1997 escrita por N_blackie


Capítulo 2
Adhara




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ADHARA

“Druella já passou da hora de morrer, não?”

A pergunta, sussurrada em tom de brincadeira, fez com que Adhara soltasse seu primeiro sorriso do dia. Os Black estavam reunidos para o que prometia ser um café da manhã interminável, e Druella, a bruxa mais velha da mesa e que estava morando ali havia algum tempo, estava no meio de um de seus famosos sermões.

“Portanto, sempre que lhes digo para terem boas maneiras,” disse ela, cortando linguiças com a cara mais arrogante que Adhara já vira, “não se trata apenas de boas maneiras per se, e sim de se prepararem para o que a sociedade espera de todos. E estou fazendo um imenso favor ao passar esses valores adiante para vocês, visto que já fiz o mesmo às minhas filhas.” Completou ela, sorrindo.

Adhara fez um grande esforço para não revirar os olhos, e ao invés disso, apenas trocou um olhar sarcástico com Sirius, que sentava ao seu lado. Seu pai, no entanto, não tinha o menor pudor de criticar a tia, a quem abertamente desprezava, e sorriu ironicamente ao dizer, de bom humor:

“Sabemos muito bem como suas lições fizeram bem às meninas, tia. Onde elas foram parar mesmo? Ah, agora estou lembrando! Bellatrix está morta, Andy fugiu de casa e Narcissa, que Merlin a ajude, mora com os Malfoy! Todas bem integradas à sociedade.”

A velha bruxa lhe lançou um olhar reprovador, mas nada respondeu. Também, como poderia, pensou Adhara, já que justamente por estes terem sido os destinos de suas filhas seu próprio ficou largado ao ponto de ela precisar pedir abrigo à eles? Marlene, que sentava do outro lado deles, olhou para a filha pedindo silenciosamente que não dissesse nada, e Adhara ergueu as mãos, dando de ombros.

O café seguiu silencioso após a pequena discussão, e aquele marasmo estava entediando a garota. Soltando um grande bocejo enquanto se levantava, Adhara abriu seu melhor sorriso – irônico, claro – e jogou seu guardanapo no assento. “Foi um prazer comer com vocês, família,” disse, “Mas tenho uma reunião importante que não posso perder, sinto muito.” E começou a se retirar, quando Sirius se ergueu, chamando sua atenção.

“Por acaso nessa sua reunião você vai passar por Godric’s Hollow?” perguntou ele num tom falsamente pomposo. Adhara se virou cordialmente, fingindo refletir elegantemente.

“Ora, sim, meu pai! Por acaso estarei em Godric’s Hollow por alguns momentos, sim. Há algo que posso lhe fazer?”

Ainda sentados, os irmãos mais novos de Adhara seguravam a risada, e Marlene parecia querer rir também, embora estivesse mais preocupada com a reação de Druella, que se irritava cada minuto mais com o comportamento de todos. Sirius, abrindo um sorriso divertido, tirou um papel do bolso e entregou à filha com um meneio das mãos.

“Aqui, minha querida, se puder entregar esta nota à James, lhe agradeceria imensamente!’

“Por favor, Adie, não demore,” Marlene interrompeu, revirando os olhos e se erguendo para pôr fim às brincadeiras. Adhara soltou uma risadinha. Adorava quando a mãe perdia a paciência com suas implicâncias com os Black, e mais ainda quando Sirius lhe apoiava nessas empreitadas, tornando inviável à mãe passar o sermão só nela. Mais séria, no entanto, se aproximou de Sirius, pegando o bilhete e guardando. Depois, somente para ele, perguntou: “Qual o assunto?”

O pai pareceu hesitar um pouco, e ela não sabia ao certo se era porque o bilhete era importante ou porque Marlene estava quase tocando todos para fora da cozinha. Qualquer que fosse a razão, ele não disse, e quanto ao bilhete, apenas sussurrou “coisas do ministério, Ad.”

Dando de ombros e assentindo, a garota deixou o resto da família, subindo a escadaria principal da mansão de dois em dois degraus. Essa não era nem a primeira, e certamente não seria a última, vez que Sirius lhe pedia para entregar bilhetes e outras notas para James. Sendo a melhor amiga de Harry – e a lembrança disso a fez sorrir – tinha o acesso muito fácil à casa do Capitão, e portanto, era a coruja perfeita para fazer essas entregas mais delicadas.

