The Scariest Reality escrita por Alter_Mann


Capítulo 5
Parte V - O Psiquiatra




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— Entre — disse uma voz tranqüila e grave.

O diretor novamente assumiu o controle da cadeira de rodas e empurrou Harry para dentro da sala.

A sala era ampla e intensamente iluminada, decorada com alguns quadros impressionistas espalhados pelas paredes. No centro da sala, estava uma escrivaninha grande e branca, e sentado atrás dela estava Severo Snape.

O psiquiatra tinha os cabelos curtos e louros, os olhos eram de um azul-vivo intenso, e tinha uma expressão austera no rosto. Não deveria ter mais do que 50 anos. Vestia um jaleco branco que ia até os joelhos e mesmo sentado, parecia muito alto.

Durante um período muito estranho, em sua própria mente, Harry começara a alterar as pessoas do seu “antigo mundo” com as do seu “novo mundo”. Não conseguia se importar mais.

Houve um ligeiro aceno de cabeça entre o diretor e o psiquiatra.

— Severo... — começou a falar o diretor.

— Está tudo bem. Deixe-o comigo. — disse Snape, com um tom de voz que oscilava entre rispidez e compaixão.

O diretor não pareceu hesitar. Parecia confiar completamente em Snape.

Tom retirou-se da sala. Harry continuava fitando Snape, pela escrivaninha, com certa apreensão.

O psiquiatra encarou Harry enquanto entrelaçava lentamente os dedos.

— Eu realmente não tenho a menor ideia da confusão que deve estar se passando pela sua cabeça. — começou Snape, com o mesmo tom usado para falar com o diretor.

— Mas eu vou tentar explicar, com palavras simples que facilitarão a sua compreensão. — disse o psiquiatra, e fez uma pequena pausa.

— Você cresceu, e sua vida inteira foi baseada em uma mentira. É simples de dizer, porém extremamente complicado de entender.

Harry continuava calado.

— É um caso extremamente raro, o seu. Geralmente, as pessoas que entram em coma, ou lembram pouca coisa, ou não se lembram do que aconteceu com elas durante o coma, muito menos interligam esses fatos à vida real. Aparentemente, você se lembra de tudo.

Snape respirou fundo.

— Você mesclou fatos da sua vida externa, aqui no hospital, aos da vida interna, dentro da sua cabeça. Muita coisa não fará muito sentido, como por exemplo, as personalidades, e os físicos, eu creio.

Harry confirmou com a cabeça, em silêncio.

— Pois bem. Para tentar compreender a sua mente, primeiro você tem que me contar, qual era o seu mundo, antes desse.

Harry suspirou.

— É uma história muito grande, mas vou tentar contar apenas os pontos principais.

O olhar do psiquiatra o encorajou. Ele se sentia estranhamente acolhido e protegido por Severo Snape.

— Até aos onde anos de idade, eu sofri muito com os meus tios. Eles eram horríveis comigo, mimavam o meu primo, enfim, me odiavam. No meu aniversário de onze anos, recebi uma carta que dizia eu ser um bruxo, e que estava indo para a escola de Howarts...


Quando Harry terminou de contar a história, que levou cerca de uma hora e meia, a compaixão estava estampada no olhar de Snape, e pela primeira vez na vida, Harry não odiava essa sensação.

— Enquanto você ia me contando a sua história — falou o psiquiatra, deixando transparecer um pouco de emoção na voz — eu ia criando e imaginando teorias que correspondem a tudo. Você criou uma história inimaginariamente incrível, onde quase tudo se relaciona com a verdade, as linhas da imaginação se entralaçam com o mundo exterior, as personalidades, os acontecimentos... 

Harry ficou em silêncio.

Snape começou a falar, com cautela.

— Até os seus onze anos de idade, acredite ou não, os seus tios insistiam que ainda era possível te reanimar, fazer você acordar do coma. Todos nós sabíamos que não era possível, mas eles acreditavam. Inconscientemente, você criou algum tipo de paradoxo mental, em que você não queria voltar à vida. Você queria continuar em coma.

Harry ficou perplexo.

— Mas como isso é possível? Eu escolhi ficar em coma?

— Não — respondeu Snape — você não escolheu nada. Seu inconsciente, sim. Você não fez nada de propósito. Não era sequer possível.

Snape voltou a falar.

— Então, no momento em que você — ou melhor, o seu subconsciente —escolheu continuar como estava, você não tinha escolha ao não ser criar uma história para aquilo. No caso, a história de que os seus tios odiavam você, pelo motivo de que eles queriam trazer você de volta.

Os olhos de Harry estavam arregalados. Ele quase não podia acreditar.

— Então, eu criei uma mentira segura — falou Harry, com insegurança — porque eu queria continuar, de alguma forma, no meu mundo?

— Exato — respondeu Snape. — Você criou um tipo de fortaleza, na sua própria mente. Um império. E por isso, você criou personalidades diferentes para todos, para continuar lá. Os “bons”, tornaram-se “maus”.

— Lembro-me quando você falou de mim — comentou Snape, esboçando um sorriso — a minha personalidade no seu mundo é bem diferente da que é no meu mundo.

“Nem tão diferente assim” pensou Harry, sorrindo.

— Vale lembrar de que você passará por dificuldades extremas. Não é simples viver em um universo fechado, e em seguida mudar-se para outro sem nenhuma conseqüência. Você precisará de uma terapia intensiva, talvez durante anos, para conseguir separar realidade de fantasia.

— Mas eu nunca vou me esquecer, não é mesmo? — perguntou Harry, sussurrando.

— Não — respondeu Snape — essa história é muito bonita, não merece ser esquecida. E mesmo que você conseguisse, uma parte de seu eu bruxo, sempre estaria lá, com você. É uma parte interna de você. Você sempre será um bruxo, Harry.

Harry sorriu, e percebeu que não estava sozinho.



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