A Caçada escrita por Bia_C_Santos


Capítulo 18
Capítulo 18 - Uma quase morte trágica


Notas iniciais do capítulo

Oi! Sabe, eu já estava quase esquecendo que hoje era dia de postar a minha fic... Que sorte, para algumas pessoas, que eu lembrei, né?
Então, aqui está o capítulo 18, o primeiro do ano, narrado pelo James. Espero que vocês gostem e desculpem qualquer erro.



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Era uma sorte Oliver estar sem sono. Assim que deitei Kate na cama, sentei na poltrona no quarto e observei-a dormindo. Pela primeira vez desde que saímos do acampamento, ela estava calma e confortável. Seu peito subia e descia em um ritmo lento e compassivo. Os cantos da sua boca estavam erguidos, e a expressão, relaxada.

Na verdade, era a primeira vez que eu realmente parava para observar Kate. De verdade. Atentamente, cada detalhe. A pele clara, os cabelos castanhos soltos e úmidos. Mesmo depois de toda magia de Afrodite ter passado, seus cabelos não estavam cortados como Lana deixara.

Talvez em uma outra vida, seria bom conhecer Kate. Em um mundo mais calmo, sem missões, sem riscos de morte. É, seria bom conhece-la, mesmo que fosse no acampamento, em uma espécie de férias eternas.

Isso se parecia mais com a morte. Mas, se eu morresse, eu não queria que ela fosse junto. Eu não ia deixa-la morrer.

Se eu tivesse a opção, nenhum de nós seis morreríamos. Eu protegeria a todos. Mesmo as Caçadoras e Lana não gostando de mim.

No meio dos meus pensamentos e observações sobre Kate, eu acabei pegando no sono. Sendo que, em um pouco menos de duas horas, eu teria que acordar Kate e Phoebe.

É, eu era mesmo muito responsável.

O pior era que, enquanto isso, Phoebe dormia seu turno e Lana e Mary acabaram dormindo na sala. O único acordado era Oliver que já estava sonolento também.

Pouco antes das quatro da madrugada, ouviu um barulho na sala (ele estava na cozinha) e foi ver o que era. Deparou-se com Lana e Phoebe dormindo e a televisão ligada em um filme de ação cheio de explosões.

Como Oliver não me encontrou também, decidiu que eu estava dormindo em algum lugar. Por isso, quando deu quatro horas, acordou Lana e Phoebe, que o ajudaram a acordar nós três que dormíamos ainda.

Ao contrário do que ser acordado por Kate, ser acordado por Oliver não era nada engraçado. Enquanto Kate era delicada e te fazia cócegas com as postas dos dedos, chamando seu nome calmamente, Oliver te balançava como uma criança irritava balançava um boneco de panos e gritava o seu nome.

Kate não parecia muito feliz também com o jeito que fora acordada. Lana não era lá uma das irmãs mais delicadas e pacientes do mundo. Quando eu acordei, ela gritava algo como “Acorda, Bela Adormecida! Não temos nenhum príncipe para te beijas agora!”

Se você quer saber, eu não me importava de beijar Kate para acordá-la, mas achei que Lana não ia gostar muito dessa sugestão.

Sendo que eu tinha dormido quatro horas seguidas praticamente, eu não estava com muito sono quando levantei da poltrona. Já Kate, quase bateu na parede ao tentar sair do quarto. Tive que guia-la até a sala, senão era possível ela destruir metade do apartamento ao tentar chegar lá.

O hotel estava mergulhado em um profundo silêncio quando saímos do apartamento e entramos no elevador. Àquela hora, todos deviam estar dormindo em suas caminhas confortáveis sem nenhuma preocupação.

Quem me dera.

A balconista que estava naquele turno achou estranho ver seis jovens saindo do hotel um pouquinho depois das quatro da manhã, mas pagamos tudo direitinho, o que fez ela relaxar.

Pensei que seria difícil achar um táxi, mas antes das 04h30min, achamos um. Havia por perto um ponto de táxis e, por sorte, dois estavam disponíveis.

A divisão foi a mesma de sempre: as Caçadoras e Lana iam em um táxi, enquanto Kate, Oliver e eu íamos em outro.

Guardamos nossas mochilas no porta-malas e entramos no táxi. Oliver ficou no canto esquerdo, Kate no meio e eu no canto direito. Pedimos ao taxista que seguíssemos o outro táxi, já que não tínhamos ideia de onde pararíamos em Cleveland.