Geralmente seu pai contava sobre o que se tratava os bilhetes, claro, mas não era nada impossível que ele não pudesse contar a ela. Tendo isso em mente, Adhara tirou a curiosidade da cabeça, correndo para trocar de roupa e sair dali.

A Mansão dos Black em Hertfordshire era uma propriedade grande e muito antiga, que era cercada dos mais intensos feitiços de proteção que a bruxaria poderia proporcionar, além de um jardim amplo e coberto de estátuas de grama representando os símbolos da família. O quarto de Adhara era sombrio, e ficava na Asa Oeste da casa, de frente para duas gárgulas bem irritantes feitas no gramado. Assim que a garota abriu a pesada porta de carvalho envelhecido, deu de cara com elas através da janela, e rosnou um pouco com o susto. Sua imensa cama de dossel bordô estava recheada de roupas e instrumentos mágicos, e o armário parecia ter levado um susto quando ela o abriu para procurar alguma roupa.

“Você não está se esquecendo de algo, mocinha?!” perguntou uma agenda próxima, que gemeu ao levar um chute da adolescente. Adhara ganhara aquilo de Hermione, na época dos NOMS, para estimulá-la a, segundo a amiga, “parar de protelar seus estudos”, e nada fez de útil além de encher a paciência da grifinória até ela tentar atear fogo na maldita agenda, que, claro, resistiu.

Depois de vasculhar algumas gavetas, ela encontrou um par de calças jeans surradas e uma camiseta d’As Esquisitonas, meio manchada de sangue (uma longa história em envolvia ela ter acertado um soco na cara de Harry por acidente), mas que ainda dava pra vestir. Rindo ao se lembrar da reação dele, correndo com o nariz duas vezes maior e tão roxo quanto uma beterraba, Adhara procurou a varinha e enfiou no cós das calças, pronta para sair. Conferindo se o bilhete ainda estava seguro, ela foi para a sala, onde Leonard descansava.

“Estonteante, irmãzona,” ele ergueu os olhos muito azuis do livro que lia, lhe lançando um sorriso sarcástico enquanto cruzava as pernas estendidas sobre os braços do sofá de couro negro em que deitava. Apesar da pose displicente, Leonard era um corvinal muito orgulhoso, e era conhecido por ser o “gêmeo inteligente” da dupla que compunha os filhos de Sirius e Marlene, “isso aí é sangue?”

“Não sei,” mentiu Adhara, irritada com a arrogância dele, “mas pode ser, se você não parar de me amolar.”

Em resposta o garoto apenas contorce o rosto em falsa surpresa, e voltou a ler com uma risadinha. Apressando-se para não dar de cara com mais ninguém que pudesse lhe irritar pela mancha suspeita da camiseta, ela pegou um punhado de pó de flu que descansava numa urna sobre o console da lareira, e depois de lança-lo ao fogo, entrou e pediu pela casa dos Potter.

A sala dos Black girou diante de si, e uma sequência aleatória de túneis passou diante de si enquanto ela se sentia transportar no espaço. Quando finalmente aterrissou, abaixou a cabeça para sair da lareira limpa dos Potter, e deu um sorriso coberto de fuligem para Lily, que comandava duas vassouras e um esfregão no ambiente. A ruiva lhe deu um sorriso carinhoso e ao mesmo tempo levemente incomodado, enquanto um espanador voava de algum lugar para ajudá-la a bater o pó de suas roupas.

Quando já estava relativamente limpa, Adhara pode sair de perto do fogo, e Lily lhe abraçou. “Será possível,” disse ela, balançando a cabeça, “que algum dia vou conseguir ver você em algum estado que não seja coberta de fuligem, de suor, de lama, ou de- meu deus, isso é sangue?” a bruxa subitamente pegou na camiseta dela, seus olhos verdes espantados. Adhara sorriu amarelo, e se desvencilhou da Sra. Potter rapidamente.

“Deve ser chocolate, tia Lil,” disse, “Tio Prongs está por aqui?”

“James?” a mulher pareceu estranhar a pergunta, “Está no escritório... Sirius mandou alguma coisa?”

“Mandou.” A garota tirou o bilhete do bolso, mostrando-o a Lily, “Posso? Harry está no quarto, né?”

“Sim, sim... Siga a trilha de toalhas, por favor, estou clareando o chão.” Ela sorriu, e Adhara assentiu, saindo da sala.

