais interessante. Tipos únicos, como saídos de filmes ou livros, dispersos pela areia. Crianças construindo castelos de areia, sob o olhar desatento dos pais. Havia o grupo de amigos, baderneiros e ‘filhinhos de papai’. As senhoras jogando cartas, sem se importar com o barulho ao redor. O halterofilista exibindo seus músculos... para ser mais clichê, só faltou mesmo um Wolly escondido em algum lugar. Eu sorria ao me perguntar qual seria a personagem que eu representava ali. “A Jeca-tatu!”, contive o riso, de modo que ninguém me achasse louca por estar rindo sozinha.

Comecei a andar, contornando o litoral, através das infinitas calçadas onde muitas pessoas caminhavam e corriam.

Sentei-me num charmoso café, em frente a praia. Arregalei os olhos por um instante, me recompondo em seguida. Na mesa ao lado, achei ser Courtney Cox. Estava tentando confirmar quando meu celular tocou.

– Oi Ben!

– Oi Ju! Onde você está?

– Acho que... em Malibu. – disse olhando ao redor, tentando localizar alguma placa.

– Que chique hein?

– Você não sabe perto de quem eu estou! – disse, baixando a voz.

– Quem?

– Courtney Cox! – disse, animada. – A Mônica, pertinho de mim!!

– Ela operou o nariz? – perguntou Ben, com uma voz engraçada.

– Ela ia operar?! – inquiri.

– Não... quer dizer, sei lá.. é só o tipo de coisa que as pessoas sempre perguntam por aqui. – ele riu e eu o acompanhei.

– Bom... tem um homem se aproximando da mesa dela... – disfarcei e olhei. – ... mas eu não consigo identificar quem é...

– Tira uma foto pelo celular e depois a gente vende! – brincou ele.

– Boa idéia! – fingi aderir. – Você está no trabalho?

– Sim. Estou almoçando agora... Você já almoçou?

– Sim, estou fazendo isso agora.

– Que bom! – ele expirou. – Vou tentar sair pelo menos umas três horas daqui... quero te levar para andar, então não se canse muito!

– Ok. Vou só dar mais uma bisbilhotada aqui e volto para o hotel.

– Combinado! – ele riu. – Um beijo.

– Beijo... – e desliguei o telefone sorrindo, lembrando-me de como Ben sorria quando estava por perto.

Andei mais um pouco na praia e voltei para o hotel para descansar.


Eram quase quatro da tarde, quando Ben me ligou dizendo que estava no saguão do hotel. Pedi que ele subisse. Quando ele entrou, eu o abracei. Ele me beijou com muito carinho, acariciando meu rosto.

– Senti sua falta. – disse-me.

– Eu.. também. – disse, sem jeito, e sem muita certeza se era verdade ou não.

Ele me beijou novamente, dessa vez mais animado.

– Ok... – suspirou, quando nos separamos. – Coloque uma roupa confortável, porque nós vamos andar.

Obedeci.

Enquanto seguíamos para Temescal Canyon, ele me explicava mais sobre o lugar, as origens... Ainda sim, não foi suficiente para me preparar para a beleza das paisagens que vi. Era tudo meio árido e seco, a uma primeira vista, mas o verde ia ganhando mais e mais espaço conforme íamos caminhando. Atravessamos algumas pontes, observando os corpos d’água que passavam pelas rochas embaixo de nós. Tirei muitas fotos, todas ótimas!

Andamos bastante, contornando algumas cachoeiras muito bonitas. Paramos para comer alguma coisa antes de voltar ao hotel.

Naquela noite, Ben me levou à festa de um amigo seu. Eu deixei meu queixo cair enquanto ele dirigia por Hermosa Beach – eu estava me divertindo tanto que não me incomodava em disfarçar o quanto achava tudo aquilo grandioso. Ben ria de meus comentários, jurando que tivera reações parecidas com as minhas, embora eu duvidasse muito.

Quando paramos em frente a casa do amigo de Ben, eu me contive um pouco. Entramos e alguns amigos dele vieram nos cumprimentar. Um alívio incômodo me ocorreu quando Ben me apresentou somente como uma amiga. Aquilo tinha me agradado mas por algum motivo me senti errada por isso. “Devagar, Ju... devagar!”, pensei.

Ao ver as pessoas de lá pude constatar a verdade em tudo o que Ben dissera sobre os californianos: muito animados, despojados e bem apresentáveis – essas pareciam ser as únicas preocupações da maioria ali, embora os amigos de Ben fossem mais centrados.

Conversamos bastante e fomos para a pista. Eu estava adorando... a seleção de músicas era empolgante e diferente do que eu estava acostumada. Uma legítima e animada festa na praia, como eu nunca tinha ido.

Algumas horas depois, Ben ficou diferente. Mais próximo, mais... insinuante. Sua atitude mexeu bastante comigo, por motivos conflitantes. Ao mesmo tempo em que ele estava começando a me cativar, eu me sentia errada, como se estivesse forçando demais as coisas. E isso me incomodou profundamente.