Não demorou muito para que Oliver caísse no sono. Esperei que ele não fizesse sons esquisitos de bode ou coisas do tipo, igual ronco enquanto dormia. Não acho que o taxista ia achar isso muito normal.

Mas não precisava me preocupar. Oliver era silencioso enquanto dormia. Como nem Kate nem eu sabíamos o que falar, percebi que o resto da viagem seria assim: silenciosa.

Só vi que Kate também dormiu quando algo caiu em meu ombro. E cabeça de Kate repousava nele, seus olhos fechados e a respiração mais calma.

Bom... Seria uma longa viagem.


Acabou que Kate tinha razão. A viagem demorou bem menos do que imaginávamos. Como o Google dizia que chegaríamos às 8 horas mais ou menos, pensei que ás 11 estaríamos no aeroporto.

Claro que tínhamos que considerar a velocidade que íamos. Eu não conseguia ver do lugar que estava, mas devia estar ultrapassando os 130km/h em uma área de 60km/h. Acho que, se eu abrisse a janela, a minha cabeça sairia para fora do meu pescoço por causa da força do vento.

Lana devia ter pedido para o taxista seguir a toda velocidade, já que nenhuma vez o carro em que estávamos ultrapassou o deles.

As imagens passavam em um borrão. Era impossível distinguir qualquer coisa do lado de fora. Com o tempo, percebi que tudo passou do cinzento e das luzes da cidade para a total escuridão.

Às quatro da manhã, estávamos sozinhos na estrada, a luz da lua iluminando tudo ao redor. Senti que foi a hora em que mais progredimos.

Chegaram cinco horas. Junto com os primeiros raios de sol, surgiram os primeiros carros na estrada, saindo ou indo para o trabalho.

Um pouco depois das seis, seguimos em um caminho totalmente estranho. Fiquei com medo dos taxistas serem monstros e estarem nos levando para outro caminho.

Mas perto das sete, voltamos para uma estrada mais normal e menos vazia. Percebi que tínhamos contornado um congestionamento comum àquela hora.

A partir daí fomos diminuindo a velocidade, pois havia muitos carros, mas devia faltar pouco para chegar ao aeroporto.

De fato, quase oito horas, estávamos em Cleveland. O movimento na cidade era bastante, mas estávamos bem adiantados.

Quase perdemos o outro táxi de vista, mas foi aí que eles pararam. Fazia meia hora que tínhamos chegado em Cleveland, mas até aquela hora, nada de aeroporto.

Acordei Kate, já que era ela que estava com o dinheiro. Foi uma missão difícil. Eu cutucava ela e dizia seu nome, mas nada de acordar. Ela murmurou alguma coisa sem sentido e mudou de posição, acordando Oliver.

Entendi porque Lana fora tão delicada ao acordar Kate mais cedo.

Com Oliver acordado, não foi difícil acordar Kate. Assim que a cabeça dela caiu no ombro de Oliver, ele deu um grito que poderia acordar até os mortos.

Talvez porque ele estivesse tendo um pesadelo com eles, quem sabe?

Kate gritou junto um palavrão nada bonito. Quando assegurei a eles que estávamos seguros, ela ralhou com Olive r por tê-la assustado.

Kate disse que o dinheiro estava na mochila dela, no porta-malas. O taxista não ficou muito feliz com isso. Éramos três jovens apenas com uma mochila para cada em uma longa viagem. Não aparentávamos ter dinheiro o suficiente. Mas um sorriso de Kate bastou.

No fim, ela entregou umas notas ao taxista e disse:

— Fique com o troco. Para a viagem de volta.

Pelo tamanho do sorriso do taxista, dava para ver que aquilo era uma grande quantia.

Pagamos o outro táxi. Assim que os dois saíram, Lana começou a explicar tudo. Ela perguntara ao taxista se estávamos perto do aeroporto. Ele respondeu que sim. Lana pediu então para ele parar, já que era cedo, e explicar onde era.

Na verdade, era bem perto. Era só virar para a direita no final da avenida. Dava tempo para tomarmos um café.

Não sei se tinha gostado daquela ideia. Já tínhamos perdido um voo antes. Eu não queria perder mais um. Mas Kate apenas concordou com a cabeça e fomos procurar um café.