Enquanto a mansão dos Black era um lugar sombrio e, segundo Lewis, intimidador e assustador, o chalé em que os Potter moravam, no simpático vilarejo de Godric’s Hollow, era o símbolo do que conforto familiar e limpeza deveriam ser. A escada perolada seguia carinhosamente para o segundo andar, e o ar até lá cheirava estranhamente a chá de laranja e biscoitos. Quando se chegava perto das janelas, o jardim florido de Lily exalava um perfume inebriante, e muito embora a garota gostasse daquele cheiro, tinha um bilhete para entregar, e essa era a única tarefa que ela se reservava ao direito de não postergar.

O escritório de James ficava atrás de uma das primeiras portas brancas daquela casa, e Adhara bateu rapidamente na madeira antes de começar a entrar. O padrinho estava sentado em sua cadeira, analisando alguns papeis aleatórios – ou pelo menos pareceram assim para ela -, sem dar sinal algum de ter percebido sua presença, até Adhara colocar o bilhete a seu lado.

“Eu imaginei que Sirius fosse querer falar comigo,” ele sorriu de lado, pegando o bilhete, e depois sorriu para Adhara, “cada vez que você vem aqui parece que cresceu mais uns dois centímetros.”

A garota sorriu amarelo, revirando os olhos. “Achei que fosse melhor que essas piadas ridículas, tio.”

“Ah, mas eu sou,” foi a resposta, “só não consegui pensar em nenhuma melhor com o tempo que você me deu pra pensar. Além do mais, você realmente está se saindo muito alta. Sirius nunca vai me deixar esquecer disso, estou perdido.” Seu olhar, faiscando por trás dos óculos, se voltou então para o pergaminho que havia acabado de pegar. “Obrigado, vou ler com atenção o que Padfoot tem a dizer. Harry está no quarto, espero que não esteja dormindo, ou vamos escutar uns bons gritos quando você entrar.”

“Quero só ver Prongs dormindo depois de me chamar aqui,” Adhara gargalhou, falsamente ofendida, “meu tempo vale ouro, vou acordá-lo com uma mordida na bunda se não valer o que eu gasto nele.”

James acompanhou a garota na gargalhada. Adhara se lembrava das milhões de vezes em que ele tentava apartar supostas brigas entre ela e Harry, quando na verdade os dois simplesmente gostavam de se estapear de vez em quando, e nunca brigaram de forma séria o suficiente para chegarem a isso. Uma das melhores brigas dessa época tinha sido inclusive no jardim daquele chalé. Ela e Harry se atracaram por uma vassoura de brinquedo, e rolaram pela grama até os pés dos pais. James se desesperou, Lily foi buscam toalhas para tirar a lama que estava cobrindo as crianças, e Sirius começou a rir e saiu de perto. Marlene segurou cada um pelas camisetas, e depois de lançar um de seus famosos olhares, fez com que os dois confessassem que não tinham brigado de verdade.

Mas muitos anos haviam se passado desde aquela tarde, e agora tudo o que Adie fazia era latir e ameaçar, sem nunca realmente acertar um soco na cara quatro-olhos do melhor amigo. Um dia, quem sabe, pensou ela, esmurrando a porta com a bandeira grifinória pendurada na frente.

“PADFOOT!” Harry escancarou a passagem, sorrindo de orelha a orelha para ela. Claramente estava acordado, e tinha pelo menos uns oito esquemas de quadribol largados pelos quatro cantos do espaçoso quarto. Adhara gostava do clima do quarto de Harry, que tinha bem menos madeira do que o dela, e muito mais cor. Muito mesmo. Flâmulas grifinórias enfeitavam as paredes, e retratos do rapaz com os amigos estavam espalhados por todo lugar. Levemente irritada, Adhara conferiu se o retrato dele com os amigos mais próximos ainda estava na cabeceira, e depois procurou pelo retrato de Ginny, que estava na escrivaninha. Ainda sou a cabeceira, pensou aliviada.

Depois, como de costume, se jogou na cama dele, procurando uma bolinha e brincando com ela para se distrair. “Demorei um pouco, o clima lá em casa estava nojento.”

“E quando não está?” Harry girou sua cadeira para perto dela com um sorriso simpático. Adhara sorriu também, dando de ombros enquanto perseguia a bola com os olhos, quicando-a na parede e no teto.

“Papai mandou uma mensagem pro seu, também,” disse, “estranho, eles estão tão sérios. Até meu pai, que nunca levou nada a sério na vida, parou de rir um pouco pra me entregar o recado.”

