A Caçada escrita por Bia_C_Santos


Capítulo 17
Capítulo 17 - Força vs. inteligência


Notas iniciais do capítulo

Oi! Acho que meus capítulos acabaram ficando maiores D:
Então, aqui está mais um capítulo. Antes de tudo, queria desejar um Feliz Ano Novo para as pessoinhas lindas que ainda leem a minha fic (: e obrigada!
Enfim, sem mais demoras, aqui está o capítulo 17. Desculpem os erros e espero que vocês gostem!



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Quando descobri que a bondosa mulher que nos recolhera em sua casa era, na verdade, um monstro comedor de crianças, pensei que aquele era então o nosso fim.

            Talvez a profecia estivesse errada e o caso era que todos nós iríamos morrer. Nenhum de nós seis voltariam no acampamento e as Caçadoras teriam que arranjar um jeito de se salvarem.

            E quando fomos jogados na cela da casa de Lâmia, imaginei que três iriam ser comidos antes que todos nós conseguíssemos fugir. Aquilo me desesperou. Não queria morrer e muito menos deixar alguém morrer. Tratei de pensar em algo para todos saírem dali.

            E, finalmente, conseguimos escapar. Mas a porta estava trancada. Ouvia passos vindos de cima. Era isso. Três de nós iriam para o Mundo Inferior naquele mesmo instante. Minha cabeça quase explodiu com o pensamento.

            Estava com tanto medo da morte mais ou menos uma hora atrás que, quando Lana fez aquela estúpida brincadeira, aí sim, minha cabeça explodiu.

            Quer dizer, eu fiquei desesperada por causa disso e agora estava mais aliviada, mas, afinal, que diferença fazia aquilo? Que diferença escapar de Lâmia fazia? Só estávamos adiando a morte.

            “Quem será?”, pensava comigo mesma novamente. Poderia ser eu. Ou então Lana e James, ao meu lado. Comecei a vê-los mortos. Era uma imagem horrível, tanto que me fez afastar deles para tentar tirá-la da minha cabeça.

            Isso não aconteceu. Logo a imagem de todos mortos estava na minha cabeça. Perguntei-me em como Lâmia aguentava isso. Ainda sem poder dormir. Eu entraria em pânico.

            Felizmente, meu caso não era igual ao da Lâmia, percebi. Mas a maneira como eu descobri isso não foi nada boa.

            Estava no meu canto. Nem James nem Lana falavam nada, enquanto o barulho da cidade parecia estar longe, de forma que era fácil ouvir qualquer coisa por perto.

            O silêncio era quase dominante, quando, lá da entrada do beco, ouvi um barulho. Eram como passos apressados. Passou por nós e depois foi mais adiantes, até que parou, e voltou.

            Vi, bem claramente, três silhuetas. Mas eram grandes demais para ser as de Phoebe, Mary e Oliver. Eram três homens, fortes e grandes.

            Os guardas.

            Levantei-me, assustada. Sabia eu eles iriam atrás de nós, isso era óbvio. Mas no fundo, esperava que isso não acontecesse.

            Pensei estar bem escondida, ali no beco com aquelas caixas de papelão e os grandes latões de lixo, parecendo vazios. Pensei errado.

            Eu deveria ter imaginado. Cresci vendo filmes de ação, por causa do gosto do meu pai. A grande parte das brigas acontecia em becos sem saída.

            “Isso significa que minha vida é como um filme de ação agora”, me ocorreu. O que será que meu pai acharia disso?

            Não tive muito tempo para ficar pensando nisso. Lá estávamos em um beco sem saída. Atrás de nós, um muro grande, mas nem tanto. Talvez se saltássemos pelas caixas, conseguiríamos chegar do outro lado que era, provavelmente, o quintal de uma casa. E os guardas se aproximavam.

            Eu realmente pensei em pular aquele muro e simplesmente esperar os guardas cansarem e irem embora, mas achava que eles iam nos perseguir.