Não foi muito difícil. Difícil mesmo seria arranjar o que fazer nas próximas três horas. Andar pela cidade podia ser perigoso, já que em todo lugar havia monstros. Mas ficar parados em um só lugar daquela cidade era meio entediante.

Resolvemos então ficar entrando e saindo de lojas que tinham por ali. A maioria era de roupas e, incrivelmente, nenhuma das garotas quiseram entrar nelas, inclusive Kate.

Entramos primeiramente em um café. Diferentemente do outro dia, em que nos entupimos de comida, pedimos pouca coisa. Quanto menos dinheiro gasto, melhor.

Era um café bem simpático. Havia mesinhas e cadeirinhas de madeira a frente com guarda-sóis grandes e coloridos. Nos sentamos em uma dela e começamos a conversar.

Pela primeira vez, nós seis conversávamos. Não em um grupo de três e outro grupos de três. Mas nós seis. As Caçadoras contavam, à medida do possível, como era viver com Ártemis.

Para uma pessoa de fora, talvez parecêssemos nada mais do que um grupo de amigos.

Seguimos para o pet shop. Oliver não gostou muito de lá. Ele não gostava de ver animais aprisionados, nem mesmo hamsters. Mas Kate amou o lugar e ficou brincando com filhotes de cachorros. Até Lana se entregou a fofura do lugar.

Tivemos que praticamente arrastar Kate para fora daquele pet shop de tão encantada ela ficara com um dos filhotes de cachorro. Tenho que concordar que eu também. Ele era realmente muito adorável.

Depois, mesmo parecendo estranho para jovens de 16 anos, entramos em uma loja de brinquedos. As Caçadoras foram ver arminhas de brinquedo, enquanto Oliver via qualquer coisa que se brincasse ao ar livre. Lana foi direto aos jogos de tabuleiro, Kate, aos ursinhos de pelúcia e eu, fui ver aqueles aviões de montar.

Eu tinha um quando era criança. Um não, mas vários. Eu era muito paciente, pois montava pecinha por pecinha, às vezes com ajuda da minha mãe.

Quando achei que era melhor sair dali, fui procurar os outros. Oliver e as Caçadoras ainda estavam no mesmo lugar que antes, mas demoramos um pouco para achar Kate e Lana. Elas estavam na ala de bonecas Barbie.

Era estranho. Eu nunca tinha pensado em encontrar Lana vendo bonecas Barbie. Mas nenhuma das duas estava muito feliz lá. Observavam uma boneca em particular.

— Ela se parece muito com nós. — Kate apontou uma boneca, que era mesmo muito parecida com elas.

Saímos da loja de brinquedos. Kate disse que ainda tínhamos tempo para mais uma loja. Entramos então em uma dessas lojas em que se vendia de tudo. Oliver foi para a parte de jardinagem, as Caçadoras foram ver CDs, Lana foi ver filmes de terror, enquanto eu via de aventura. Para minha surpresa, Kate me seguiu.

— Pensei que você ia para a parte de romance — falei.

— Eu prefiro aventura — ela respondeu. — Romance muitas vezes tem drama. E aventura tem um pouquinho de romance também.

Assenti.

Vimos alguns filmes e fomos procurar os outros. Não foi muito difícil, já que todos nós estávamos na área de filmes. Começamos a ir juntos até a saída. Íamos virar para sair da área de CDs, quando Kate, que estava na frente de nós, parou e deu uns passos para trás.

— O que foi? — Lana perguntou, impaciente. — Vamos perder mais um voo desse jeito.

— Tem um guarda ali na saída — Kate respondeu. — O que nós fizemos dormir. Parece que ele acordou.

— Ele nos seguiu? — Oliver perguntou.

— É o que parece. — Lana respondeu, com sarcasmo. Mas Oliver ignorou o comentário.

— Eu não vi ninguém nos seguindo — comentei.

— Talvez ele viu que nós pretendíamos vir para Cleveland — Mary disse.

— Bom, temos que sair daqui. — Kate estava nervosa agora.

— Há outra saída nessa loja — Phoebe entrou com a solução. — Porém, precisamos comprar algo para sair por lá.

Kate viu se o guarda não tinha percebido nossa presença. Não tinha. Passamos então da ala de filmes para a ala de doces, onde cada um pegou uma barra pequena de chocolate. Seguimos para o caixa e pagamos os chocolates.

