1997 escrita por N_blackie


Capítulo 4
Violet




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VIOLET

Leo,

Estive pensando na sua última charada, e realmente não consegui pensar em nada que pudesse ser como uma centopeia de duas patas! Ri muito com a ideia, apesar disso, então não vou reclamar da falta de uma solução de faça sentido. Vocês na Corvinal realmente têm muito tempo livre, a única charada que já ouvi na minha sala comunal era uma piada bem ofensiva sobre as outras casas, não acho que você iria querer ouvir.

Harry estava me irritando ultimamente, ele está tão meloso comigo esses dias! Acho que está pensando que existe alguma coisa de mais entre eu e você, acredita? Só de pensar já começo a rir, que menino bobo (e ciumento, aparentemente) ele é. Fico dizendo que é tudo besteira, mas aí ele e Sam começaram a cantarolar uma música bem chatinha, e eu decidi ir dormir mais cedo.

Vou te mandar minha tarefa de Feitiços, poderia ver se fiz algo de errado? Estou enviando a sua de Poções, ficou adorável e bem escrita, eu gostei. Acho que Snape não vai gostar muito dos adjetivos que você usou para descrever a oleosidade da poção, só recomendo que os tire dali!

Bom, um abraço apertado aí, espero que Druella não esteja mais causando tantos problemas! Nos vemos essa semana?

Guardando a pena o mais silenciosamente possível, Violet terminou de fazer o laço que prendia sua carta à perna de sua coruja, e depois de fazer um rápido carinho em sua cabeça, a dispensou, observando sonhadora o trajeto sinuoso que ela fazia rumo à Mansão Black. Leonard provavelmente acordaria com aquela carta, e a visão de que ele sorriria pela primeira vez no dia por algo que ela fizera a fez sorrir também.

Sonolenta, a adolescente olhou para o relógio, e se sobressaltou com o horário. Era realmente tarde, e ela não estava acostumada a ficar acordada assim. Saltando com leveza de sua janela, foi tateando até a cama, quando um estralo chamou sua atenção.

Curiosa, se aproximou da porta, entreabrindo-a para ver um par de sombras subir as escadas na ponta dos pés, as capas ainda farfalhando na escuridão. Violet juntou as sobrancelhas quando seus pais chegaram a porta do quarto, parecendo preocupados e com pressa, e a fecharam atrás de si, sussurrando coisas que ela não conseguia reconhecer.

Na manhã seguinte, assim que acordou, a garota atravessou o corredor estreito, se escorando à porta da irmã e batendo suavemente. Sam acordava muito cedo sempre para desenhar esquemas táticos para Harry e treinar, então Violet sabia que ela estaria desperta naquele horário.

Sem demora, a porta abriu, e a mais nova esticou a cabeça para dentro, escorregando para o quarto de Sam. Fotos de vassouras tiradas de catálogos estavam espalhadas por todo o canto, junto de pôsteres de times de quadribol que ela amava. Silenciosa, Violet procurou um espaço na cama próxima da escrivaninha, e abraçou os joelhos com tensão.

“Desculpa incomodar, é que ontem aconteceu de novo, sabe.” Disse. Samantha, que estava compenetrada em desenhar uma goles sendo atirada para outro canto do papel, girou a cadeira para encará-la, e apontou para a direção em que ficava o quarto dos pais.

“Que horas dessa vez?”

“Eram quase três. O que acha que eles estão fazendo?”

“Harry acha que é por causa do desaparecimento do Florean...” Sam disse em tom de quem encerra a questão. Violet mordeu o lábio ansiosa. Samantha talvez teria notado a preocupação da irmã, porque virou a cadeira e sorriu animadora.

“Vamos, vai fazer as suas coisas que deve estar tudo bem, “disse, “não vai adiantar ficar assim.”

Suspirando com a atitude tranquila da irmã, Violet se levantou e voltou para o quarto, tentando evitar pensar no assunto. Pensava ser impossível, até que vislumbrou um par de assas negras se juntando à sua coruja, sobre a janela. Limpando a mente de qualquer suspeita, correu para acariciar Hildie, sua própria ave, e tirou com delicadeza a carta da perna de Efeus, que saltou e planou um pouco antes de acelerar em direção ao horizonte amanhecido, provavelmente na expectativa de algum petisco muito bom quando chegasse à Mansão.

Enrolando-se nas cobertas, Violet se encarapitou em sua janela, e abriu o pergaminho sorridente. A letra curvilínea e caprichada de Leonard preenchia a página, e ela pode sentir seu perfume emanando das palavras.