            Eles andavam, e não corriam. Deviam achar engraçado dar um tempo para pensarmos na tortura que sofreríamos antes de nos matar. Ou nos levar para Lâmia.

            Lana puxou o colar e preparou o arco e flecha. Isso fez com que os guardas acelerassem o passo. Quanto mais longe eles estivessem, mais vantagens nós teríamos.

            As flechas começaram a voar em direção dos guardas, enquanto eu e James preparávamos nossas armas. Em vão. Atirar em guardas em movimento não era como atirar em ciclopes, harpias ou em pessoas paradas. Eles não eram tão lentos quanto os ciclopes; uma flecha não era capaz de levar à morte, como quando acertamos a asa de uma harpia voando, ainda mais porque eles estavam com cotas de malha. Sem contar que eram rápidos e ficavam ziguezagueando.

            Mesmo assim, Lana calculou bem, de forma que acertou um dos guardas, bem no pescoço, fazendo-o cair, segundos depois. Era bem na garganta e matava imediatamente, sendo que tinha a atravessado.

            O sangue começou a jorrar do pescoço dele e eu acabei ficando enjoada. Não ficava enjoada geralmente vendo sangue, mas aquilo era demais! Era uma cascata.

            Porém, eu não podia ficar enjoada. Eles se aproximavam mais e mais. Eu me sentia mais nervosa do que antes. Eu não tinha chance. Estava cansada demais para conseguir vencer uma luta e aquele cara parecia estar meio descansado.

            Caso eu tivesse chances, então eram praticamente nulas. Eu precisava matar aquele cara, ou ele me matava. Mas eu não era capaz. Sim, já matei ciclopes e harpias antes. Mas eu era fria o suficiente para matar um ser?

            Além do mais, não era só um ser, era um humano. Se fosse um animal, talvez eu não hesitasse tanto, dada as circunstâncias. Ainda mais porque eu não sou vegetariana. Mas era um humano, igual a mim.

            E se fosse um semideus? Seria ainda mais parecido comigo. E se Gaia tivesse o enfeitiçado para ficar do lado dela ou tivesse ameaçado? Eu não podia...

            Mas não havia tempo. Um guarda estava muito perto de Lana e outro estava se aproximando de James. Corri para perto de Lana. Ela não podia se defender com o arco e flecha e não devia ter a espada, então devia ser a mais “vulnerável”.      

            Desferi um golpe, tirando a atenção de Lana. O guarda foi pego de surpresa, mas conseguiu se defender mais fácil do que eu queria.

            Agora o guarda estava totalmente concentrado em mim. Me atacou com um bom golpe, meio rápido demais. Consegui defender, mas por pouco tive meu braço cortado fora.

            Definitivamente não era como lutar com ciclopes e harpias. Mesmo ciclopes tendo uma grande vantagem por causa da força e mesmo as harpias voando, o guarda era mais inteligente e mais rápido.

            Felizmente, o outro guarda avançava para James. Eu não conseguia dar conta de um deles sozinha, dois então me matariam em menos de meio segundo.

            Não conseguia ver se James estava em apuros, nem se chegavam os outros guardas. Tinha que me concentrar nos movimentos da espada inimiga e conseguir me defender. O que era muito difícil.

            O guarda tinha sido bem treinado, era o que parecia. Talvez isso fosse sua segunda vida, igual ao caso de Lâmia. Se fosse assim, ele teve duas vidas para treinas. Eu nem tive metade de uma.

            Enquanto lutava, pensava em que eu poderia fazer para não morrer naquele duelo. Esperar ajuda era impossível. Eu e o guarda nos movíamos de um lado para o outro muito rápido, o que dificultaria a pontaria de Lana. E James parecia ocupado com o seu guarda, como diziam os barulhos de lâminas se chocando.

            Eu tinha que matar ele, eu precisava, se quisesse continuar viva. Mas como? Eu nunca conseguiria. Nunca conseguiria encravar a espada em seu peito ou pescoço, nem o decepar.

