1997 escrita por N_blackie


Capítulo 1
HARRY




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1997

PARTE UM

Capítulo Um

HARRY

Os primeiros raios de sol daquela manhã de férias entraram calmamente por uma falha na cortina da casa dos Potter, iluminando metade do rosto adolescente do filho mais velho do casal. Grunhindo e resmungando, o garoto de dezessete anos virou de bruços, tentando, em vão, desviar da desconfortável luminosidade que o atingia.

Como se fosse num sonho, ouviu passos decididos vindos de fora, e apertou ainda mais as pálpebras na esperança de que pudesse voltar a dormir em paz. Contudo, o barulho só aumentava, e logo veio acompanhado do ranger da porta abrindo.

- Harry. – a voz do pai veio como um eco distante, e foi ignorada sumariamente. – Harry.

Determinado a desprezar aquele chamado, Harry continuou fingindo que não escutava, até que um par de mãos pousou em suas costas carinhosamente, esfregando – o. “Vamos, não adianta escapar, você mesmo que pediu!”

- Pedi o que? – a resposta saiu abafada pelo tecido fofo do travesseiro, que pressionava seu lado direito.

- “Pai, me treina”, se não me engano. – James riu. – Anda, também acordei cedo, não me faça desistir disso. Quer ou não tentar a academia?

A lembrança do pedido atingiu o jovem de súbito, e Harry saltou, assustado. Em sua visão embaçada – estava sem os óculos – viu o pai rir e levantar, avisando para se arrumar e que esperaria na mesa, mencionando alguma coisa sobre pentear o cabelo. Confuso, o garoto apalpou o alto da cabeça, e entendeu o que ele quis dizer; seu cabelo era arrepiado desde sempre (e nunca baixava completamente), mas de manhã era o primor do desembaraço completo.

Meio tonto, sentou-se no colchão e tateou em busca dos óculos, que encaixou no rosto sonolentamente. Lento, se arrastou até o gaveteiro, escolhendo roupas de ginástica ao acaso, e amarrou os tênis preguiçosamente.

- Harry? – James chamou do primeiro andar. – Dormiu de novo?

- Não! – gritou, a voz rouca. – Vou descer, um minuto!

Mas sua caminhada não durou muito tempo. Assim que pôs os pés para fora do quarto, um raio ruivo passou por ele, quase o derrubando. Irritado, Harry, que tinha despertado com a quase-queda, começou a descer, encontrando o restante da família já na mesa para o café da manhã.

- Conseguiu levantar? – Lily o cumprimentou com um sorriso, e se levantou para mexer os ovos numa frigideira. Harry sorriu de volta, se sentando perto do pai, e só percebeu que estava com muita fome quando a mãe pôs os ovos em seu prato.

- Não dormi muito cedo ontem, estava ocupado. – respondeu o jovem, mergulhando na comida.

- Papai também não dormiu, ouvi ele a noite toda andando pela casa. – Violet, a ruiva mais nova, sussurrou por baixo dos óculos redondos, desviando os olhos quando James ergueu a cabeça antes escondida atrás d’O Profeta Diário (cuja manchete principal dizia, para a surpresa do garoto, que o tradicional sorveteiro do Beco Diagonal, Florean Fortescue, havia desaparecido misterioramente). De fato haviam olheiras em volta de seus olhos, mesmo que os óculos as escondessem um pouco.

- Seu pai anda trabalhando demais, só isso. – Lily apertou a mão do marido sobre a mesa, a voz anormalmente firme diante dos filhos. Harry estranhou a princípio, mas logo esqueceu quando a pergunta veio. – Além do mais, ele está empolgado para te ajudar, querido. Ainda quer a academia?

- Claro. – respondeu, entre uma garfada e outra. – E vou conseguir. Padfoot e eu decidimos ano passado, treinamos até as férias, é sério?

- Padfoot vai tentar também? – Samantha, que quase o derrubara havia poucos minutos, soltou uma risada nasal. – Ela? Querendo entrar para os aurores?

- Adhara é muito inteligente, Sam. – James repreendeu.

- Isso eu sei. – a ruiva se defendeu. – Mas Pads odeia regras, e você sempre disse que o maior desafio dos aurores é seguir todas as regras! Como ela vai fazer?

- Provavelmente vai aproveitar esse ano pra quebrar todas elas em Hogwarts. – Violet disse, causando uma gargalhada coletiva na família.

Harry terminou de comer, e correu para o banheiro a tempo de escovar os dentes e seguir o pai para o quintal. James esperava em pé, a varinha em punho, e sorriu orgulhoso quando ele fez o mesmo. Harry se colocou na posição de duelo, e passou a prestar atenção no que o pai, um auror já experiente, podia ensinar.

Entre um feitiço e outro, ele lhe explicava alguma coisa. “A atenção no que o outro vai fazer a seguir é o que faz a diferença entre viver e morrer num duelo com alguém mal intencionado.” Dizia James. Harry parou para perguntar que tipo de ameaça ele estava falando, quando um raio vermelho o atingiu em cheio na barriga, lançando-o para trás subitamente e fazendo-o cair no chão com um baque.

Chocado, o garoto se deixou ficar ali, olhando assustado para o pai, que balançou a cabeça. “Se eu fosse uma ameaça séria, você estaria morto agora, Harry.”

- Eu só ia perguntar uma coisa... - ele tentou argumentar, mas James simplesmente riu.