Saímos pela outra porta e nem sinal do guarda, para nossa sorte. Contornamos a loja e continuamos na rua de antes, andando apressadamente, até ela virar em outra rua.

Tínhamos chegado ao aeroporto.

Chegando lá, diminuímos o ritmo dos passos. Ambos estávamos ofegantes, mas mais por preocupação do que por anda tão rápido. Mas não havia nem sinal do guarda.

Entramos. O Cleveland-Hopkins International Airport estava bem mais movimentado que o outro aeroporto que tínhamos entrado. Talvez por causa do horário. De qualquer forma, era uma vantagem para nós, já que seria mais difícil no localizar.

Esperei que as pessoas não notassem que não tínhamos mala nenhuma, apenas três mochilas. Mas elas pareciam ocupas demais andando de um lado para o outro para nos notar.

No fim, tivemos sorte. Demoramos um pouco, mas conseguimos chegar no balcão para comprar as passagens. Kate se adiantou:

— Queremos seis passagens para o próximo voo para Wyoming.

A balconista nos olhou de cima a baixo, nos avaliando. Devia estar pensando se vendia as passagens para nós ou se chamava o segurança. A resposta, na mente dela, foi favorável a nós, já que a balconista perguntou:

— Ao meio-dia?

Kate apenas assentiu. A balconista voltou sua atenção para o computador a sua frente. Teclou algumas coisas. Depois disse:

— Fica 3.300 dólares. Forma de pagamento?

— Dinheiro.

As sobrancelhas da balconista se ergueram levemente. Mas o que ela esperava, afinal? Que tivéssemos um cartão de crédito? Só riquinhos tinham cartão de créditos na nossa idade.

Kate tirou o dinheiro da mochila e contou 3.300 dólares. Na frente da balconista, distribuiu o dinheiro. A balconista apenas olhava, um pouco desconfiada.

Quando Kate terminou de contar o dinheiro, a balconista esperou, em uma pausa dramática, até que pegou o dinheiro. Analisou as notas, mas elas eram totalmente verdadeiras.

Contadas as notas, compramos as passagens. Kate acenou um “tchauzinho” para a balconista, com um sorriso nos lábios. A expressão dela suavizou.

Saímos para o aeroporto. A próxima preocupação era como iríamos passar com armas. Ou melhor, como eu ia passar com minha adaga? Kate e Lana os levavam em forma de colar. As Caçadoras... Bom, os arcos delas sumiam do nada. E Oliver carregava uma flauta como arma.

Eu era o único com uma arma que podia ser achada. Mas eu não podia me livrar dela. Eu precisaria dela num futuro nem tão próximo.

Por isso, quando fui passar o no lugar para ser revistado, torci para que os apitos não começassem a soar um barulho infernal que faria eu talvez ir para uma cadeira ou coisa do tipo.

Eu já estivera atrás das grades antes. Não era nada legal. Eu não queria experimentar o tratamento que Lâmia me dera de novo.

Mas nada aconteceu. Eu passei, como se não portasse arma alguma. E isso era muito estranho. Talvez o material da arma não fosse detectável.

Mais ou menos meia hora depois estávamos embarcando no avião. Por mais que eu sempre quisesse andar de avião, nunca tivera essa oportunidade.

Escolhemos os assentos. Deixei Kate sentar na janela. Oliver sentou na ponta, então eu fiquei no meio. Enquanto isso, atrás de nós, Lana ia na janela, Mary ia no meio e Phoebe ia na ponta.

Esperaram o avião lotar para que ele levantasse voo. O começo era emocionante, com o avião subindo mais e mais. Nos aproximávamos do céu a cada segundo.

Porém, passada uma hora, ia ficando entediante. O céu era a única visão ali em cima. Algumas vezes, umas nuvens entravam em nosso campo de visão. Mas só.

Me recostei na poltrona, relaxando na maciez, Se eu estivesse tão cansado quanto antes, dormiria em um segundo. Mas tinha um problema: a minha preocupação.

A cada turbulência, meu coração parava e acelerava ao mesmo tempo. Um monstro poderia provocar isso? Um monstro poderia estar ali?

Em uma dessas turbulências, Kate abriu a mochila. Tirou uma sacola da bolsa dela. Dentro dela, havia os chocolates que tínhamos comprado. Ela passou um de cada para Lana, Phoebe, Mary e Oliver. Quando chegou minha vez, recusei. Eu vomitaria se pusesse qualquer coisa na boca.