Viola,

A resposta é outro enigma: o que não é? Desculpe importuná-la com essas charadas estúpidas, realmente na Corvinal não nos divertimos com nada além destas coisas. E, bom, não se acanhe de me contar essas piadas ofensivas, tendo Jack e Adhara como irmãos eu provavelmente já terei ouvido versões piores.

Harry está apaixonado, é claro que verá algo de mais em qualquer lugar... No entanto, se posso perguntar, Viola, gostaria que pudéssemos nos ver com mais frequência, não é em todas que posso enxergar alguém como você. Meus irmãos têm ignorado sumariamente nossa correspondência, e acho que isso possa indicar um certo grau de respeito (ou simplesmente que eles ligam cada dia menos para mim, não posso me iludir tanto, então venho me sentindo mais livre destes tipos de incomodo.

Obrigado por ter lido minha lição, me dei conta um pouco tarde demais que Snape poderia se ofender com aquilo! Essa nota me rendeu muitas risadas, claro. Gosto de como escreve, e sua tarefa de Feitiços refletiu bem isso. Flitwick vai gostar dos efeitos mais engraçados e inusitados dos reversos, acho que estamos olhando para um futuro promissor se continuar assim.

Druella continua cada dia pior, mas não sei quem está se denegrindo mais, se ela ou o restante da minha família. Adhara certamente acabará em Azkaban se as aulas não começarem logo, e infelizmente não posso dizer que meu pai esteja lidando da melhor forma possível com os comentários dela. Jack passa os dias trancado no quarto para evita-la, e tem sido uma tarefa difícil não se irritar (tarefa esta que, claro, sobrou para mamãe e eu). Mas ultimamente não penso mais nisso. Tenho as suas cartas para responder e minhas tarefas para fazer, duas incumbências que me alegram bastante.

Hoje à tarde vamos ao Beco Diagonal, estive pensando se não seria uma ótima oportunidade para nos vermos. Obrigado pela carta, sinta-se abraçada com muita força.

Violet não percebeu, entretida em reler as palavras de Leonard, que dormira de novo. Em meio à divagações sobre algum significado secreto naquela carta, ouviu ao longe Samantha chamar, e quando abriu os olhos novamente, a irmã lhe sorria. Corando enquanto guardava a carta entre as cobertas, Violet se endireitou, e passou a mão nervosamente pelos cabelos.

“Mamãe pediu pra chamar, achei que estava acordada.” Sam sorriu, e a garota assentiu em resposta, jogando as cobertas para um canto enquanto vestia as pantufas lilás e descia para a cozinha.

A família estava sentada junta, passando calmamente manteiga e pão uns para os outros. James sorriu para Violet quando ela se aproximou, e Lily colocou bacon em seu prato. No fundo de sua memória, a menina quis perguntar sobre os horários malucos que os dois estavam levando, mas a perspectiva de que poderia encontrar com Leonard a despreocupada e deixava ansiosa e distraída. Estava lutando contra o que sentia, mas no fundo começava a pensar que Harry, mesmo em suas brincadeiras, estava certo sobre os dois.

Gostava de Leonard, mais do que apenas como um amigo antigo e muito próximo, e isso a assustava. Claro que já tivera o caso entre Adhara e Romulus no passado, ou seja, não seriam os primeiros amigos daquele círculo tão íntimo a ficarem próximos, porém entre os mais velhos as coisas terminaram abruptamente, e ninguém nunca entendeu o que se passara completamente. Já com ela e Leonard, o futuro era incerto. Isso a preocupava.

Quando todos estavam servidos, Lily falou sobre o Beco Diagonal, comentando que todos estariam lá, e que seria divertido. Coisas que Violet já sabia muito bem. Tentando não parecer uma idiota risonha, apenas concordou em ir, repassando o guarda roupa mentalmente pensando no que vestiria.

Terminou por, mais tarde, optar pelo vestido florido, o qual completou com um par de botas curtas e mais casuais que possuía. Violet saiu do quarto nervosa, e não queria que ninguém notasse que tinha se arrumado. Harry a olhou com suspeita quando chegou à sala, mas não disse nada, e mais ninguém pareceu perceber, para seu alívio.

Os amigos a esperavam no Caldeirão Furado, reunidos perto do bar em um clima confortável e familiar. Entre as risadas e sorrisos, encontrou Leonard, e sorriu para ela por trás da própria família. O garoto estava bonito, e seu sorriso o deixava ainda mais.