            Isso pode soar “menininha” demais. Fraca demais. Eu tinha coração o suficiente para não fazer isso. Eu era muito piedosa, o que não era bom. Mas eu preferia ser vista como fraco do que matar alguém a sangue frio.

            Eu podia tentar desarmá-lo. Não conseguiria. Estava ficando cansada, enquanto o guarda não parecia estar nem suando. E se conseguisse, do que valeria?

            Eu podia esperar que Lana o matasse então. Daria a ela a minha espada e ela faria isso. Eu sabia que ela conseguiria. Lana era sempre mais forte do que eu, mais dura. Talvez ela hesitasse, mas no final cumpriria a missão.

            O guarda me golpeou tão fortemente que eu sentia minha espada tremer. Ele forçou a sua espada contra a minha, jogando muito peso, tanto que tive que me inclinar para trás, a fim de evitar que minha espada tocasse meu nariz.

            Com toda força que eu tinha, joguei-me para frente, com o meu peso, e levando minha espada junto. O guarda tirou a sua espada da frente da minha e eu quase cai para frente. Segurei-me antes de me chocar com o guarda e ser morta.

            Não, eu não ia mesmo conseguir desarmar o guarda. Era ele que já estava quase me desarmando. E eu estava ficando mais cansada. Sentia que minhas pernas iam desabar em questão de segundos.

            Não tinha muitas opções. Ou era matar, desarmar ou então... Ou então, o quê? Derrubá-lo. Sim, isso seria bom. Mas como?

            Pensei... Usar minha força não ia adiantar nada. Eu não tinha muita força, para começo de conversa. E o guarda era pelo menos três vezes maior do que eu. E muito mais forte, percebi. Não, não, usar a força não ia dar certo.

            Desferir um golpe na sua perna? Sim, poderia dar certo. Isso se eu conseguisse acertá-la. E tinha que ser bem fundo o corte, na verdade, deveria ser uma estocada que atravessasse a perna. Em um lugar mais ou menos o qual James foi acertado na captura à bandeira.

            Claro que seria mais fácil eu acertar um ponto, hum, vulnerável do guarda. Vamos dizer assim, um ponto íntimo. Isso com certeza me traria uma grande vantagem. Talvez até conseguisse ganhar.

            Mas, bom, não ia conseguir. Estava bem protegido, digamos assim. Além do mais, seria mais difícil do que acertar o tornozelo. A única coisa que precisava fazer era me abaixar.

            Assim que pensei isso, o guarda me atacou. A sua espada vinha da esquerda para a direita, em direção ao meu pescoço. Era um golpe rápido e eu não conseguira me defender dele com a espada. Se não fizesse nada, minha cabeça ia ser cortada fora do meu pescoço, pensei.

            Em um rápido raciocínio que eu não sei de onde veio, me abaixei, por pouco fugindo do golpe. Senti até a espada puxar alguns fios do meu cabelo. Respirei fundo, agradecendo o meu próprio pensamento.

            E no mesmo segundo, percebi que precisava aproveitar a oportunidade. Puxei o meu braço que segurava a espada para trás e então a empurrei para frente, reunindo minhas últimas forças, e dei uma forte estocada na perna do guarda.

            Rolei para o lado rapidamente, tanto para evitar que o guarda caísse em mim quanto para evitar um golpe que talvez ele estivesse preparando antes. E o que vi me deixou mais furiosa do que nunca.

            Aquela estocada foi realmente muito boa. Tinha sido bem forte, e agora algum sangue saía do tornozelo do guarda. Porém, não fora o suficiente. O guarda continua em pé, só um pouco inclinado para direita.

            Defendi um golpe, antes de me levantar. Acho que acertar o pé não foi tanto uma boa ideia. Eu tinha que tirar a espada da mão dele mesmo. Mas meu braço estava até dolorido.

            Pelo menos a estocada no tornozelo o deixava menos equilibrado. Derrubar o guarda agora não era tão impossível. Talvez um chute no peito ou uma rasteira...

            É, valia a pena tentar.

