1997 escrita por N_blackie


Capítulo 3
Romulus




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ROMULUS

“Não posso perguntar se ele não me disse que vinha, vocês são surdos, seus animais?” Adhara rosnou pela décima vez naquela hora, encostada num canto com os braços cruzados, acuada como um animal diante da insistência dos amigos para que falasse com Sirius sobre essa reunião surpresa entre ele e James. “Porque não pedem a Prongs para encher o saco do pai dele também, hein? Sai da minha frente!” terminou ela, voltando a sentar na cama desconfortavelmente.

“Meu pai nunca me conta nada, você sabe disso.” Harry respondeu, conformado. Ron ainda fez menção de insistir, mas Romulus saiu em defesa dela.

“Pads já disse que não dá, deixem isso quieto, “disse, olhando com seriedade para os amigos, “investigar é o serviço deles, não o nosso. Porque marcamos esse encontro mesmo? Eu deveria estar terminando os dois rolos de pergaminho que Snape pediu. Vocês já terminaram?”

“Moony.” Adhara o olhou profundamente, e depois sorriu, “Sério?”

“Eram dois rolos de pergaminho?” Ron engoliu em seco, apertando os olhos como se tentasse lembrar de alguma coisa. “Não lembro quantos eu escrevi!”

“Sobre o que era mesmo?” Harry começou a jogar os esquemas que estavam empilhados na mesa para todo o lado, como se fosse encontrar algum papel com instruções embaixo daquele monte de coisa. O garoto Lupin suspirou, resignado. Lewis tampouco teria feito, ele tinha certeza, e depois todos pegariam o seu para copiar, Snape descobriria, e lá estava ele, o cara que fazia as coisas de acordo com as regras, de novo na detenção, tendo de ouvir “Sr. Lupin, você é um bom garoto, mas suas companhias...” de McGonagal de novo.

“Gideon Prewett!” Adhara gritou, e Harry e Ron apontaram em silencio, como se o assunto tivesse surgido subitamente, “É sobre isso que queremos falar! Gideon Prewett.”

Como poderia ter esquecido. Romulus balançou a cabeça, inconformado que os amigos tivessem a coragem de marcar um evento simplesmente para discutir o casamento de sua mãe. Se bem que ele achara até estranho quando na própria cerimonia nenhum deles dissera nada, devia saber que o assunto estava apenas guardado. “Então, Moony,” Ron começou, cruzando as pernas muito longas numa atitude falsamente superior, “conta pro primo, como está se sentindo?”

“Pra prima também, por favor.” Adhara completou.

“Vocês são tão dramáticos, sabiam?” respondeu exasperado, “Meu pai casou faz tempo, eu tenho um meio irmão, e vocês ainda acham que posso ficar traumatizado com minha mãe seguindo com a vida dela também? Francamente!”

“Só perguntamos como está se sentindo, calma,” Harry ergueu as mãos defensivamente, “e teríamos feito isso num local mais agradável, se Wormtail não fosse tão preguiçoso.”

“Muito obrigado, mas estou ótimo.” Romulus sorriu calmamente, revirando os olhos com diversão. Estava acostumado a ser tratado com cautela, sendo o único filho de pais separados do grupo, mas ficava incomodado quando eles supunham que estava profundamente triste, ou chateado com os novos casamentos do pais. Gostava de Nymphadora, amava Ted, seu irmãozinho, e Gideon era um cara legal. No início não recebera muito bem a ideia, claro – que garoto de quatorze anos quer voltar de Hogwarts e ter esse tipo de conversa com os pais – mas era uma pessoa equilibrada, e superou esse obstáculo como todos que a vida já lhe dera.

Depois de assegurar os três de que estava ótimo, muito obrigado pela preocupação, um confortável silencio tomou conta do quarto. Adhara brincava com alguma bolinha, Harry aparentemente percebera que bagunçara seus esquemas enquanto procurava pelas tarefas e agora estava recolhendo os papéis do chão, e Ron folheava alguns quadrinhos trouxas que Prongs possuía. Ele sempre ficava feliz quando via as figuras estáticas, e parava de ler por alguns momentos para chamar Romulus e apontar para os heróis trouxas que falavam pelos balões parados. “Olha!” ele ria, cutucando a cara do mascarado, “Ele não faz nada aqui, e ao mesmo tempo está batendo nos caras maus. Esses trouxas são fantásticos mesmo.”

“Sério.” Harry desistiu depois de algum tempo, abrindo as gavetas aleatoriamente. “Onde eu deixei a lista de deveres? Violet deve saber.” E arrastou a cadeira até a porta, quase atropelando Ron no processo. Abriu a porta, e sussurrou algo para a varinha, inclinando-a para o corredor.

“Feitiço novo?” Romulus se inclinou, curioso, e Prongs ergueu o polegar.

“Fantástico, nunca mais vou gritar em casa na minha vida.”

De uma das portas do corredor, saiu a irmã mais nova dos Potter, de quinze anos. Violet tinha os traços de Lily, inclusive os cabelos, e os olhos atentos e castanhos do pai, também emoldurados por óculos, que ela ajeitava no caminho até o quarto do irmão.