- Pode perguntar. – ele estendeu a mão, e Harry segurou para levantar. – Mas cuidado, ok? Num duelo de verdade, na surpresa, não tem tempo pra pensar. Siga o seus instintos, atire quantas vezes precisar, o importante, numa ocasião perigosa, é sobreviver. Você entende?

Harry assentiu, e de perto pode ver que o pai realmente aparentava cansaço. “Ia perguntar quantos tipos de ameaça você já encontrou.” Sua resposta foi um sorriso irônico. “Além de Voldemort?”.

Os dois riram, e Harry entendeu o que ele queria dizer. James era famoso, toda criança bruxa sabia seu nome antes mesmo de saber o próprio, e o motivo para isso era a morte do maior bruxo das trevas que já havia existido. Lord Voldermort. Ele não sabia exatamente tudo o que tinha acontecido quando Ele tentou dominar o mundo bruxo, mas sabia o suficiente para admirar a coragem e os feitos do pai, que com apenas dezessete anos havia enfrentado, junto dos amigos (e de sua mãe), o bruxo e seus colaboradores. E, claro, vencido.

Por esse motivo James conseguira uma entrada fácil na Academia de Aurores, promoções e títulos, e até uma Ordem de Merlin, Primeira Classe. Harry tinha muito orgulho disso, e pretendia seguir os mesmos caminhos. Pra isso, precisava de todo o treino possível, além de notas impecáveis nos N.I.E.M’s que estavam por vir.

Assim, pedira pelo treinamento, e estava recebendo. Não tinha tanta ideia do que iria enfrentar, mas tinha certeza de que seria difícil e eletrizante, e gostava disso.

- Vamos, tente usar os reflexos para bloquear. – instruiu James.

Então, numa sequência, vários raios multicores saíram da varinha oposta à sua, e Harry saltou para os lados tentando desviar. A varinha voou para o lado, e o garoto rolou tentando escapar de outra saraivada de tiros que voaram da varinha do pai.

Ágil, conseguiu chegar à própria varinha, a tempo de bloquear dois tiros com feitiços. Ainda não era muito bom, ele tinha consciência disso, mas era o que conseguia fazer por ora. Quando finalmente pode se erguer, entre um desvio e outro, tentou se recompor, e numa reação inesperada, lançou um raio vermelho para o pai, que o atingiu subitamente.

James voou para trás, caído no chão com uma gargalhada alta. Harry tinha ficado assustado por um segundo, mas ao ver a reação do pai também riu. “Vamos, me ajuda aqui!” pediu o mais velho, e foi socorrido rapidamente pelo filho.

- Isso. – James bagunçou o cabelo do filho. – É o certo, Harry. Rápido, certeiro, fatal. Rápido, certeiro, fatal. E não se esqueça do que Olho-Tonto sempre diz.

- Sempre vigilante. – repetiu o garoto, rindo ao se lembrar da figura inesquecível que era o auror aposentado que fora professor de James em seu tempo de academia. Um cara estranho, Olho-Tonto, mas que tinha bons ensinamentos e dicas para passar sempre que alguém perguntava (ou não). Esse era seu mantra, o começo e o fim de todos os seus monólogos sobre segurança e ameaça, e que costumava arrancar risadas de Harry e seus amigos por muito tempo, até que os pais lhes revelaram a história de Voldemort numa tentativa de deixá-los conscientes de que isso poderia ser útil algum dia. Depois daquele dia, nunca mais riram de Olho-Tonto, e Harry em especial, passou a ouvi-lo mais vezes.

- Vamos, vamos tomar um banho, a não ser que eu tenha prometido algo a mais alguém que envolva rolar pela grama e suar que nem um javali. Prometi? – o pai interrogou Lily pela janela, e a ruiva mais velha sorriu através do vidro, dando de ombros.

Entraram pelos fundos – Lily odiava que entrassem com os pés sujos pela sala que ela sempre mantinha impecavelmente limpa – e logo encontraram Samantha, pronta para o quadribol, carregando uma goles embaixo do braço. Harry desistiu do banho na hora; amava jogar quadribol, e mesmo que sua paixão não fosse tão a sério quanto a de Sam – que planejava seguir carreira como jogadora, para o delírio de James – ainda assim não perdia oportunidade nenhuma de se divertir com qualquer uma das bolas em jogo (exceto balaços, talvez).

- Vamos? – ofereceu a garota de dezesseis anos, estendendo a goles para os dois com um sorriso animado.

Ele sabia que James também amava o esporte, então logo olhou para o pai, esperando um sorriso divertido e uma balançada de ombros que dissesse ‘vamos lá’, como sempre, porém James apenas sorrira.

- Se divirtam, vou parar por hoje. – ele pareceu subitamente cansado, e continuou a entrar, deixando-os sozinhos.

- Papai tá estranho hoje, não tá? – Sam lançou um olhar para trás antes de perguntar ao irmão mais velho. – Ele disse alguma coisa?

- Não. Deve ser algo com o desaparecimento do Florean, talvez.

- Aliás, que caso estranho. – foi a resposta, e o garoto concordou. Mas ele sabia que os aurores enfrentavam coisa pior do que desaparecimentos, então não demorariam muito a saber do sorveteiro, com certeza.

Afastando a lembrança triste da cabeça, correu para acompanhar o pique de Samantha, que colocara os cabelos para o alto e já corria em direção as vassouras da família. Aquela seria uma manhã longa, e a tarde não teria tempo para descansar.

Tinha um encontro com os Blacks.


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