            O guarda agora parecia evitar que eu me abaixasse novamente, de forma que atacava agora mais o meu tórax e braços. Então, a rasteira não ia dar muito certo. Optei pelo chute.

            Já estava quase me preparando para isso, quando eu vi um latão de lixo aberto um pouco à frente de nós dois. Lana estava do lado dele, sem saber o que fazer.

            Não era Lana que me importava tanto naquele momento. Era mais o latão de lixo aberto. Se eu conseguisse levar o guarda até lá...

            O problema é que eu teria que dizer à Lana para que ela se afastasse, e o guarda iria perceber a minha ideia e me empurrar para longe. Mesmo cambaleando, sabia que ela era capaz disso.

            Mesmo assim, tentei. A cada golpe que eu executava, dava um passo para frente, avançando. A cada golpe que ele executava, tentava ao máximo me manter no mesmo lugar. Era perigoso, porque talvez o guarda não andasse para trás comigo.

            Porém, eu estava com pelo menos um pouco de sorte. Toda vez que eu dava um passo para frente, o guarda dava um passo para trás. Ele não percebera o meu plano.

            Eu estava tão próxima do latão de lixo que com mais um passo o guarda estaria quase colado nele. Mas Lana ainda não tinha saído de lá. Isso poderia fazer o meu plano falhar, mas corri o risco e falei:

            — Lana, saia daí!

            O meu tom era tão desesperado, que Lana atendeu o meu pedido, ou melhor, a minha ordem no mesmo segundo. Saiu da frente do latão de lixo e agora entendia qual era o meu plano, de acordo com a sua expressão triunfante.

            Isso porque o plano tinha sido meu.

            Ao mesmo tempo em que Lana percebia o meu plano, o guarda também o fazia. Por causa da minha fala, ficou distraído. Talvez pensasse que alguém ia o apunhalar pelas costas e se virou para ver. Percebeu que não tinha ninguém e, sim, um latão de lixo. Alarmado, se voltou para mim de novo.

            Tarde demais. Recuei um passo, como se estivesse com medo e me sustentei só com uma perna. A outra foi ao ar em direção ao peito do guarda. Chutei-o com tanta força que ele cambaleou para trás, bateu no latão de lixo e caiu dentro dele. Antes disso, deixou a espada cair.

            Lana tratou de fechar o latão de lixo e nós duas sentamos em cima dele. Por enquanto, íamos só pensar o que fazer com o guarda.

            — Belo plano, Kate. — Lana sorria para mim. Era a primeira vez na vida que eu tinha sido mais útil do que ela.

            O guarda começou a bater na tampa, mas parecia estar gastando suas últimas energias para isso. Não conseguia nem fazer eu e Lana “pularem” sentadas. Isso era bom, mas eu ainda não fazia ideia do que faríamos com ele.

            Pelo menos ele não tinha mais a sua espada. Não poderia no atacar se por acaso conseguisse sair dali do lixo, enquanto nós estávamos armados. Nem tentar nos estrangular com as mãos.

            E ao mesmo tempo tínhamos sorte por isso, porque, se ele ainda tivesse a espada, provavelmente estaria espetando com ela os lugares onde eu e Lana estávamos sentadas, o que não seria nada legal.

            Esperei até que o guarda parasse de bater da tampa do lixo e falei para Lana:

            — Pegue a espada dele. Pode ser útil para você alguma hora. Quando você não conseguir usar o arco e flecha.

            Lana assentiu e se levantou. Felizmente, o guarda não recomeçou a batucar na tampa do lixo, senão era capaz de eu ser jogada para a cima. Lana pegou a espada e voltou a sentar.

            Se Mary, Phoebe e Oliver chegassem bem naquele momento, talvez achassem aquela cena meio anormal. Eu e Lana sentadas, sem fazer nada, enquanto James estava lutando contra um guarda e um jazia morto no chão. Lana tinha tirado a flecha do pescoço do guarda, limpado e guardado de novo na sua aljava.