“Meu pai também não está num dia muito bom, não, treinamos juntos hoje e ele estava cansadão. Violet disse que ele passou a noite acordado.”

“E como Violet sabe disso?” Adhara zombou “Ela vai dormir o que, oito horas?”

Os dois se deixaram gargalhar por alguns minutos, e logo Harry se forçou a ficar sério, partindo em defesa da irmã. “Ela ouviu, e é isso que importa. Além do mais,” o jovem se deixou rir um pouco mais, “ela esteve acordada até tarde umas boas noites, mandando cartas pro seu irmão.”

“Leonard é um babaca, mas acho que serve pra ela, pelo menos.” Foi o único comentário dela. Adhara bocejou, e logo olhou para o relógio. Já passava da hora combinada e nem Romulus, Lewis ou Ron tinham aparecido. Justo no dia em que ela resolvera chegar na hora, o resto dos amigos estava atrasado. Normalmente a ironia a faria rir, mas dessa vez ela estava no mínimo irritada. Amava jogar na cara deles quando fazia algo corretamente, e estava pronta para isso nesse dia.

Bom, a revanche vai demorar um pouco, relevou. “Não sei como, mas desapareceu,” Harry estava dizendo alguma coisa, e Adhara olhou para ele, que havia voltado a traçar pontilhados nos esquemas atenciosamente. “Quem?” perguntou, e recebeu em resposta um olhar sarcástico.

“Você ao menos escuta o que eu digo, Pads?”

‘Não muito,” ela respondeu, jogando a bolinha novamente, “mas eu gosto de desaparecimentos e bizarrices. Quem sumiu?”

“Desse aqui você com certeza não vai gostar, pode ter certeza.” Harry se abaixou, buscando o jornal. Na primeira página, abaixo da manchete reluzente sobre o desaparecimento, havia a foto da entrada da Sorveteria Florean Fortescue, agora fechada, e um pequeno retrato do próprio Florean, um homem de meia-idade sorridente, mas com um ar eternamente animado. Adhara deixou a bola cair, e sentou-se rapidamente na cama, puxando o Profeta Diário das mãos do amigo.

“Florean?” sentiu-se entristecer, algo raro, e deixou-se demorar no rosto do sorveteiro. Ela gostava dos sorvetes, mas gostava de Florean também. Ele lhe contava histórias emocionantes, e era de uma ajuda impressionante quando tinha dúvidas de História da Magia. Levemente perturbada, ergueu os olhos para Harry, que a olhava atentamente. Prongs detestava perder esses poucos momentos em que podia impressionar Adhara, e a garota as vezes até exagerava na emoção diante de alguma história dele para deixa-lo mais feliz, mas dessa vez sua confusão era verdadeira.

“Sumiu faz dois dias, diz aí,” Harry explicou antes que ela pudesse procurar pela história completa mais adiante, “meu pai estava bem preocupado olhando para isso hoje, acho que também gostava de Florean.”

“Quem iria querer pegar um sorveteiro?” a pergunta pairou no ar por um instante, até a porta abrir subitamente, revelando o corpo alto e meio desengonçado de Ron, acompanhado de um também alto, mas um pouco mais forte, Romulus. Os dois sorriam e traziam doces, e Romulus em especial tinha um rubor estranho no rosto. Adhara decidiu não irritá-lo com isso dessa vez, e decidiu guardar a curiosidade para uma hora menos estranha.

Antes que os dois pudessem se acomodar Harry já estava vomitando a história de Florean, assim como a discussão entre ele e Adhara poucos minutos antes, e a garota apenas se moveu para abrir espaço para Romulus sentar ao lado dela, esperando o garoto acomodar as pernas para então esticar as suas por cima delas, sorrindo arrogantemente quando ele pareceu exasperado com o gesto.

“Desculpa interromper o monólogo, Cassandra, “Ron fechou a porta com o pé, se sentando no chão, “Mas acho que é importante que Sirius tenha vindo falar com James, não? Quero dizer, com esse problema do Florean, deve ser importante para juntar dois figurões assim, de repente, e fora do ministério.”

“Meu pai veio até aqui?” Adhara não conseguiu engolir a pergunta, e trocou um olhar confuso com Harry. Porque Sirius viria até os Potter mesmo depois do bilhete?


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Notas finais do capítulo

Em Breve novos capítulos da sequência!



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