1997 escrita por N_blackie


Capítulo 54
Adhara




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Ratos se esgueiravam por entre os móveis, roíam pernas do sofá, e guinchavam freneticamente por todos os cantos em que Adhara olhava. De cima do mesmo, Hermione lançava feitiços congelantes, paralisando alguns dos bichos enquanto Romulus e Ron colavam no papel de parede como quadros improvisados, pálidos. Lewis balançou a cabeça bem – humorado, e pela primeira vez Adhara sentiu-se feliz por tê-lo ali. Pelo menos alguém com sangue frio com animais era bom numa situação dessas.

“De onde vocês vieram, hein. “ Ele se ajoelhou e começou a balançar a varinha como um maestro, murmurando algum feitiço que Adie definitivamente nunca ouvira. Hermione parou de tentar paralisar todos os ratos e observou enquanto eles formavam filas organizadas em torno de Lewis, saindo dos cantos mais inesperados da casa. “É, acho que não vai rolar a gente pegar comida daqui não, pessoal... “ Jack exclamou de perto da cozinha, de onde mais ratos saiam.

Apesar de ser interessante o que Wormtail estava fazendo, Adhara tinha coisas mais urgentes para pensar. Não gostava de admitir, mas estava irritada por ter agido tão impulsivamente depois do cerco de natal, gritando pelos quatro ventos que iria vingar a família sem ter nenhuma ideia de como exatamente faria para executar esse plano. Se deixara levar pelo stress e pelo ressentimento, e isso saíra de seu controle. Era sua culpa que Jack agira como agiu na Mansão, e era sua culpa que ele estava com o grupo. Achou que salvar a vida dele, mesmo arriscando o seu futuro, fosse deixa-la menos culpada.

Não podia estar mais enganada.

Se fechasse os olhos, ainda podia ver o olhar vidrado do comensal que assassinara. Vira o raio verde refletir em sua íris, e depois o calor da maldição atingindo o peito dele aquecendo suas bochechas. Já lera sobre como o avada kedavra maculava a alma de quem o usava, mas achava aquilo uma besteira surpreendente. Contudo, e se recusava a confessar isso a qualquer um, de certa forma se sentia quebrada por dentro. Normalmente se trancaria no quarto e tiraria um dia para pensar, mas não tinham esse tempo, especialmente porque as vidas de seus pais dependiam do que faria a seguir. Não podia deixar de sentir que, de alguma forma, estava desapontando os dois.

Harry começou a mandar todo mundo se espalhar e procurar por qualquer outra coisa, sem nem sequer parar para pensar no que significavam todos aqueles ratos, bem típico dele. Adhara lançou um olhar de soslaio para Hermione, e esperou que ela dissesse alguma coisa. Talvez, se não estivessem brigadas, avisaria para ela que achava que os ratos significavam um sinal de traição de Peter, mas não iria se humilhar pedindo desculpas a ela. Não fizera nada de errado em pedir um pouco mais de pressa. Era fácil pra ela ficar de lerdeza! Não eram seus pais que estavam aprisionados numa fortaleza cheia de dementadores e inferi.

Em vez de seguir os outros, se jogou no sofá roído, agora sem nenhum guincho, e coçou atrás da orelha. A Ordem de Merlin era uma horcrux, com certeza. Não teria outro motivo para roubarem aquilo dos Potter. Era o símbolo da queda de Voldemort. Aliás, se dependesse da comissão que a confeccionara para James, teria inclusive o nome Voldemort nela. O próprio James pedira que não escrevessem aquilo no prêmio, para não suscitar mais revolta entre os comensais que ainda escaparam depois da batalha. Em vez disso, embaixo do nome dele se lia “Por serviços prestados à Comunidade Bruxa”. Era o mesmo que estivera na Ordem de Merlin de Sirius.

Mas onde Ele enfiaria uma Ordem de Merlin? E o que mais simbolizaria a queda Dele? Algo incomodava na cabeça dela, como se estivessem perdendo alguma informação muito importante e ela não conseguisse lembrar de qual.