            Ao pensar em James, levei meus olhos a ele e o terceiro guarda. Nenhum parecia estar sendo melhor do que o outro, pois o guarda tinha a força, enquanto James tinha a habilidade.

            Porém, James às vezes conseguia desferir uns golpes no guarda e conseguia acertá-lo, diferente de mim. O guarda tinha cortes no rosto e no braço. Mas parecia que isso não o incomodava.

            Aquela sim era uma luta acirrada. Ambos eram ótimos no duelo e, mesmo a adaga de James sendo menor do que a espada do guarda, ela fazia um bom trabalho.

            Mesmo James tendo talento equilibrável comparado ao seu oponente, vi ele recuar alguns passos. Achei estranho.

            James subiu em um dos latões de lixo. Bateu em uma caixa de papelão, mas essa nem se moveu. Devia estar cheia de lixo. James então pulou na caixa, mas não ficou nem um segundo nela. Logo pulou em outra e mais outra, como em uma escada, até estar em cima do muro.

            Ouvi um rosnado, vindo do outro lado do muro. Não pertencia a uma pessoa e, sim, a um animal. Então um latido. Bem grave. Devia ser um cachorro bem grande mesmo. E só a visão de James fez com que ele enlouquecesse.

            Mas James não parecia muito preocupado. Cruzou o muro com calma, enquanto o guarda subia desajeitado nas caixas. Ele podia ser bem treinado, mas não era tão ágil quanto James.

            O guarda demorou um pouco para subir. Quando pisava nas caixas elas caíam ou então eram esmagadas por seu peso. Nisso James ganhava com facilidade, comprovando que o peso de massa muscular tinha suas desvantagens.

            James se recostou no mudo, seguindo o guarda com o olhar, como se estivesse entediado, por causa da demora dele. Olhava a adaga, limpou-a. Demorou um pouco mais para o guarda chegar em cima do muro, mas ele finalmente conseguiu.

            Em todo aquele tempo, o guarda poderia simplesmente se virar e avançar para mim e Lana. Isso sim faria James sair de cima do muro.

            Mas, não. Ele seguiu James, mesmo com todas as dificuldades. Outra coisa que eu não entendia. Talvez isso fosse orgulho. O guarda queria mostrar que podia derrotar aquele simples semideus.

            Os latidos do cachorro aumentaram quando o guarda chegou em cima do muro. Fiquei com medo de o cachorro poder chamar a atenção de alguém dentro da casa, senão James estaria um pouco encrencado.

            Nada aconteceu. A casa provavelmente estava vazia. Talvez fosse uma espécie de casa de férias e o cachorro fosse um cão de guarda.

            O guarda dava passos equilibrados, mas lentos. Ele não conseguia andar em cima do mudo como se estivesse no chão. Não era natural, como parecia ser para James.

            Um avanço de James e o guarda cairia. O problema era: para que lado?

            Sem pensar muito nisso e seguro de que não ia cair, o guarda avançou para James, mas com um golpe muito fraco. A falta de equilíbrio o fazia ser mais cauteloso.

            James não fez o mesmo. Desferiu uma estocada que pensei que ele ia cair, mas não. Nem se inclinou para o lado, nada. Enquanto isso, o guarda se defendeu fracamente, quase caindo.

            Aquela luta sim seria interessante.

            Mas eu não tive tempo para pensar nisso. Algum barulho atrás de nós me chamou a atenção. Virei e me deparei com três guardas se aproximando. Fiquei tão distraída com a luta de James que nem reparei neles.

            Em um momento desesperado, quase me levantei e fui direto para os guardas, o que seria suicídio, pois no daria mais um guarda para cuidar e três para matar.

            Ao invés disso, bati na perna de Lana, que estava concentrada na luta de James, e apontei para os três guardas.

            Lana preparou uma flecha no arco. Mirou bem, mas os guardas se moviam rápido demais. Errou o primeiro alvo.

            Eu não podia fazer nada. Odiava isso seriamente. Só podia ficar sentada, segurando um guarda dentro do latão. Pelo menos era alguma coisa.