“Você nem grita mais?” ela perguntou assim que entrou, sem cerimonias, no antro de bagunça que estava aquele lugar. “Vou arrancar essa varinha de você.”

“Sabe onde deixei minhas tarefas?” ele perguntou, sorrindo amarelo para a irmã. Violet pareceu exasperada por um momento, mas logo não conseguiu sustentar a expressão e sorriu.

“Por acaso, eu sei sim. Você me pediu para cuidar delas quando voltamos, disse que me pediria depois e esqueceu.”

“Eu sabia!” Harry sorriu aliviado, e Romulus balançou a cabeça com incredulidade.

“Não, você claramente não sabia “tentou argumentar, mas sabia que não daria certo. Violet era gentil demais para se irritar de verdade com Harry, e os dois eram muito próximos, e Romulus temia, muito apegados para deixarem de se ajudar. Claro que Violet ajudava Harry muito mais que o contrário, mas o amor fraternal resistia a estes contratempos, aparentemente.

“Está brincando que vai dar as anotações dele, Viola?” Samantha, a irmã do meio, gritou da porta entreaberta de seu quarto, inconformada. Romulus riu. Gostava de Samantha e seus arroubos de indignação. Parecia com Adhara, mas menos agressiva.

Mas Violet ignorou a irmã. “Vou pegar, só um minutinho.”

Quando a ruiva deixou todos sozinhos, Romulus procurou indignação em mais alguém, mas estavam todos ocupados (com coisas inúteis, claro) demais para reclamarem. Harry abraçou Violet com força depois que ela voltou, e sorriu amarelo para Romulus.

“Você,” o garoto revirou os olhos, “me impressiona.”

“Vamos, Moony, não fique assim.”

“Lewis, eles estão em cima.” A voz de Lily ecoou pela escada, indicando que o último membro do grupo havia chegado. Agradecendo por não precisarem mais ficar no tédio daquele quarto por mais tempo, Romulus foi o primeiro a se levantar, mas logo foi atropelado pelos outros, mais ágeis em se jogarem escada abaixo. “Não precisa subir!” Harry gritava, quase tropeçando nos degraus.

Lewis os esperava no andar debaixo carregando sua costumeira caixa de doces, e sorriu amarelo quando viu os amigos se aproximarem. “Eu demorei um pouco, foi mal,” pediu, “dormi demais. Trouxe essas balas pra compensar.”

“Não precisava se preocupar, eles estão exagerando com essa história.” Romulus disse.

“Ah, precisava sim,” Adhara passou por ele faminta, agarrando três pacotinhos coloridos e jogando-os na boca, fechando os olhos de satisfação e depois fazendo uma careta, “balinhas de ácido, que saudade. Vamos, anda logo.”

“Está tudo bem, Moony?” Lewis perguntou no meio da confusão de saída, e o garoto simplesmente bufou.

“Estou ótimo, parem com isso!”

“Onde vamos?”

“Fiz um acordo com a Rosmerta, anda, pra lareira!”

“Minha mãe acabou de limpar...”

“Aparatamos então!”

E depois desse caos, os quatro se deram as mãos, e num movimento rápido, sumiram do hall de entrada dos Potter. Os contornos difusos e curvilíneos da atendente do Três Vassouras surgiram gradualmente, e Romulus precisou se apoiar no balcão mais próximo para não se desequilibrar e cair assim que aterrissaram.

“Ora, se não são os meus meninos mais queridos,” Rosmerta sorriu, e depois piscou para Adhara, “e a minha amiga mais querida, também.”

Romulus sorriu pelo carinho, mas logo de cara percebeu que algo estava errado naquele lugar familiar. Apesar de o bar não ter mudado nem um pouco desde a última vez em que estiveram ali, a dona dele parecia abatida, com olheiras em torno dos belos olhos e os cabelos levemente bagunçados. Quando os levou até uma mesa, olhou através das janelas várias vezes, e quase largou as canecas de cerveja amanteigada ao ser chamada subitamente por um casal que sentava próximo. Era como se estivesse aterrorizada sem motivo algum.

“Rosmerta está ficando doida?” Romulus chamou a atenção dos amigos, e os quatro olharam ao redor com curiosidade, como se nada de estranho tivesse acontecido.

“Não achei nada demais.” Lewis franziu a testa, dando de ombros. “Agora, não fuja do assunto. Está realmente ok com sua mãe se casando de novo?”

“Estou,” repetiu pela vigésima vez naquele dia, “e vocês podiam parar de me perguntar isso, também.”

“Quer que paremos?” Harry zombou, tomando seu gole efusivamente. “Então nos conte algo mais legal.”

“Isso é um argumento ridículo!”

“Bom, se querem algo estranho,” Lewis se aproximou da mesa com a cadeira, e em tom de segredo disse, “meus pais brigaram hoje de manhã. Papai está se metendo em algo que minha mãe não gostou nadinha.”

“Hm, acho que essa história serve, conte mais.”

E Lewis de fato, contou. Romulus achou estranho Lisa se incomodar com algo que o marido pudesse estar fazendo, mas seu incomodo com a atitude de Rosmerta estava perturbando-o demais também. Dividido entre as duas situações, não teve outra opção senão continuar ali, muito embora achasse que aquele dia já fora bizarro demais.


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