Kate olhou-se com uma cara angelical, os olhos parecendo maiores e maiores. Ri e falei:

— Pode comer o meu.

— Chocolate me acalma — Kate explicou, abrindo uma barrinha. — Realmente estou precisando me acalmar.

Eu ri, tentando não parecer nervoso. Acho que não foi tão convincente. Ela saiu meio trêmula. Mas era melhor do que eu esperava.

Olhei para cima, tentando desviar meus pensamentos. Começava a ficar sonolento de novo. Relaxei na cadeira. Já estava quase fechando os olhos, quando senti Kate chacoalhando meu braço.

Abri os olhos rapidamente e olhei para Kate. Ela parecia meio assustada. Apontou discretamente para o pequeno corredor entre os assentos. Passava um homem nele, estranhamente familiar. Suas roupas eram diferentes, mas mesmo assim...

Kate e eu trocamos um olhar. Não era possível, era?

— Onde ele está indo? — perguntei.

— Nem quero imaginar...

Nenhum de nós sabia o que fazer, então apenas ficamos em nossos lugares. Os outros pareciam não ter notado. Estavam quietos demais.

Meu nervosismo aumentava. O de Kate também, mas não havia mais chocolate. Ela se contentou em simplesmente ficar enrolando o cabelo com os dedos.

Ignorar aquele fato era como ignorar uma pessoa sendo torturada na sua frente. A diferença é que não era a pessoa que podia acabar morta, mas você mesmo, o que tornava tudo mil vezes pior.

Mas simplesmente ignoramos o fato de que um cara que queria nos matar estava pilotando o avião. E ignoramos também o fato de que ele não hesitaria em matar outras pessoas por nossa causa.

Até que o avião começou a descer. Pelo menos era o que parecia. E eu tinha certeza que ainda não estávamos em Wyoming. Não estávamos acima nem de uma cidade.

Kate se levantou. E a segui. Os outros pareceram confusos, mas Kate fez um gesto para que eles nos seguissem também. Se levantaram e começamos a andar para onde eu achava que era a frente do avião.

— O que está acontecendo? — Lana sussurrou para Kate, passando por mim e por Oliver.

— O guarda. Ele deve estar pilotando o avião. Não sei se você percebeu, mas estamos descendo lentamente — Kate respondeu.

— Mas o que vamos fazer? — Oliver perguntou.

— Somos em seis. E ele em um. — Kate deu de ombros. — Damos um jeito. E talvez ele não saiba que o vimos.

— Podemos pegá-lo de surpresa — Oliver sugeriu.

— Como? — perguntei. Para isso, precisávamos ser bem silenciosos, uma coisa que seria bem milagrosa se acontecesse, afinal, éramos seis.

— Tenho uma ideia — Oliver respondeu.

Continuamos andando. Ninguém parecia estar percebendo que estávamos descendo. Na verdade, eu mesmo só tinha percebido por causa do meu olhar para fora da janela.

Chegamos ao lugar onde imaginávamos ser a cabine do piloto. Oliver passou para frente e nos fez um sinal para pararmos. Assim fizemos.

Oliver abriu a porta tão lenta e silenciosamente que nem eu podia ouvir seu rangido. O guarda só perceberia se tivesse um espelho. Oliver entrou e ouvimos um baque que me fez pular no lugar.

Kate entrou logo na cabine para conferir se algo tinha acontecido. Entrei logo atrás. A cena era a nosso favor, mas, ao mesmo tempo, contra nós.

O piloto estava caído na cabine. Kate verificava seu pulso, nervosa. O guarda estava desacordado. Oliver tentava tirá-lo da cadeira.

Os outros entraram, enquanto Kate dizia:

— Acho que está morto.

— O guarda está vivo. — Oliver o jogou de lado. — Uma pancada na cabeça. Talvez acorde em minutos. Seria bom alguém vigiá-lo.

Concordei com a cabeça e peguei minha adaga. Pressionei contra o pescoço do guarda enquanto sentava ao lado de seu corpo. Seu peito subia e descia quase imperceptivelmente, revelando que estava vivo.

— Será que ninguém percebeu que não há uma pessoa pilotando esse avião? — Phoebe perguntou.

Silêncio.

— Precisamos acordar o guarda — Mary disse. — Alguém sabe pilotar um avião?