            À medida que os guardas se aproximavam, Lana tentava acertá-los gastando menos tempo na pontaria. Pior que isso só a fazia errar.

            De repente, dois dos três guardas caíram. Duas silhuetas apareceram no final, ou melhor, no começo do beco. Uma terceira silhueta, mais próxima de nós, chutou o guarda que sobrava, antes que ele percebesse os guardas caídos.

            Phoebe, Mary e Oliver.

            Lana acertou o guarda caído com uma flecha. Três guardas a menos. Só restavam agora dois guardas. Um preso e o outro...

            Olhei para a luta entre James e o guarda. Sinceramente, James estava brincando com o guarda, como que brinca com um gatinho. Podia derrubá-lo facilmente.

            James pareceu ter captado o meu pensamento. Desferiu um golpe com força, dando um passo para frente. O guarda conseguiu se defender, mas deu um passo em falso: "pisou" no ar e caiu do muro.

            Felizmente, do lado do cachorro, que parou de latir naquela hora.

            James saiu de cima do muro com um pulo. O silêncio foi reinante naqueles segundos seguintes, enquanto eu observava o que tínhamos feito.

            Em menos de meia hora, quatro mortos. Eu não acreditava. Sei que não tinha matado nenhum deles diretamente, mas a imagem disso levou lágrimas em meus olhos.

            — Kate? — James quebrou o silêncio. — Você está bem?

             — Eu não acredito... — Não consegui terminar a frase. Minha voz foi ficando mais fraca.

            James pareceu entender, mas não veio falar que está tudo bem ou coisa do tipo. O que fez, cautelosamente, foi me abraçar quanto eu chorava.

            Isso me deixou tão chocada que minhas lágrimas quase cessaram. Era aconchegante. Era como ter voltado para minha casa com o meu e pai e minha tia.

            O momento se desfez quando Oliver me fez uma pergunta, que me fez voltar para a realidade.

            — Kate, por que você está sentada aí?

            — Tem um guarda lá dentro. — Lana respondeu por mim. — Levante e nós abriremos o latão rapidamente e eu o m... acerto.

            Eu sabia qual palavra ela usaria e isso só piorou a situação. Balancei a cabeças em um "não" frenético.

            — Saia logo, Kate! — Lana mandou.

            — Vem, Kate — James pediu delicadamente. —Mary senta aqui e você vai. Então nós saímos do beco e eles terminam o trabalho.

            Concordei com esse plano. Mary sentou no meu lugar. James estendeu a mão e eu a agarrei. De mãos dadas, corremos de lá. Quanto mais longe, melhor.

Em menos de 10 minutos, Phoebe, Mary, Oliver e Lana estavam de volta. Eu já tinha parado de chorar, depois de ficar repetindo que era besteira chorar por aquilo e que eu provavelmente estava patética.

            — Quanto dinheiro conseguiram? — James perguntou para Phoebe, Mary e Oliver, assim que eles chegaram. Suas armas estavam fora de vista, mas provavelmente eles as tinham limpado.

            — Sete mil — Mary disse, tirando um pacote de baixo da jaqueta. Abriu-o e mostrou várias notas de dólares de valores variados. Era muito. Mais dinheiro do que eu imaginava.

            Oliver explicou que não demoraram muito para achar uma joalheria. A dona era uma mulher que ela mesma usava tantas joias que parecia sempre estar brilhando.

            Eles mostraram as joias de Lâmia. Os olhos da mulher brilharam tanto quanto o anel que usava. Disseram então que queriam vender as joias.

            A mulher disse que não comprava joias naquele lugar, mesmo aquelas sendo lindas. Mesmo assim, analisou cada centímetro do conjunto, dando várias informações sobre ele.

            Depois devolveu as joias. Os três não sabiam o que fazer, então só ficaram parados no mesmo lugar, enquanto a mulher os analisava dessa vez.

            Perguntou aos três como eles tinham conseguido essas joias. Phoebe optou pela história dos “herdeiros”. Disse que estavam tão pobres que estavam dispostos até a vender uma joia vinda de seus antepassados.