“Fiquei feliz por ter vindo.” Cumprimentou, se abaixando para beijá-la na bochecha. Leonard crescera naquele verão, e ela sentiu a pele queimar no lugar onde seus lábios gelados encostaram.

“Eu também.” Foi só o que conseguiu responder.

“Bom, já tá todo mundo aqui, vocês tão soltos agora, podem ir se divertir.” Sirius disse, abanando-os para fora do bar.

“É sério, podem ir, meninos.” Marlene confirmou diante da hesitação geral. Violet riu com os outros, e logo Jack e Richard passaram por ela, entusiasmados.

“Bom, quem quiser diversão e Gemialidades podem vir com a gente!”

Mary e Sam sorriram amarelo para ela, e a deixaram sozinha para seguir os dois, que já saíram correndo porta afora. Confusa e perdida, Violet procurou pelo irmão, que já tinha se fechado com os amigos mais próximos para decidir o que comprar, e suspirou resignada.

“Pelo visto só sobramos nós.” A voz calma de Leonard a assustou vinda de sua nuca, e a garota se virou subitamente, dando de cara com ele. Não tinha percebido como ele estava próximo, e simplesmente sorriu. “Normalmente te chamaria para um sorvete, mas acho que não temos muito o que fazer além de procurar uma loja nova.”

“Já foi à Gambol & Japes?” sugeriu ela, empolgada por poder dar uma sugestão de lugar que ele não tivesse ido muitas vezes. Leonard pensou por um segundo, e logo negou, franzindo a sobrancelha em sua costumeira expressão intelectual.

“Acho que não, mas deve ser divertido,” sorriu, “vamos?”

Os dois caminharam até o extremo do Beco, onde a fachada animada da loja os convidava a entrar. As prateleiras eram cobertas do chão ao teto dos artigos mais inusitados – e inofensivos – que a magia podia criar, e Violet perdeu a noção do tempo enquanto via Leonard tentar (e falhar) usar aquelas bugigangas. Quando finalmente deixaram a loja, os braços com algumas sacolas e os estômagos doloridos de rir, Leonard parou ofegante, colocando as mãos nos joelhos.

“Não consigo sentir os dedos, isso é péssimo...!” balbuciou, e Violet riu.

“Podia ser pior, imagina se aquela dentadura tivesse fechado mesmo? Estaríamos os dois sem o braço.” Brincou.

Leonard sorriu, e os dois se jogaram num dos bancos próximos das vitrines encantadas, apoiando as sacolas ao lado dos pés. Analisando um frisbee dentado com cuidado, Leonard ficou rapidamente quieto, e parecia nervoso, olhando para os lados como se procurasse por algo na multidão de gente que passava pelos dois. Ansiosa, Violet o chamou, e quando o garoto virou o rosto, ela percebeu que ele estava tão inquieto quanto ela.

“Violet,” disse ele, virando o corpo completamente, “eu estive bastante ansioso pra te falar uma coisa.”

“Sim?” a respiração de Violet subitamente acalmou, assim como seu coração, que, sem a menina notar, acelerara.

“Achei interessante o comentário de Harry na sua carta mais cedo, “ele riu apreensivamente, “você acha realmente que seria, bem, hilário pensar que, não sei, nós dois, poderíamos, sabe- “

“Não sei, o que você acha?”

“Não seria algo, digamos, inesperado, se eu estivesse interessado em você.”

Algo gelado e pesado escorregou pelo estomago de Violet, e sua garganta fechou, sem conseguir escapar nenhuma palavra. Leonard cruzou as mãos no colo, brincando com os dedos distraidamente enquanto tentava encontrar palavras para dizer.

“Com certeza.” Finalmente respirou. Apesar de seus esforços, suas pernas não paravam quietas. “E você está?”

Imediatamente se arrependeu de ser tão direta. Prendendo o ar dentro de si, Violet evitou o olhar dele, gritando consigo mesma internamente por ter dito aquilo. Leonard, no entanto, apenas segurou a sua mão, e quando seus olhares se encontraram, ele sorriu.

“Você é uma bruxa muito especial, Viola. Para mim, especialmente. Gostaria, se possível, de te mostrar isso.”

Olhando para suas mãos entrelaçadas, e depois para os profundos olhos azuis de Leonard, Violet sorriu, assentindo timidamente, sustentando o olhar dele, que se aproximava suavemente dela. Os lábios que antes haviam queimado sua bochecha, encostaram nos seus, e apesar do seu ar gelado, a aqueceram por dentro enquanto estiveram juntos.


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