1997 escrita por N_blackie


Capítulo 55
Pollux




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Os passos de Pollux ecoavam pelos corredores desertos da Mansão. Os quadros, retratando gerações e gerações de familiares dos Black, dormiam profundamente, e seus roncos ocasionais eram a única coisa que o garoto podia ouvir mais alto que o piar tímido dos pássaros que acordavam cedo para caçar eram seus próprios pensamentos.

Tudo acontecera muito rápido, e agora que a poeira estava finalmente baixando, ele nunca se sentira tão solitário. As cartas de Amelie chegavam sem esperanças ou novas informações sobre Regulus, Sirius não estava mais lá, e agora perdera Adhara também. Por Merlin, sentia falta dela.

Em poucas horas retornaria a Hogwarts, e não sabia o que faria sem a presença dela para distraí-lo da preocupação pelo que acontecera com o seu pai. Era divertido vê-la esbravejar com todo mundo, dando sua opinião da forma mais brutalmente honesta possível. A maioria se incomodava, mas Pollux gostava. Estava acostumado a muitos não-me-toques de todo mundo perto dele, muita gente querendo seu favor ao mesmo tempo. Todos, exceto ela.

Draco estivera a seu lado desde o início, provavelmente na esperança que ele respondesse a seu chamado para juntar-se aos comensais, e Pollux estava certo de que esta expectativa era o que refreava a todos de usarem o mesmo tratamento hostil que vinham dispensando a Leonard. Se Adhara estivesse ali, perguntaria de novo sobre a possibilidade de se unir a eles para salvar-se, mas sabia o que ela diria. “Você perdeu a cabeça, por acaso? Ou morremos lutando, ou ficamos vivos sem culpa, cara! ”

Gostava da coragem dela. Para Pollux, não existia a opção “morrer lutando”, mas sim a autopreservação e se manter vivo, não importasse o custo. Pensaria em sua própria salvação pessoal depois, e de nada adiantaria morrer no processo. Cadáveres não seguram troféus.

Adhara, ao contrário, tinha honra. Nobreza. Se colocaria entre uma maldição e sua família, se fosse preciso. Certamente morreria pelo sacrifício, confiando que os que sobrassem fossem erguer uma estátua em sua homenagem, ou escrever sobre ela em livros de história. Não pensava em se manter a salvo. Pollux queria ter a oportunidade de se manter vivo e fazer o certo.

Chegou à sala, e viu uma sombra sentada na poltrona de costas para si. Endureceu a face, pensando ser Druella, ou Lucius, mas quando ultrapassou – a, percebeu que era só Leonard. O garoto ainda usava o pijama, e encarava algo distante como uma estátua. “Bonjour. “ Cumprimentou. Leonard assentiu.

O corvinal ficou em silêncio, e Pollux se surpreendeu com a capacidade dele em se manter completamente imóvel por tanto tempo. Uma aura sombria nublava seus olhos. Leonard, naquele momento, era o único que entendia sua situação. Não sabia se Draco já o havia chamado.

“Fui convocado para juntar-me a eles. “ Anunciou em voz baixa, esperando a reação que o primo teria. Leonard piscou, mas não mudou de posição. “Adhara aconselhou-me a não aceitar, mas creio que a situação agora é outra. “

“O que ela te disse? “ Sua resposta soou amarga, e Pollux não podia culpa-lo.

“Que era loucura. Acho que queria me perguntar se era nisso que eu acreditava, mas não teve coragem. “

“Entendo. “

Pollux podia entender a frustração dos irmãos de Leonard. Ele não pensava em voz alta, e não tinha valores tão previsíveis quanto Jack ou Adhara. Era impossível saber o que Leonard faria com aquela informação.

“Pollux, “ disse ele, finalmente, “se estiver disposto, tenho uma proposta para você. “

“Diga. “

Leonard olhou para os lados, e depois se aproximou de Pollux, chamando-o para segui-lo. Foram até uma porta no meio do corredor, e Leo abriu a porta para o primo entrar em seu quarto.

O cômodo grande e espaçoso tinha espaços distintos e organizados para cada atividade que o corvinal gostava de praticar. A cama de dossel, arrumada e alisada, estava no centro, logo em frente à larga janela. No criado-mudo, um porta-retratos com a foto de Violet e outro com a família toda. Quando trancou a porta, Leonard pousou a varinha próximo a eles, num suporte feito especialmente para isso. Num canto, o guarda-roupas fechado e limpo ficava ao lado do malão igualmente lacrado. No outro, uma escrivaninha onde ficavam suas penas, todas dispostas em ordem de matiz de cor, seus tinteiros limpos e organizados, e uma pilha de livros marcados por fitas de couro. Pollux notou que a grande maioria deles tinha as iniciais de Leonard marcadas em ouro num canto. As únicas indicações de que ali dormia um adolescente eram as flâmulas corvinais, dispostas da mesma forma organizada nas paredes azuladas. Um pôster trouxa também estava lá, e mostrava um quarteto de cordas sorrindo para quem os visse. Cheirava a desodorante masculino discreto e tinha um toque floral, que Pollux suspeitou que viesse das cartas assinadas por Violet que estavam juntas ao pé do colchão.

“Pollux, ninguém falou comigo ainda. “ Leonard deixou que ele se sentasse na colcha azul de sua cama, mas continuou em pé, andando de um lado para o outro. “Estive pensando, se me chamassem, eu aceitaria. “

Pollux sentiu a sobrancelha erguer involuntariamente. “Você, um comensal? “

“Não me entenda mal. “ Riu Leonard, balançando a cabeça. “Precisamos de um espião. Seria doloroso, claro. Violet me rejeitaria, e eu ficaria como o traidor de todo mundo, mas se fosse necessário, seria apenas lógico que eu me alistasse. “

“Mas não chamaram. “

“Não, não entendo porque. Tenho o sangue mais puro da Europa. “ Um raro ar arrogante passou pelos olhos de Leonard. “Não que isso importe muito, mas para eles é a moeda... Pollux, não sei se posso te pedir isso-“

Pollux não precisava que o primo completasse o raciocínio para saber o tipo de pedido que estava prestes a ouvir. Ser o espião? Ele? Bom, ninguém suspeitaria que um Black sonserino se alistasse, mesmo sendo filho de um traidor. Ainda assim, se o descobrissem, sua punição seria pior do que a de um rebelde. Certamente o matariam. Por outro lado... Era sua chance de fazer o que era certo e sobreviver, não necessariamente nessa ordem.

“Não precisa aceitar, claro. “ Leonard o encarou, “ mas poderia se reportar a mim, e poderíamos tentar entrar em contato com Adhara e os outros, avisar a eles. Hogwarts me preocupa. Não sei o que vou encontrar... Quero ajudar meus irmãos, mas não sou um guerreiro. “

“Acha que vamos ter uma guerra? “

“Se não pegarem Adhara e os outros a tempo, com certeza. Haha, consegue imaginar minha irmã fugindo de uma luta? “

Leonard o olhava esperançoso, e Pollux respirou fundo, se amaldiçoando por ter pedido ao universo que lhe desse a oportunidade de fazer o certo mais cedo. “Aceito. “ Disse, sentindo uma estranha onda de alívio. “Tentarei mandar tudo o que souber. Se tiver notícias de Adhara-“

“Te mantenho informado. “ Leonard apertou os olhos. “ Não sei se tenho a coragem necessária pra isso, sabe. “

“Eu tampouco. Conviver com a sua irmã me dá dores na consciência. “

“Grifinórios me dão dores na consciência. Boa Sorte, primo. “

“Para você também. “


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