            Aparentemente a mulher não gostava muito da pobreza. A história fez com que lágrimas se acumulassem em seus olhos. Ela perguntou então quanto eles queriam pela joia.

            Mary pediu 6.000 pelas joias. Pensou em pedir 5.000, ela disse, mas a mulher parecia estar disposta a pagar mais de 5.000 dólares pelas joias.

            As sobrancelhas da mulher se ergueram de surpresa com a resposta de Mary. Não porque ela pedia demais. Ao contrário. Estava muito barato.

            Phoebe tratou de dizer que só precisavam para um curto período de tempo. O pai delas ia entrar logo em um emprego e a mãe, que acabara de ser demitida, estava a procura de outro, ela explicou.

            A mulher acreditou na história, porque perguntou se eles queriam o valor em dinheiro vivo. Eles concordaram. A mulher sumiu atrás de uma porta e minutos depois voltou com um envelope em mãos.

            Mostrou o dinheiro e contou quanto tinha, junto com eles, para não suspeitarem de nada e conferir se ela tinha contado certo.

            Por fim, tinha 7.000 dólares em dinheiro lá, mas a mulher pôs de propósito. Disse que aquilo ia ajuda-los por mais tempo.

            Foi assim que deixaram as joias de Lâmia na joalheria e saíram da loja para nos encontrar no beco junto com seus guardas, quatro vivos, um preso e um morto.

            — Na verdade — Oliver acrescentou —, acho que a joalheira só comprou aquelas joias para ela mesma usar.

            — Sorte nossa — Lana comentou.

            — O que fazemos com o dinheiro? — James perguntou. — Acho que dá para usar para mais coisas além de passagens.

            Pensei por um tempo em tudo que precisávamos. Fiz uma lista e expus para todos. Eles concordaram com tudo.

            A primeira coisa que fizemos foi comer. Achamos uma cafeteria por perto e pegamos o máximo que conseguíamos comer naquele estado. O que foi pelo menos dois copos de café enormes e três salgados de cada.

            Satisfeitos, pagamos a conta e fomos à procura de um cyber. Foi um pouco difícil, mas achamos. Descobrimos que estávamos em Akron, Ohio.

            — Ohio! — exclamei. — Como chegamos em Ohio em uma noite? Só ficamos algumas horas nos pégasos!

            — Foi um pouco mais de oito horas, Kate — Lana falou.

            Não percebi que se passou tanto tempo assim. Tínhamos quase matado os pégasos! Oito horas seguidas voando, sem bebida ou comida! Isso devia ser muito cansativo.

            — Não se preocupe, Kate — James me acalmou, de novo. — Eles teriam descido se estivessem muito cansados.

            Lana achou o aeroporto mais próximo em Cleveland, a quase quatro horas dali. O próximo voo até Wyoming era no outro dia, ao meio-dia e decolava em Casper, a mais ou menos três horas da floresta.

            Como tinha um pouco menos de um dia, resolvemos ficar por um tempo em Akron. Compramos uma bolsa para cada um e um par de roupas limpas. Compraríamos comida quando chegássemos em Cleveland.

            Alugamos um quarto de hotel por quarenta dólares por noite. A balconista achou estranho seis pessoas alugar só um quarto, mas não disse nada.

            — E as malas? — ela perguntou.

            — Deixamos no carro. — Sorri. — Ficaremos apenas por uma noite.

            A balconista entregou-nos a chave do apartamento. Era no último andar, o sétimo. Subimos em um elevador vazio, além de nós, rezando para não encontrar um monstro.

            Entramos no apartamento. Não era pequeno nem grande. Tinha dois quartos, um com um banheiro. Tinha outro banheiro em um corredor.

            Eu e James fomos os primeiros a tomar banho, já que tínhamos lutado corpo a corpo com os guardas. Foi um alívio, tirar todas as sujeiras do corpo e relaxar naquela água quente. Deixei minha mente viajar.