“Não tem nada faltando. “ Lewis surgiu na porta da sala, e Adhara ergueu o olhar para ele, percebendo que só havia ela ali. Assentiu para ele perceber que ela ouvira, e ele se jogou na poltrona ao lado dela. “O que faremos agora? Vamos na casa do Moony? “

“Acho que sim. Porque não pergunta ao Prongs? “ Perguntou, ainda tentando pescar o que tinha perdido naquele tempo todo. Alguma coisa estava faltando naquele quebra-cabeças meio montado que tinha.

“Nada? “ Harry surgiu acompanhado de Jack. Lewis balançou a cabeça, e Adhara percebeu uma ruga de preocupação na testa de Prongs. “Tá... Vamos para os Lupin então. “

“Não acharam nada? “ Hermione e Ron surgiram com os braços cheios de comida embalada que parecia não ter sido tocada pelos ratos. “Olha o que eu achei. Estavam nas prateleiras de cima. “

Adhara sentiu o estomago vazio reclamar, mas de jeito nenhum pediria comida para Hermione. Esperou Lewis abrir dois sacos e colocar sobre a mesa de centro, e pegou um punhado num misto de frustração e alívio. “Talvez eles não tenham passado por aqui ainda. “ Supôs Jack, e Hermione assentiu. Lewis balançou a cabeça de boca cheia.

“O quarto do meu pai estava mexido. Eles devem ter procurado relatórios, mas não acharam. Será que isso significa que temos uma horcrux a menos para nos preocuparmos? “

“Difícil. “ O rosto de Harry estava banhado pelo cair do sol, e o relógio brega de cuco sobre a porta principal soou sete vezes. O silencio se estendeu até a última badalada, até que Jack sorriu esperançoso.

“Tem um lado bom, vejam: amanhã é ano novo. “

Adhara bufou. “Ótimo, hoje estamos sem nenhuma pista em 1997, amanhã estaremos sem nenhuma pista em 1998. “

“Como será que os outros estão? “ Romulus divagou.

“Será que faria mal ligarmos o rádio? “ Jack se aproximou do móvel metálico, e apertou um botão roxo ao lado do vermelho tradicional trouxa. “Se eu conseguir sintonizar isso aqui-“

Depois de alguns chiados incômodos, uma música melodiosa entrou em sintonia, mas já estava acabando. “E esse foi Laços de Sangue Rosa, das Irmãs de Eastwick! “ disse a voz grave de Chad Vander, apresentador conhecido na rádio bruxa, “Agora, aos anúncios oficiais: “

Um tambor soou, seguido de algumas cornetas, e Adhara sentiu uma onda de nostalgia preencher seu peito. O hino ministerial era uma música oficial pouco tocada, e a última vez em que ela ouvira fora muitos anos antes, quando Sirius fora empossado em seu cargo em Azkaban. A melodia tocou numa versão resumida, e logo a voz de Amelia Bones começou a soar. Adhara achou-a trêmula, mas podia ser interferência.

Boa Noite. É... É com grande luto que o Ministério anuncia que nosso Primeiro Ministro, Cornelius Fudge, foi encontrado após dois dias de ausência, em sua residência. Nosso... Nosso Ministro tirou a própria vida no último dia 28, e seu cargo, declarado vago na data de hoje. A seguir, temos a declaração de Bartemius Crouch Junior, comandante da missão de resgate bem sucedida:

A gravação entrou no ar, e no fundo do microfone, podiam-se ouvir os aplausos e gritos do que parecia uma torcida de quadribol. Adhara apurou os ouvidos, e notou o eco do som pelo ambiente aberto. “Meus irmãos, cidadãos e cidadãs bruxos! “ Começou a voz fria de Barty, “neste negro dia, venho consolá-los em sua miséria! Cornelius Fudge foi um grande homem, e mais do que tudo, um amigo e mestre. De seus problemas pessoais, não posso dizer, mas o que posso, é que ele amava seu trabalho, e o Ministério. Foi uma honra ser aquele a procurar por ele, apesar da nossa ingrata descoberta. “ Fez-se silêncio. “Porém, numa nota de esperança, prometo que, caso o Wizengamot considere minha candidatura a este cargo de alto risco, aqueles que nada têm a esconder, nada terão a temer! A justiça chegará aos que desafiam a paz, e o Ministério tomará as medidas que forem necessárias para proteger a todos vocês. Um Bom Ano Novo a todos. “

“Acho que agora podemos pensar em ter pressa, não? “


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