Mais um minuto de silêncio.

Lana correu para o guarda e pegou-o pelo colarinho da camisa. Começou a chacoalhá-lo, como se isso pudesse acordá-lo, murmurando de tempos em tempos um “acorda” desesperado.

Enquanto isso Oliver foi se sentar na cadeira do piloto. Pegou o volante, mas nem se mexeu. Ficou apenas olhando o painel a sua frente, que Mary também analisava.

— Não tem, não sei, um botão de piloto automático? — Phoebe perguntou.

— Se tivesse legenda, ajudaria — Oliver respondeu.

Os três começaram a falar entre sim apontando um ao outro os botões. Isso, junto com as insistências de Lana para acordar o cara, agora cada vez mais altas, fazia com que aquela cabine virasse um caos.

Estava pensando nisso, quando Kate gritou:

— Gente!

Lana parou no meio da ação que ia realizar, segurando o guarda pelo colarinho da sua camisa. Phoebe, Mary e Oliver pararam de discutir, Oliver apontando para um botão. Eu apenas fiquei quieto como antes.

— Vamos pensar com calma — Kate disse. Para acentuar o que dizia, fazia uma pausa calma em cada palavra. — Lana, ele não vai acordar se você continuar o sacudindo. E, vocês aí, não estamos caindo mais. O que significa que o piloto automático já deve estar ligado.

Todos olhamos pela janela do avião. Era verdade. O avião seguia o seu rumo normal, como se alguém estivesse mesmo pilotando, mas...

— Mas não vai durar para sempre. — Kate completou meu pensamento. — Então precisamos acordar o guarda.

— Como? — Lana perguntou, cansada. — Já estou tentando faz tempo...

— E seus métodos são ótimos, não são, Lana? — Kate perguntou, irônica. — Não, temos que achar outro jeito.

— Será que ele é um semideus? — perguntei. Se ele fosse, poderíamos dá-lo um pouco de néctar e ele talvez acordasse.

Oliver se aproximou do guarda. Ajoelhou-se. Percebi que ele estava verificando se ele era ou não um semideus, já que os sátiros tinham essa, hum, percepção.

— Acho... — Oliver hesitou. — Acho que sim.

— Vamos dá-lo néctar então — Mary disse.

Kate assentiu e pegou o cantil de néctar sem sua mochila. Ajoelhou-se ao lado do guarda e repousou o cantil em sua boca. Ninguém dizia nada. Se ele fosse humano, poderia morrer e lá se iria nossa última chance.

Kate inclinou o cantil, por apenas alguns segundos. Ele não podia tomar muito. Era perigoso. Esperamos que ele engolisse o néctar.

O guarda respirou mais fundo. Pressionei minha adaga contra seu pescoço. Ele abriu os olhos parecendo assustado. Suspiramos aliviados enquanto ele nos reconhecia.

— Você é um contra seis — falei, apertando a adaga em seu pescoço. — Ou você pilota esse avião ou acabará como os outros.

O guarda concordou e ajudamos ele a se levantar. Sentou na cadeira do piloto e pegou no volante. Apertou um botão, provavelmente tirando do piloto automático e começou a pilotar.

Rodeamos a cadeira, cada um com sua arma, mesmo as Caçadoras e Lana. Ele não podia fazer nada.

Ficar ali parado era entediante e doloroso. Estava bastante claro que o guarda não ia tentar fugir e não precisaríamos intervir. Além disso, minhas pernas começavam a doer.

Estava a ponto de sentar, quando o avião começou a descer. Não no meio do nada, não em cima de casas, mas no aeroporto. O guarda não tentaria nada estúpido.

Quando o avião pousou, abaixamos as nossas armas. Guardamo-las, mas Phoebe disse:

— Não tente nada. E não nos siga. Saberemos e não seremos gentis de novo.

O guarda concordou, mesmo não estando feliz com isso. Começamos a sair da cabine. Ele precisaria se trocar, pôr as roupas do piloto e ainda se livrar do corpo, então o deixamos na cabine. A última a sair foi Kate. Ela disse:

— Obrigada.

Dei um sorriso. Kate nunca ia mudar. O cara queria nos matar, mas mesmo assim ela o agradecia.

Saímos do avião calmamente. Ninguém mais nos seguia. Por enquanto, estávamos seguros.

E tínhamos chegado em Wyoming.


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