            Vesti as roupas novas. Um short jeans simples e uma camiseta baby look lilás de gola “V”. Saí descalça e encontrei James saindo também, vestindo uma calça jeans e uma camiseta azul marinho.

            As próximas foram Lana e Phoebe. Phoebe demorou meia hora, mas Lana ficou quase uma hora no banheiro, tanto que eu achei que ela tinha morrido lá. Ambas usavam uma calça jeans e camiseta baby look, a de Phoebe, vermelha, e a de Lana, laranja.

            Depois foram Oliver e Mary. Oliver saiu com uma jeans e camiseta verde escura, além de seu eventual boné. Já Mary, um short jeans e uma camiseta preta.

            Eram quase nove horas. Estávamos limpos, mas devastados. Dois quartos, duas camas. Tínhamos que dividir as horas.

            — Muito bem — disse, quando todos nos reunimos na sala. — São nove horas. Dois de cada vão dormir. Dão duas horas de cada certinho.

            — Duas horas? — Lana fez as contas. — Por que precisamos estar todos acordados às quatro horas da madrugada?

            — Se sairmos durante uma hora que não tem movimento, a viagem de táxi será mais rápida e pagaremos menos — expliquei.

            Lana começou a reclamar, mas parou quando lembrei que estávamos perdendo tempo.

            — Quem vai primeiro? — perguntei.

            Ninguém respondeu. O silêncio indicava que todos queríamos ser os primeiros, mas todos cederiam isso para os outros.

            Suspirei. Falei:

            — Lana e James. — Vocês ficaram de guarda noite passada.

            — Não — James disse. — Oliver pode ir primeiro.

            Lana e Oliver concordaram e foram cada um para o quarto. James acordaria Oliver e Mary acordaria Lana para trocarem de turno.

            Sentei no sofá e liguei a televisão. Não tinha muitas coisas para assistir. Mudei de canal durante as duas horas, até achar um filme de ação.

            James foi dormir e Mary também. Lana ficou na sala junto comigo, enquanto Oliver explorava a cozinha do apartamento, que, infelizmente, não tinha nada guardado para nós.

            Comparado a nossa vida ultimamente, aquele filme de ação não tinha ação nenhuma. Uns monstros fáceis de derrotar, ninguém ferido e um final feliz para o casal principal.

            Olhei a hora quando o filme acabou. Duas horas certinhas. Estava cansada, mas não com sono. Queria deixar James dormindo, mas Phoebe já ia acordar Mary.

            Levantei e fui com passos lentos pelo corredor. Bati na porta, mas o sono de James era pesado. Abri a porta lentamente e fui até a cama. Sentei na beirada.

            Sacudi James e chamei seu nome, sussurrando. Nada. De novo. Chamei o seu nome mais alto, mas nem sinal.

            O que fazer? Não queria acordá-lo. Ele estava bastante cansado, enquanto eu não me importava se não dormisse. Mas James poderia se sentir culpado se não acordasse.

            Resolvi então fazer cócegas em James. Demorou um pouco, mas ele logo acordou, rindo. Era engraçado, mas, eu não sabia porquê, eu ria junto.

            — Tá na hora, James — falei.  — Eu queria te deixar dormir, mas não acho que você ia deixar.

            — Não mesmo. — James concordou, enquanto se sentava. — Não está como sono?

            — Não — respondi.

             — Vem ver aqui.

            James me levou até a varanda. De lá, se podia ver a cidade. Muitas luzes estavam apagadas, mas aqui e ali se via as luzes dos postes. Levei meus olhos para o céu. Havia bastante estrelas no céu, não tanto quanto se via quando dormimos no meio da grama, mas muitas.

            Imediatamente, me senti cansada. Apoiei-me em uma perna só e recostei-me em James. Ele passou os braços pelos meus ombros. Fechei os olhos.

            James me ajudou a chegar até a cama e me deitou. Antes de cair no sono, ouvi ele dizer:

            — Durma.


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Notas finais do capítulo

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