– O que foi? – sussurrou ele em meu ouvido, num momento em que parei de dançar.

– Acho que... cansei. – disse, virando-me para olhá-lo.

– Você que ir embora?

– Não... quer dizer, não sei... você quer?

– Quero. – subitamente sua voz estava séria demais. – A gente já se divertiu bastante aqui... vamos fazer outra coisa.

– Tipo o que? – meu coração batia descompassado ao perguntar isso.

– Tipo... assistir um filme, ficar junto...

– Ok. – foi tudo o que consegui dizer.


Ben abriu a porta de sua casa para que eu entrasse. Eu olhei em volta, admirada. Parecia grande e organizada demais para a casa de um solteiro.

– Quer me ajudar a escolher o filme? – disse ele abraçando minha cintura.

– Tudo bem... – sorri.

Seguimos para a sala de TV, onde havia uma estante cheia de DVDs.

– Que tipo de filme quer assistir? – perguntei-lhe passando os dedos sobre os títulos, não reconhecendo alguns.

– Que tal esse? – disse ele, retirando um.

– ‘A Proposta’. Adoro esse filme.

– Eu imaginei.

Ele colocou o DVD enquanto eu fui me sentar no que me pareceu o sofá mais confortável em que já sentara na vida.

– Confortável? - perguntou ele.

– Muito! – ri. Só então percebi o que aquilo poderia significar. – Esse sofá é divino!

Ele riu e sentou-se a meu lado.

Eu já tinha visto o filme várias vezes, mas realmente era um de meus favoritos, de modo que eu prestava atenção tanto como nas outras vezes em que assistira. Ben, por outro lado, se mexia a cada três minutos, chegando mais perto ou falando algo. Nesses momentos eu sorria para ele e voltava a olhar para a TV.

Quando o filme acabou, ele tinha cochilado.

– Ben... – tentei acordá-lo, gentilmente. – Ben, o filme acabou... você está liberado! – brinquei.

– Desculpa... eu...

– Sem problemas. – ri ao vê-lo se recompondo.

– Você não está cansada?

– Ainda não... mas logo, logo sim. – olhei para o relógio. – Você não precisa me levar, eu posso pegar um...

– Você não quer ficar?

– ... táxi. – minha voz morreu depois disso. Olhei ao redor tentando me localizar.

Eu estava na sala de um homem lindo, com o qual tinha topado ‘tentar’. O que eu poderia querer preservar ou evitar? “E além do mais, ‘ficar’ não queria dizer que...”, refleti.

– Fique. – repetiu ele, a voz rouca de sono.

– Ok. – sorri, baixando os olhos.

Ele se levantou e me puxou pela mão, me levando para cima. Chegamos em seu quarto e ele foi até o closet.

– Acho que você vai querer vestir algo mais... confortável, não? – disse, me entregando uma muda de roupas.

Meus olhos se arregalaram por um instante focando os dele, cravados nos meus. Ele estava sério e aquilo me fez achá-lo muito atraente.

Quando ele me beijou eu deixei a muda de roupas caírem. Suas mãos seguravam meu pescoço, afundando os dedos em meus cabelos... seus lábios estavam mais macios do que eu me lembrava que fossem, de modo que não ofereci muita resistência quando ele me deitou na cama.

Não sabia se tinha sido o pouco que tinha bebido ou se era cansaço... mas minha mente vagava enquanto Ben beijava meu pescoço e ombros. Abri os olhos para o teto e estanquei: aquele era o Ben dos meus sonhos. Aquele era o Ben que eu desejava. Fechei os olhos novamente, ouvindo-o dizer algo com o meu nome. Ele estava me chamando... “Está ouvindo MinSuk?”, perguntei em minha cabeça, como ocorrera no sonho da tarde anterior. Senti as mãos de Ben em minha cintura... “Quem é Ben?”, perguntou MinSuk impaciente como antes. Abri os olhos e puxei Ben, tentando focalizar seus olhos azuis. Ele me olhou, curioso por um momento. Depois me puxou mais para si e me beijou. Mas eu estava desconectada... a voz de MinSuk tinha sido tão clara! Então senti as mãos de Ben em minha nuca. Meu corpo respondeu no mesmo instante. “Então é disso que você precisa?”, zombou MinSuk. “Precisa que eu esteja aqui com você... Eu não estou mais aí...”. As lembranças de MinSuk e minha imaginação estavam me deixando atordoada.

Empurrei Ben lentamente e me levantei. Reparei que ele já tinha aberto alguns botões de minha blusa e, por algum motivo, respirei fundo.

– Devagar? – ofegou Ben, levantando as sobrancelhas, ajoelhado na cama.

– É... – minha voz não foi mais que um sussurro.

Ele sorriu de lado e esticou os braços em minha direção. Fui até eles e ele me abraçou. Deitei em seus braços e adormeci, sem nem sequer trocar de roupas.


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